Nascida para noite

Assim que acordei para a noite, e vi pela primeira vez a lua, o astro que me iluminou nesses últimos séculos, pude perceber a sede que tinha pelo sangue dos quais eu fazia parte até a noite anterior.

Nem mesmo a repulsa por matar conseguiu me conter após eu ter provado a primeira gota de sangue humano. Desde aquele dia, em certas noites do mês, eu saio à procura do liquido que me mantém viva, a fonte do meu prazer e também do meu caminho para o purgatório.

Por muitas vezes matei mulheres e crianças só por inveja, elas poderiam crescer e procriar, já eu, estava limitada a somente ver as mudanças da lua e o derramamento de sangue que eu proporciono.

Hoje tenho presas mais saborosas. Meninos, não muito velhos, têm o sangue mais saboroso que já provei... Mesmo sabendo que estou a interromper vidas que nem mesmo sabem o que é viver realmente pela inexperiência e a ingenuidade, eu não posso ou mesmo quero mudar.

Esta tarde, assim que o sol se pôs, eu acordei deliciada por um perfume muito agradável e atrativo vindo de não muito longe.

Não demorei para me vestir e logo sai à procura do dono de tal odor. Mesmo não estando com sede esta noite, não pude deixar de sentir atração pelo rapaz que estava exalando este cheiro.

Ele estava em um bar próximo da minha casa, provavelmente não era da cidade.

Devia ter no máximo 20 anos e estava sentado em uma mesa, solitário, com a cabeça caída sobre as mãos.

Resolvi me sentar ao seu lado. Quando puxei uma cadeira ele levantou a cabeça, deixando transparecer nas lágrimas que escorriam de seus lindos olhos azuis um mar de angustia e tristeza, e logo pois se a me ignorar.

Eu fiquei um tempo parada ali, só a admirar aquela pele clara e seus cabelos escuros, enquanto os olhos estavam voltados a mesa sobre um rosto sem expressão.

- Com licença... Desculpa me intrometer, mas você está bem? – eu disse ao tocar em uma das mãos dele. Eu pude sentir a sua pulsação e o bater de seu coração só me fazia querer mais o sangue que corria em suas veias.

- De que importa se estou bem ou mal? Tudo vai ficar assim, do mesmo jeito – ele enfim olhou em meus olhos, sua expressão não era mais de angustia, mas sim de raiva. - - Não creio que veio neste bar para ver um homem chorar, pois então por favor, se retire desta mesa

- Hey, calma rapaz, pelo contrario do que deve pensar, homens podem sim chorar, isso é normal... Ainda mais vindo de um rosto tão angelical quanto o seu.

- Hãm – ele riu sem humor - - Por ser tão angelical quanto você disse, eu acabei de perder a mulher que dediquei praticamente a minha vida, para um qualquer cheio de músculos que fala errado.

- Nossa... – eu respirei fundo - - Sabe, eu posso fazer isso tudo terminar... É só você vir comigo que você não vai ter mais de pensar nela.

- Você deve se achar muito boa não é?

- Eu sou... E posso apostar que você também é – eu passei a língua sobre os lábios, eu já não podia mais agüentar ficar perto dele - - E quer saber, se vier comigo, posso te dar mais uma vida para apostar na mulher certa

- E essa seria você? – ele levantou uma sobrancelha e apoiou os cotovelos na mesa para ficar mais perto

- Isso você vai decidir, é só vir comigo... – eu me levantei e sai andando na direção da saída. Antes de sair pude ver ele colocando um dinheiro na mesa do bar e vestindo seu sobretudo.

Eu fiquei esperando perto de um poste que havia a alguns metros do bar, se ele não viesse até mim eu teria de ir até ele, o que eu não podia era ficar sem sentir o sabor daquele sangue angustiado que corria no corpo dele.

Cinco minutos depois ele saiu do bar, estava frio naquela noite, uma grande rajada de vento balançou os seus cabelos deixando mais forte o meu desejo sobre ele.

- Hey... – eu disse agora atrás dele - - então, resolveu vir comigo?

-Ual! Eu não tinha te visto aí

- Eu não estava aqui

- Oh... Ok, mas sobre resolver ou não, eu achei melhor verificar se estava ou não perdendo algo de bom

- Verificar – eu ri alto e o levei rapidamente a um beco sem saída que tinha ali perto - - Sabe, você terminaria aqui mesmo se não quisesse

- Terminaria? – ele perguntou sorridente - - Por que, você vai acabar comigo?

- Isso vai depender de você! – eu o prensei na parede e lhe dei um longo e demorado

beijo - - Então, já verificou se valho a pena?

- É, acho que vale sim!

- Boa escolha... – eu sorri, agora meus caninos estavam em evidencia. Eu fui beijando desde sua mandíbula até seu pescoço - - Então, sabe aquela proposta que eu lhe fiz? Ainda está de pé... Quer uma nova vida? Pensa bem... Não são todos que dou essa oportunidade

-Espera... – ele passou a mão no meu rosto o levantando - - Você é uma vampira não é? E quer me matar

- Eu quero o seu sangue... Quero muito... Mas não quero te matar, gostei muito de você

- Eu também não quero ser morto – ele disse apavorado

- Então fica quietinho aí... Só vai doer um pouquinho... Prometo que quando acordar vai se sentir melhor...

Eu comecei a morder ele, o sangue era muito melhor do que eu havia imaginado... Eu quase não consegui deixá-lo vivo....

- Toma criança... – eu furei o meu pulso - - Bebe, e sinte como é bom....

Ele bebeu, logo ficou pálido e seus caninos começaram a realçar

- Hey, já chega... Logo você vai poder beber mais... – ele olhou em volta

- Ual... – ele respirou fundo - - Esse cheiro... É sangue?

- Sim... É bom não é?

- É ótimo.... Eu quero mais

- Vem – eu dei a mão para ele levantar - - Vou te mostrar como é viver realmente....

Isabella Cunha
Enviado por Isabella Cunha em 20/02/2010
Código do texto: T2098301
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