A chama do Universo - parte 2
- Even, está acontecendo.
Silêncio. Adam se surpreende pela aflição que a falta de resposta lhe provoca. Morrer era dogma, morrer sem companhia era profano.
- Desculpe, Adam, estava digerindo a informação. Atração?
- Sim, meu anjo – agora se sentia à vontade para chamá-la assim, não era crível uma repreensão a um moribundo.
- Nossa companhia durou tão pouco...
- Acho que temos algum tempo. Os sistemas estão baixando os cenários possíveis e espero boas notícias.
- Ainda vai levar tempo para os computadores definirem um padrão e sugerir planos de ação.
-É.
“Talvez nunca definam”, pensou o agora conformado cientista, olhos fixos nos números que não faziam sentido no visor.
- Ei, doutora, acho que encontrarei o wormhole primeiro.
- É, boa sorte, mande notícias do lado de lá.
- Expansão ou big crunch?
- Como?
- Antes de ir, quero saber o que pensa de tudo isto. O Universo, a raça humana...
- Difícil responder assim, Adam. Acho que big crunch, mas assusta a idéia de um imenso retrocesso.
- Mas a infinitude da expansão também te enlouquece.
- Isso.
- Singularidade.
- Pula.
- Horizonte de eventos.
- Próxima?
- Casamento?
- Como?
- Casamento. Quer casar comigo?
Silêncio de novo. Mas desta vez um silêncio gostoso.
- Convite de viuvez?
- Como pensar.
- Já estou envolta em preto mesmo. E como seria esta cerimônia espacial?
- Você só diz “sim”.
- Só isso?
- Só. Você aceita ser minha esposa?
- Sim.