DEUSES E DEMÔNIOS - X - XI - XII

PARTE 10 - O SÍMBOLO DO MEDO

A principio foram algumas mortes e desaparecimentos misteriosos. Alguns corpos eram encontrados, faltando a metade. Aparentemente o predador desconhecido estava se multiplicando. Pelo menos eu já sabia a razão das mortes misteriosas, agora faltava descobrir onde encontrá-los. Parece que até aqui ninguém havia sobrevivido para descrever o seu agressor. Eu era o primeiro. Já tínhamos patrulhas armadas espalhadas por todo lugar a procura do monstro. Provavelmente estavam em túneis subterrâneos ou nas encostas dos matos. Atacavam a noite e escondiam-se durante o dia. De onde haviam surgido? Era só mais um mistério igual a tantos que vivíamos no dia a dia. Hatenna como sempre me acompanharia. A ordem era atacar em grupos. Naquela noite descobrimos que nossas armas eram inúteis. Os raios atingiam o alvo, mas os bichos apenas corriam e mostravam que tinham habilidade par saltar grandes distancias sem problemas... Resolvemos então utilizar lança chamas e partimos para o corpo a corpo. Era meio cruel, mas nós os atraiamos e quando estavam próximos acionávamos os lança chamas. Eles urravam e procuravam proteger-se, mas não sobreviviam ao fogo. Até o dia amanhecer tínhamos um bom número deles abatidos. Voltamos eu e Hatenna para a base em terra, precisávamos dormir. Durante o dia eles não atacariam. Haviam sido enviados alguns exemplares para o laboratório e tivemos até a tardinha uma notícia, no mínimo intrigante. Segundo Rogério, as criaturas haviam sido geradas a partir dos cadáveres perdidos do pessoal do Nilus. Tinham a mesma estrutura orgânica e suas partículas atômicas também giravam ao contrário. Desenvolviam-se com extrema rapidez e procriavam também em curto espaço de tempo.

– Rogério será que Nilus apenas renasce dos próprios restos mortais?

– Tudo é possível! Veja! Na antiga Terra, uma espécie de minhoca encontrada em regiões de praias marítimas compostas de certos tipos de pedras na areia grossa. Possuíam a incrível capacidade de dividir-se em dois indivíduos diferentes quando partidas ao meio Qualquer outro dos indivíduos seccionado, convertia-se também em dois outros distintos. Não sabemos se possuíam uma identidade única ou coletiva.

– Seja como for, eu suspeito de que ainda não nos livramos do Nilus. A propósito o que faremos com as 8 naves que deixaram?

– Vamos desmontá-las e estudar um pouco mais sobre nossos adversários. Naquela noite as patrulhas não conseguiram mais localizar um único sobrevivente. Parecia estranho! Nós não imaginávamos que houvéssemos abatido todos. Na manhã seguinte Rogério informou que teríamos uma nova missão em Even 4. Mas ao entardecer, uma nova e inesperada notícia. Uma das naves abandonadas começava a alçar vôo. Corri para uma nave patrulha e voei para a zona onde estavam estacionadas.

–Droga, eles foram todos abatidos, ou não? A nave acelerava e eu me posicionei partindo em seu encalço. Tentei um contato, mas nada. Não houve resposta.

– Rogério! O que eu faço?

– Não podemos deixar que fujam. Se não responderem atire!

– Tentei mais uma vez, mas não houve resposta. Deixei afastar-se até uma distância segura e lancei uma bomba de antimatéria. Agora havia a certeza de que não sobraria nada. Uma inspeção a bordo das outras mostraram que não havia mais ninguém. Voltei para casa. Hatenna, ainda não sabia da missão em Even4 e resolvi não falar nada. A noite preparávamo-nos para dormir e ela estava encantadora e com um ar sonhador. Chegou-se suavemente e me abraçou falando – Querido! Será que agora podemos casar? Depois tiramos umas férias e vamos para Guadalajara? Espere! Como vamos arranjar dinheiro?

– Hatenna, nós teremos que fazer as coisas de maneira diferente. !970 ficou muito distante. Nós provavelmente seriamos presos e levados para o exercito dissecar a gente. Vão querer saber como um brasileiro e sua esposa voltaram de quase 75 anos no futuro. Vamos nos adiantar no tempo em relação a eles e assim não nos verão.

– Legal! Podemos roubar umas cervejas e eles nem darão conta.

– Vamos pensar nisso mais tarde, por enquanto o Rogério informou que temos uma nova missão em Evem 4.

– Droga! Lá se vão meus planos. Porque o Rogério não vai?

– Porque ele é necessário em outras atividades. Você sabe que Even 4 é como uma cópia da terra, Não sei como, mas, muitas raças da antiga terra existem lá. Meu primeiro passo terá que ser este, descobrir porque existe tanta semelhança.

– É verdade, o pai da Iub, parece um xeique árabe.

– Sim, além disso, os idiomas falados em vários países por lá, também são os mesmos ou quase, da antiga terra.

– E o que vamos fazer lá?

– Muita coisa! Existem atualmente guerras e conflitos como na antiga terra antes de mudarmos para cá. Hatenna não estava nada satisfeita em ter que adiar o casamento e as férias. Inicialmente eu iria investigar os acontecimentos e planejar uma missão de ajuda. Havia muitos refugiados. Terroristas em ação e conflitos entre vários países, inclusive as chamadas guerras santas. Partimos finalmente rumo a Even 4.A viagem desenvolveu-se sem incidentes e descemos em Awull. De lá tomamos um trem e fomos conversar com a Dra. Amália Cervantes, uma pesquisadora com vários livros escritos, formada em sociologia e uma figura muito polêmica, imaginem! Em Portugal. Isto mesmo, lá havia um país de língua portuguesa. Fora me indicada por um dos conselheiros do rei Sahib. Recebeu-nos em sua modesta residência nas montanhas, afastada da cidade. Era uma senhora de seus 70 anos, simpática e afável. Falei-lhe da minha necessidade de entender as raízes dos conflitos e de ações terroristas antes de formular um plano de ação.

– Senhor Rodrigo! As origens de tudo isso estão, como na antiga terra vinculadas a sede de poder de castas dominantes. A Anelius, sempre esteve envolvida. Desde as mais remotas eras eles tem dominado e implantado seu poder em vários planetas espalhados pela galáxia. Even 4, era desabitado e tinha condições semelhantes as da terra. A própria terra, foi povoada por eles que no inicio cruzaram com fêmeas terráqueas desde a era do homo sapiens. Desta forma geraram famílias de elites dominantes que tinham o conhecimento. Hitler na Alemanha nazista, era descendente direto de uma dessas famílias. Ele pretendia dominar o mundo pela força e assim acelerar o processo. Tentou exterminar os judeus, porque eram unidos, e mantinham sua fortunas sob controle dentro da raça. Na década de 50 pós guerra, as visões de discos voadores, eram constantes, histórias de abduções, desaparecimento de pessoas, o triangulo das bermudas onde homens e máquinas sumiam sem deixar vestígios. Tudo isso fazia parte de uma ação para povoar Even 4. A terra era um manancial para o crescimento do poder econômico e eles trataram de expandir este potencial. Por isso, somos tão parecidos. Praticamente Even 4 é um planeta constituído de terráqueos. Aqui também foram implantadas organizações como das nações unidas, o banco mundial o FMI, o exército, enfim todos os males que mantinham a terra sob o controle de uma minoria. Na década de 80, na terra, já se afirmava que mais de 50% do dólar circulante era falso pois havia a sangria constante de recursos desviados em todos os níveis para as mãos de poucos membros desta elite. Aqui ocorre a mesma coisa. -Pelo que a senhora está me dizendo, teremos pela frente uma batalha descomunal. – Sim! Eles dominam boa parte desta galáxia e provavelmente de outras. Seres como Adan 7, Rogério, Kroll e agora você trilhando o mesmo caminho, terão uma árdua tarefa pela frente. A tentativa de dominar Nova Terra, foi apenas uma ação isolada. Eles voltarão e tentarão infiltrar-se de outras maneiras. São mutantes e a estas alturas, já devem ter cruzado com fêmeas em Nova Terra, Xkarpa e Anul. Ficaram frustrados com a mudança da terra. A medida em que a era glacial começasse sua tarefa destruidora eles apenas precisariam apossar-se dos tesouros espalhados pelo mundo. Aqui também, os grandes conglomerados estão avançando e engolindo tudo. As guerras em sua maioria destinam-se apenas a consumir armamentos, como na antiga terra. Há a necessidade de manter a indústria da guerra. Você acha que países pobres como o Afeganistão foram invadidos por outra razão? Bilhões de dólares foram consumidos no Vietnã e no Iraque e soldados americanos lutavam e morriam sem saber o que estavam defendendo. Isto tudo está acontecendo aqui. Aqui a coisa é pior, porque a igreja, não conseguiu fazer frente a eles como na terra. Apesar de usar métodos radicais, lá a igreja conseguiu amainar as coisas. Não que não estivesse envolvida em contínuas gerações de papas. Mas apenas disfarçava, substituindo a violência pela astúcia. Despedimo-nos de Amália e voltamos para Awull. O que ela havia narrado, me dava náuseas. Estávamos diante de um inimigo poderoso e sem escrúpulos. A suástica torta estava presente aqui, com todo o seu poder de dominação. Teríamos que montar uma estratégia diferente. Não adiantaria simplesmente envolvermo-nos em conflitos pelas armas. Teríamos que buscar uma outra forma de ação. Qual? Eu ainda não sabia. Mas Adan ou Rodrigo deveriam saber. Havia muito a ser feito e devíamos começar a agir com urgência. Quem sabe a tática de Fidel Castro? Paredão para os poderosos? Não sei. Isto tudo me incomodava e sinceramente, combater monstros assassinos era mais fácil.

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PARTE 11 - MISSÃO EM ÉVEN 4

Even 4 na verdade estava entrando em colapso. A degradação da natureza começava a deixar suas marcas como já ocorrera na antiga Terra. Nós estávamos dispostos a reverter esta situação nem que para isso tivéssemos que usar a força. Chegamos a Even 4 com3 grandes naves que ficaram em órbita e desembarcamos em naves menores. Trazíamos um documento para o conselho das Nações Unidas solicitando a presença de seus líderes em uma reunião de emergência. Adiel, um experiente

diplomata da federação das galáxias trazia na bagagem um extenso documentário mostrando como era a vida nos planetas que haviam abolido a moeda. O documento era incisivo e dava um prazo para que houvesse uma trégua entre as nações em conflito e se estabelecesse um modo de implantar o sistema. O rei Sahib colocou a nossa disposição um de seus enormes palácios. Embora fosse muito rico, Sahib não se opunha a implantação do sistema. Assistiu a projeção do vídeo holográfico que seria mostrado na reunião e ficou maravilhado.

– Se for isso que estou vendo, não vejo porque alguém seria contra. Na verdade eu herdei toda aminha fortuna e não vejo inconveniente em que os demais possam viver dignamente. Seria muito bom acabarmos com a disputa pelo poder, as guerras, a exploração desenfreada e estabelecermos a igualdade entre todos. Mas, não será uma tarefa fácil. Teremos muita resistência. O ser humano é um animal dominador por natureza. Vocês podem contar com todo o meu apoio. O rei terminou seu breve pronunciamento e passou-nos uma lista de amigos seus que certamente o acompanhariam na decisão. Estava dado um primeiro passo. Na reunião marcada para o conselho das nações quase todos os líderes estavam presentes. Como parte das exigências, a primeira medida foi estabelecer um armistício para que pudessem consultar seus aliados e membros do governo. Houve muitas resistências como era esperado, mas tínhamos uma maioria mínima e alguns indecisos. Teríamos então que aguardar até que chegassem a um consenso. 4 dias depois ao amanhecer, fomos tomados de surpresa pelas sirenes e fortes explosões. Even 4 estava sendo atacado. Uma nuvem de naves de combate bombardeava o planeta atacando de todos os lados. Fui acordado e recebi a informação de que nossas naves em órbita estavam avariadas. Mas havia dado tempo para que nossas esquadras entrassem em combate. Foi uma correria rumo aos abrigos subterrâneos abaixo do complexo de palácios de Sahib. Num planeta com conflitos constantes os abrigos eram abundantes principalmente como proteção a algum ataque com artefatos nucleares. O ataque ocorrera de surpresa e não tínhamos a menor idéia de onde vieram e como não foram detectados em nossos sistemas. Lembrei-me do modo como a Anelius havia descido em Nova Terra sem que suas naves fossem detectadas. Tentei contato com Rogério, mas foi inútil. Teríamos que resolver a situação. As forças de defesa em Even 4 não tinham como fazer frente aos invasores. Suas naves ainda eram primitivas perto das modernas máquinas de alta tecnologia. Os ataques cessaram ao fim do dia e o panorama era de destruição. Parecia que o planeta estava em chamas. Ao anoitecer saímos dos abrigos, havia muito trabalho e nessas horas até o próprio rei arregaçara as mangas e corria de um lado para outro ajudando no que podia. Havia muita destruição, gente morta, feridos graves e os hospitais não davam conta. Barracas improvisadas rapidamente, serviam como hospitais improvisados. Entre os feridos um idoso, bastante ferido abriu os olhos e falou enquanto eu tentava limpar o sangue em volta de seus olhos.

– Meu filho, eu estou morrendo, aliás, já estou meio cansado desta vida, mas preste atenção! Um grande perigo se aproxima. O fim está perto... Foram suas últimas palavras, estava morto. Estava escuro e o calor abafado prenunciava chuva, que seria bem vinda em virtude dos incêndios que ainda persistiam. Ao sair da barraca para buscar novas vítimas, uma luz, como uma estrela cadente cortou os céus muito próxima de onde estávamos, fiquei aguardando uma explosão, mas não ocorreu. Seja o que for, caiu a alguns km de ode estávamos. Não havia tempo para especular, apenas observei a direção onde poderia ter caído. Trabalhamos a noite toda. Era muita gente para ser socorrida. A destruição era terrível. Dos 4 palácios reais, apenas um estava intacto. Da nossa frota, sobrou apenas um terço. As baixas entre as defesas locais também eram enormes. O dia amanheceu e preparávamo-nos para um novo bombardeio. Mas as sirenes não voltaram a soar e assim teríamos mais tempo para continuar socorrendo as vítimas. De nossas 3 naves em órbita duas haviam sido destruídas e uma delas havia conseguido evadir-se usando espaços-tempo paralelos. Não tínhamos notícias dela Uma das naves inimigas caíra bem próximo de onde eu estava e ao verificar notei o símbolo da Anelius ao lado de outro já conhecido. Os Gorks faziam parte do ataque e estavam com certeza aliados a Anelius. Eram 16 h de uma tarde abafada. A chuva havia dado uma trégua quando as sirenes voltaram a soar. Corremos para os abrigos apinhados de gente, camas improvisadas e quase nenhum espaço para mover-nos. Logo as bombas começaram a cair e ouvia-se o espocar dos raios mortíferos provocando novos incêndios. Mas o ataque durou apenas alguns minutos e repentinamente as naves começaram a dar meia volta e rumaram para o espaço desaparecendo entre as nuvens. A par de tudo isto, algumas emissoras de televisão mantinham a programação voltada para reportagens sobre o ataque e em meio a mais um vídeo gravado durante o combate, uma janela trazia mais uma notícia estarrecedora, um asteróide de proporções gigantescas, aproximava-se e iria chocar-se com o planeta. Misteriosamente o artefato não havia sido localizado com antecedência. Sua maça era 10% maior que Even 4. Esta sem dúvida era a razão para a retirada das naves inimigas. Lembrei-me das últimas palavras do ancião que havia socorrido. “Grande perigo se aproxima, é o fim...” Soube mais tarde que o ancião era um respeitado vidente no reino. Ele quis falar mais, mas foi impedido pela morte. Eu estava desolado. Hatenna, cansada e ainda suja de sangue, pelo trabalho de atendimento as vítimas, apenas me olhava, como que a indagar,

– E agora? Realmente a situação era grave. Eu não dispunha de meios para tentar qualquer reação. As poucas naves disponíveis haviam sido destruídas. Das nossas, apenas naves de combate sem muito alcance para irmos ao encontro do meteoro. Restava esperar por algum milagre. Estávamos condenados a perecer junto com Even 4.

– Nunca o Adan fez tanta falta! Onde anda ele? Falou Hatenna olhando-me como a imaginar que o fim estava próximo.

– Não sei, nem mesmo sei se ele tem conhecimento do que está ocorrendo aqui. Lembre-se que aqui há um bloqueio muito grande para as comunicações. Respondi. Havia um colapso geral e todos comentavam o que fazer. A emissora de televisão acabava de trazer um comunicado conjunto dos líderes da união das nações, informando que nada poderia ser feito e que permaneceria no ar enquanto fosse possível. Ao entardecer resolvi conferir a luz que vira na noite anterior. Peguei um carro e resolvi dar uma olhada. Com toda a desgraça desencadeada com a nossa missão no planeta, precisava conferir. De certa forma eu tinha um sentimento de culpa. Sem dúvida o ataque foi uma resposta ao que havíamos determinado. E agora somava-se mais um acontecimento imprevisível e de conseqüência fatídica. Rodei uns 4 km até a beira de uma grande área aberta onde uma multidão de curiosos fazia um grande circulo em volta de algo. Aproximei-me e abrindo caminho entre os curiosos, tentei aproximar-me mais. Havia uma cratera aberta com o impacto e ao fundo um objeto metálico estava parcialmente enterrado. Ao tentar aproximar-me uma onda como um choque elétrico vibrava impedindo o avanço.

– Não dá para se aproximar, falou um soldado. Esta coisa emite uma onda de choque. Resolvi aguardar um pouco. Então abriu-se uma porta lentamente na parte superior do estranho objeto. Parecia uma bola de futebol americano. Surgiu lentamente a figura de um homem, metálico brilhante. Seu corpo parecia cromado. Havia uma luz forte no interior de sua cabeça Era azulado, de um azul forte entremeado de manchas claras. Ele ergueu-se à uns dois metros do solo e abriu os braços em direção ao céu. Um arco íris surgiu descrevendo um grande arco parecendo ter sido projetado pelo homem azul. Então vimos estarrecidos o imenso asteróide aproximando-se lentamente e por estranho que pareça, sua penetração na atmosfera não causara o menor efeito. Era como se não existisse. Era imenso. Pairou a uma certa distância de onde estávamos e apenas parecia que o céu todo era uma imensa cobertura metálica. Então o estranho ser virou-se em nossa direção e ouviu-se claramente.

– Não temam! Nada acontecerá! Os bons serão preservados! Ele então abriu os braços novamente e um feixe de luz azulada muito forte projetou um imenso círculo até próximo de onde estávamos. Então aquela luz começou a sugar uma nuvem como se estivesse aspirando todos os insetos do planeta. Ele então virou-se e se aproximou de mim apenas sorrindo, não disse nada. Estendeu as mãos em minha direção e eu senti uma onda invadindo meu corpo e produzindo uma sensação que jamais eu havia experimentado. Então a estranha imagem começou a desfazer-se lentamente desaparecendo. Olhei para a cratera e o estranho objeto de onde havia emergido, também desfazia-se e para minha surpresa o solo em volta recompunha-se como se nada houvesse acontecido. Percebi então algo ainda mais estranho. A multidão em volta havia sido drasticamente reduzida. Havia agora menos de um quarto do total que vira ao chegar. Então a imensa maça acima de nossas cabeças começou a recuar e sua imagem também se desfazia sumindo e afastando-se velozmente. Todos se entreolhavam e ninguém se animava a falar nada. Tomei o carro e voltei para o palácio. Durante o trajeto o tempo clareava e as luas de Even4 iluminavam tudo. Então minha surpresa foi grande ao ver que toda a destruição causada pelo ataque estava sendo lentamente refeita.

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PARTE 12 - OS ESTRANHOS PRESENTES DO REI

Cheguei ao palácio e estava tudo refeito. Milagrosamente as pessoas andavam felizes e os milhares de cadáveres haviam desaparecido. Estranhamente, havia pouca gente nas ruas e locais onde normalmente multidões trafegavam apenas viam-se poucas pessoas andando alegres e tagarelando. Chegando ao palácio, Hatenna correu feliz ao meu encontro. Não havia cadáveres e nem mais gente ferida, estava tudo de volta ao seu lugar. O rei Sahib, sorria e me saudou. – Rapaz, agora nós podemos transformar o planeta em um lugar decente. Não sei o que aconteceu, mas de repente tudo voltou ao normal como uma onda recompondo tudo e fazendo com que os feridos aos poucos fossem levantando e descobrindo que seus ferimentos haviam desaparecido. Era como se nada houvesse acontecido. Nossas naves haviam sido restauradas e nossos pilotos estavam comemorando. As naves abatidas do invasor haviam sumido. A emissora de televisão comentava os estranhos acontecimentos e dava conta de que milhões de pessoas haviam desaparecido inclusive altos signatários do governo e empresários de grandes conglomerados. Percebi então, que algo estranho estava acontecendo comigo. Fui tomar um banho, haveria uma festa no palácio e o rei faria um pronunciamento. Hatenna estava também se preparando para o banho, uma tarefa que tomava mais tempo que o habitual até que ela decidisse quais sais aromáticos usaria. Liguei o chuveiro e me ensaboei, abri a torneira e imaginei que se fosse possível tomar um banho assim em gravidade zero, a gente poderia girar acima do chão, então aconteceu, eu estava flutuando e podia girar no ar e assim o banho foi ficando gostoso. Desliguei o chuveiro e pensei ainda flutuando em alcançar a toalha. Novamente consegui me deslocar. Eu estava flutuando e resolvi experimentar acelerar um pouco. Dei uma cabeçada na porta do banheiro e fiquei com a testa doendo. - Caramba! Eu posso voar? Foi a pergunta que me veio a cabeça. Pensei que bem que poderia esperar a Hatenna. Ela levaria um tempo preparando a banheira, mas... Então eu vi hatenna nua no quarto ao lado. Definitivamente havia algo acontecendo comigo. Eu podia flutuar tal como o estranho homem metálico. Podia ver além das paredes. O que mais faltava agora? Pensei na estranha criatura então vi o rosto de um homem, deformado, apresentado saliências e ondulações na face. Os olhos fechados, pareciam inchados. Mas tinha a aparência geral de um ser humano normal. Seria ele? – Sim! Ouvi claramente. – Meu nome é Ariel e você foi abençoado com poderes supremos. Mas lembre-se, use- os somente para o bem, não alarde aos outros o que você pode. Use somente em extrema necessidade. No começo você se sentirá confuso, mas com o tempo se acostumará. Apenas sua esposa poderá saber. Hatenna entrou no banho e me arrastou para a banheira.

– Hatenna, você está notando algo diferente em mim? Perguntei.

– Não! Você está meio febril, sente alguma coisa?

– Não! Mas, deixa pra lá.

– Agora você está estranho! O que aconteceu que você saiu e logo depois todas estas coisas estranhas começaram a acontecer?

– Foi uma experiência extraordinária. Depois conto a você.

– Certo agora quero você só pra mim. Na banheira as coisas começaram maravilhosamente bem, talvez porque os acontecimentos do dia haviam nos deixado felizes e começamos ali mesmo tal o ímpeto com que nos entregamos ao prazer. Quando estava chegando ao clímax ela sussurrou ao meu ouvido.

– Rodrigo, tem uma luz avermelhada dentro da sua testa!

– Você está vendo coisas.

– To não! Isto também era coisa do tal Ariel? Ele tinha uma luz na testa e agora eu também? Bem, levei um bom tempo explicando a Hatenna o que acontecera. Ela soltou uma gargalhada.

– Agora esta é boa, fazer amor com uma luz acesa na testa, pode? Estávamos nos preparando para a cerimônia no palácio e um funcionário bateu na porta.

– Senhor Rodrigo, um soldado está na sala de espera e pede para falar com o senhor. Terminei de vestir-me e fui até a sala de espera. Era o soldado com quem conversara momentos antes no local dos acontecimentos.

– Olá! Falou o homem. Encontrei esta carteira com cartões e documentos e pela foto acho que o conheço de algum lugar. Estivemos juntos hoje a noite o senhor lembra? Perguntei.

– Impossível! Falou o soldado.

– Eu estive de plantão até a pouco e achei sua carteira a poucas quadras daqui. Sei apenas que o conheço de algum lugar. Agradeci ao soldado e voltei para apanhar Hatenna. Estávamos atrasados. O soldado simplesmente não lembrava das cenas que havíamos presenciado. Achou minha carteira poucas quadras daqui, mas eu não andei a pé por ali. Havia sempre usado o carro. Isto somava mais um pequeno mistério para a noite. Chegamos a festa e parecia que nada havia acontecido. Havia muita gente, comida a vontade e música algo parecida com a música árabe. Chegou a hora do pronunciamento do rei. Depois de um longo discurso ele me chamou e falou.

– Você meu rapaz, tenho certeza, teve uma participação no que aconteceu hoje. Não sei o que você fez, não sei que estranhos poderes você possui, mas o que aconteceu só pode ser fruto de um poder divino superior ou de alguma magia desconhecida. Tal como seu conterrâneo no passado, você acaba de salvar o planeta Even 4 e como tal me sinto na obrigação de homenageá-lo. Como é tradição eu lhe entrego minha filha Ahib, como esposa. Ao dizer isso, uma servente entrou trazendo a moça com o rosto coberto. Cabia a mim, retirar o véu que a cobria. Após a declaração solene do rei tornando-a oficialmente minha esposa, encaminhei-me de volta para o salão. Hatenna me fuzilava com o olhar e preparei-me para uma tempestade. O diabo é que as filhas do rei eram maravilhosamente lindas e eu agora tinha um pepino na mão. Recusar a oferta seria ofensivo ao rei. Hatenna não aceitaria. O que fazer? Ao final da festa, voltamos os três para os nossos aposentos. Hatenna estava com a cara fechada e não disse uma única palavra no trajeto até a suíte que usávamos. Ahib, por sua vez, mantinha-se calada e indiferente. Conhecia a fúria do rei caso resolvesse desobedecer. Levei Ahib para o quarto de hospedes e fui ao banheiro. Na volta Hatenna havia jogado cobertas e um travesseiro sobre o sofá da sala de visitas. Bati na porta do quarto e nada. Tentei abrir, mas ela havia chaveado a porta. Resolvi dormir e deixar para o outro dia. Voltei para a sala e Ahib estava parada a porta.

– Não se preocupe. Falou.

– Eu aceito o que você decidir. Segundo nossa tradição, minha função é amá-lo e servi-lo como meu esposo.

– Ok! Vá dormir e amanhã resolveremos tudo. Eu agora não conseguia dormir, os acontecimentos do dia rolavam na minha mente. Resolvi tentar contato com o Rogério. Imediatamente eu o vi deitado, entre Maiha e Iub, numa harmonia que me deixou com inveja.

– Olá! Falei.

– O que você está fazendo aqui? Perguntou Rogério.

– Aqui como? Eu estou em Even4 lembra? Foi você que me mandou.

– Qual é? Você está em meu quarto e não sei como fez isso. Não é uma projeção! É você!

– Ok! Vou explicar tudo. Contei-lhe então tudo o que havia ocorrido desde que chegara a Even 4, nos mínimos detalhes. Era o primeiro contato com Rogério e eu devia-lhe este relatório. Ao final ele declarou-se surpreso, pois não sabia de nada do que havia acontecido. Tive de inteirá-lo de meu contato com Ariel e o que adveio disso.

– Você acha que é coisa do Adan?

– Não sei! Respondeu ele.

– Me parece diferente dos truques do Adan. Ele deve saber quem é esse Ariel que deve ter vindo de outra galáxia muito distante. Por aqui não temos registro. Seja como for, isso coloca você num outro patamar. Vou conversar com Adan e depois falamos novamente. Despedi-me de Rogério e confesso que a coisa me assustava. Bem, pelo menos ele não comentou sobre uma luz acesa na minha testa. Será que isso ocorria só quando eu fazia sexo? Bem, só testando novamente. Na manhã seguinte Hatenna levantou sedo e o ambiente estava melhor. Fiquei esperando uma tempestade, mas não aconteceu. Ahib tentava ajudar na preparação do desjejum, mas Hatenna se interpunha e não parecia disposta a colaborar, virou-se para mim e fuzilou um bom-dia lacônico. – Deixa disso! Vamos sentar e chegar a um acordo? – Está certo, temos que resolver a parada! Falou.

– Gente! Eu não quero ser o motivo de discórdia. Falou Ahib. Eu tenho obrigação segundo nossas leis e ser devolvida ou me recusar a cumprir com meu destino será motivo de desonra para minha família. Hatenna pegou-me pela manga e puxou para um canto da sala. – Ok! Você me ama? Perguntou agora já quase chorando.

– Claro! Respondi. Eu estava sendo sincero!

– Se você me ama, então com ela é só sexo? Jura!

– Juro! Respondi me sentindo aliviado. Ela então baixou a cabeça e ficou em silêncio por um momento. Depois falou.

– Está bem! Vamos tentar levar isso adiante. Mas. Se acender aquela luz com ela, juro que te mato. Essa agora me preocupava, não sei por que razão a tal luz apareceu. Teria que achar um jeito de inaugurar a Ahib, longe de Hatenna. Bem pelo menos tínhamos uma promessa de que as coisas poderiam se ajeitar. Tínhamos o resto do dia para resolver, isto se a voz do Rogério não interrompesse meus pensamentos.

– Rodrigo! Conversei com Adan e ele me garantiu que Ariel já está morto há bastante tempo. Isto significa que o que você tem visto é o espírito dele, por isso a aparência metalizada ou espelhada como você falou.

– Há! Quer dizer que aquilo que vi foi a ação de um fantasma?

– Mais ou menos! O Adan falou de um Umbral que permite a passagem de uma dimensão para outra. Mas só podem ultrapassar este portal pessoas com a capacidade de gerar esta luz que ele possui e que transferiu para você. Isto significa que você é o único que pode executar uma missão de importância vital. Lembra do Armando Castro Nogueira, o pai da Ana Paula?

– Sim!

– Você vai visitá-lo. Venha para cá. Eu e Adan vamos inteirá-lo do assunto.

Lauro Winck
Enviado por Lauro Winck em 13/05/2010
Código do texto: T2254249
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