Transhumanismo (miniconto)
Mensagem enviada de algum lugar da via-láctea por: Viajante das Estrelas para Mariane...
Você se lembra do verão de 1989? Você disse que eu estava louco e falou para minha mãe me internar, passado vinte anos terráqueos, você ainda custa a acreditar e antes de qualquer coisa, eu queria dizer que eu estou feliz e espero que esteja feliz também.
Eu te disse que ia pegar aquela espaçonave e só voltaria depois que eu achasse a formula da vida eterna, conforme a última correspondência que te mandei, estou bem próximo disso, porém não sei se tem alguma vantagem nisso, enfim quem é que sabe?
Fiquei um tempo fora do objetivo inicial, pois há muita diversão aqui fora, diferente daí. Há modismos aqui também, porém são mais variados e para todos os gostos e eu um humano cheio de vida não pude resistir.
Confesso que até esqueci por completo essa história de vida eterna, mas numa dessas diversões encontrei um ciborg, que fora alguma coisa de carne e osso num passado distante, e me levou ao planeta das máquinas na constelação de Cão Maior, onde fiz uns upgrades em meu corpo:
Troquei minhas pernas, mãos, tronco e ossos por ligas metálicas ultra-resistentes de um material que nem existe ai na Terra e guardei minhas memórias num HD de infinitos yotabytes, substituindo meu cérebro.
Inclusive fiz um backup de minhas memórias num datacenter em Sirius, até tirei algumas memórias desagradáveis, pois caso me ocorra alguma tragédia, farei o restore de minhas memórias noutra matriz, só perderia, talvez um ou dois anos de memórias.
O legal de tudo isso é que eles fizeram tudo de graça, pois dinheiro para ciborgs num é nada e caso me acontece alguma coisa, eles mesmos se encarregam de me ressuscitar.
Mas minha doce amiga, realmente não sei se isso é vida, pois perdi muito dos meus sentimentos que me deixava humano, eu nunca mais chorei ou ri, diferente de você que deve estar cheia de coisas românticas e tristes para contar, mas enfim isso é uma opção que fiz e se eu quiser, posso findar com tudo isso.
Daqui a trinta anos eu voltarei para a Terra para te visitar, pois estou a muitos anos-luz de você.
Eu sei que não vou encontrar mais uma jovem linda e atraente, mas sim uma senhora de cabelos grisalhos, e é bem provável que nem se lembre de mim, pois eu estarei sem feições no rosto devido às ligas metálicas, talvez eu nem entenda mais o objetivo da minha viagem, mas estarei ai, pois eu me programei para tal.
E se estivermos lúcidos, então concluiremos:
-Qual foi a melhor vida?
“Envelhecer e morrer cheio de amores e tristezas ou ser quase eterno no tempo sem emoções para sentir?”
Amadeu Paes
http://amadeupaes.blogspot.com