MIRABELA-O amargo sabor do destino.
Esta é uma obra de ficção, com fatos e nomes fictícios. Conta a história da jovem Mirabela, uma moça pura e inocente que, caindo nas mãos de uma perigosa quadrilha, é forçada a trabalhar para eles. Transformando-se na mais perigosa bandida da região.
CAPITULO I
Meu nome é Mirabela. Fui registrada somente aos onze anos de idade. Mania boba do meu pai. Ele dizia que todos os pais deveriam esperar os filhos crescerem para saberem que tipo de nome mereceriam. Meu pai dizia que todo nome tem um significado, Diana por exemplo: significa a lua. Ele dizia que se eu fôsse muito bonita me daria qualquer nome de flor. Ou então Janaina que é uma mulher muito linda que mora no mar, assim ele dizia,sei lá. Se eu fosse muito esperta ele me chamaria de lince que é um bicho que tem os olhos muito espertos. Deus me livre! já pensou ter nome de bicho? se eu fosse muito levada me chamaria naja, mas aí eu não seria levada, seria mesmo uma mulher perigosa.Sim! porque ter nome de naja é pior do que ter nome de lince. Naja é o nome de uma espécie de cobra das regiões tropicais encontrada principalmente na Ásia e África. Meu pai era uma grande figura. Ele costumava dizer que é muito difícil saber que tipo de índole alguém terá enquanto se é recém-nascido, po isso o nome pode nao bater com o indivíduo.Ele disse que conheceu um sujeito chamado Jesus que de Jesus só tinha o nome, pois este vivia em conflitos com a policia.
E quando eu completei onze anos tornei-me uma menina calma, obediente e doce.Pelo menos era assim que o velho Ulisses me descrevia. Era assim mesmo que ele se chamava:Ulisses. Seu nome também era interessante; ele me falava que Ulisses foi um guerreiro grego que celebrizou no cerco de tróia. Nem entendo nada disso, só estou repetindo o que meu pai estava careca de dizer. Bem! e então como eu estava dizendo a respeito do meu nome: - ele disse que como eu era uma criança doce deveria me dar um nome de fruta. E então ficou pensando que nome me daria: maçã? uva? cruz credo! acho que preferia morrer a ter um nome desses. Seria muito melhor me chamar Naja ou Lince. O que diriam os rapazes se eu me chamasse maçã por exemplo? quando sentissem fome meu Deus. Iriam dizer que queriam comer maçã. Já pensou o vexame? mas o meu pai foi mais esperto do que se imagina. Ele me deu um nome de fruta sim, mas bem diferente. É, porque você sabia que Mirabela é uma fruta? mirabela é uma ameixa amarela doce e pequena. Exatamente como eu aos onze anos de idade; nada bonita, muito pálida e pequenina, porém uma doce menina.
Minha mãe e minha avó dizem que ele passou noites e noites em claro pensando num nome para mim. Acho isso o máximo.Tenho uma vaga lembrança do meu pai numa cadeira de balanço com um cigarro de palha na boca dando baforadas de fumaça. Deveria está pensando em um nome para mim. Foi por isso que entrei na escola muito tarde.Quem me ensinou a assinar meu nome foi minha avó coitada, Ela pouco sabia de leitura. Minha mãe também é quase analfabeta. Meu pai é quem teve um pouquinho a mais de estudo. Ele lía muito bem. Vivia pedindo emprestado os livros do filho doutor do seu Juca lá da venda. Ele lía depois ía se exibir para os outros com palavras difíceis que nem entendia o significado.
Acho que devido ter ido a escola muito tarde não me interessei muito pelos estudos, por isso mal terminei a quinta série. Nem sei como cheguei até a quinta série. Escrevo mal, não sei nada. Eu nunca passava de ano, os professores é que me passavam. Eu moro aqui nesta cidadezinha de nome ANISTIA. Sabe por que ela se chama ANISTIA? por que na época da tal da ditadura muita gente vinha se refugiar aqui. O meu pai quem dizia isso. Isso aqui é um fim de mundo, nem existe no mapa. Quem iria achá-los aqui? meu pai dizia que na época desta tal ditadura muitos iam para a Inglaterra. Aqui bem podia chamar a Inglaterra dos pobres. Nem sei como o meu pai sabia destas coisas, ele talvez nem entendesse direito o que isso sinificava. Deve ter aprendido lá no livro do Moisés, o filho doutor do seu Juca lá da venda. Sabe, eu nunca saí daqui, moro qui desde que nascí., tenho a maior curiosidade de conhecer um pouco deste velho mundo. Quanta coisa linda deve existir por este mundo afora e eu aqui.
CAPITULO II
_ Tudo bem oh doce Mirabela! mas embrulhe logo este bouquet de flores antes que minha mulher volte. Quero lhe fazer uma surpresa. Afinal hoje é o aniversário dela!
_ oh céus! a dona Sebastiana está aniversariando? não precisa pagar , senhor Miguel! as flores serão presente meu e do senhor!
_ Tudo bem Mirabela, muito obrigada! Seu pai estava certo, você realmente é um doce.
E assim era Mirabela : moça simples, humilde e pura como uma flor,tão pura quanto as flores que vendia para sustentar a mãe,e a avó paralitica.Estava muito linda, A menina pequena e pálida que mais parecia uma pequena ameixa havia crescido e se tornado uma linda moça. cabelos louros e escorridos que davam um contraste todo especial aos seus belos olhos azuis fazendo-a lembrar vagamente a imagem de uma santa. Mirabela era quase uma santa, pois sua doçura fazia jus ao nome. Quando conversava fazia gestos suaves com as mãos. Seus lábios eram tão carnudos e vermelhos que davam a impressão de que ela estava sempre usando batom, mas ela não usava nada disso. Ouvia da avó beata que a mulher tinha que ser natural, que a pintura no rosto não foi criada por Deus. Mirabela temia a Deus., muito religiosa estava na igreja com a avó todos os domingos para assistir ás missas. Morria de medo dos castigos de Deus por isso procurava cumprir os mandamentos direitinho. A avó lhe dizia que quem desagradava a Deus ia para o inferno. Mirabela temia o inferno! Suas roupas eram compridas, nada parecidas com as mini-blusas da amiga Fabricia uma jovem que era o oposto de Mirabela. -
- Mirabela! Mirabela!
- O que é Fabricia?
- Sabe aquele rapaz filho do senhor Manuel lá da padaria? está lá agora.
- E eu com isso?
- Ah, não se finja de desenteressada. Você só se refere a ele por bonitinho.
- Que bobagem, isso é porque eu não sei o nome dele.
- Pois eu descobrí, é Santiago!
- Tudo bem Fabricia, agora me deixe trabalhar!
A padaria do senhor Manuel era a mais sofisticada da cidade. O senhor Manuel era muito rico, tinha muitas propriedades não só alí mas em quase todo o país. Era um português arrogante e muito antipático. Seu filho ao contrário era um amor , tratava a todos de igual para igual. Muito diferente do pai tão cheio de orgulho.
E quando Mirabela chega em casa a avó a repreende: - Mirabela, quantas vezes eu lhe disse para não andar na companhia da Fabricia? esta moça não é boa companhia para você. Já reparou como ela se veste? parecendo uma qualquer.
- Vó, você mesma diz que Deus não faz distinção de ninguém.
- É, mas Jesus não andava desfilando com Maria Madalena por aí não. Ele a amava mas conservava-se distante dela.
- Mas depois ela passou a seguí-lo.
- Depois que abandonou o pecado ela pôde seguí-lo. Lembre-se : temos que abandonar o pecado e não a pessoa que o comete.
- Vó, sabe quem está aniversariando? a dona Sebastiana. O senhor Miguel espôso dela foi me comprar umas flores para ela hoje, mas eu não cobrei, dei de presente.
- E aposto que você deu a sua biografia completa sobre o seu nome, a origem desta cidade e etc. Apenas porque eles são novos aqui na cidade.
Certa vez enquanto Mirabela trabalhava na sua barraca de flores acompanhada por sua amiga Fabricia que não parava de importuná-la com suas conversas bobas, o jovem Santiago passava com um amigo e é surpreendido pelos gritos de Fabricia: - Santiago! Santiago!
- Pois não Fabricia!
- Sabia que esta minha amiga aqui gosta muito de você?
Muito tímido o rapaz ficou vermelho e sem saber o que falar. Mirabela por sua vez odiou Fabricia naquele momento. Tentou desconversar mas não teve jeito. Inventou uma desculpa qualquer arrumou suas coisas e saiu correndo para casa. No dia seguinte repreendeu a amiga: - Por quê fez aquilo Fabricia? aquilo é pura ilusão da sua cabeça. Sei muito bem conhecer o meu lugar. Aquele rapaz não é para mim, ele é rico e eu sou pobre. Que vergonha! que mancada você deu.
Fabricia dá de ombros e num gesto matreiro exclama com agitação:
- Pois veja isso!
Ela então tira do bolso um pequeno bilhete e estende para a amiga,
no bilhete estava escrito: - também gosto de você!
E dali em diante Mirabela passou a corresponder aos seus bilhetes. porém não passavam de simples bilhetes com frases simplórias, trechos bíblicos e alguns desenhos insignificantes de flores e corações.
Era admiravel que uma mulher com a idade de Mirabela tivesse atitudes tão infantís. Não conseguisse ver a vida como realmente é.Vivia cercada por medos e receios. É possivel que sua cabeça tão inocente, que sempre via o mundo de forma perenal acreditasse veemente que o amor é um pecado. Que ninguém nesta vida pudesse ser confiável. Pois foi desta maneira que havia sido educada. A avó por certo a transformara em uma o ôstra, em seu mundinho sempre cauteloso para não dize-lo obscuro e lúgubre.
E ela tornara-se muito mais triste e tímida quando ao mandar um bilhete para Santiago com uma linda poesia fôra surpreendida pelo pai do próprio, o velho Manuel que a humilhou diante de muitas pessoas dizendo-lhe que ela não era mulher para seu filho e que ele merecia coisa melhor. Dalí em diante ela se fechou como uma ôstra para o amor. Sentia cada vez mais vergonha de tudo e de todos. Vergonha daqueles que presenciaram tal humilhação, vergonha até de sí mesma e... de Santiago seu único e verdadeiro amor.
Santiago era um ilustre engenheiro, estava sempre sozinho, as pessoas até se admiravam por nunca vê-lo acompanhado por nenhuma companhia feminina. Ele era muito educado e inteligente porém muito triste também. Seus momentos felizes aconteciam sempre que apenas via a doce e suave presença de Mirabela. Ela timidamente tentava afastar-se dele , desviar o olhar para não vê-lo mas era inevitável. Ela havia guardado todos os bilhetes que ele lhe mandava através de Fabricia. Certo dia de muita angústia e lágrimas ela decidiu que não montaria mais alí a sua barraca de flores. Sentia uma imensa vontade de chorar sempre que via o portugues Manuel que fazia questão de esnobá-la.
A avó de Mirabela dona Lázara que era paralítica sempre saía em companhia da neta que empurrava sua cadeira para todos os lugares . mirabela amava a avó o que causava ciúmes na mãe, a senhora dona Albertina, tornando-a ainda mais uma mulher áspera e fria.
- Mirabela, deixe a sua avó em paz! chega de andar com ela por aí.
- Parece que está com ciumes Albertina, minha neta me ama.
Havia alguns meses que Mirabela não comparecia ao local de trabalho, havia levado a sua barraca de flores para outro bairro. Santiago então passou a sentir sua falta, até que certa vez...
- Por favor é aqui que mora Mirabela?
- É sim, o que o senhor quer com minha filha?
- É que eu não a ví mais naquele local em que ela trabalha e...
A mulher que estava costurando levanta-se com a agulha e o pano na mão o repreende: - Não iluda minha filha, sabe muito bem que ela é uma boba. De tanto ser boazinha fazendo as coisas que Deus manda ela exagerou e acabou se transformando numa perfeita idiota. Parece que não demorou muito para o senhor descobrir isso também não?
- Senhora o que quer dizer?
- Não quero dizer nada, eu já disse. Sou uma velha bem vivida meu jovem e não deixarei nenhum aventureiro fazer minha filha mais idiota do que já é.
- Senhora eu gosto muito de sua filha e...
Pois então afaste-se dela , eu já sei o que sua familia pensa a respeito de minha filha e não quero mais saber que a humilharam outra vez
- Por favor senhora...
- Por favor digo eu. Vá embora daqui e não me apareça mais.