Hecatombe

O céu infestado de poluição e o silêncio das máquinas modernas, era uma sinistra anti-aquarela dos dias que precederam o grande colapso de um planeta que já foi azul, e que mergulhado na eterna agonia, guardou em seu seio restos humanos e alguns poucos privilegiados
que mais pareciam fantasmas escondidos em máscaras, nos blindados veículos, que o futuro trouxera no bojo da pós-catastrofe.
Não só a alienação mas um bolsão de ar abaixo da superfície terrestre condenou uns poucos a viverem na escuridão sombria dos esgotos, como animais, vivendo como abutres adaptados às leis da sobrevivencia.
Um fino raio de sol, deixou antever a sombra que vagueava com os pés enegrecidos sob as aguas daquela fossa, depósito de restos humanos, inertes e intoleravelmente carnívoros.
A elite que sobreviveu vivia em cômodos lugares na superfície sob a luz de um sol vermelho, mas um sol, o que restou do verdejante planeta.
O ar que os mantinha vivos vinha de um planeta distante, o ar terrestre era venenoso, e viviam na terra porque supunham que uma nova era, como a era do gelo, viria e traria nova redenção a terra.
Enfileirados numa pequena barra de ferro, dezenas de ratos, numa das pontas da vara, a figura horrenda de um homem, cabelos longos e grisalhos, trapos servindo de vestimenta, era a sombra, com seu alimento, era o ser humano que a alienação mental e o mundo devastado
deixou como testemunha da hecatombe.
Talvez quando o bolsão de ar fosse extinto, não haveria mais sombras, não haveria mais ratos, e  seguiria a terra como uma esfera morta pelo universo.
Mas, trezentos quilotons de energia vinda do espaço, em forma de meteoro, sepultou aquele mundo de sombras e por 40 anos o que sobrou da terra permaneceu num longo e escuro inverno, somente o subsolo sobreviveu, com seu habitante sinistro, que vez ou outra ia a superfície, tateando em busca de carne...humana!
O frio era um aliado que conservava a carne da putrefação e assim sobreviveu...
Quando contava com exatamente 80 anos,  a criatura submergiu na grande planície sob uma fina chuva num dia claro de verão...
Abriu os olhos e mastigou pela primeira vez em anos folhas de um pequeno arbusto...
O sol já se punha quando quando a criatura iniciou a sua jornada pelo novo planeta em busca de outras vidas que assim como ele deveriam ter sobrevivido ao fim de um tempo.

xx eas xx
Malgaxe
Enviado por Malgaxe em 29/08/2009
Reeditado em 28/07/2010
Código do texto: T1781567
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