Vidas do Destino

por Lawrence Lagerlof

. . . .

– Por favor, gostaria de falar com o Sr. Heind.

– É Dr. Carlos Heind, madame. Só um instante. Vou chamá-lo.

Carlos Heind é físico do Laboratório de Fissão Nuclear da Agência Nacional de Pesquisas Espaciais. Um homem com perfil duro. Alguns dizem que ele é mesquinho, e até grosseiro, mas ninguém duvida da sua genialidade. É um dos poucos cientistas de primeira categoria que estudou fora o voltou para sua terra natal. Alavancou sua carreira apenas aos 27 anos, quando descobriu novas propriedades quânticas referente à teoria das supercordas, no final dos anos 70. Ganhou fama internacional entre os pesquisadores, mas a descoberta não foi suficiente para ganhar um Nobel.

Agora, com 55 anos, apesar de seu enorme ego - e respeito ganho - não se preocupa mais com prêmios, e sim com a pesquisa científica. Apenas.

O telefone do seu laboratório toca: – Dr. Heind, tem uma senhora aqui que gostaria de falar com o senhor. Seu nome é Amanda Calgari, e o assunto é particular.

(nunca ouvi falar) – Tudo bom, mande-a subir.

Amanda, uma mulher de aparência jovem, porém claramente experiente. Um observador mais cuidadoso dificilmente daria mais de 40 anos.

Ao chegar na sala, ele a reconheceu na hora. Era uma velha amiga, que não via a pelo menos 20 anos. Ele estava estupefato. Porquê cargas d’água ela teria mudado seu nome?

Ela adiantou-se. Deu-lhe uma abraço em um beijo no rosto. – Faz muito tempo, disse ela. E temos muito a conversar...

Eles almoçaram juntos e relembraram os bons tempos, quando ela era bióloga na Université de Paris. Na época, recém formada, e ele, dando algumas aulas como professor temporário. Faz uma vida.

Mas Amanda estava esperando o momento certo para contar-lhe o que tinha acontecido.

– E então, você vai ou não me dizer porquê seu nome agora é Amanda? Não entendi nada, e isso está me perturbando. Fale logo.

– Eu fui testemunha de uma coisa horrível. Agora estou no programa de proteção à testemunhas, e não posso sequer pensar em usar meu verdadeiro nome agora. Nem agora, nem nunca. Respire fundo, pois o que eu tenho para lhe contar é de suma importância.

– A dois anos atrás eu estava fazendo pesquisa. Exobiologia. Foi a pedido da Agência Espacial Russa, e tive que aprender a falar Russo, bem mal, mas tive. Eles foram bastante calorosos em me receber como um membro da equipe. Carlos, você conhece a pesquisa que a NASA fez sobre bactérias em Marte?

– Sim, claro. Quem não sabe? Descobriram que eram apenas minerais em formato de bastonetes. Depois disseram que eram fósseis de bactérias. Não eram bactérias vivas, de qualquer forma.

– Você está correto, mas os governos sempre, eu digo, sempre escondem alguma coisa. Eu duvidei dessa retratação desde o início.

– Ok, ok. Mas o que isso tem a ver com a sua pesquisa? Você teve acesso à esses dados da NASA?

– Sim e não. Carlos, veja bem, ninguém pode saber o que vou te contar agora. Na verdade, estou me abrindo com você porque confio, e porque é um bom amigo.

Carlos sento-se mais fundo na cadeira acolchoada do café-bar, e respirou fundo.

– Tá bom. Fale.

E ela contou tudo.

Quando Amanda foi chamada para trabalhar na Rússia, ela sabia que a pesquisa seria confidencial, mas não sabia o quanto isso iria mudar a sua vida.

– Quando comecei a trabalhar, fiquei impressionada com o aparato tecnológico que tinha a minha disposição. Era uma aparelhagem de último tipo. O sonho de qualquer biólogo. Me entregaram as especificações do projeto. Era ultra-secreto, uma coisa do governo Russo... e era roubado. Todos os dados do projeto eram dados do robô Sojourner, que vasculhou a superfície de Marte. Muita informação era de domínio público. Informação publicada pela NASA aos quatro ventos. Mas boa parte nunca veio à tona. Não me pergunte como eles conseguiram esses dados, mas devido a algumas características, o modo como a informação estava organizada... acho que os dados foram roubados via rede, pela Internet. Alguns trechos estão corrompidos. Não sei, não sei... Isso não é importante. Apenas uma coisa é: – Aquele material, aquelas “bactérias fossilizadas”, estão fossilizadas mesmo, mas sua estrutura molecular é inconcebivelmente complexa. Escute bem: algumas cadeias de moléculas são impossíveis de existir. É algo mais do que alienígena. Não pode ser deste Universo.

*

Carlos tinha virado uma estátua. E estava pálido como uma.

– Vamos com calma, você está se descontrolando, mulher! O que está dizendo!?

Nesse momento um carro parou em frente ao café, quase um restaurante, onde almoçavam. Um homem, vestido despojadamente, foi em direção aos dois. Amanda ficou assustada, mas antes que pudesse fazer algo, ele se adiantou e disse: – Dra. Amanda? Estela pediu para eu vir te buscar.

– Quem é você?

Eu me chamo Pablo. Sou bioquímico no Instituto Oswaldo Cruz. Ela me contou sobre o seu e-mail, você sabe, sobre o provável erro na interpretação dos dados...

Amanda estava nervosa. Quase gritou com o estranho.

– Como assim erro? Você estava lá por acaso?

– Calma, moça. A Estela está num hotel aqui perto. Só pediu para eu te buscar. Vamos lá?

E ela: – Agora.

Carlos estava ficando inquieto.

– Vou com vocês. Quero saber do que se trata.

Carlos, Amanda e o tal Pablo entraram no carro. Seguiram por algumas ruas e de repente, os dois começaram a sentir uma sonolência grande, bem profunda. Quando perceberam o que era, nada mais podiam fazer. Ambos apagaram.

*

Dor. No corpo todo. Muito tempo na mesma posição. Tempo demais.

Ao abrir os olhos, Amanda estava sentada, não, jogada numa poltrona. À sua frente havia uma mesa de metal. Carlos estava acordado. A sala em que estavam era totalmente fechada. Sem janelas, mas com alguns espelhos bem grandes, do tipo usado por testemunhas no reconhecimento de criminosos. Ela estava grogue, mas Carlos parecia bem. Ele estava ao seu lado. Perguntou, com ar bastante preocupado: – Amanda! Como você está? Tome. Beba água.

– Carlos? O que aconteceu?

– Nós fomos sedados, depois seqüestrados por alguém. São americanos, reconheci pelo sotaque. Vi apenas dois, mas não sei onde estamos.

Nesse momento, a porta se abriu. Era um homem jovem, usando um terno branco. Estranho.

– Good morning, doctors.

Num sotaque carregado, o homem falou em perfeito português:

– Vocês devem ter perguntas. Algumas eu responderei, outras, vocês o farão. Vou ser bem direto. Vocês estão aqui porque são inimigos de Estado. Você, Dra., teve acesso à informação sigilosa. Teve muito tempo pra aprender sobre as “bactérias”. Nós conseguimos recuperar os seus relatórios. Os mesmos que você fez na Rússia. O motivo pelo qual estou te informando isso é único. Agora você trabalha para nós. Estamos nos Estados Unidos.

Carlos estava abalado. Ela, estava furiosa.

– O que é isso! Insubordinação? Seqüestro? Vocês querem causar um incidente internacional? Nós temos direitos!

– Dra. Amanda. Nesta instalação, os direitos pessoais terminam a partir do terceiro andar, no subsolo.

*

Os dois foram levados para fora da sala, levados por um corredor metálico. Era bem iluminado. Andaram por algumas encruzilhadas. Havia algumas portas. Tiveram a oportunidade de ver algumas pessoas passando. Todas de jaleco. E todos olharam para os dois quando passavam por eles.

Enquanto andavam o homem que os recebeu na salinha fechada, falava.

– Vocês terão o direito de sair daqui com seus direitos restabelecidos, se, e apenas se, vocês colaborarem. Ambos são especialistas no que fazem. E vão continuar a pesquisa. Também temos nossas descobertas. Juntos, com seu expertise, seu conhecimento sobre o assunto e o nosso equipamento, vamos chegar a algum lugar. Imagino que saiba que objetivo é esse Dr. Carlos.

– Não. Eu não sei. Não tive a oportunidade de estudar o assunto. Na verdade, não tenho a mínima idéia do que está falando. Mas confesso que como cientista estou curioso.

Nesse momento, entraram num amplo salão. A visão era inacreditável. Alta tecnologia. Mais da metade daquilo os dois não faziam idéia do que era. Várias holografias em mesas redondas, monitores para todos os lados. Carlos reconheceu um microscópio atômico e um acelerador de partículas portátil, de uns 10 metros de diâmetro, e uma coisa que poderia ser uma cafeteira ultra-avançada. Diversos equipamentos de vários tipos estavam no salão, e algumas pessoas estavam a pleno vapor. Cientistas com certeza. O homem de jaleco que os acompanhava se pronunciou.

– Drs., este é o núcleo do projeto Athena One, e eu sou o Dr. Michael Andrews, chefe do projeto. Estamos aqui com um único objetivo, decifrar a seqüência de moléculas encontradas nas “bactérias”, formalmente chamado E.V.E.

*

Dr. Michael parecia empolgado. Ele conhece o tamanho do ego dos cientistas, e sabe que um elogio não é apenas uma incentivo, mas uma desculpa para aumentar ainda mais esse ego. No entanto ele estava empolgado, porque sabe que as duas pessoas na sua frente, um físico e uma bióloga, são os melhores na sua área.

– Dr. Carlos e Dra. Amanda, E.V.E. significa Exotechnology on Virtual Environment. Descobrimos, como você, Dra, que a seqüência surreal encontrada nas bactérias é na verdade remanescentes de uma tecnologia que não pode existir, segundo as leis da física que conhecemos. Acreditamos que essa seqüência foi “desenhada” para, propositalmente, ser encontrada por alguma civilização inteligente. Talvez nós mesmos. Ainda não sabemos.

E Carlos, já esquecendo completamente a complicada a situação em que se encontrava, pergunta: – Michael, preciso ver isso.

Ele é levado para o microscópio, e as pinças lasers fizeram um trabalho magnífico. Elas demonstraram que a ligação entre os átomos simplesmente não combinam. A conexão entre eles era instável como um castelo de cartas, no entanto estavam lá. O que Carlos sabia sobre a meia-vida dos elementos, foi por água abaixo. Ele levantou a cabeça, bem lentamente, e disse: – Vou até o fim com isso. Não porque vocês estão nos ameaçando. Creio que nem temos um futuro depois disso, pra ser sincero. Mas quero descobrir a origem dessa coisa. Amanda?

– E eu tenho alguma escolha?

Michael estava com um sorriso, quase sarcástico, mas disse: – Venham comigo.

Enquanto seguiam Michael, Carlos e Amanda receberam uma introdução do que iam ver.

– Dra. Amanda, a sua pesquisa possibilitou a criação do que vão ver. Estamos bem avançados na pesquisa... bem avançados. A tecnologia é japonesa. Na equipe temos americanos, franceses, japoneses e chineses, e agora, com vocês, brasileiros. Descobrimos que o E.V.E. foi codificado na mesma freqüência do átomo do hélio. Não foi tão difícil achar essa associação, uma vez que o hélio é o segundo elemento mais abundante no Universo visível. A freqüência do hélio é o termo de ligação entre as seqüências encontradas. Quando criamos o decodificador e o colocamos para ler aquele montante de átomos, encontramos isso.

O Dr. Carlos sentiu sua pressão baixar ao ler o que estava no holograma monocromático:

[[ Amanda Calgari e Carlos Heind ]]

Juntamente com a estranha mensagem, havia no holograma alguns símbolos estranhos para eles, uma imagem do planeta Terra, do sistema solar, e um diagrama da sua localização no agrupamento local.

– Que brincadeira é essa? Espera que eu acredite nessa bobagem?

Carlos estava estupefato, e com razão.

– Acha mesmo que teríamos todo esse trabalho para trazer vocês até aqui, para fazermos uma brincadeira? Pense Dr. Carlos. Não há o porquê disso. Na verdade, é você quem vai nos dizer o que está acontecendo.

Amanda olhava quase despreocupada para o texto. Finalmente ela disse algo:

– Carlos, acho que devemos dar algum crédito para esses homens. Eles conseguiram decifrar o que eu não consegui. Eu estava bem perto de achar a chave para isso, mas eles conseguiram primeiro. Era algo assim que eu esperava durante a minha pesquisa clandestina. Todos os fatores indicavam que havia algo naquela seqüencia, mas eu não pude determinar o que era... agora sabemos.

– O que está dizendo Amanda? Vai dizer que acredita nisto? Uma mensagem com nosso nomes, incrustada num fóssil de bacilo que pode ter vivido sabe lá a quanto tempo atrás!? Isso é loucura.

– Claro que é loucura. Por outro lado, a estrutura molecular desse artefato também é impossível de existir. Preciso de você doutor. Preciso que veja o que vi. Existem coisas que não vou conseguir fazer sem você. Está comigo?

Carlos pensou muito sobre isso. Provavelmente ficou parado uns 3 segundos sem dizer uma palavra. No fim, disse:

– Estou com você. Vamos até o fim com isso.

*

Duas semanas se passaram. Houve muita pesquisa. Apesar de todos os problemas em que estava metido, Carlos Heind praticamente se esqueceu de como tinha chegado ali, pelo menos em parte. Todo aquele aparato científico de última geração, e o Artefato de Marte disponível para que ele o estudasse e descobrisse os segredos que estariam selados naquela estrutura, era como o paraíso para um físico de partículas.

Amanda estava absorta em seu trabalho, tão tranqüila que as pessoas estranhavam ela, devido às circunstâncias em que ela foi trazida era de se esperar que ela estivesse mais tensa que o doutor, no entanto ela parecia uma aluna do primário, trabalhando no seu projeto para a feira de ciências.

Ela o abordou no refeitório.

– “Carlos!”, disse Amanda, “Acho que devemos contar a eles sobre o que encontramos”.

– E como pretende fazer isso? Se contarmos, tenho certeza que nunca mais veremos a luz do dia. Temos que conhecer mais sobre o Artefato até termos certeza. O que descobrimos... é impressionante demais para ser revelado à um só governo. Imagina o que podem fazer com isso. Imagine o que podem fazer conosco.

– Sabe meu amigo, acho que nosso destino foi selado no momento em que eles decodificaram a mensagem no artefato. Acho que a única coisa que podemos fazer é contar tudo, e esperar pelo melhor. Do modo como distribuímos as tarefas, eles não têm como saber o que descobrimos. Mas o pessoal está ficando desconfiado. Não vamos poder esconder para sempre...

Ele abaixou a cabeça, como que esgotado fisicamente, olhou para ela novamente, e disse:

– Bom, se o nosso destino está selado, é melhor que aconteça logo. Vamos falar com Michael. Mas Amanda... existe algo que não estou entendendo, e você sabe o que é. Porquê o seu nome falso, e não o verdadeiro, que apareceu na mensagem?

Amanda apenas sorriu, e disse: – Tudo a seu tempo, meu amigo. Tudo a seu tempo.

Uma hora depois, lá estavam os três. Michael, Carlos e Amanda. Carlos falou primeiro.

– Dr. Michael, marcamos essa reunião porque descobrimos algo mais incrível ainda que a mensagem. Ela não foi escrita no passado. Ela é escrita conforme o tempo corre. Ela não foi programada, ela está sendo programada. E creio que, com o tempo, talvez possamos interagir com o que acontece a nível quântico. O que eu quero dizer é que... Acho que estamos falando com algum tipo de consciência, e o Artefato é o meio de transmissão. Amanda?

– Sim Dr. Michael, estamos falando de uma inteligência de fora. Ainda não sabemos quem, ou o quê, mas está lá a prova. E acho que podemos fazer contato. Pode levar anos, talvez décadas para descobrirmos a combinação correta dos spins (dos elétrons) corretos, de modo a induzir um padrão que o Artefato entenda.

Michael Andrews estava impassível a toda aquela informação. Mas quando ela terminou de falar, ele, empolgado, disse:

– Meus parabéns. Vocês conseguiram a chave para o segredo mais bem guardado da humanidade. Um chave que, quem tiver, elevará a existência dos seus semelhantes a níveis nunca antes sonhados.

Carlos percebeu que as feições de Michael estavam estranhas, quase como uma pessoa fora de controle, como alguém que ganhou na loteria. Michael continuou.

– Amanda, minha cara Amanda. Não temos décadas para esperar, logo me adiantei. Nós já sabemos como fazer a indução da maneira correta. Mas o resultado não é satisfatório, uma vez que, claramente, o Artefato só vai responder se vocês falarem com ele. Ou eles.

– Então você já sabia de tudo?! E porque nos fez descobrir isso sozinhos?

– Porque, Carlos, eu não poderia deixar você ter nenhuma dúvida do que está acontecendo aqui, é real. Então nos adiantamos, e já desenvolvemos um software capaz de traduzir o que vocês disserem nos sinais apropriados do Artefato.

– Michael, aquilo não é um dispositivo de comunicação. Por mais incrível que parece, você já deve saber que não pode haver nenhum tipo de transmissão, a despeito da mensagem ser claramente para mim e... Amanda. Ela não pode ter sida escrita no passado, no presente ou no futuro. Quem quer que tenha construído aquilo, não se encontra no espaço-tempo como conhecemos.

*

Todos estavam nervosos com o que estava prestes a acontecer. Primeiro contato. E o fantasma da dúvida permanecia no ar. Por quê eles tinham sido escolhidos. E por quê a mensagem tinha sido endereçada ao nome falso dela? Parecia um sonho surrealista. Não havia como explicar, no entanto, lá estavam eles, prontos para conversar com alguma consciência superior. Alguém que, por algum motivo obscuro, considerou eles a importância da existência.

O software iria codificar o que falassem em quantas de luz, que iriam reincidir na superfície do Artefato, na freqüência correta. Claro que ninguém acreditava que algo sairia daí, mas os acontecimentos do passado recente provaram ser demasiadamente inacreditáveis para que houvesse dúvidas.

Os dois estavam numa pequena sala pressurizada. Por questões técnicas e de segurança, ela foi totalmente isolada do ambiente externo. Havia apenas uma janela para a sala onde o material de Marte se encontrava, dentro de um cilindro de diamante sintético, conectado ao computador que irá permitir a comunicação.

Finalmente, Carlos falou ao microfone.

– Quem é você?

Nenhuma resposta. Amanda se adiantou.

– O que você precisa?

E, então, uma mensagem surge no holograma.

[[ Preciso que execute uma tarefa ]]

O reboliço foi geral. Os físicos conversavam entre si fora da câmara, e dentro, onde Carlos e Amanda se encontravam, era puro silêncio.

Amanda perguntou, com tranqüilidade:

– Qual é a tarefa?

[[ Amanda, você deve contar tudo a Carlos Heind, e levá-lo com você. ]]

Carlos ficou vermelho de espanto. Ele não resistiu e, com os olhos fixos em Amanda, perguntou:

– Contar o quê?

– Desculpe Carlos, eu não sabia o que deveria fazer até este momento, mas agora eu sei. Eu não sou a verdadeira Amanda.

– Então quem é você!?

– Meu nome não importa. Eu existo, em vim para cá com um único propósito: descobrir o que deveria ser feito. Manipular as flutuações quânticas de modo a, numa seqüencia de eventos precisamente calculados, nos trazer até aqui. Até este momento no espaço-tempo. Eu não sou daqui, meu amigo.

– E de onde você é, meu Deus?!

– Eu venho de outro lugar, outra época. Eu não sou desse planeta. Nem sequer deste tempo ou realidade. Eu venho de 71 trilhões de anos do passado. Eu existo por uma única razão, corrigir alguns erros que ocorreram à muito tempo. Esses erros foram introduzidos pela pessoa que criou este universo. E essa pessoa me mandou aqui, para ouvir no momento certo, o que deveria ser feito para corrigir o futuro deste planeta que, hoje, é exatamente igual ao meu planeta, no passado.

– Você, Carlos, é o erro que foi introduzido acidentalmente, e sua existência não pode continuar aqui. Isso iria aniquilar o seu universo, e o meu, em poucos séculos.

Nesse momento Carlos saltou da sua cadeira e tentou sair da sala, mas estranhamente, ninguém lá de fora parecia ligar para o que estava acontecendo. E ele sabia que todos estavam ouvindo.

– Não se preocupe Carlos, felizmente a correção necessária pede que eu leve você comigo. Cheguei a pensar que teria que terminar com a sua vida, mas para que as coisas voltem à seus devidos lugares, felizmente só preciso voltar para a minha realidade levando você comigo. E será um lugar bem melhor do que esse que você viveu até hoje.

Carlos ouvia, ainda olhando para fora, como num êxtase sem sentido. No entanto, sua alma estava se acalmando, como que em paz.

– O que vai acontecer comigo?

– Já aconteceu.

Quando ele se virou para Amanda, presenciou uma cena inacreditável.

Eram nuvens. Nuvens para todos os lados. A cabine em que estavam tinha desaparecido, e eles estavam flutuando nas nuvens, um céu azul, cristalino. E ele estava se sentindo como no paraíso, caindo lentamente. Carlos não sabe, mas sua mente está sendo controlada para que mantivesse a calma.

– Não quero que tenha a impressão errada Carlos. Chegamos finalmente à minha Terra. Cada átomo dela está emaranhado com os do seu planeta. Você sabe o que isso quer dizer. Elas são gêmeas entre dimensões, entretanto um erro tinha sido feito, e agora foi corrigido. A sua Terra é, 71 trilhões de anos no futuro, exatamente como a minha, que foi criada antes do seu universo nascer. Mas no meu presente o ano é 25720 d.C.. Tudo o que aconteceu no meu planeta, e tudo o que acontecerá, é espelhado no seu planeta Terra. Agora, ele está a salvo da destruição que erroneamente deveria acontecer daqui a quarenta séculos. Ambos os futuros estão salvos, tudo isso porque, você, Carlos Heind, deveria ter nascido neste outro universo.

– Aqui, meu irmão, você viverá para sempre.

Fim