A Última Noite da Terra (Versão 2010)

Caiu a noite eterna...

Nela nada brilha, e até as estrelas se apagaram, pelo menos para nós, sendo que esta é a maior escuridão que a humanidade já viveu, a escuridão final…

Brilha apenas uma vela que consegui acender antes desta escuridão, e brilha também apenas a tua aura (ou estarei a fazer confusão com um reflexo da vela num qualquer metal…?), e por isso sei que estás perto de mim, afastando desta forma os fantasmas que se querem eleger à categoria de demónios, e é através da tua luz que encontro uma certa salvação, do inferno dos tempos finais onde está em jogo, ou não, uma hipotética salvação…

Ainda ouvi, antes do silêncio sepulcral se instalar na nossa cidade, alguém gritar em pânico que tempestades de fogo varrem o mundo, e nessa altura senti-me a arder, mas por dentro, pois descobri nessa altura de fim de tempos o quanto te amo…

Estranhamente não vejo chamas, apenas a sua claridade à distância, tão longe que de facto impera a quase total escuridão, e isso deve ser bem real, pois cai uma chuva de cinzas negras sobre toda a paisagem, cobrindo o que está perto, o que está distante e depois destas tenebrosas horas finais de eclipse, eu sinto, mais do que sei, que nada, mesmo nada…ficará como foi, como dantes…

Por um reflexo instintivo civilizacional, olho para o relógio, parado, desde aquela hora em que o mundo parou para sempre, a hora final, como lhe chamo agora, mas o tempo parou e de nada me adianta saber as horas…

Olho então para Ti, notando nesse teu olhar familiar, antes e após a descida das trevas, que inevitavelmente e de uma forma inexorável nos estão a abraçar…

É um mundo sem cor, este, o de agora e do amanhã para quem cá estiver, e num mundo sem cor, Tu e os meus sonhos possuem a cor extinta, e assim eu não acredito, não quero não posso nem devo acreditar no que vejo à minha volta e para além, é nas tuas cores que a minha alma crê, é lá que reside o meu derradeiro vestígio de fé…

Antes deste mundo sombrio se fechar sobre nós, antes de ficarmos aqui os dois, tão juntos, mas demasiado sós, ouvi na rádio, na televisão, na Internet, nos restantes meios de comunicação, antes do Grande Silêncio, que algo de indefinido, mas de poderoso, e assustador iria engolir nos seus braços negros, tudo Tudo…

Ouvi também inúmeras vozes no nosso prédio, na nossa rua a quererem atribuir a culpa a alguém, ignorando, ou querendo esquecer, que o responsável por tudo isto fomos todos nós, toda a humanidade e por isso estamos no olho do ciclone de chamas, bem no seu centro e não apenas na sua margem…

E assim, num repentino segundo, deixámos de fazer planos para o amanhã, deixámos de sorrir, deixámos de sonhar, deixámos de pensar, mas não deixámos de amar, pois a redenção, e a rendição final, estaria no cerne do nosso amor, Ficando assim sós, a observar os anjos do apocalipse, cair, sobre nós, Ficámos a amar, como se não houvesse um Depois, Um Amanhã, e não havia de facto…

Dou comigo a chamar por ti, pois descobri que tenho medo de que a promessa de eternidade que te fiz não se vá cumprir, e desta forma, por ter rompido, mais do que os laços mentais de te amar para sempre, os laços contratuais sagrados, de te ter prometido a eternidade, e de não te poder dar tal…Um laço contratual espiritual no além-vida…Julgo que não te terei, e assim não sei para onde ir…

Não sabendo a fronteira que separa o sonho do pesadelo, do que é real…

Sinto agora quando faltam apenas algumas horas para o nosso encontro com o Invisível, que não sinto nada, a não ser o amor…não me importando com nada, a não ser com o facto de primordial importância que quando chegar esse fim Esse Eclipse estarei duma forma absurda feliz, se te tiver por perto, se te tiver em meu redor…

Esta é a nossa última noite, é a última noite da Terra…

Miguel Patrício Gomes
Enviado por Miguel Patrício Gomes em 27/03/2010
Código do texto: T2162291
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