mirabela- o amargo sabor do destino-continuação
Ouvindo aquilo Mirabela cora de vergonha e levantando-se, põe as mãos na cintura e exclama envergonhada: -Mamãe!!
Ela porém não percebe que a mãe está humilhando-a. Aliás sempre fora assim. A mãe a humilhava constantemente e ela não percebia. É que a senhora Albertina nunca aceitou a ingenuidade do marido. Muito antes do seu súbito desaparecimento ela vivia a repreendê-lo por achá-lo muito bobo. Quantas vezes o enganaram por aí afora, quantas vezes lhe tomaram dinheiro inventando as mais fantasticas estorias.
A senhora Albertina lembra-se muito bem do dia em que ele saiu
para fazer compras e voltou para casa sem nada. No caminho havia encontrado um charlatão que o enganara dizendo que ele havia sido sorteado num determinado jogo que ele sequer havia jogado. Mas como o espertalhão havia descoberto o seu nome e endereço completos ele então acreditou. O homem havia lhe contado mil estorias, até que desapareceu com um salário inteiro, deixando-o apenas com um velho bilhete na mão. O dinheiro havia sido um mês inteiro de trabalho da senhora Albertina atras da velha máquina de costura, juntamente com uma parte da aposentadoria da senhora Lázara e das vendas de Mirabela.
Por estas e outras dona Albertina perdera a confiança no marido. A cada dia era uma coisa diferente. O senhor Ulisses acreditava em tudo o quanto lhe diziam e isso despertava ainda mais o ódio na esposa que tantas vezes comentou consigo mesma: -" Nestas horas eu queria ser uma mulher bem vulgar, porque um par de chifres é muito pouco para uma cabeça como esta".
E desde então ela passou a ver a imagem do marido na filha, por isso apesar do amor que sentia por ela era inevitável não odiá-la também. Da mesma forma era com o esposo. Apesar de tudo ela o amava, e este era um motivo sobre o qual ela não se conformava com o seu desaparecimento. Porém seu ódio parecia ser bem maior que o seu amor e ela prossegue então com a sua sessão de humilhações à filha:
- Quantas vezes este rapaz e a familia dele vão te fazer de tonta até você reconhecer Mirabela?
- Calma mãe! eu não me importo, e depois o Santiago não me faz de tonta coisa nenhuma. Os pais dele sim.
- Isso é somente até ele conseguir se aproveitar de você, por que depois ele vai cair fora. E olha: até que eu acho bem feito, assim você aprende. Se é que aprende, porque uma burra como você jamais vai aprender qualquer coisa na vida.
Ouvindo aquilo Mirabela apenas baixa a cabeça muito triste. A avó porém interfere: - Quer parar com isso Albertina? você já passou dos limites.
A mulher volta a máquina de costura cheia de revolta, enquanto Mirabela aproxima-se de Fabricia dizendo-lhe: - Viu só Fabricia? é por isso que eu não quero ir, vão me fazer de boba lá naquela festa.
Temendo desistencia por parte de Mirabela, Fabricia se desespera:
- Sua mãe está nervosa Mirabela, não ligue para ela.
Mirabela senta-se triste e quase chorando: - Não Fabricia, minha mãe tem razão. As mães sempre têm razão não é vó?
A avó se enternece ao ver a neta falando daquela maneira:
- Nada disso meu amor, nem sempre as mães têm razão. A sua mãe está nervosa por isso está dizendo estas coisas. E olha: você não é boba coisa nenhuma, é uma garota muito inteligente e bonita e no que depender de mim pode ir à festa sim. Mas chegue lá de cabeça erguida. Não dê a ninguém nenhum motivo para humilharem você. Pense sempre que você é tão importante quanto toda aquela gente.
Fabricia não cabe em sí de tanta felicidade e vai correndo em casa avisar aos pais. A mãe , a senhora Paroquisa pouco caso fez, O pai, o senhor Ananias comentou apenas que se sentia tranquilo sabendo que a filha estaria na companhia de Mirabela. Para os familiares da redondeza suas filhas sempre estariam bem acompanhadas ao lado de Mirabela. Para aquela gente Mirabela passava segurança. Tanto que quando qualquer moça daquela cidade queria ir a algum lugar, convidava Mirabela porque tinha certeza de que com ela, seus pais não colocariam obstáculos.
Pela manhã um rapaz bate à porta de Mirabela com uma grande caixa vermelha nas mãos. Mirabela e sua mãe vão atendê-lo:
- Pois não!
- Bom dia senhoras; trago esta encomenda para Mirabela Dias
Ela agradece, lê o bilhete que acompanha a caixa e vê que refere-se a Santiago. Muito eufórica desenlaça a grande fita que envolvia a caixa. Quase chora de tanta emoção ao perceber o lindo vestido que acabara de ganhar. A mãe que acompanhava tudo de perto e em silencio, balança a cabeça negativamente. Enquanto que Mirabela colocava o vestido na frente do corpo diante do espelho muito feliz.
Enquanto isso Carlão, o chefe da quadrilha de D.Vaggio chega correndo e muito ansioso em direção ao chefe:
- D.Vaggio, D.Vaggio!
- O que houve?
- Um informante acaba de me dar uma noticia.
- Que noticia?
- É que a moça das flores a tal Mirabela vai está na festa dos portugueses hoje a noite.
O homem irrita-se por demais com aquilo e esmurrando a mesa grita eufórico: - E no que isso me interessa oh seu imbecil? onde ela vai ou deixa de ir não me interessa. Isso é com vocês. Quero-a aqui e pronto. Não me interessa em que parte ela vai está.
- chefe, o senhor precisa entender, isso implica que vinte e quatro horas é um tempo curtissimo. Não podemos fazer milagres. A hora boa para pegarmos a moça seria a noite e hoje ela estará cercada de pessoas naquela festa.
O homem então senta-se quase cedendo aos argumentos de Carlão.
- Se fossem uns homens espertos, não haveriam obstáculos,
mas de vez em quando eu esqueço de que estou tratando com
inúteis. E quanto tempo poderão levar para pegá-la?
- Até amanhã mesmo, o senhor não se preocupe.
E finalmente é chegado o grande dia da festa. Mirabela estava mais linda do que nunca com o belo vestido que ganhara de Santiago. Até parecia sob medida para ela. No salão de beleza enrolaram-lhe os cabelos deixando expostos lindos cachos. Agora sim ela estava mesmo parecendo um anjo. A pele rosada e os belos olhos azuis davam ainda mais um tom angelical á toda sua pureza. Fabricia tambem estava bonita, porém um tanto vulgar pois o decote e o comprimento do vestido descartavam qualquer possibilidade de discrição.
- Fabricia o que disse sua mãe ao vê-la vestida assim?
- Assim como dona Lázara?
- Você está quase nua menina. O que acha que os portugueses vão pensar de você?
- Que caretice dona Lázara! a senhora não sabe mesmo o que é andar na moda.
- E onde está minha neta? espero que o vestido que aquele rapaz comprou para Mirabela não seja nenhuma aberração. Ou vão ficar por aqui mesmo.
-Aí está Mirabela.
Ao ver a neta , dona Lázara se emociona e chora diante de tanta
beleza.
- Meu Deus! é você mesma? você está encantadora meu amor.
- Para vó, assim eu fico encabulada.
E fitando a neta de frente como se não a quisesse perdê-la de vista, a avó começa a gritar pelo nome da filha a senhora Albertina:
- Albertina, Albertina, corre aqui.
-O que é mamãe?
Ao ver tanta beleza na filha a senhora Albertina tambem fica estática: - Como você está linda minha menina!
E segurando a filha pela mão a senhora Albertina lhe diz
emocionada: - Agora sim você tem mais é que ir a esta festa, para toda aquela gente besta ver que moça linda que você é. Vai sim filha, eu acredito que você será a mais linda daquela festa.