MINHA NOVA VIDA COM KELLY 1-N

Meu nome é Marcio Santana, sou brasileiro, 70 anos aposentado e ganho apenas o suficiente para morar em um pequeno cômodo. No momento estou na sacada de minha casa em Mônaco e observo meu iate ancorado abaixo da sacada, no ancoradouro particular. Moro em uma casa imensa, decorada com o que há de mais confortável e luxuoso. Compatível com a renda de um campeão da formula1. É isto, ganhei o grande prêmio do Japão que me deu o título deste ano e por isso estou aqui. Aos trinta anos não posso me queixar da vida. Tenho uma mulher maravilhosa, Kelly, tem apenas 20 anos e nós nos amamos e combinamos nos casar assim que terminasse a temporada. Meu nome aqui é Arnold Scoth. Sei, sua cabeça a estas alturas está confusa. A minha também, pelo menos até que consiga uma explicação. Tive que treinar muito, nunca havia dirigido nada além de meus carros de passeio, o último Maverick e um cart de um parque onde levei uma vez meu filho, que me deu um banho de volante me deixando duas voltas atrás. Confesso que sempre tive o sonho de dirigir um brinquedo desses, claro que estou me referindo a um bólido capaz de atingir mais de 350 km h. Mas muito cedo o sonho morreu, percebi que era um esporte para raros privilegiados. Minha vida, não tinha até então, nada de especial. Sempre tive carros, pelo menos compatíveis com a classe média brasileira. Maus ventos me atingiram e ao fim da vida, sobrou apenas uma pequena aposentadoria que nem dava pra viver sem uma ajuda extra dos filhos. Acordei completamente desorientado. Estava deitado em uma cama que antes, só vira no cinema. Uma ampla suíte com uma porta pantográfica larga que dava acesso a sacada. O ar condicionado ligado dava aquela temperatura agradável e envolvente. Meu corpo parecia estranho, não era o meu corpo magro e já desgastado pelo tempo. Meus braços eram fortes e musculosos, vestido com um pijama confortável naturalmente de grife. Quando olhei a hora, um Rolex no pulso nada parecido com o popular Oriento de R$ 35,00 que havia comprado em minha cidade de Pântano Grande. Droga! O que está acontecendo? Caminhei até o que deveria ser o banheiro. Sim e que banheiro, caberia uns quatro quartos do tamanho do meu. Mas. o susto maior, veio ao olhar-me no enorme espelho de puro cristal. Caramba! quem é esse cara? Eu estava olhando para um homem pelo menos quarenta anos mais novo, forte de tez morena, um tipo capaz de agradar qualquer mulher com toda certeza. Olhei de volta para meu corpo, era o do espelho, sem dúvida. Voltei ainda meio desconcertado para o quarto e um lap-top, ligado sobre uma mesinha destas de computador, mostrava um arquivo aberto. “Dorminhoco! Vou fazer umas comprinhas e já volto. Vou com a Ferrari. O pessoal da BMW já trouxe o carro da revisão, beijo”. Claro que o bilhete estava em inglês e ainda bem que eu sabia o suficiente para manter um papo. Ferrari? BMW? Meu Deus onde estou e em que encrenca me meti? Calma. Vamos pensar, falei pros meus botões, meus? Ok, o pijama nem tinha botões, mas, vamos lá, Ontem deitei em minha cama modesta de solteiro e acordo no corpo de outro cara que evidentemente é muito rico. E o pior, em pleno principado de Mônaco. E agora? Não sei nada desse cara. Seja como for, não tenho culpa. Tenho que assumir alguma amnésia pelo menos por enquanto. Ouvi passos femininos e ela surgiu a porta e meu coração, ou o dele, disparou.

- Puxa vida, este cara tem bom gosto, parece eu!.

– Oi! Dorminhoco! Bom dia! Esqueci o inglês e falei, ainda pasmo e ofuscado pela beleza daquela morena que me sorria,

- Bom dia, mas, me diga quem sou eu? A moça fez uma cara de incrédula e para meu espanto respondeu em um português bastante claro para uma estrangeira,

- Você deve estar brincando.

– Não estou moça, realmente não sei quem sou. Ela pareceu assustada, arregalou os olhos e falou.

– Ok, não sei o que você tem, mas, vamos lá, você é o Arnold e eu sou Kelly sua noiva.

– Muito prazer Kelly. Respondi e percebi que continuávamos falando português sem problemas.

– Muito prazer Arnold, Respondeu parecendo ainda não estar convencida.

– Puxa você realmente não se lembra? Não sabe quem é? Você está com amnésia?.

– Olha Kelly, não vou enganar você, eu não sei o que aconteceu, mas, digamos que o corpo que você está vendo é na verdade o do seu noivo. Meu nome é Marcio Santana e não sei explicar como vim parar no corpo dele. Estou tão perplexo quanto você. Você fala português corretamente, porque?

–É simples, sou filha de mãe brasileira e pai americano. Você está com fome? Quer um chocolate quente?

– Prefiro café, você tem?

– Sim, e isso prova que você realmente não é o Arnold. Ele adora chocolate.

– Eu detesto. Prefiro um café preto quente. Tomamos um delicioso café, eu preferi puro. Perguntei se tinha um cigarro.

– Claro, respondeu. Com certeza você não é o Arnold ele detesta cigarros e vive brigando porque eu fumo.

– E agora o que vamos fazer? Perguntei instintivamente. Claro, a situação era no mínimo preocupante.

– Não sei, respondeu ela, talvez uma consulta com um amigo meu psicanalista.

– Sabe, há alguns anos li uma seleção de livros de Lobsan Rampa, um monge budista que afirma ter assumido o corpo de um médico na hora em que ele morria e então voltou a viver no corpo do médico e dedica-se a escrever sobre filosofia budista. Ela ficou pensativa e parecia fazer um esforço para entender o que eu estava falando.

– Você acha possível que isso tenha acontecido com você?

– Não sei. Se foi isso, o meu corpo antigo esta hora está em baixo da terra e o seu Arnold é apenas um espírito ou está lá no meu corpo e no meu quarto, tão perplexo quanto nós. Visitamos o psicanalista amigo de Kelly, um francês parecido com Woody Allen que apenas argumentou que o caso era raro e não tinha uma explicação científica. Voltamos para casa e passamos o resto do dia conversando e examinando a situação e o que poderíamos fazer. Jantamos e estávamos sentados sobre o sofá do living sorvendo um legítimo scoth. Ela me olhou e perguntou

- Este Lobsan Rampa já morreu?

– Não sei respondi. Talvez!

– Bem, e se for irreversível? Você já dirigiu um f1? A pergunta me surpreendeu.

- Claro que não, você não esta pensando que eu...

– Porque não? Interrompeu ela. Olhe, faltam 15 dias para a corrida aqui em Mônaco, se você vencer ou chegar pelo menos em segundo, poderá ser campeão no Japão na última prova. Olhe, não falamos nada pra ninguém, simulamos que você tem um problema de amigdalite e está sem voz, assim não terá que falar, eu falo por você. Se você não conseguir, nós inventamos um problema de tonturas ou algo que impeça sua coordenação pra dirigir. A noite caiu e afinal havíamos que decidir o que fazer. Ela me abraçou repentinamente e me beijou. Eu fui invadido por uma intensa sensação, um misto de excitação e paixão envolvente e acabamos no quarto. Depois tomamos uma ducha e sentamos na cama, uma sonata de Chopin fluía do sofisticado equipamento de som.

- Sabe? Fiquei preocupada a principio, pensei, será que estou traindo o Arnold com seu próprio corpo? Bem não faz sentido, mas, confesso que não mudou nada exceto que seu desempenho foi imensamente superior. Claro que fiquei feliz, pois já estava apaixonado pela noiva do..., melhor, a esta altura minha noiva, porque não?

– Como conheceu o Arnold:

- Numa corrida em Tarumã. Sempre gostei de fórmula 1 e daí...

Lá estava eu agora sentado em uma geringonça, fruto da mais alta tecnologia. Na verdade cercado literalmente por um tanque de gasolina empurrado por mais de 750 cavalos de força motriz. Depois de receber instruções do chefe da equipe, a bandeirinha caiu e acelerei. Saí do box sem problemas e percebi que o brinquedo era um verdadeiro milagre da alta tecnologia, parecia adivinhar os meus pensamentos e o cambio semi-automático parecia informar a hora de trocar as marchas e no começo tive algumas dificuldades com as curvas, mas aos poucos fui pegando o jeito. Na terceira volta já me animava a acelerar tudo e procurava mentalizar os pontos de freada de cada curva. Kelly debruçada sobre o muro de proteção da reta de chegada, torcia e vibrava a cada volta que eu fazia. Foram dias de treinos intensivos e a cada dia eu estava melhor, será que eu tinha vocação pra isso e não sabia? Meu pescoço reclamava e doía, pois a fôrça centrífuga o jogava para o lado oposto a cada curva e ficava preso a tirantes que evitavam que fosse simplesmente arrancado. Kelly estava feliz e me incentivava a cada dia. – Você está ótimo, hoje, fez o mesmo tempo da pole da última corrida. Claro vez por outra sobrava uma escapada em uma curva. No dia da prova 30 de Novembro em Mônaco, consegui largar em terceiro. Ganhei uma posição de um italiano que quebrou e consegui manter-me em segundo. Para um principiante, o desempenho foi surpreendente mas, ficou apenas entre nós dois, pois para os outros, Arnold era um veterano. Finalmente o grande premio do Japão, Novamente o segundo tempo. Para conquistar o título eu tinha apenas que chegar na frente do francês Jerri Montclair que largaria na pole. O circuito Japonês, ao contrário de Mônaco, permitia ultrapassagens e eu me mantive a prova toda atrás dele. Nas últimas voltas comecei a apertar e o carro respondia magnificamente, mas, o cara era bom e fechava a porta sempre que tentava uma ultrapassagem Resolvi entrar no jogo e esperar um erro dele, então na última curva da última volta eu ameacei antes da entrada na curva e sabendo que ele ia fechar para a esquerda, retardei a freada e enfiei pela direita saindo a sua frente, eu estava na frente e cruzamos assim a faixa de chegada, eu vencera por centímetros, pois ele estava a meu lado e mais um pouco e não teria dado Fim de temporada viajamos para o Brasil, eu precisava ver a minha cidade e saber o que tinha acontecido com meu corpo. Pousamos no Salgado Filho em Porto Alegre e alugamos um carro. Rumamos para Pântano Grande e lá chegando, o que aconteceu misturou mais ainda nossas cabeças.

CONTINUA

Lauro Winck
Enviado por Lauro Winck em 21/04/2010
Reeditado em 21/04/2010
Código do texto: T2211074
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