MINHA NOVA VIDA COM KELLY 2-N

Pântano Grande fica acerca de 122 km de Porto Alegre. Fomos direto perguntar na minha antiga pensão, por mim mesmo. “Não aqui não mora nenhum Marcio”. A esta altura uma suspeita surgiu em minha mente e arrisquei,

- E Um homem chamado Arnold Scoth, mora ou morou aqui? “Sim, mas ele morreu, faz mais de mês, deixa ver, foi no dia 14 de Novembro” Kelly me olhou sem esconder um certo ar de preocupação. Dirigíamos de volta a Porto Alegre, cada um envolto em seus próprios pensamentos.

– Será que é aquela história de universos paralelos?

– Sei, Você acha que o fato de eu ter tomado o corpo de seu noivo ao morrer, me jogou também em outra realidade, um universo paralelo que automaticamente fez a mesma coisa, com o Arnold. Enquanto conversávamos decidi parar para abastecer. Peguei um jornal no posto de gasolina, que estava sobre um banquinho e a manchete de esportes me deixou branco. “ Marcio Santana Conquista o Mundial de Formula 1 em sensacional ultrapassagem na última volta”. A data era a mesma. 14 de dezembro de 2008. Alguma coisa, além da minha troca de corpo estava acontecendo.

De volta a Mônaco, a primeira providência foi conferir o noticiário nos jornais de 14 de dezembro. Lá estava registrada minha vitória no grande prêmio do Japão, como Arnold Scoth. Isto agora criava uma nova dúvida, se no Brasil havíamos lido a vitória de Marcio Santana, então em algum momento da viagem, havíamos transposto, digamos, um portal entre uma dimensão e outra. Kelly estava preocupada e a estas alturas, eu também.

– Ok, vamos repassar tudo. Naquele dia eu voltava do mercado e encontrei você, ou melhor, seu espírito dentro do corpo do Arnold, então nós resolvemos que você assumisse a identidade dele. Você embora nunca tivesse dirigido um fórmula1, mostrou-se competente a ponto de garantir o campeonato do Arnold.

-Espere, se as coisas acontecem ao mesmo tempo, então a minha habilidade para dirigir teve uma mãozinha do Arnold na outra dimensão. – Pode fazer sentido. Falou, você pilotou bem de mais para um principiante. Voamos para o Brasil e nos jornais de lá estava Registrada a Vitória de Marcio Santana, seu nome antes da troca de identidades. Lá nós constatamos que Arnold havia morrido. Então neste caso, ele era o velho e você Marcio Santana o jovem piloto.

– Exatamente, ponderei, só que a nova realidade não poderia ser alterada, simplesmente porque viajamos. Aqui em Mônaco eu sou o velho que tomou o corpo de seu noivo. Lá no Brasil o velho era ele. Então estamos cogitando de universos paralelos, mas que se alteram quando estamos aqui ou lá no Brasil.

– Isto não faz sentido, falou Kelly enquanto despia-se para um banho. Afinal acabávamos de chegar de uma longa viagem e estávamos cansados.

– Ok, vamos tomar um banho dormir um pouco e depois pensamos com mais calma. Claro que após o banho, nos deitamos e ela estava carinhosa o suficiente para que adiássemos mais um pouco o nosso sono. Acordamos já eram cinco horas da tarde. Fomos para a cozinha e Kelly preparou uns sanduíches e café. Fomos depois para o living e ligamos o som.

– Kelly, acaba de me ocorrer uma hipótese, que pode parecer ainda mais estranha, mas, poderia fazer sentido.

– No que você está pensando? Falou, enquanto me enlaçava pelo pescoço e roçava sua perna na minha.

– Veja, em minha opinião só pode haver uma explicação. Quanto tempo ocorreu entre aquela manhã em que nos conhecemos e o dia de hoje.

– Deixa ver, você chegou em 14 de Novembro, dia 30 você correu em Mônaco, em 14 de Dezembro, você ganhou no Japão. Viajamos para o Brasil dia 18 de Dezembro, hoje é 21 de Dezembro. São 37 dias.

- Exatamente. Então a diferença, pode não estar na viagem e sim em uma data.

– Como uma data?

– Kelly, pense comigo, nós estamos vivendo uma história muito estranha, partilhada entre 3 personagens. Destes 3 personagens dois morreram e sobramos nós dois. Isto porque eu salvei o corpo do Arnold invadindo-o. A troca de identidade ocorreu entre eu e o Arnold. Mas você, não sofreu nenhuma influência. Suponhamos que periodicamente esteja acontecendo um revezamento entre uma realidade e outra. Os acontecimentos são exatamente os mesmos, então para você não muda nada, vamos chamar realidades 1 e 2. Na realidade 1 eu sou Marcos no corpo de Arnold. Na realidade 2 Acontece o contrário, você continua sendo Kelly, isto é uma cópia de você mesma em outra dimensão. Quando estivemos no Brasil, não tivemos contato com Marcio Santana e digamos a Kelly 2, porque havíamos trocado de dimensão. Eles sentiram a mesma coisa, pois os acontecimentos não mudam. E agora estão fazendo exatamente o que nós estamos.

– É mas então, na outra dimensão o namorado da minha cópia era Marcio Santana e não Arnold Scoth?

- Exatamente.

– Mas, ainda temos um problema, o jornal lá no Brasil. Se continuávamos sendo, Arnold e Kelly, porque o nome no jornal estava trocado?

– Só tem um jeito de descobrir. Kelly estava pensativa e parecia querer lembra-se de algo.

– Arnold, no aeroporto em Porto Alegre, lembro-me ter visto dois senhores comentando sobre a corrida no dia que desembarcamos. Havia esquecido este detalhe, mas lembro que um deles pronunciou Arnold e não Marcio.

- Tem certeza? Perguntei.

– Sim, na época não dei importância, mas, agora...

– Ok, então voltamos à estaca zero. Você tem razão, só tem um jeito. Voltar ao Brasil.

– Porque não pesquisamos na internet?

– Podemos fazê-lo, mas, creio que não acharemos nada. De fato ficamos um bom tempo navegando arquivos de jornais e sites de notícias e não havia nada registrado com o nome de Marcio Santana. Mesmo em sites nas localidades próximas a Pântano Grande, não havia nada. A esta altura nossos planos para casar assim que terminasse a prova, foram adiados de comum acordo. Precisávamos decifrar o enigma. Resolvemos então voar de volta para o Brasil. Em Porto Alegre novamente alugamos um carro e rumamos para Pântano Grande. Lá chegando, minha primeira iniciativa foi procurar nos jornais locais as informações sobre a corrida. Em todos os locais pesquisados estava registrado corretamente, Arnold Scoth. Então a troca de nomes nos jornais vista na viagem anterior continuava sendo um mistério. Se havíamos sido transportados para outra realidade paralela naquela ocasião, isto foi revertido. Lembrei de voltar a antiga pensão e conversar com o dono. O mesmo sujeito me atendeu e foi categórico, “ Marcio Santana morreu aqui em 14 de Novembro” e não conhecia nenhum Arnold Scoth. Droga, mais mistério. Naquela ocasião estava tudo invertido, agora estava tudo de volta a realidade, pelo menos à nossa realidade. Resolvemos voltar no fim da tarde para Porto Alegre, não adiantaria ficar ali. À noite após a Janta, voltamos para o apartamento e Kelly ligou a televisão. Assistíamos ao noticiário e no último bloco uma breve reportagem dava conta de que, “ O piloto Marcio Santana e a noiva Kelly haviam viajado para o Brasil” Sentei na cama de um salto e Kelly, fazendo o mesmo me fitava com os olhos arregalados.

– De novo? Alguém está querendo brincar com a gente. Mas, quem? Resolvi descer e comprar uns jornais. Voltei para o quarto e ficamos procurando no noticiário, apenas em um deles havia uma pequena nota e adivinhe, estava tudo correto de novo. O piloto era Arnold e não Marcio. Parece que a troca de informações aparecia em lapsos de tempo muito curtos. Na manhã seguinte, não houve mais outras mudanças embora ficássemos atentos ao noticiário da internet ou das emissoras de rádio e televisão locais. Decidimos então voltar para Mônaco e tentar conviver com a misteriosa troca de dimensões. Nosso casamento finalmente aconteceu. Foi uma cerimônia simples somente para alguns amigos e convidados selecionados. Dois dias depois de uma daquelas noites em que nos amávamos até quase o amanhecer, acordei e Kelly havia saído. No laptop sobre a mesinha o recado. “Marcio, dorminhoco, fui fazer umas comprinhas e já volto. Vou com a Ferrari.” Claro, ela adorava aquela Ferrari. “Marcio? De novo?”, pensei enquanto ia ao banheiro. Kelly voltou das compras e a primeira coisa foi conferirmos o texto no laptop, só que agora dizia, “Arnold, dorminhoco, fui...” Quer saber? Vamos deixar isso pra lá, parece que quem fez isso não teve muita habilidade e deve ter alguma falha no sistema. Afinal, não prejudica a gente. Então agora casado observava o iate novo, pois íamos partir para uma longa lua de mel. Afinal, não podíamos fazer nada, além de curtir os momentos que tínhamos. Para mim, sobrou a oportunidade de finalmente poder viver mais decentemente com uma gratificação de uma vida extra e pretendia aproveitá-la ao máximo. Enquanto fazíamos os preparativos para a tournée de lua de mel, tocou o telefone.

CONTINUA

Lauro Winck
Enviado por Lauro Winck em 21/04/2010
Código do texto: T2211089
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.