A imperatriz das trevas.

E lá estava ela, no topo da torre observando todo o seu grande e vasto império, um império construído pelo sangue e suor de seus escravos. Um império diferente de tudo aquilo que a mente humana poderia imaginar. E ela estava lá contemplando o raiar do sol, no céu vermelho de seu mundo. Observava friamente as naves vindo de lá para cá, sempre pensando em como era vista pelos seus súditos.

A torre de metal como era chamado o seu palácio, era a construção mais alta e formidável de tecnologia de seu planeta. Havia levado dois anos para ela ser erguida no centro da capital de seu reinado e era tudo com que ela sonhava, ou tinha pesadelos.

Ainda sonolenta, afastou-se da janela e observou uma de suas escravas que estava ali parada com um olhar amedrontado, de pé ao lado de sua cama. A mulher indagou-a:

- O que deseja para seu café da manhã vossa majestade?

Ela demorou um pouco para responder, mas, com um olhar capaz de congelar o coração de qualquer pessoa respondeu:

- Quero o de sempre.

Rapidamente a escrava abandonou seus aposentos e desceu o longo lance de escadas que separava, o quarto da imperatriz das trevas do resto da torre. Vagarosamente, aquela imponente mulher tirou suas roupas e foi tomar seu banho matinal, “Quero ficar limpa para impor a minha soberania ”, naquele planeta as pessoas não tinham o hábito de tomar banho diariamente, mas aquela mulher insistia em manter este hábito, afinal em sua concepção a sujeira era somente para os fracos e derrotados. Em sua banheira estavam as mais vistosas e cheirosas ervas aromáticas de seu mundo, logo todo o quarto ficava com um perfume de rosas misturado a varias fragrâncias do campo.

Enquanto lentamente tomava seu banho, observou uma rosa negra, uma rosa negra que flutuava na perfumada água da banheira, e ia se lembrando de como foi difícil conseguir as sementes para semear aquela qualidade de rosa, uma qualidade que não existia em seu planeta “Criaturas nojentas aqueles seres do planeta Terra, andam em duas pernas e possuem dois braços como eu, mas não respeitam minha autoridade e supremacia! Teriam evitado muitas mortes simplesmente me entregando o que eu queria.” As rosas negras são flores muito raras no universo, na Via Láctea somente o planeta Terra tinha aquelas flores tão belas e vistosas. Flores tão especiais que eram protegidas com a vida, chegando uma delas a valer milhões na moeda local. Tudo porque a verdadeira rosa negra era capaz de produzir uma substancia capaz de curar doenças como o câncer, e outros males do século XXI. Agora somente a imperatriz das trevas tinha aquelas plantas na galáxia, e somente para satisfazer a sua vaidade.

O tempo passava rápido naquele planeta, onde um dia durava apelas 18 horas terrestres, um planeta de fato pequeno mas com uma potência incrível. Aquele planeta era a segunda maior potencia da galáxia, e de fato a mais perigosa das potencias. Sua tropa de astronaves contava com mais de 20 Milhões de aparelhos, e tinha milhares de colônias por toda a Via Láctea. Nunca nenhum exército de nenhum planeta que tenha sido invadido por aquele exército ficou inteiro para contar a história. Sábio foi o exército do Planeta Terra que logo percebeu ( porém ainda demasiadamente tarde ) que não se podia combater um exército tão bem preparado e equipado como aquele.

E tudo aquilo estava sob o comando daquela mulher, mulher de traços humanos e curtos cabelos loiros, de olhos negros e que sempre andava muito maquilada, talvez para esconder que ela mesma sofria com as atrocidades que cometia contra seu povo. Certa vez mandou exterminar toda uma aldeia de seu planeta somente pelo tolo motivo que eles teriam criado uma estátua um pouco mais “avantajada” de sua rainha. “Como puderam aqueles bastardos deturpar a minha imagem daquela forma? Receberão o castigo que merecem!”

A escrava novamente tocou a porta avisando a sua rainha que seu café da manhã estava finalmente pronto. A mulher saiu de sua banheira feita de uma cerâmica rica que aqui não existe, e banhada a ouro. Colocou o seu glorioso vestido revestido de diamantes, safiras e pedras vulcânicas, um vestido de coloração azulada que terminava numa estranha saia justa, pegou com cuidado o seu cinto, que para os habitantes daquele mundo era como a coroa para nós, e colocou-o de modo que suas estrelas negras ficassem bem a amostra. Então calmamente desceu as escadas para a sala de jantar imperial, onde dois estranhos seres a aguardavam:

- Vossa alteza se demora muito para aprontar-se. – Disse uma das estranhas criaturas semelhantes a um lagarto erguido nas pernas traseiras.

Ignorando o comentário da criatura a mulher dirigiu-se para a mesa e começou a tomar o seu café da manhã, numa mesa forrada de estranhas iguarias e doces.

- Sua atitude não me surpreende, afinal, uma mulher como você não deve prestar contas a ninguém. – Comentou a outra criatura de mesma aparência da primeira.

- Sabeis majestade que teu reino corre grande perigo – voltou a falar a primeira criatura – logo, logo as tropas federadas estarão aqui, e os seres da constelação de Andrômeda virão depô-la de seu lugar.

- Quantos de seus soldados pretendeis sacrificar antes de se render? – Indagou a segunda criatura.

A mulher parou de mastigar o que tinha em sua boca e cuspiu para o lado, e começou a falar:

- Nenhum, pois meus belos soldados demonstrarão o poder de sua avatar para que todo o universo veja.

Era verdade, aquela mulher não era somente uma imperatriz ou uma mulher normal, era uma avatar, o que significava uma vantagem extra para ela e seus soldados, mas o que poucos sabiam era que ela era um tipo incomum de avatar, do tipo mais poderoso: O avatar supremo.

Aqueles seres conheciam bastante os poderes daquela mulher, pois já aviam presenciado ela reviver inimigos mortos e coloca-los sobre seu domínio apenas com um gesto de suas mãos, tal como certa vez em que a viram sozinha derrotar todo o exercito de um planeta apenas por julgar ser “divertido”. Uma mulher de fato poderosa era a imperatriz das trevas, uma mulher que tinha todo um exercito ao seu dispor apenas para satisfazer os seus desejos de emoção e angustia, (como para ela seria fácil demais conquistar um planeta sozinha preferia mandar seus soldados o fazerem), para ela emoção era esperar angustiada em seu castelo por noticias das batalhas que seus soldados travavam.

Era essa a única demonstração de sentimentos carinhosos que ela tinha, seu coração vibrava com cada vitória de seu exército, e se contraia com cada soldado que morria no campo de batalha. As únicas demonstrações de carinho que tinha com seu povo eram em épocas difíceis como esta, sempre mandava beijos para seus soldados quando os mandava para as lutas e sempre ficava noites sem dormir esperando por noticias agradáveis, era na verdade a única vez em que não reprimia seus sentimentos. Dizem alguns que mesmo no seu canto ela derramava lágrimas por cada soldado que morria nas absurdas guerras que ela mesma promovia. Dizem as escravas que durante a batalha num determinado planeta da Via Láctea, uma batalha em que mais de 10 mil de seus soldados morreram, ela chorou por toda uma noite.

Essa era a imperatriz das trevas, uma mulher repleta de mistérios, uma mulher que nem os próprios Deuses ousariam desafiar, uma mulher que vibrava e sofria com seus próprios atos. Mas ela era assim mesmo, afinal, se 10 mil de seus homens morriam, ela tinha outros bilhões para substitui-los e era assim sempre.

Ainda naquele mesmo dia ela estava em sua nave imperial em pleno universo para enfrentar as tropas federadas, junto de toda a sua força armada. “Não permitirei que meus irmãos morram! Eu lutarei ao seu lado.” – era assim que ela pensava. Não como a imperatriz das trevas, mas sim como a avatar que ela era. Talvez fosse castigo dos Deuses, uma das mulheres mais cruéis e impiedosas do universo ter nascido um avatar. Seria irônico senão fosse trágico. E naquele dia houve uma violenta batalha, e esta batalha não poderia ter sido vencida por outra pessoa senão a imperatriz das trevas, porém ninguém sabe ao certo se para ela foi uma vitória ou uma derrota...

Edmar Souza Júnior <edmarsj@gmail.com>