MINICONTO: O TRIBUNAL
Eram seres estranhos, pouquíssimos humanóides, muitos incompreensíveis, amorfos, sem bocas, nem olhos.
O tradutor, no entanto, não deixava dúvidas quanto ao humor da assistência: Culpado!
Ele olhava ao redor, desnorteado, tremendo, sem forças. Estava sendo julgado por crimes que não cometera. Ou cometera?
Quais as leis daquele novo mundo, cheio de meandros jurídicos, culturais, incompatíveis com sua história de simples terrestre que vivera num mundo louco e febril, de guerras, esturpos, mortes, roubo, assassinatos, cânceres e perversão?
Não abriu a boca nenhuma vez. Queria gritar que era inocente, mas já não tinha certeza. Queria voltar no tempo, de antes da grande invasao, que, como tantos, acolhera como a salvação de seu mundo doente e destruído pela ganância e pela corrupção...
Mas não gritou. Era o único sobrevivente capturado; os outros continuavam na velha Terra radioativa, sem esperanças; só ele estava ali, como representante de sua raça de perdidos.
Devia algo à humanidade terrestre? Deveria lutar para provar a sua inocência diante do tribunal galáctico? Para que o nome da Terra não fosse banido para sempre dos livros de História, ou ao menos, figurasse entre os planetas com vida inteligente?
Não teve tempo suficiente para pensar, antes de ouvir a sentença:
Pena de morte!
Não para ele. Ah, não...
Permaneceria como objeto de estudo, mantido vivo eternamente pelas tecnologias destes inexplicáveis seres.
Pena de morte para a agonizante civilização da Terra.
E ele ainda gritou, antes de ser levado para o laboratório de análises:
_NNÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃOOOOO!!!!