DNAH2 - I - II -III

PARTE 1

– O que você está lendo?

– O livro secreto dos vampiros!

– Não vá me dizer que você acredita em vampiros!

– Hora querido, claro que não, mas mesmo as lendas têm sempre algo a nos ensinar. Como foi a conferência?

– Paris como sempre acolhedora e envolvente com mil opções de lazer. Conseguimos um intercâmbio em tecnologia de investigação científica que nos coloca em pé de igualdade com os americanos.

– Por falar em conferência como foi a sua?

– Genebra, sempre fria e sem os apelos da cidade luz.

Quanto ao mais, conseguimos alguns avanços no licenciamento de transgênicos. A fome no mundo está tomando proporções assustadoras e precisamos duplicar a produção de alimentos em médio prazo mas...

– Mas suas pernas desse jeito estão me dizendo que...

– Que vamos voltar para a cama? Mas você não veio do país do amor?

– Hora meu bem, as francesas estão ficando muito esnobes e, além disso, não tive tempo.

– Pois não, doutor Marco, sou toda sua, mas me leve no colo ok?

Haviam ambos retornado de conferências no exterior em suas respectivas áreas, ela, Aline Nuges Tavares, bióloga especialista em genética humana e biogenética. Ele, Marco Antônio Tavares inspetor chefe do departamento de investigações criminais da polícia metropolitana. Chegaram naquela noite com uma diferença de duas horas e após matarem as saudades em uma duradoura seção de sexo, ela perdera o sono e costumava ler nessas horas. Ele apesar do cansaço da longa viagem acordou e a procurou na cama. Foi encontrá-la sedutoramente sentada no sofá da sala com as irresistíveis pernas a mostra. O suficiente para que sua excitação recrudescesse rapidamente o que acabou novamente em sexo. Só então se deram conta de que nem haviam falado sobre suas respectivas viagens. Ela jogou o livro sobre o sofá e ele a tomou nos braços mal podendo esperar para chegar ao quarto. Mal haviam reiniciado as preliminares e o telefone tocou. Marco pegou o fone meio a contragosto. Era do departamento. A voz do tenente Wilson Acabava de quebrar o encanto.

– Inspetor, temos um crime com características inusitadas e lamento importuná-lo a esta hora, mas precisamos do senhor.

– De que se trata?

– Bem é complicado, é melhor o senhor vir até aqui. Marco vestiu-se rapidamente e olhou a hora 04h da madrugada tomou o carro e dirigiu-se ao endereço, um duplex em um condomínio de luxo na zona norte. O cadáver de uma mulher completamente nua aparentando vinte e poucos anos deitada de bruços sobre a cama apresentava uma palidez exagerada. Não havia sinais de luta e nenhum ferimento a bala.

– Quem encontrou o corpo? Perguntou Marco ao tenente Wilson.

– Uma vizinha, ligou e como ninguém atendeu resolveu entrar, a porta da sala estava aberta. Os vizinhos não ouviram nenhum barulho.

– Nossa, eu diria que não há uma só gota de sangue aqui. Parece que o sangue dela foi todo sugado. Marco revirou os cabelos da morta.

– Olhe isto! Falou.

Ao mover os cabelos dois pequenos orifícios sobre a jugular chamavam a atenção. Havia sinais de sexo anal. Marco examinou minuciosamente o local, mas não encontrou nada. Ordenou que após a perícia do local encaminhassem pedido de urgência ao responsável pela autópsia. Wilson obedeceu e o inspetor ficou pensativo.

– O que o senhor acha? Perguntou.

– Wilson, quem fez isso foi muito hábil, só a autópsia poderá revelar alguma coisa. Ninguém viu nada, não há digitais, nada que sirva como ponto de partida.

– Não lhe parece picada de cobra?

– Não! Teria que ser uma super cobra. Aqui?

– Vai ver que foi o chupa-cabras. Resmungou Wilson.

Marco voltou para casa pensando sobre o caso. Lembrou que não havia roupas junto ao cadáver. Ou ela já estava nua quando foi atacada ou despiu-se voluntariamente. Tentou dormir um pouco, o dia já estava raiando e Aline já havia saído.

O doutor Alfred, levantou os olhos sobre as pesadas lentes de seus óculos quase na ponta do nariz, Franziu a testa ao ver o Inspetor.

– Inspetor, temos aqui um belo mistério.

– Bem posso imaginar. Retrucou Marco.

– Bem, inspetor, ela morreu cerca de 01h da madrugada. Estes orifícios foram causados por presas provavelmente retráteis, como de algumas serpentes. O sangue foi totalmente sugado. Aparentemente ela não reagiu. Quando foi possuída estava tranqüila ou desmaiada. Agora vem o pior. O esperma é de uma coloração esverdeada e apresenta um volume bastante superior ao normal. O pênis era exageradamente volumoso a julgar pelo rompimento de alguns vasos internos. E mais ao fundo há uma espécie de bolsa rompida.

– O senhor diria que...

– Que parece coisa de um Vampiro?

– Vampiro? O senhor deve estar brincando.

– Não estou! Não consigo pensar em algo diferente.

– Doutor! Vamos pedir o exame de DNA o mais urgente possível. Mas francamente, Vampiros?

– Olhe inspetor, também não creio em Vampiros, mas isto aqui é muito estranho e algo me diz que não termina por aqui.

– Certo! Também acho que teremos mais dores de cabeça. Marcos ligou para Aline e pediu-lhe que acompanhasse o exame de DNA. À noite durante o jantar comentaram o caso.

– Sim! Mas neste caso parece tratar-se de um tipo de Vampiro fora dos padrões habitualmente encontrados nas tantas lendas e textos a respeito.

– Querida! Vampiros não existem, mas estamos diante de uma criatura hematófaga, sem dúvida. A descrição do doutor Alfred aponta para algo não humano. Pelo menos aparentemente a julgar pelo esperma encontrado.

– Bem amanhã saberemos, por enquanto você está me devendo algo que íamos começar na noite passada e que foi interrompido.

– Claro! Estou ansioso.

Na manhã seguinte mais dois casos haviam sido registrados um em uma pequena localidade do interior do estado e outro na capital desta vez na zona sul.

PARTE 2

O inspetor estava em uma reunião de rotina, porque além dos estranhos assassinatos havia o dia a dia da polícia com crimes diários que não davam trégua. Muito do efetivo policial havia sido deslocado para o que se convencionou chamar operação Vampiro. Naturalmente isso acarretava trabalho em dobro para os demais membros da corporação. A imprensa estava em cima cobrando explicações para a estranha série de assassinatos.

– Estamos trabalhando muito, mas estamos enfrentando algo que ainda não sabemos o que é ou de onde veio. Trata-se de um inimigo astuto de origem desconhecida e esperamos que os exames de DNA revelem alguma coisa. Com esta declaração o inspetor encerrou a entrevista coletiva com a imprensa, pois o celular estava chamando. Era Aline.

– Querido! Você não vai acreditar. Tudo leva a crer que se trata de um alienígena. Veja! O DNA possui uma cadeia cerca de 50% maior que a humana. Além disso apenas alguns cromossomos coincidem com os nossos. Ao contrário dos seres humanos eles possuem 34 cromossomos e não os 23 que possuímos. Trata-se de uma entidade provavelmente bastante inteligente e com capacidades acima do padrão humano.

– Só me faltava esta! Um Vampiro alienígena.

Eram aproximadamente 20h de uma noite quente. Aline chegara mais sedo e preparava-se para sair do banho neste momento faltou luz e estranhamente o gerador não funcionou. Ela acabou de secar-se no escuro e sentia uma brisa que vinha da janela do quarto aberta.

– Mas a janela não estava aberta! Pensou. Neste momento sentiu um cheiro estranho e julgou ter ouvido alguém respirando bem próximo. Rapidamente saltou para dentro do banheiro e gritou.

– Tem alguém aí? Ouviu a porta da frente batendo e a voz de Marco nunca antes havia sido tão bem vinda.

– Aline? Você está aí?

– Cuidado Marco! Tem alguém aqui.

Ouviu então um barulho como de asas em movimento e um sibilo como se algo saísse voando pela janela. Os passos do marido subindo apressadamente as escadas a tranqüilizaram.

– Querida! O que houve?

– Ele estava aqui. Marco apanhou uma lanterna de mão e foi examinar o disjuntor. Havia sido desligado. O gerador não funcionou por que também estava sido desligado.

– Droga! Quase não chego a tempo.

– Marco! Ele entrou pela janela, mas a janela estava fechada. Ele abriu e desligou os interruptores. Sabia o que estava fazendo.

– Sim! E devia estar observando há mais tempo. Droga! Agora você pode começar a acreditar em Vampiros.

– Porque demorou?

– Tive que participar de uma reunião de emergência com um coronel do exército. Adivinhe! Na noite anterior ao primeiro assassinato, um satélite militar deixou simplesmente de funcionar e o Coronel Maia acha que tem ligação com o aparecimento do Vampiro.

– Mas espere, quando ouviu sua voz, ele fugiu. A mulher atacada estava só. Isto faz pensar que ele ataca pessoas sozinhas.

– Você quer dizer, mulheres sozinhas? Veja! Nos três casos conhecidos as mulheres eram jovens, bonitas e estavam sozinhas. Vou mandar expedir um alarme para que as mulheres não fiquem em casa sozinhas e não saiam à rua sem companhia.

– Como vai a análise do DNA?

– Hora! Vai demorar um pouco para decodificarmos a cadeia que é bastante extensa. Temos vários computadores envolvidos. Por enquanto catalogamos como “Operação DNAH2.”

– Mas você acha que o defeito no satélite tenha algo a ver?

– O coronel Maia informou que o satélite na verdade de propriedade dos americanos, deixou de funcionar exatamente sobre esta cidade. Se essa coisa veio do espaço, podem ter usado o satélite para desovar o embrulho que aguardou até que anoitecesse para sair em direção a terra. O satélite parou exatamente as 0:00h. Quer apostar como foi desligado?

– Faz sentido.

– O coronel informou que amanhã parte uma nave de Cabo Canaveral para tentar concertá-lo.

Na manhã seguinte ao chegar ao escritório Marco foi informado de que mais quatro cadáveres haviam sido encontrados. A diferença desta vez é que os pares estavam em lugares diferentes, mas só uma das vítimas havia sido seviciada. A mais jovem e bonita. A outra simplesmente havia sido morta.

– Inspetor! Somente foram atacadas mulheres. Nenhuma que estivesse acompanhada de um homem.

– Wilson! Parece que nosso alvo não gosta da presença masculina, senão teria me atacado. Falou Marco coçando a cabeça.

– O que vamos fazer?

– Não sei! Veja nós temos homens espalhados pela cidade toda. Patrulhas rodando a noite toda e nada. O Exército deslocou um bom contingente de homens do batalhão de operações especiais. As câmeras de vigilância espalhadas pela cidade não registraram nada. Já se passaram dias e não temos nada. Francamente não sei o que fazer. É como combater um inimigo invisível.

Neste momento a secretária informou que havia um fotógrafo espanhol pedindo para falar com o Inspetor.

– Mande-o entrar. Resmungou Marco.

– Inspetor eu sou fotógrafo profissional e fotografava cavernas ao redor do vale do Itaimbé. Então deparei com isso. Veja! O homem espalhou algumas fotos sobre a mesa.

– Roupas femininas! Exclamou o Inspetor.

– Onde fotografou isso?

– Em uma caverna a meia altura da parede lateral do cânion.

– Sabe como localizá-la?

– Sim respondeu o fotógrafo.

– Vamos para lá. Argumento Marco.

PARTE 3

Marco solicitou reforço junto ao departamento de operações especiais e dois policiais militares juntaram-se a ele e o tenente Wilson. Partiram em um helicóptero da polícia rumo ao vale do Itaimbé. A caverna, uma pequena abertura na parede lateral levava para uma câmara mais profunda. Um local bastante escuro. Com efeito as roupas das vítimas estavam espalhadas junto a abertura da caverna. Os homens vasculhavam os cantos e o teto. Repentinamente dois olhos brilhantes como dos gatos à noite e Marco disparou sua arma acompanhado por Wilson e os soldados presentes. A criatura soltou um grito semelhante ao dos morcegos e arremeteu em alta velocidade quase atingindo Marcos e rapidamente saiu pela porta da caverna em tal velocidade que nem deu para perceber como era. Ficaram todos frustrados.

– Droga! Pelo menos uma bala deve ter atingido o bicho, mas isso nem sequer impediu que voasse. Acho que cometemos um erro básico. Deveríamos ter obstruído a saída da caverna e não tentar matá-lo a tiros. Marcos ligou para o coronel pedindo mais homens. Era imperioso vasculhar o local, pois havia mais cavernas. Apesar do grande número de soldados envolvidos até a noite nada havia sido encontrado. O Coronel decidiu deixar patrulhas montando guarda nas cavernas encontradas. Mas o animal era esperto e provavelmente buscaria outro refúgio, talvez um prédio abandonado. No dia seguinte mais cadáveres foram adicionados a lista.

Haviam já se passado quase seis meses e a situação continuava a mesma. Havia uma folga periódica de uns 3 ou 4 dias, mas logo voltavam a ocorrer os crimes e ninguém conseguia deter a estranha forma que atormentava a todos. Foi então que mais um acontecimento estranho veio juntar-se a lista das façanhas da fera.

A voz do outro lado da linha parecia ofegante a atropelava as palavras.

– Inspetor! O túmulo da primeira mulher. Lembra a tal Alice Rocha ou coisa assim!

– Sim! O que tem?

– A sepultura foi violada.

– Certo mande fazer a ocorrência.

– Inspetor! Tem um problema.

– Fale homem!

– Foi violada de dentro para fora e tem mais...

– Mais o que?

– O cadáver está intacto apenas um rombo na região anal.

– Ok! Mande o cadáver para o instituto médico legal estou indo para lá.

Marco chegou diante do Dr. Alfred e seus pesados óculos. Ele apenas olhou para Marco balançando a cabeça.

– O que temos aqui doutor?

– Veja! O cadáver foi conservado intacto. Não há sinais de decomposição. Alguma coisa cresceu aqui dentro e saiu rompendo as barreiras. A seguir simplesmente abriu o sepulcro e saiu por aí.

– Você quer dizer que um filhote foi gerado aí dentro?

– Exatamente! Ao praticar o ato sexual ele deposita já uma espécie de embrião, lembra a bolsa rompida? Provavelmente se alimenta das paredes do reto e depois abre caminho rasgando tudo a sua volta. Aparentemente possui uma força desproporcional ao seu próprio tamanho.

– Meu deus, isso é uma péssima notícia. Precisamos agir rápido. Vamos ter nos próximos dias nascimentos contínuos dos descendentes desta fera. Mas, como gera os embriões? Precisaria de uma companheira.

– Não! Se for um hermafrodita. Como ele não tem onde depositar o embrião em alguém de sua espécie utiliza-se deste método.

– Esta agora! Precisamos recolher os outros cadáveres.

No dia seguinte as equipes se revezavam na tarefa de exumar sepulturas e carregar os cadáveres. As vítimas que não haviam sido violentadas apresentavam decomposição normal. Apenas as hospedeiras do embrião estavam intactas. Começou então uma verdadeira maratona de médicos e bisturis em ação. Só agora era possível estudar mais profundamente o estranho invasor.

Depois de uma longa reunião entre médicos e o pessoal da polícia, foi determinado que a próxima vítima a dar a luz, se assim pode se dizer, seria mantida sob vigilância. Era preciso verificar como o fato iria ocorrer. O cadáver foi colocado em uma cúpula de vidro galvanizado coberta por uma rede de aço. Seria impossível escapar dali. Os demais cadáveres continuavam sendo dessecados em uma ampla sala onde antes havia uma quadra de futebol de salão. Na manhã seguinte na hora prevista o bebê Vampiro começou seu trabalho rumo à liberdade. Era horrível ver como dilacerava o corpo da vítima. Finalmente livre alçou vôo, mas esbarrava na parede de vidro e voava em círculos. Então todos viram estarrecidos uma figura projetando-se contra a parede de vidro que explodiu em pedaços. Era o adulto furioso. Ele então cuspiu um líquido verde contra o próprio filho que caiu agonizando. Apesar dos vários tiros desferidos pelos militares ele continuava voando e atacando tinha a aparência de um homem com compleição física perfeita apenas as feições diferiam ligeiramente pelos caninos salientes e orelhas pontiagudas.. Possuía uma fina camada de pelos pelo corpo todo e tinha asas com barbatanas como as dos morcegos. Nas pontas superiores das asas possuía ferrões como chifres pontiagudos que usava contra seus atacantes. O grande salão parecia um campo de batalha e os tiros eram inúteis, Já havia vários soldados feridos por seus esporões. Então Aline surgiu em uma porta lateral portando uma arma estranha até mesmo para os militares. Havia um espécie de refletor na parte frontal do cano. Ela abaixou-se apoiando-se sobre o joelho direito, caprichou na pontaria,mas ninguém ouviu nada. Apenas ela ouviu o suave clique do gatilho. A fera girou sobre si mesma e estatelou-se no chão. Caída sobre as próprias asas com os olhos arregalados. Vertia sangue pelos ouvidos. Marco ergueu-se segurando o braço ferido, Atingido pelo esporão. O Vampiro, ou seja lá o que fosse estava morto. Ele aproximou-se olhando incrédulo para a companheira ainda com a arma pendente da mão direita.

– O que você fez? Perguntou Marco.

– Hora querido! Já ouviu falar em ultra som?

– Você usou uma arma de ultra som?

– Sim! Ele tinha ouvidos sensíveis como os morcegos pois, precisava como eles identificar o som rebatido pelo sonar. Estávamos testando esta arma para uso dos fazendeiros que perdem muito gado atacado por hematófagos. O que fiz, foi exagerar um pouco na baixa freqüência. O suficiente para detonar com os ouvidos.

– Genial! Enfim temos uma arma capaz de dar conta desta coisa. Bem você e seus colegas terão agora muito a aprender sobre essa criatura.

– Certo! Talvez sua cadeia genética nos forneça subsídios importantes para melhorar a nossa. Enfim se com as lendas temos a aprender, imagine com um Vampiro real.

Naquele exato momento em um distante e pequeno cemitério uma pequena criatura alada ensaiava seu primeiro vôo rumo à vida noturna. Partiria em busca de sua primeira vítima. Seria uma mulher?

Lauro Winck
Enviado por Lauro Winck em 13/05/2010
Código do texto: T2254266
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