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A grande erupção III (Epílogo)
 
 
   Exausto pelas muitas horas de trabalho árduo sob aquela atmosfera fumegante, Wayne finalmente acomodou-se ao assento do dispositivo, com suas vestes rasgadas e completamente umedecidas pelo suor. Fechou parcialmente a abertura da carlinga, danificada pelos intensos solavancos que sofrera, afivelou os cintos de contenção e com uma certa hesitação girou os quatro seletores do dispositivo, selecionando o ano-alvo: 1921... Mas foi com um misto de alívio, por escapar daquele inferno em vida e também de incerteza que finalmente pressionou o botão da ignição...

   As ruas de Belsize Park, bairro decadente da grande metrópole e repleto de pequenas indústrias e antigos casarões, atualmente eram ocupadas por indivíduos em sua maioria imigrantes e trabalhadores informais, que dividiam espaço com arruaceiros e meliantes, todos fruto da decadente economia européia, assolada pelas recentes crises econômicas . As sucessivas catástrofes naturais dos últimos anos, tais como os maremotos e as grandes erupções vulcânicas que haviam dizimado em 2010 a pequena ilha denominada Islândia, estendendo-se posteriormente para os Países Baixos e para a Escandinávia, impedindo transportes marítimos, fechando aeroportos e devastando a economia do continente, geravam profundos reflexos negativos sobre a qualidade de vida dos moradores de todo o Reino Unido. O número 1203 da Haverstock Hill representava a imagem da degradação, com sua outrora imponente mansão da extinta família Wayne, agora em ruínas! O ano de 2016 desfilava suas últimas semanas e nenhum sinal de recuperação econômica se fazia presente. 

   As maiores autoridades mundiais em geologia e engenharia agora discutiam a possível correlação entre as malfadadas atividades mineratórias executadas em solo Islandês, no período de 1910 a 1945, pelo governo britânico e a crescente instabilidade geológica da região; desde a década de 50 havia sido descoberta a existência da chamada dorsal meso-atlântica, extensa cordilheira submarina situada nos limites de grandes placas tectônicas do Atlântico Norte, exatamente onde se localizava geograficamente a pequena ilha. As minerações foram interrompidas após a constatação de que nada além de diatomito (mineral não metálico), ferrosilício e pedra-pomes (um tipo de resíduo vulcânico) seriam dali extraídos, gerando um grande prejuízo financeiro ao governo britânico e seqüelas irreparáveis ao ecossistema local. O fato é que concomitantemente ao avançar destas minerações, a atividade geológica havia sofrido grandes mudanças, as quais persistiam, mesmo após mais de meio século de interrupção das expedições. O conhecimento científico vigente afastava, porém qualquer risco de extensão das catástrofes por sobre o Reino Unido, uma vez que era sobejamente conhecido o fato de não haverem vulcões ativos dentro de seus limites geográficos, apesar da farta existência de rochas vulcânicas no planalto sul da Escócia, nas montanhas ao norte do País de Gales e no sul da Inglaterra...

    No frio inverno de 2016, um grupo de alunos do ensino médio da Lambeth Academy, tradicional escola secundária londrina, iniciou sua pesquisa digital para fins de realização do trabalho anual de conclusão de curso. O tema escolhido foi o assunto mais comentado da época, nada menos que a onda de explosões vulcânicas que assolavam a Europa, e suas possíveis causas. Jeremy, um dos alunos mais vivazes, acabou se interessando por uma breve notícia do The London Times de Maio de 1922, que trazia em seu cabeçalho: “Internado em surto psiquiátrico no Broadmoor Hospital, em Berkshire, jovem cientista louco, herdeiro dos Wayne; o alucinado rapaz vinha tendo delírios persecutórios durante os quais falava de viagens no tempo e de futuros cataclismas vulcânicos, acabando por ser confinado em caráter permanente na ala de pacientes irrecuperáveis e potencialmente belicosos”.
Max Rocha
Enviado por Max Rocha em 14/05/2010
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