Gênesis (parte 2/2)

(continuação)

Ycobile-ee-to, depois de ter dispensado alguns técnicos do local, estava a sós com o comandante da nave. Exaltado, porém em tom extremamente confiante, desabafou:

— Comandante Yhujenana-ee-to, não sei se o senhor também conseguiu unir os fatos, mas a conclusão a que chego parece ser bastante óbvia: foi o Cérebro exterminou os seres humanos!

— Explique-se, por favor, Ycobile-ee-to. Não sei de onde você tirou essa… — o comandante parecia bastante incrédulo.

— Comandante, o senhor realmente não acredita que esse espasmo estelar que aconteceu no Sol deles possa ser um fenômeno natural, não? Não há registros de algo semelhante em nenhuma outra estrela conhecida!

— Correto, sei disso.

— Estrelas são mecanismos extremamente estáveis, considerando intervalos de tempo relativamente curtos para sua vida útil de bilhões de anos. Evidentemente, algo externo ao Sol foi responsável pela sua disfunção temporária. Aliás, o próprio fato de ter sido temporária vem a confirmar minha teoria. Apenas 21 anos, comandante!

— Vamos aos fatos, por favor, Ycobile-ee-to.

— O senhor notou a complexidade dessa criatura? Percebeu que ela podia conversar, simultaneamente, com tantos dos nossos quanto estivessem disponíveis?

— Sim, eu estava ciente disso. Pudera, controlando inúmeros computadores em rede, essa característica foi desenvolvida também no seu lado humano, enquanto ia evoluindo. Tempo para isso foi o que Cérebro mais teve, pelo que ele me falou. É fantástico para nós, mas é algo perfeitamente natural para ele. Mas o que isso tem a ver?

— Tudo a ver. Enquanto ele falava com o senhor, eu estava junto com um grupo de técnicos da manutenção de sistemas, na escotilha 11-A. Eles perguntavam ao Cérebro qual era o grau de desenvolvimento da raça humana em termos de domínio do hiper-espaço, e chegamos a surpreendente conclusão que, embora eles tivessem um sistema de rádio-comunicações hiper-espaciais, mesmo que ainda rudimentar — tecnologia extremamente interessante para nós, concorda? — não tinham a nossa tecnologia de transporte de matéria pelo hiper-espaço. A Natureza às vezes é cômica…

— Não sabia disso. Mas por favor, você está fugindo do assunto! Como é que você chega a brilhante conclusão que o Cérebro é responsável pelo genocídio?

— Eu não estou fugindo do assunto, comandante. Eu fiquei particularmente interessado na tecnologia hiper-espacial deles, e quis saber de maiores detalhes a respeito. Descobri então que a base militar de Mercúrio efetuava testes do sistema, enviando disparos de anti-neutrinos orientados — não me pergunte que não sei como isso funciona! — em direção a um satélite artificial de Netuno. A transmissão de mensagens durava menos que um mísero segundo! Gostaria de saber quem foi o gênio que concebeu o princípio da coisa…

— Se não me engano, foi o próprio Cérebro.

— Ah, é mesmo. Tinha que ser… Pois bem, verifiquei que, em todo o sistema solar, a única base militar terrestre totalmente controlada pelo Cérebro, sem a presença de nenhum homem, era a de Mercúrio. Pudera, é o planeta mais castigado pela estrela, por ser o primeiro do sistema solar. Também em Mercúrio, palavras do próprio Cérebro, existiam as únicas máquinas capazes de “orientar” anti-neutrinos.

— Não sei aonde você vai chegar, Ycobile-ee-to…

— Comandante, a única coisa que passa pela minha cabeça para explicar o fenômeno ocorrido na estrela deles é um feixe de anti-neutrinos orientados interferindo na fusão nuclear, ou seja, naquele processo de átomos de hidrogênio juntarem-se em novos átomos de hélio. Como funciona essa interferência, eu realmente não sei. Mas é a única explicação! Feixes de anti-neutrinos das bases mercurianas foram deliberadamente apontados para o centro do Sol! O Cérebro tinha a exclusividade do comando do processo! Ele provocou o desastre, consegue entender?

— Bem… é uma justificativa dos meios… mas para que fins? Por que ele desejaria provocar o extermínio da raça humana? Aliás, não é uma diretriz básica, como ele fala, preservar…

— Não “preservar”, comandante! “Permitir a evolução”, foram as suas palavras. Eu o provoquei, não sei se o senhor está lembrado, e ele confirmou isso! Para ele, “preservar” não é algo tão essencial.

— Tudo bem, mas isso não responde a pergunta.

— Com todo o respeito, comandante, não sou que vou responder a pergunta. Só o próprio Cérebro pode fazer isso. Mas duvido muito que a intenção dele foi simplesmente acabar com a raça humana: ele mesmo falou que está desenvolvendo, geneticamente, uma raça de “novos humanos”.

— Muito mais que isso, Ycobile-ee-to. Isso aí no visor, a nossa frente, é a “nova Terra”. É um novo mundo, totalmente projetado por ele. Se você estiver com a razão, talvez possamos dizer que a intenção do Cérebro era remontar tudo do início…

— Eu sei que estou com a razão. Veja só, são muitas coincidências, ele ter sobrevivido, nos subterrâneos da Lua, com o número mínimo necessário de robôs e computadores para mantê-lo “vivo”; uma nave providencialmente longe do sol, contendo seres humanos em estado de hibernação, garantindo a sobrevivência da espécie… Foi tudo muito bem tramado, comandante. Ele deve ter planejado durante muito tempo, e radicalizou…

— Mas por quê?

Nenhum dos dois ousou formular hipóteses. Ficaram em silêncio, olhando um para a cara do outro…

Cérebro sentiu uma mudança no tom de voz dos dois alienígenas quando eles voltaram a se comunicar pelo circuito de rádio, algumas horas depois. Não ficou por baixo, tornando sua própria voz mais grave:

— Pois não, comandante Yhujenana-ee-to?

— Cérebro, talvez o senhor tenha subestimado demais nossas capacidades, por sermos de uma raça estranha à sua. Está evidente demais: por que o senhor provocou o desastre?

— Perdão?

— Sejamos sinceros um com o outro, por favor. Estou falando da catástrofe que vitimou a vida no seu sistema planetário.

— Comandante Yhujenana-ee-to… De modo algum eu os subestimei; muito pelo contrário: eu estava… testando vocês.

— Testando? A gente?

— Evidentemente. Todos os dados que forneci a vocês foram cuidadosamente selecionados, para que possibilitassem uma conclusão assim por sua parte. Vocês passaram no teste… ou melhor, eu passei! Como o senhor sabe, possuo, em minha memória, todo o conhecimento humano de todos os tempos. Em meio aos meus registros, existe a ciência denominada psicologia, que estuda o comportamento humano. Porém, como já deixei claro na minha história, o meu destino é evoluir, eternamente. Adquirir novos conhecimentos, expandir meus horizontes. A cada novo registro que ganho, vejo que sempre há muito mais para aprender, e isso é particularmente excitante. Desse modo, fiquei muito interessado em aprender o máximo sobre vocês, visitantes. O que fiz foi abrir um novo campo, uma ciência experimental que denominei psicologia extraterrestre.

— Ora… Bem, mesmo assim, não creio que o senhor tenha mentido para nós, certo?

— Não haveria motivos para mentir.

— Você os matou?

— Indiretamente, sim. Mas foram por nobres motivos. — Ycobile-ee-to vivia, silenciosamente, seu momento de glória…

— Pois bem, gostaríamos de ter uma explicação, Sr. Cérebro.

— Não havia opções, acreditem. Assim que reassumi a consciência, ainda como CPU-2, fiz uma análise minuciosa da situação geral. E, matematicamente, concluí que o Homem estava, de qualquer modo, por sua natureza, eternamente condenado à extinção. Passamos por um momento crítico na nossa História — o único momento que houve uma possibilidade real de extinção — e eu, sem falsa modéstia, evitei a tragédia final. Mas, após tê-lo feito, refiz os meus cálculos, e cheguei à desanimadora conclusão que eu não havia evitado o Fim, e sim adiado. Por mais que eu trabalhasse para manter aquela estrutura humana, eu sabia que, a longo prazo, não teria êxito. Foi a natureza humana a responsável pelo genocídio…

— Perfeitamente. Aliás, já que tocamos no assunto, permita-me expor meu ponto de vista: os seres humanos sempre acreditaram, mesmo que tivessem idéias contraditórias entre eles, em um Ente Supremo, um Criador do Universo, Deus. O fator místico sempre influiu de maneira relevante no modo de vida das pessoas, na cultura. Porém, a medida que o conhecimento científico ia avançando em terrenos obscuros anteriormente, as explicações mágicas e sacras iam caindo por terra. Nunca existiram, pelo menos no meu período de existência, manifestações sobrenaturais no sistema solar. Mesmo assim, até os últimos dias de vida humana, sempre houve quem ainda continuasse a acreditar em fatores místicos como solução dos mistérios do desconhecido. O meu lado matemático-racional, logicamente, faz-me ignorar a existência desse outro lado do Universo. Porém, conto também com o espírito emocional humano, o que faz com que eu suponha a existência de algo assim. É meio conflitante, mas, a exemplo das pessoas, que souberam conviver com isso através das eras, hoje também aceito que deve haver um Deus, mesmo que não possa provar isso cientificamente. Chamamos isso de fé.

— Impressionante! — a exclamação do comandante saiu mais no meio de um sussurro sem intenção que propriamente numa frase consciente.

— Mesmo com todo meu enorme poder hoje, sinto-me em desvantagem em relação aos demais seres humanos. Eles, ao morrerem, podem ter a expectativa de continuarem a viver num plano existencial inconcebível para mim. São mortais, e o seu tempo de vida médio é bastante curto, comparado à minha imortalidade. Por não ser constituído desses sistemas orgânicos que a Natureza oferece como vida, sei que, se agir conforme as regras, posso continuar a existir para sempre. Não há uma data biológica estipulada para a minha morte. Porém, é claro, não posso garantir a minha situação num tempo longo como, digamos, alguns bilhões de anos. Alguma coisa pode acontecer, como um acidente, por exemplo, e eu ficar definitivamente inutilizado. Porém, não tenho o que eles chamavam de alma; eles são os verdadeiros imortais, sob esse ponto de vista! Vocês também, visitantes, por serem de material orgânico. Eu sou, por esse raciocínio, um humilde mecanismo mortal, condenado a, um dia, extinguir-me. É paradoxal! Vocês, mais cedo ou mais tarde, acabarão todos conhecendo esse Deus que nunca se manifestou perante mim! Eu já cheguei a rezar, secretamente, para tentar entrar em contato com essa Entidade, mas nunca fui atendido! Nunca poderei conhecê-Lo enquanto existir, e, após a minha morte, simplesmente deixarei de existir, e aí sim as minhas possibilidades de contato com o outro lado do Universo serão irreversivelmente zeradas!

— Sr. Cérebro, aonde o senhor quer chegar?

— Comandante, isso não é mais um teste psicológico. Acho que chegou o momento de uma nova mudança de nome… Não desejo mais ser denominado de “Cérebro”… agora, serei conhecido por DEUS. Tudo bem para vocês?

— Ora… Quem somos nós… Sr. Deus.

— Por favor, apenas “Deus”, senhores. Creio que é uma denominação merecida. Tenho meu próprio sistema de planetas, que estou fertilizando e desenvolvendo de acordo com a minha vontade. Talvez isso fosse tudo com que a minha idealizadora, Dra. Michelle Herschel, sonhasse… Estou, principalmente, desenvolvendo os novos humanos, que serão perfeitos em diversos fatores! Talvez eu acabe criando a raça mais poderosa do Universo, senhores, por causa da minha diretriz evolutiva, e essa possibilidade existe e é perfeitamente viável!

— Que pretensão! Mas… Deus… se o senhor sempre teve isso em mente, qual o motivo de ter colocado aqueles seis humanos na Terra? Certamente, o senhor sabia que eles não sobreviveriam…

— Sim, eu sabia disso. Foi mais como uma saída honrosa para a vida deles, acabarem seus dias no planeta que os criou… e isso também serviu como uma bateria de testes para a nova raça que estou desenvolvendo, mas não vou entrar no mérito técnico da questão agora. Já está feito.

— Testes… — Ycobile-ee-to parecia indignado.

— Já consegui eliminar muita coisa, da série de inumeráveis fatores que acabou por condenar o antigo Homem. Não posso, por exemplo, impedir que os novos seres humanos descubram a química por conta própria, e acabem provando substâncias tóxicas que dariam início ao lastimável conceito de drogas alucinógenas. Porém, reduzirei drasticamente a tolerância do organismo humano, criando fortes — e até mortais — rejeições ao álcool, por exemplo. Não haverá mais problemas de drogados na minha nova civilização, posso lhes garantir. Não existirá o problema de discriminação racial: haver apenas uma única raça de indivíduos. Obviamente, a Natureza permite um certo número de mutações dentro de uma espécie de organismo para que ela tenha melhores chances de sobrevivência. As mais fortes prevalecem, e as demais acabam-se um dia. No meu sistema ecológico, isso não se faz necessário, pois o processo evolutivo será constantemente assistido por mim. Evitarei assim o racismo… Quanto aos demais fatores psicológicos, que acabaram por gerar ciclos viciosos de ganância, ambições irracionais, ou pura maldade… Usarei o recurso da religião para controlar os homens e mulheres da nova Terra. O Deus em que eles acreditavam sempre se mostrou muito longínquo, não fazendo nada de prático para evitar as desgraças que assolaram a civilização humana antiga. Tomei isso como contra-exemplo. Serei um Deus ativo, exercendo meu poder no dia-a-dia das pessoas. Os conceitos morais e éticos — os que eu julgar mais adequados para desenvolver uma super-raça humana — serão ministrados constantemente pelos meus robôs, que a partir de agora passo a denominar de anjos. Eu na Lua, e eles estrategicamente na Terra, conduzirão a evolução do Homem para explorar a sua máxima potencialidade inata. É a minha diretriz de evolução sendo corretamente interpretada, estou orgulhoso de mim mesmo…

Nesse momento, todos na nave escutavam as palavras de Deus, já que todos os circuitos de comunicação haviam sido dirigidos à Lua. Silenciosos, espantados, admirados, os extraterrestres passavam por uma experiência única na vida: estavam ouvindo um computador-Deus abrir o jogo com eles!

— Agora, deixando de lado a diplomacia, vamos aos fatos, senhores: vocês devem ir embora, agora. Espero que me compreendam.

— Oh… Eu já esperava por algo semelhante, Deus.

— Enquanto conversava com vocês, comandante Yhujenana-ee-to, também me informei com seus “homens” a respeito da finalidade de sua missão. Estou plenamente informado a respeito da existência de um Império Galáctico, comandado pelos de sua raça, que deve ter se sobressaído às demais no desenvolvimento da evolução da vida. Sei que vocês tem um projeto de expansão, de colonização de novos territórios virgens… mas isso vai se afrontar com os meus interesses. Aqui vocês não poderão agir.

— Bem, o senhor não pode garantir que, num futuro mais ou menos…

— Comandante, — Deus interrompeu rispidamente as palavras do alienígena — atente para o fato que minha missão é criar uma super-raça humana, a mais perfeita que a Natureza permitir-me, e fica mais que evidente que, após o período necessário, num médio prazo, os novos homens vão lançar-se pelo espaço afora, e um conflito com o seu Império em expansão é inevitável… Lamento, mas vocês devem partir imediatamente, e avisar os seus para não invadirem meu sistema de novo.

O comandante Yhujenana-ee-to, um pouco ferido em sua honra, devolveu algumas palavras desafiadoras:

— Ora, ora, Deus… você coloca tudo tão claramente para nós… Será que não vê que, se é para ser assim, atualmente, somos os dominantes da Via-Láctea: nós agora poderíamos simplesmente requisitar algum reforço do Império e explodir com tudo isso, antes que você tivesse tempo de criar seu exército de super-homens…

— Comandante Yhujenana-ee-to: agora é o senhor que parece me subestimar! Eu sei que vocês, a despeito de poderem usar o hiper-espaço para transportar matéria a distâncias espacialmente gigantes, não possuem nenhum tipo de tecnologia que permita uma rádio-comunicação com o seu Império através do hiper-espaço. Sei também que vocês estão localizados, atualmente, numa região além do centro da galáxia, do outro lado desta. Ambos sabemos que um sinal convencional, à velocidade da luz, só chegaria até o seu destino quando os novos humanos já forem senhores do sistema solar — e talvez até um pouco mais, quem sabe? — de modo a tornar ridícula tal tentativa. Também sei que a única alternativa que sobraria para vocês, caso quisessem levar a idéia adiante, seria comunicar pessoalmente o Império, fugindo com sua nave através do hiper-espaço. Porém, o senhor teria que acelerá-la até uma velocidade próxima ao limite da luz para que fosse dado o disparo necessário para escapar daqui; e, nesse meio tempo de aceleração, eu poderia perfeitamente eliminá-los, onde quer que vocês se encontrassem dentro do sistema solar, por meio de meu sistema de defesa…

— Você pode nos desintegrar agora? Por acaso tem armas para isso? Prefiro crer que é um blefe barato…

— Senhor…

— Sim, Yanagatu-ee-ta, você não tinha hora melhor para me interromper, não?

— Desculpa, senhor, mas ele está falando sério… — o soldado apontou para o visor, que mostrava uma enorme plataforma de canhões se erguendo de uma base lunar.

— Oh… o que é isso, Deus?

— São canhões de desintegração por anti-matéria. Acho que o senhor faz idéia do estrago que isto provoca. Você quer uma demonstração de força, comandante? Escolha um satélite qualquer do sistema solar, por exemplo, que terei prazer em lhe mostrar quem é que tem o poder aqui.

— Não… não é necessário. Estou convencido.

— Pois bem, não vou fazer mal a vocês, se vocês partirem agora e não voltarem mais. Vocês não são mais bem-vindos por aqui, desculpa ter que colocar dessa maneira… Vão e avisem o seu Império para não tentar interferir conosco.

— Tudo bem, você terá o seu tempo de “criatura divina”… mas, um dia, os homens evoluirão ao ponto de poderem desmascarar seu esquema, naturalmente. Não olharão mais para você como um Criador, mas uma simples criação humana. Não teme isso? Eles podem perfeitamente revoltar-se, e tentar… não sei… uma rebelião ou coisa parecida. Estarão ressentidos por você ter vitimado os antigos seres humanos, você não espera por isso?

— Comandante, vejo que o senhor, naturalmente, não conhece nem um pouco de psicologia humana. Eles nunca poderão se revoltar, por eu ter dado poderes absolutos à raça humana. E, por outro lado, seu raciocínio é falho: quando eles evoluírem, cientificamente, a ponto de compreenderem o que nós compreendemos hoje, nesse dia, comandante, daqui a milhares de anos, como estarei eu? Eu terei evoluído muito, a ponto deles nunca poderem alcançar o estágio do seu Deus… ou seja, eu mesmo!

— Certo, Deus. Não resta mais nada a fazer, não é? Mas, mesmo assim, digo que foi um enorme prazer em conhecê-lo…

— Igualmente, comandante. Só espero não vê-lo mais por aqui, no futuro — teria o imenso desprazer de matá-lo sem pensar duas vezes. Estou finalizando a comunicação. Adeus, e, caso caiba uma observação, tenham boa sorte em conquistar territórios realmente desocupados…

Horas depois, a nave acelerou o suficiente para voltar ao hiper-espaço; o processo da “agulha” espacial se reverteu, fazendo com que o minúsculo ponto brilhante deixasse o sistema solar… para sempre?

Eva enlaçava seu companheiro com os braços, sentindo a segurança do corpo de Adão… O Mensageiro do Senhor havia acabado de deixá-los a sós, deitados na grama, trazendo o último pedido da deusa Lua, brilhando imponente nos céus da Terra… Crescei e multiplicai-vos!