VERÃO DE 42 (Segunda Parte)

VERÃO DE 42 (II Parte)

II

Sexo seguro, indubitavelmente

amantes em discos

obviamente

A solidão

não é aparente

pois as memórias virtuais

não substituem a tua mente

Na rede

viajas pelo infinito

da eternidade inteligível

do teu mito

A caverna de um quarto

e a luz de um ecrã

apenas o reflexo

o engano é claro e a realidade vã

Embora só, estava em permanente contacto com os meus chefes tendo estes designado, para o efeito uma equipa de vários elementos na base prontos a tirar-me qualquer dúvida ou a elucidar-me sobre um ou outro ambiente que me fossem mais estranhos; deveriam estar totalmente operacionais vinte e quatro sobre vinte e quatro horas por dia.

Para eles era mais uma operação de realidade virtual, bem à distância, e por isso fria, como um drama qualquer visto na televisão. Poderíamos até sentir alguma empatia pelas imagens, mas estas nunca seriam realmente nossas...Só para mim, o “agente do terreno” é que se transformariam em mais uma peça do enorme drama que se abatera sobre a terra, a mim, aos meus olhos e à minha alma, que nunca pensaram em contemplar tanta morte num cenário tão tranquilo, quase idílico.

Graças ao mais diverso tipo de ficheiros guardados, praticamente poder-me-iam tirar todas as dúvidas possíveis, desde uma saída num edifício a um pormenor de compartimentos menores. Claro está que transformações não declaradas constituíam um obstáculo a transpor obrigatoriamente.

O primeiro dos centros a que me dirigi fora um dos centros da sua área geográfica, uma capital distrital da união que antes da abolição das fronteiras se chamara Portugal.

Comigo levava uma pequena equipa robótica destinada a auxiliar-me em funções mais práticas. Para simplificar enfrentaria a noite com a última visão nocturna disponível, algo confusa no adaptar, mas indubitavelmente prática.

Horas antes de entrar em acção mostraram-me fotografias de satélite do local, pretendendo familiarizar-me com a área e, penso que, também com a solidão da cidade, de uma enorme cidade morta...Mas é sempre impossível habituarmo-nos à morte, eles sabiam, eu sabia, de modo a que me medicaram com algumas drogas destinadas a insensibilizar-me. Mais ou menos nessa altura tiveram a delicadeza de me informar que a dimensão afectada pela praga era à volta de três quartos daquele antigo país, só a norte alguma população permanecia ainda incólume, podendo ter já morrido, ou podendo nunca vir a morrer.

Fui deixado nas imediações de uma grande ponte, já fora de uso mas preservada como memorial a uma revolução qualquer perdida no tempo das culturas individualistas. (agora, após gerações de standartização cultural, apenas os grandes acontecimentos para a formação da grande Europa eram recordados).

Gostei do ambiente, mas achei-o algo...desmazelado, algo não justificável pela praga pois o abandono físico deste local era de pouca data. A sensação de incomodidade transmitida pela paisagem, o sol, algum calor e pela clareza das construções era de facto algo de empático, tanto que me levou a invejar um pouco os seus antigos habitantes, ou talvez estas sensações fossem resultado de um qualquer efeito secundário das drogas...

Respirei fundo e perdi o meu olhar para a foz do enorme rio (atravessado por demasiadas pontes, demasiado vazias...) mergulhado numa certa melancolia estranhamente inusitada em mim.

Havia coisas que nem o mais poderoso dos químicos tiraria ao ser humano.

O chamar da central veio interromper o meu breve intervalo turístico.

-Sim, digam, onde é o primeiro dos pontos?

-Temos uma boa notícia: na área onde está basta consultar os registos num edifício e terá toda a área geográfica (país) vista!

-Grande gente, tudo centralizadíssimo!

-Na realidade passa-se o contrário, tudo está nesse sector ao passo que tudo falta no resto das outras cidades, é um fenómeno chamado macrocef...

-Obrigado, queira ter a bondade de me indicar a direcção a seguir...-Interrompi um tanto ou quanto bruscamente, adivinhando no meu controlador mais um conversador inútil e um tanto ou quanto sabichão para o meu gosto...

Apesar do centro indicado não ser muito longe, o meu desagrado com o mau estado generalizado de estradas veio reforçar a opinião inicial...

Entrei num prédio onde se lia na língua comum Instituto Euroistico de Registos, tão explícito que quase não precisava de mapas.

-Desça à quarta cave

-...

-Já está?

-Sim.

-Vê um corredor?

-Calma, ainda estou a adaptar ao aparelhómetro...Sim..até dá arrepios...

- Não ouve nenhum gato?

-Como?!

-Esqueça...Bem, ao fundo do corredor há uma porta à direita.

-Uma porta fechada...

-Sabe o que tem a fazer...

Liguei a pequena bateria portátil ao teclado paralelo a essa porta que permitia digitalizar o código.

-Pronto?

-Afirmativo

-A sequência é esta 44559900.

-E mais um obstáculo ao livre curso da ciência ultrapassado.

-Deve certamente estar a ver uma sala com vários ecrãs, escolha o do meio e proceda como indicado.

Novamente a bateria e de súbito a sala “ressuscita”, e de tal forma se iluminou que deixei escapar um comentário de espanto:

-Rica maquinaria! Onde vocês a tinham guardado?!

-Isso não é nada meu caro...

-Bem, espante-me mais tarde, vou começar.

Tirei da minha pasta um computador portátil já devidamente programado e procurei a lista de mortos no ordenador principal. a função do meu seria detectar os tais casos de morte naturais, gravá-los e depois compará-los com os das outras estações.

Ao longo de uma hora interminável os mortos desfilaram...uma hora a espelhar bem o dramatismo da situação...

Durante aquele tempo terrivelmente interminável não consegui resistir a filosofar um pouco com o meu guia.

-É incompreensível todo o silêncio deste local...mesmo no exterior não se ouve nada, nem uma ave nem um rato...

-Silêncio da praga...

-Mas afinal o que raio é que enfrentamos? Um “bicho” capaz de destruir tudo...Meu caro amigo aí, bem seguro na cidadela e por muitas fotografias filmes que tenham, só vindo aqui é que se sente esta...esta opressão! Não é o silêncio da praga, é o silêncio da opressão e nem todas as drogas do universo me tira esta sensação!!!

-Mas, como se sente? Parece-me estar a perder o seu auto-domínio...

-Acalmem-se os senhores da central, foi apenas uma mera reflexão fruto de um olhar sobre...Brrrrr!!!! Diga-me onde raio é que param os corpos desta gente toda?

-Supostamente a maioria foi enterrada, mas provavelmente encontrará os últimos a morrer algures, dado que não tiveram ninguém que os sepultassem...

-Suponho então existirem registos sobre o local e horas dos enterros...?

-Sim, mas qual o interesse?

-Assunto classificado. Mais tarde quererei esses dados, mas, recorde-se você apenas os fornece...

-Certo, desculpe.

E no entanto era tão simples a razão, tão absurdamente simples que a sua confidencialidade era mais uma das provas do ridículo a que tinham chegado os meus chefes - Depois de encontrar os indivíduos procurados, deveria, com o auxílio técnico dos robôs extrair parte dos seus corpos par posterior análise. Se finalmente se achasse um vírus, era obvio que estava dado o primeiro passo para a cura.

“Sobraram” quatro mortos de causas naturais e, sorte das sortes, sepultados naquela mesma cidade, sendo a exumação feita mais de manhã por dificuldades técnicas.

A minha primeira, e felizmente , única noite na cidade foi, no mínimo sombria.

Sobre um céu estrelado, coligi dados, verifiquei o sítio onde deveria ir desenterrar os corpos e acabei de fazer o resto do planeamento para as jornadas seguintes. Depois...foi dar graças aos meus chefes por estar cheio de químicos pois dificilmente conseguiria estar neste ambiente mais de uma hora...Estando longe de ser um medo físico, era antes angústia, grande, sufocante, claustofóbica...

Nem mesmo o dia me aliviou; estava tenso, hirto...pronto para exumar corpos...

-A coisa é mais ou menos linear: vá até ao castelo.

...

-Já cá estou.

-Agora...deixe ver...sim, à sua direita vê uma casa de cores claras?

-Sim.

-É uma espécie de morgue onde devem estar os corpos.

-Morgue ?!

-Lá teve alguém o bom senso de achar os casos estranhos e de os enviar para ai...

-Estou dentro.

-Avance até à sexta porta, entre, atravesse o corredor, abra a porta e...

-Calma, calma...Primeira porta.. .que cheiro....(tusso violentamente)...Não!

-O que se passa, está bem?

-Acrescentem mais dez mortos à praga, acabei de descobrir os funcionários da casa...

-Fique no exterior e utilize o robô.

-Deixando o gozo todo para uma máquina? Nem pensar, avanço em direcção à arca frigorifica...

....

-Quatro corpos, um homem de oitenta ou mais anos, uma mulher de trinta, miúdo de dez e um puto de treze ou catorze e aqui vai a máquina a cortar...

-Humorsinho saudável...

-Culpe os químicos meu caro, e não ter desatado a cantar...

-Aquilo que temos de fazer para ganhar a vida...

-Por falar nisso, mandem o transporte para o local combinado, por mim acabei.

Supostamente depois de cada missão temos uma semana de férias, mas perante a urgência do momento, deixaram-me a descansar dois dias no hospital da cidadela, estudaram as gravações e chamaram-me novamente.

A sala desta vez era diferente, com a particularidade de ter um vidro a separar-me do meu conhecido superior.

-Gosto da nova decoração...-Atirei seco

-Desconhecemos até que ponto poderá ter perdido a imunidade ou, não a perdendo, se se pode ter tornado num agente contagiante.

-Sim, sim...E acabar com a vossa querida segurança...E se em vez de se desculpar me dissesse qual a minha próxima viagem?

-Cuba, cidade Avana.

-Ah! A velha e romântica cuba, as lendas da Sierra Madre...

-Como?

-Nada, nada...

Se havia coisa que eu detestava era de um superior ignorante.

Nunca gostara particularmente deste tipo de gente, e por isso, aproveitando a minha condição de agente “mais do que especial” mimava-os com o meu mau humor e cinismos, farto que estava de ser tratado como um parente próximo do vírus momentaneamente do lado deles...Estava farto, farto da sua prepotência e da tal ignorância, sem a qual nunca poderiam perceber a breve aura revolucionária há muito perdida, de Cuba que permaneceria sempre envolta na imagem desses tempos loucos, pelo menos para os amantes de alguma literatura e de uma forma de estar...Resquícios da minha adolescência em que devorar as obras desses loucos e temerários lutadores barbudos que desceram das serras e tentaram criar uma utopia, batendo pé à potência do momento...Guerrilheiros mortos novos ou que se deixaram envelhecer na idade e nos ideais...Mais tarde reli a mesma história e vi a miragem desse romantismo, a verdadeira razão das tão famosas revoluções. Mas nada tirava o mérito de terem enchido o meu imaginário numa idade tão...permeável. E afinal, depois da morte do velho guerrilheiro, ela voltara a ser aquilo a que estava obrigada historicamente, casa de alterne e centro de recriação do gigante vizinho...Numa fase inicial o mundo congratulou-se com o desaparecimento do velho ditador. Com o fim do embargo americano, o mais longo da história, os capitais renitentes fluíram desenfreadamente para a ilha transformando-a radicalmente. Avenidas novas em folha vieram substituir as velhas casas de arquitectura colonial, demasiado antigas para serem substituídas ou feridas de uma memória que convinha apagar para construir os novos templos de consumo, as novas Las Vegas . O problema das grandes mudanças políticas é meterem no mesmo saco (de lixo) as construções daqueles a quem sucederem. Do velho sonho de Sierra Madre restaram apenas os mortos pela utopia de uma revolução, os mortos que no cemitério são iguais, porventura um dos únicos locais verdadeiramente democráticos do planeta...

Ironicamente foram os novos tempos que vieram contribuir ainda mais para uma certa glorificação da sua época de ouro...

Cuba...praias das mais bonitas da terra, ainda relativamente pouco poluídas...Nas quais não me deixaram aterrar, preferindo o interior de Avana e os seus enormes arranhas céus do século passado.

E de novo as ordens.

Edifício parecido com um antigo banco com várias palmeiras à sua frente, abra a porta, registos ao fundo, etc, etc, etc...

Novamente a exumação de corpos, o silêncio, o silêncio opressivo que quase que dava comigo em louco, e o regresso, rápido, o breve interrogatório, três dias de descanso e novamente o regresso...

-As boas notícias são estas: falta uma derradeira incursão. Dispensamo-lo a seguir, mas preferíamo-lo ter ao nosso lado para compilar os dados conjuntamente com os computadores. Oferecemos-lhe um gabinete aqui, mas, claro, sempre isolado. O seu trabalho está a ser apreciado ao mais alto nível, dai esta oferta de trabalho.

-Aceito, parecem-me ser umas férias divertidas...E se possível gostaria de partir logo que possível.

-Então prepara-se para ir até Bagdad. A rotina será a habitual, os problemas, em principio nulos, boa sorte.

Problemas nulos...a vantagem de trabalhar no centro de uma praga...De tudo quanto fizera até hoje, este caso era, sem dúvida o mais facilitado...

Senti-me bem em mudar de visual, e de ambiências. Embora esta viagem fosse, como sempre, pouco “turística”, a perspectiva de ver o deserto era consoladora...nem que fosse pelo habitual isolamento destes locais; o choque seria assim menos doloroso...

E que imagens belas apesar das drogas me insensibilizarem parcialmente...voando a baixa altitude e não muito depressa, consegui absorver o suficiente para me sentir tocado por essa atmosfera mítica que todos dizem lá existir...Só lamentei estar, mais uma vez, sob o efeito de drogas, onde parte do sentir era obliterado...

Bagdad, cidade mítica, cidade das mil noites, dos reis do petróleo, do auge do poder do deserto, da decadência dos anos seguintes ao esgotamento das reservas, cidade morta.

É um lugar comum falar dela como uma encruzilhada de contradições, mas é isso mesmo...Nos anos seguintes ao fim das reservas petrolíferas, ela recuou no tempo, regrediu séculos, sendo apenas salva do degredo total por alguns dos investimentos feitos anteriormente. Passou a ser mais conhecida como encontro de colarinhos brancos europeus, transmutados em aventureiros das dunas no verão a bordo das suas máquinas multifacetadas, cheias dos velhos confortos, atreladas a várias centenas de cavalos, enfim prontas a dar a sensação tida pelos velhos pioneiros dos esquecidos dakares...Estava longe de ser prestigiante, mas constituía uma das únicas formas de sobrevivência...

-Vem ai uma tempestade de areia, proteja-se o melhor possível -Recomeçou a central.

Escondi-me atrás de uma casa de aspecto sólido e esperei; sabia a imprevisibilidade deste tipo de fenómenos, que podiam durar breves minutos ou dias. Tive sorte, calhou-me a primeira...

-Estou pronto.

-E não muito longe do local escolhido. Trata-se de um velho palácio, provavelmente do governo local, vê-o?

-A aproximadamente duzentos metros, bolas nem um bocadinho de tempo para turismo...

-”C’est la vie”...

-Abreviando...Os sistemas de segurança?

-Inactivos, para variar deve dirigir-se a uma espécie de cave...

Num dia tudo acabara finalmente.

Senti-me a desfalecer mal subi a bordo do helião (descendente dos antigos Osprei, híbridos entre um avião e um helicóptero).

Dormi quase vinte e quatro horas seguidas, para ser recebido pelo homem que conduzia a operação.

-Lamento novamente o seu estado de isolamento, mas isso é o que menos interessa. Há desenvolvimentos -Foram detectados mais alguns focos, mas como são secundários não serão incluídos no seu caso, no entanto isto é uma prova do não abrandar da situação, por isso devemos trabalhar ainda mais depressa. Convinha que começasse ontem...Terá à sua disposição um computador e respectivo terminal com toda a informação necessária. Rogo-lhe a apenas a máxima brevidade possível. Embora não seja o único agente a trabalhar, é de longe o mais avançado...esforce-se, os mortos não param de aumentar...

Em dez minutos estava instalado e pronto a trabalhar.

Tínhamos então doze prováveis pacientes-zero. As causas da morte eram as mais diversas, mas sempre identificáveis, portanto não era ai que iria encontrar o elo. Inseri os sujeitos no computador e pedi-lhe para os agrupar segundo uma qualquer característica significativa.

Surgiram então três nomes, com a idade semelhante e uma profissão em comum. Tinham cerca de noventa e largas horas de voo no espaço.

Talvez...Sim, após uma breve consulta havia uma missão em comum, há mais de sessenta anos. Os respectivos companheiros tinham morrido ao longo deste tempo, sempre com causas bem definidas. O facto das famílias dos meus três membros terem morrido a seguir a eles de causas desconhecidas, e a seguir a elas os vizinhos, bairro etc, indiciavam-me um caminho.

E em comum entre eles apenas a idade (com intervalos de três a oito anos) e a missão, único dado verdadeiramente conclusivo. Iria então investigar essa missão.

Durara cerca de seis meses e acabara dramaticamente com a morte do comandante da nave. Segundo os registos, após trabalhos no exterior, um dos tripulantes morrera. O comandante isolou-se então numa parcela estanque da nave e fizera-a explodir. No mínimo irregular...

Ao ler o nome desse comandante parecera-me reconhece-lo...Claro! Requisitei toda a bibliografia e ensaios no nome daquele homem que pudesse entender.

Tratava-se de uma das grandes sumidades de todos os tempos, um estudioso brilhante. Albert Marcus Revses, tão respeitado como qualquer mestre cujas descobertas mudaram a face da história. Desde muito cedo revelara as suas capacidades invulgares, só parando durante breves meses vítima de uma doença não esclarecida nos meus registos, depois, bem, depois revelara-se uma entidade a nível mundial, doutorado em variadíssimas áreas, tão diferentes como física, química cibernética, imunulogia, algumas ciências humanas, engenharia genética, etc...sendo brilhante em todas! Fica na história como o mais jovem prémio Nobel. A sua ascensão é meteórica e inacreditável, sem par, com uma produtividade espantosa. Mas aos trinta e cinco anos retirara-se inexplicavelmente. Inscreve-se então em todas as missões científicas espaciais que pôde. No entanto, não querendo perder este potência, a comunidade construí-lhe uma nave apetrechada com um laboratório sem par nos seus terrestres, e facultou-lhe uma tripulação rotativamente, já que o cientista mostrara desconforto em ver sempre as mesmas caras...

Apesar de todas as facilidades, o seu génio entrou no ocaso, sendo as novidades produzidas medíocres.

O incidente a bordo da nave fora, obviamente sujeito a inquérito, mas arquivado. Aparentemente o falecido não resistira a uma crise de epilepsia. O seu corpo, de resto não apresentava as causas de morte. Existiam fortes indícios de que o cientista entrara em pânico perante esta morte e, inconscientemente, ao tentar encerrar-se no laboratório explodira com ele.

Caso encerrado.

Ou talvez não...Cheirava-me a esturro...Definitivamente havia ali qualquer coisa...Revi o plano da nave. De facto era estranho...a parte que explodira era mais do que uma simples secção... antes pelo contrário -Com um laboratório, dormitório, veículo de salvamento, armazém, sala de comunicações e de controle, constituía uma outra nave. a explosão, vista deste prisma era então muito oportuna...

Talvez fosse deformação profissional, mas pedira também à central alguns filmes e documentários sobre este cientista e, quanto mais o descobria, mais desconfiava dele...O seu semblante era sempre jovial, até exuberante, mas...ele escondia qualquer coisa...

Um tipo destes não desaparece...não se eclipsa, nunca se refugiaria numa nave como um eremita...Parecia ter acontecido alguma coisa desconhecida nas suas biografias, mas certamente determinante na sua vida...importante ao ponto de a ter transformado radicalmente...

Consultei o local onde se dera a explosão. As rotas espaciais conhecidas estivessem cheias do mais diverso lixo (provindo de numerosas estações espaciais, a maior parte privada e de duvidosa fiabilidade...), representando um potencial perigo para os viajantes, mas irresponsavelmente por lá deixado, pelo que bastava pedir imagens desses destroços e temos a possibilidade de redescobrir um cientista, ou o que dele restava...

Bastou esperar meia-hora

-Temos cinco grandes destroços nesse sector.

-Conseguem fotografá-los individualmente?

-Vou confirmar...Sim, mas a nitidez deixa muito a desejar...

-Enviem-mas o mais depressa possível.

Foi a primeira vez desde o início da operação que sorri.

O meu raciocínio revelara-se correcto: Na terceira foto, meio escondida entre destroços menores, lá estava ela, inocentemente à espera, à deriva...

E agora tudo seria mais fácil...Graças aos avanços na investigação, a requisição, de um pequeno shutle e de uma tripulação foi-me imediatamente autorizada.

(Continua)

Conto protegido pelos Direitos do Autor

Miguel Patrício Gomes
Enviado por Miguel Patrício Gomes em 22/05/2006
Reeditado em 27/06/2008
Código do texto: T160554
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2006. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.