CONTOS RAIVOSOS 4. Farruco e os alemães
Nepomuceno, genial galego, acaba de me narrar um conto. Ele afirma com toda a segurança que é certo, que lhe aconteceu a um vizinho da sua aldeia, a quem todos lhe dizem Farruco. Mas não sei... Parece-me demais. Não pode ser nem verídico o relato, quase piada: Não pode ser que os galegos tenham tanta força fora da Galiza e dentro se enruguem como panos de mão nas brancas de senhoras delicadas...
O conto é este:
À aldeia do Farruco chegaram uns turistas alemães, matrimónio e dous filhos, filha e filho. Farruco retornara havia pouco da Alemanha, onde estivera emigrado mais de vinte anos.
Aconteceu que ninguém na aldeia de Farruco sabia bem alemão, mas todos conheciam da emigração e retorno do Farruco, Por isso, Ramom, o dono do hotelinho a que acudiram os alemães, mandou em busca do Farruco para que fizesse de intérprete.
Chegou cedo Farruco, homem servicial, e começou o diálogo: Os alemães a perguntar pelas condições da residência no hotel, a interessar-se nos lugares que poderiam visitar pela zona adiante, a...
Mas Farruco tatejava, percebia e não percebia. A nada pôde chegar com os alemães turistas, que acabaram por se ir embora.
Foi então que, curiosos, uns e outros inquiriam:
—Mas Farruco, não estiveste mais de vinte anos na Alemanha? E como é que não sabes falar alemão?
—Que quereis? Eu e outro amigo caíramos num lugar de poucos habitantes... E falando, falando entre nós e com eles, todos aqueles alemães acabaram sabendo galego... Portanto...