Manhã De Sol

Finalmente amanhecia no planeta Terra. A muito tempo não se via um amanhecer tão bonito naquele povoado. O nome do povoado era Nova York, uma homenagem a antiga cidade de Nova York que fora devastada na guerra de 2005 quando os Estados Unidos declararam guerra ao Japão. O motivo daquela guerra eram “Suspeitos depósitos de armas de destruição em massa”. Bem na verdade o que os E.U.A queriam era apenas tomar território próximo a china, que era um bom ponto estratégico para uma corrida armamentista naquela época. Bem hoje 400 anos depois daqueles acontecimentos as pessoas ainda comentam a “surra” que os americanos levaram dos japoneses.

Este amanhecer trazia um tom de alívio para todos. As duras tempestades nucleares, lembranças das antigas guerras, haviam cessado e aquelas pessoas estavam mais seguras para sair para a rua sem terem medo de se contaminarem com radiação. Hoje em dia isto é normal. O povoado de Nova York fica a 930 km. do lugar onde ficava o antigo parque de Yelow Stone, um lugar para preservação da vida selvagem. Hoje um deserto sem vida.

Calmamente as pessoas iam saindo as ruas, os comerciantes montavam as suas barracas, e as crianças saiam a rua para brincar. Todos ali sabiam que seria um dia calmo, pois o sol erguia-se por traz das nuvens e mudava a coloração de um tom de roxo para um tom azulado mais ameno. Nas ruas sem calçamento as carroças iam de lá para cá o tempo todo, passando sempre pelas pobres casas madeira, recobertas com um material reciclado de cor marrom capaz de suportar a chuva acida e as duras tempestades de areia. As janelas sempre fechadas davam a quem passava na rua um ar de que “não tem ninguém em casa”, mas era apenas pura impressão, pois aquelas casas vivam lotadas, lotadas pelas suas pequenas e necessitadas famílias.

As pessoas ao contrario que se possa imaginar não trajavam aquelas roupas que se viam nos antigos filmes sobre o outrora grandioso Deserto do Saara. Com a mudança do clima no planeta (mais uma conseqüência das guerras nucleares) fazia um frio danado no deserto, na verdade, em quase todo o planeta fazia frio, pois as maiores camadas atmosféricas estavam totalmente poluídas por gases e vapores tóxicos, que criavam uma grossa camada de nuvens roxas que cobriam todo o céu, impedindo a passagem do sol. Um dia como hoje é considerado uma raridade: Um dia ensolarado. As vestimentas que as pessoas utilizam são muito semelhantes as que se viam nos jovens de antigamente, roupas leves, porem estas são um pouco mais quentes, as pessoas não se importam com os males que os raios ultravioletas podem causar, uma vez que só querem sentir o calor do sol em suas peles. Isto porque um dia de sol era raro. Normalmente estas pessoas estariam utilizando roupas grossas de couro, muito quentes para suportar as terríveis temperaturas a baixo de zero. Quando vinha o sol, a vida renascia, fazia por alguns instantes estas pessoas esquecerem o quanto a vida é injusta e ingrata com as pessoas.

Sim, era vida que renascia, vida que renascia no rosto das criancinhas brincando na rua, vida que renascia na risada dos comerciantes empurrando o pouco que tinham, para pessoas que tinham menos ainda. A vida renascendo, no apaixonado beijo de um casal jovem no centro da cidade, vida que renascia na oração que o padre fazia em praça pública, uma vez que não havia igreja.

Era impressionante o que um simples raiar de sol podia fazer: Trazer fé e esperança para um povo que sofreu muito, um povo quase extinto, um povo que há vinte anos mandou durante um ataque de uma terrível praga alienígena, espaçonaves, espaçonaves que levavam os seus descendentes para tentar colonizar outros lugares no universo, uma esperança de tentar fazer a vida humana continuar existindo.

Todos os dias no amanhecer aquelas pessoas se juntavam no centro da praça para ouvir o sermão do padre, e rezar para que as naves chegassem aos seus destinos. Eles eram a esperança para aquele tão destruído planeta. Planeta que a vinte anos atrás, sofreu com uma terrível praga alienígena e ficou totalmente devastado. Um planeta que até então vivia em harmonia, depois de duros confrontos entre seus próprios povos e contra outros povos também. Mas que tinha sofrido um duro golpe, um planeta que foi devastado em poucos dias e que hoje está em decadência.

Ainda é na memória de alguns poucos sobreviventes daquela época, o barulho das terríveis naves alienígenas, sobre os seus ouvidos, estrondos da artilharia tentando defender o planeta. Duplamente preocupados, com as ameaças que viam do céu e com as que já aqui estavam. Bilhões haviam morrido naquela guerra, bilhões que lutaram bravamente para que a humanidade tivesse alguma esperança. Com certeza se hoje eles estivessem vivos estariam sorrindo, por saber que fizeram bem o seu trabalho.

Toda a calmaria na cidade é de repente interrompida por sons de caminhões, sons que vinham de perto. Os guardas que vigiavam de torres a distância avisavam que eram amigos, eram apenas viajantes procurando um lugar para descansar. Viajantes eram sempre bem recebidos aonde quer que fossem. Não havia mais o medo de se tratar de uma armadilha de saqueadores, nem o medo de serem apenas uma gangue que extermina vilas inteiras por puro prazer. Não, a humanidade finalmente havia aprendido a viver em comunidade, não por natureza, não porque queriam, mas por necessidade. Agora cada qual precisava de cada qual.

O barulho dos caminhões ia ficando cada vez mais próximo, o barulho de caminhões velhos, empoeirados, e definitivamente em péssimas condições de uso. Mas esses eram os únicos meios possíveis para se atravessar um deserto ou outro terreno qualquer. Agora somente caminhões e jipes eram utilizados para as vagens. Cavalos, camelos, dromedários, nada disso existia mais. Aviões não podiam voar, planadores não podiam planar e barcos não podiam navegar. Agora era assim, caminhões e jipes eram as estrelas. Felizmente agora estas máquinas eram movidas por um reator que processava qualquer coisa orgânica ou não para transformar em energia. Qualquer coisa que fosse considerado imprestável ou sem utilidade era utilizado como combustível, desde os restos da comida estragada do dia anterior até o corpo de um animal qualquer encontrado no meio do deserto. É, as coisas agora eram assim mesmo. Mas tudo isso acabou tendo um lado positivo: em fim a humanidade encontrava-se unida.

Logo os caminhões adentravam no povoado, as crianças iam correndo atrás daquelas máquinas e se segurando em suas traseiras. Quando finalmente os caminhões pararam na praça central, de seus interiores saíram alguns homens e mulheres, acompanhados por uma jovem criança, com aproximadamente 8 anos de idade, uma bela menina de cabelos loiros e traços angelicais, que encantavam a todos que para ela olhavam. Rapidamente o líder da comunidade, um jovem careca aproximou-se daquelas pessoas e deu a saudação:

- Olá amigos! Sejam bem vindos ao nosso povoado! Que ventos os trazem?

O homem que aparentava ser o líder da caravana, um velho trajando uma jaqueta jeans, e uma calça vermelha rasgada nos joelhos agradeceu a saudação:

- Gracias! Somos de um povoado muito distante, e viemos comercializar produtos que temos em sobra! Esperamos que estejam interessados!

O jovem sem demora exclamou:

- Interessados, nós? Está você oferecendo comida a um porco faminto?

Todos que estavam ao redor deram uma gostosa gargalhada, então o jovem convidou aquele homem para ir até o bar tomar uma cerveja. Este aceitou imediatamente a oferta e fez sinal para que os outros começassem a fazer negócios. Rapidamente as pessoas que estavam a rua negociando em suas barracas partiram para ao redor dos caminhões e começaram a negociar com aquelas pessoas. Por fora de tudo isto estavam as crianças que estavam a brincar, diferentemente da menina que havia chegado com a caravana. Depois de ter decido de um dos caminhões a única coisa que fez foi sentar-se num banco da praça e observar pacientemente os adultos negociando. Foi então que uma das crianças que brincavam na rua foi para junto da menina e convidou-a para brincar com eles.

* * *

- Então quer dizer que o seu povoado está com dificuldades em encontrar água potável?

Era a pergunta feita pelo chefe da caravana ao jovem líder do povoado.

- Sim! Antes havia um riacho aqui por perto, mas ele secou... estamos sendo obrigados a mandar nossas caravanas irem negociar água com outros povoados. Faz dois dias que uma delas partiu.

- Bem, água é uma coisa que nós temos de sobra, pode contar com a nossa ajuda para o que der e vier!

- Desde já agradeço a sua ajuda meu bom senhor!

- Só permita-me fazer uma pergunta meu jovem...

- Sou todo ouvidos.

- Não é muito jovem para liderar um povoado deste tamanho?

Esta pergunta trouxe ao jovem Erik um pouco de desconforto, afinal ele ainda era um jovem muito inexperiente e estava começando a acostumar-se com as responsabilidades de ser o líder do povoado.

- Meu pai faleceu a três meses, ele era o líder do povoado. Os anciãos acharam que eu devia tomar conta do povoado, as demais pessoas acabaram concordando com a opinião deles, e eu acabei assumindo o poder.

- Se me permite perguntar quantos anos você tem?

- 18 senhor.

- Eu percebo, bem parece que você esta fazendo um ótimo trabalho aqui!

- Muito obrigado. E o senhor? Onde fica o seu povoado?

- Do outro lado das montanhas ao norte, a mais ou menos 4 dias de viagem.

- Lembrarei-me de mandar a próxima caravana para lá.

- Aviso que é uma viagem muito perigosa! Acabamos perdendo um caminhão pelo caminho.

- Isto é muito ruim! É muito difícil encontrar um caminhão em boas condições de viagem.

- Pode ter certeza disso! Vejo que o seu povoado está muito bem conservado mesmo com a falta de água!

- Estamos trabalhando muito aqui, pode acreditar! A propósito não me falou do real motivo da sua caravana ter vindo para este povoado...

- O motivo que dei lá fora não convenceu, não foi?

- É...

* * *

- Não quer vir brincar com a gente?

O menino ficou olhando apreensivo para a menina esperando uma resposta, então deles aproximou-se uma mulher que cobria sua cabeça com uma burca e falou:

- Ela não pode responder, querido, ela é muda!

O garotinho espantou-se com o que a mulher havia dito, nunca em sua vida tinha ouvido falar na expressão “muda”, mas sabia que soava mal, que era uma palavra feia. Meio sem jeito olhou para a menina e tentou entender o porque a menina era muda, mas como ele não sabia o significado real daquela palavra decidiu perguntar a mulher:

- O que quer dizer “muda” ?

- Oh meu anjo – respondeu a mulher – isto quer dizer que ela não pode falar.

O garoto mais uma vez espantou-se com aquelas palavras, uma menina que não podia falar. “Então como é que ela faz para pedir comida, ou dizer se está alegre ou triste?” este foi o pensamento do garoto. “E agora? Como é que eu vou perguntar o nome dela?” foi outro pensamento do garoto. Como se pudesse ler os pensamentos daquela criança, e na verdade podia, a mulher disse:

- O nome dela é Catarina!

- Mas que nome bonito! Mas porque ela não pode falar?

A mulher pensou um pouco se podia ou não responder a pergunta do garoto, retirou a sua burca que cobria os seus longos cabelos negros, que automaticamente caíram sobre seu vestido floral, hesitou um pouco e respondeu:

- Não sabemos direito, esta menina adorava cantar, e um dia ela simplesmente fechou a sua boca e nunca mais falou nada com ninguém.

Aquelas palavras não fizeram nenhum sentido para o garoto, não faziam sentido porque não eram a verdade. Aquela menina havia passado por uma experiência muito traumatizante. Tão traumatizante que ela nunca mais pode falar nada.

- E ela pode ouvir o que eu digo? – perguntou curiosamente o garoto.

- Claro que pode! Você pode falar com ela.

O garoto hesitou um pouco mais falou:

- Olá Catarina! Como vai você?

A menina meio que sem jeito soltou um sorriso, que foi o suficiente para o garoto perceber que a garotinha estava feliz! A mulher olhando aquela bonita cena disse ao rapaz:

- Ela quer saber o seu nome! Não vai dize-lo?

O garoto, sorriu, olhou para Catarina e falou:

- Oi! Meu nome é George!

A menina novamente soltou um sorriso, a mulher olhou para o garoto e comentou:

- Ela acha o seu nome bonito!

- Como a senhora sabe o que ela está pensando?

* * *

- Então quer dizer que esse estranho exercito está rumando para cá?

Perguntou o jovem Erik assustado com o que acabara de ouvir. Aquele senhor havia lhe contado sobre um comboio formado por indivíduos de um tipo muito estranho, indivíduos que não eram humanos, e que ninguém sabia exatamente o quem eram, ou o que eram.

- Sim, nós não sabemos o porque, mas estão destruindo todos os povoados que encontram pelo caminho. Recentemente, eles destruíram um povoado que ficava apenas a alguns km.s do nosso. Receio que talvez meu povoado já nem exista mais!

O jovem não conseguia esconder o pânico em seu olhar. Os únicos pensamentos que passavam em sua cabeça eram sua família e as crianças do povoado. Seu coração disparou, e quase sem querer escorreu uma lagrima. Ele podia ser o líder de um povoado, mas ainda era jovem

- Não se assuste, sentir medo nestas horas é normal. Nós mesmos estávamos com muito medo antes de partir do nosso povoado, as únicas coisas em que conseguíamos pensar eram em nossas famílias e em nossas crianças principalmente.

- Puxa, o senhor acabou de dizer exatamente o que eu estava pensando. Nossas crianças...Droga! já estou falando como um velho de 180 anos! Mas as crianças, elas são a única coisa que nos importa agora. Afinal, são elas que irão governar o nosso mundo.

- “As crianças de hoje, serão os adultos de amanhã!”

- Isto é verdade. Notei que trouxeram uma criança com vocês, apenas uma, quem é ela?

- Seu nome é Catarina, é uma criança muito meiga e carinhosa, decidimos traze-la para que tivesse um pouco de sossego nos dias que lhe restam.

- Como assim?

- Ela contraiu uma doença muito grave, não sabemos se ela vai sobreviver. Ela era de outro povoado atacado pelo comboio, sobreviveram apenas ela, e sua tia. Segundo esta, a garota presenciou seus pais serem estripados por um soldado em sua frente!

- Oh meu Deus! Está criança deve ser muito amargurada...

- Segundo sua tia ela era uma cantora sublime, tinha uma voz divina. Depois daquele dia ela nunca mais pode falar nada. E para piorar as coisas, ela contraiu esta doença misteriosa, trouxemos ela para que não sofresse tanto. Achamos que longe dos problemas ela teria um fim de vida mais digno...ou pelo menos mais tranqüilo.

O jovem Erik desta vez não pode conter as suas lagrimas. Aquelas palavras doeram no fundo de sua alma. Para ele aquilo era um absurdo, e ele sabia que os próximos a serem estripados na frente das crianças poderiam ser eles.

- Em virtude disso meu jovem, quando nosso líder tomou conhecimento de sua vila acreditou que com a sua ajuda poderíamos tentar parar este comboio. Mesmo que percamos nossos caminhões e nossas vidas não podemos deixar eles continuarem. Eles estão vindo para cá para nos matar, de uma forma ou de outra morreremos, e creio ser melhor morrer lutando, defendendo uma causa justa, do que sermos imolados como carneiros. O que acha?

* * *

- Ela pode vir brincar comigo? - quis saber o garoto

- Mas é claro! - respondeu a mulher

- Você é a mãe dela?

- Não, sou apenas a tia dela. Seus pais ficaram no nosso povoado. Eles confiaram a mim a pequena Catarina!

Repentinamente a menina começou a tossir e ficou de joelhos no chão. Rapidamente a mulher correu para acudi-la dizendo:

- Oh meu anjo, por favor não faça isso comigo. Fique firme.

O menino olhou aterrorizado a cena, por um momento pensou em gritar por socorro, mas quando percebeu que a menina já não estava mais tossindo se acalmou. Ficou um pouco em silêncio e perguntou:

- O que ela têm?

- É uma tosse muito forte – respondeu a mulher

- Mas vem cá “tia”, ainda tem uma coisa que eu esqueci de perguntar.

A mulher ficou um pouco apreensiva, e tentou ler a mente do garoto para saber se ele não iria perguntar alguma coisa comprometedora. Mas antes que ela pudesse fazer isso o garoto tornou a falar:

- Qual é o seu nome tia?

Ela suspirou um pouco e respondeu:

- Amanda!

- É um nome bonito! E ela está melhor?

- Sim, mas é melhor que ela não vá brincar hoje ta?

Catarina fez um gesto com suas mãos, como quem dissesse que estava tudo bem, o que Catarina queria de verdade era brincar, deixar o estresse da viagem um pouco de lado. Amanda concordou, e observou enquanto George pegava nas delicadas mãozinhas de Catarina e a levava para brincar com as outras crianças.

Na rua as pessoas gritavam muito, uma tentando dar uma oferta maior, do que a de outra pessoa pelos belos produtos trazidos pela caravana recém- chegada. Então surgiu o jovem Erik, acompanhado do velho. Ambos subiram num banco e começaram a pedir a atenção do povo para si. Depois de conseguir a devida atenção começaram a explicar o que estava prestes a acontecer. Ninguém na rua conseguia esconder o pânico, porém todos tentaram fazer o máximo possível para não alarmar as crianças, já que estas eram a principal preocupação daquelas pessoas.

O que estava para acontecer era claro: ia haver luta, ia haver sangue derramado. Novamente, o já calejado povo da terra iria ter que lutar, lutar pela sua sobrevivência. Ainda naquela mesma tarde, formou-se um conselho de guerra, para tentar discutir um plano para tentar deter os agressores. Havia ficado claro, que tirando as crianças e os velhos, qualquer um fosse homem ou mulher com condição de empunhar uma arma o faria, o faria para proteger o seu futuro.

O que havia começado com uma bela manhã de sol estava terminando como um dia negro. Agora o sol já escondia-se por traz das densas nuvens roxas, e o céu tornou-se da cor do sangue, da cor do sangue que iria ser derramado nos próximos dias.

Dias mais tarde a caravana do povoado de Nova York já estava de volta. Todos os integrantes concordaram com o plano de guerra. Um dia depois, numa escura manhã sem sol, veio o alerta dos observadores: o comboio assassino estava se aproximando. Os velhos e as crianças incluindo a pequena Catarina e o pequeno George foram levados para um lugar seguro, na verdade, umas cavernas a uma distancia considerável do campo de batalha.

Não iria ter como evitar o conflito, o comboio assassino já estava perto demais para alguém fugir ou abandonar a luta. Para aquelas pessoas restava apenas a esperança de uma improvável vitória. Rapidamente quando o comboio estava bem próximo, começou o ataque. Com a ajuda de canhões improvisados, o povo da terra alvejou o comboio, mas mesmo assim os assassinos continuavam avançando. As baterias de canhões não eram suficientemente fortes para parar o forte comboio. Mesmo destruindo alguns caminhões e jipes, eles ainda avançavam e chegavam cada vez mais perto para a matança.

De espada em punho, o jovem Erik deu a sua ultima ordem:

- Usem as valas!

As valas eram o ponto forte da estratégia defensiva do povo da terra. Consistiam em “minas” improvisadas para abrir enormes buracos. E estava dando certo, os caminhões e jipes inimigos caiam nas armadilhas. Para os impiedosos motoristas inimigos ficou impossível defender-se, frear ou desviar das armadilhas. O povo da terra comemorou, e partiram para a parte mais trágica da batalha: a luta corpo a corpo. Homens e Mulheres, todos aqueles que podiam empunhar uma arma qualquer, revolveres, espadas, machados, metralhadoras, qualquer coisa.

Vestidos com roupas polares e calças grossas para evitar o ataque rasteiro do inimigo, partiram para o ataque, sem se importar com as conseqüências, e sem perceber que os raios de sol surgiam como se por milagre, iluminando o campo de batalha. Sim, os Deuses estavam contentes aquele dia! Finalmente o ser humano havia entendido o que buscara por toda a sua existência: a igualdade! Já não ligavam mais se quem estava ao seu lado era negro ou mulato, amarelo ou oriental, o que importava era estar junto, estar ao lado de alguém. O que importava é que estavam unidos, unidos por uma causa, um ideal em comum: o futuro!

E com essa causa, mesmo com a queda de vários irmãos, inclusive do jovem Erik, ele, o povo da terra lutou bravamente, e venceu seus opressores, venceu quem iria os aniquilar, porque estavam juntos, porque a união faz a força, não importava mais como eram os seus opressores, o que importava é que eles haviam vencido. Vencido o seu próprio preconceito, suas desigualdades, suas fraquezas, por que era disso que eram feitos os seus inimigos: de tudo mal do coração humano.

E naquela manhã que havia começado negra, e terminou ensolarada, com a vitória do povo da terra, Catarina voltou a cantar, e contou uma canção de amor, uma canção em homenagem a todos que morreram na batalha, uma homenagem a seus pais que haviam morrido para lhe salvar a vida. Uma homenagem para a vida que renascia, uma homenagem ao espírito humano que renascia!