Alma
Na vastidão do universo, uma gigantesca nave espacial cruzava o infinito. Tinha a forma de um barco, e provavelmente, alguns quilômetros de extensão. Era uma bela nave, que passava próxima a um sistema solar pouco habitado, uma nave realmente enorme. Ao seu redor, podiam ser observadas pequenas luzes, que, se fossem vistas mais de perto, se mostravam janelas, e se olharmos para o interior de uma delas, veremos uma cabine.
É uma cabine muito limpa e arejada, suas paredes são de uma coloração, cinza metálica, nela há uma cama, e nesta cama, vemos uma mulher deitada, virada ao contrário do normal, com os pés descalços em cima do travesseiro, e com a cabeça reclinada, na outra extremidade, deixando seus longos e belos cabelos brancos caírem no chão, de braços abertos e esticados, deixando também uma mão, frágil e delicadamente enrugada arrastando no piso branco cheio de detalhes dourados.
Uma mulher realmente interessante, de belas e definidas formas femininas, braços e pernas aparentemente delicados, seios fartos, e curiosos olhos totalmente negros, muito semelhantes aos olhos de grays. Na verdade, quem a observasse a alguma distância, poderia dizer que ela era uma híbrida, criada em um laboratório por grays, mais quem olhasse mais de perto, poderia ver claramente as diferenças. Ao contrário dos grosseiros traços do rosto dos híbridos, aquela mulher tinha um rosto humano, suave e delicado, juntamente com uma boca, fina porém sensual. A perfeição absoluta, contrastando com um par de olhos grandes e negros, separados por um nariz também humano e perfeito.
O ambiente passava uma sensação de leveza e calmaria, embalado a uma estranha música instrumental, que soava leve, como o vôo de um pássaro, combinando exatamente com aquela mulher trajada em uma camisola azul claro.
A mulher fechou seus olhos e deu um suspiro, quase em uníssono, com o ruído da porta que se abria numa extremidade próxima a cama. Por ela entrou, uma mulher igualmente bela, porém com suas diferenças, sendo a maior, os olhos iguais aos olhos humanos, de pupilas cor de mel. A mulher adentrou um pouco na cabine, colocou as mãos na cintura, e quebrou aquele clima de paz dizendo:
- Há, qual é Alma? Você ta parecendo uma prostituta ai jogada na cama desse jeito! De camisola?
Alma abriu os olhos e ficou de pé, e falou com uma voz visivelmente irritada:
- Isso aqui ta um saco! - deu um suspiro – Eu estou a mais de dois meses nesta maldita nave, sem nada para fazer! Entendeu? Esta nave tem dezenas de blocos, vários corredores, e simplesmente nada para se fazer!
A mulher ficou de pé ainda com as mãos na cintura olhando em silêncio para Alma, esta vendo que lhe era dada oportunidade de desabafar prosseguiu:
- Qual é? Eu tenho várias horas de vôo no simulador, e ainda não pude sequer chegar perto de um caça desde que cheguei aqui! - a outra continuou passiva – Eu já participei de vários combates simulados, e até agora não fui chamada para uma miserável missão de escolta!
A outra mulher caminhou até a cama, se sentou e puxou Alma para seu colo dizendo:
- Calma! Estamos poupando você, lembre-se que você é jovem e é...
Alma interrompeu a frase se levantando e dizendo com uma voz satírica:
- E eu sou a filha de uma matriarca! Grande coisa...
As matriarcas são as mulheres responsáveis pela coordenação das caçadoras em todo o universo, elas controlam todos os passos de suas soldados e naves, para que não hajam problemas.
- Pois é uma grande coisa sim! - disse a outra mulher levantando da cama com raiva - Não sabe quantas garotas adorariam estar no seu lugar! Você cresceu em berço de ouro menina, teve tudo que sempre quis, e qualquer outra garota adoraria ter!
Alma ironizou novamente:
- Ah sim! Ficar dois meses trancada numa nave espacial, olhando todas as outras ao meu redor partirem para missões arriscadas e voltando com histórias fantásticas... muuuuuuuuuuuuuuuuuuuuito legal! Dá um tempo! Eu sou uma CAÇADORA! Entendeu?
A mulher sentou novamente na cama e disse:
- Eu sei, não venha descontar a sua raiva em mim. Eu também sou uma caçadora e não gosto nada de ficar nesta nave servindo de coordenadora para um bando de fedelhas destrambelhadas – Alma deu uma gargalhada – mais é minha função. Até mesmo num ninho de violências cada ser tem uma função. A rainha para coordenar a matilha, as operárias para reprodução e sustentação do ninho, e os guerreiros para... er... bem, matar qualquer coisa que se mova em seu caminho?
- Acho que sim, - respondeu Alma – não se esqueça da reprodução também.
- É, isso mesmo.
- E eu sou uma guerreira, – falou Alma com um estranho orgulho – quero colocar minhas armas e explodir algumas pessoas! Quero entrar numa nave e dinamitar estações espaciais inteiras. - suspirou – Mais aqui trancada, eu sou só um peso morto!
- Tem razão – falou a mulher enquanto se deitava na cama – aqui você é só um peso morto, por isso temos uma missão para você...
- O QUÊ? - gritou Alma, seus olhos se encheram de água
- Exatamente o que você ouviu – respondeu a mulher enquanto se levantava da cama e ia em direção a porta – agora tire essa camisola ridícula, vista seu uniforme, peque as suas armas e dirija-se a sala de reuniões.
A mulher virou- se e saiu da cabine.
***
Alma a muito esperava por este momento, as caçadoras são uma raça incrível que vagueia pelo universo fazendo fama e fortuna. Geralmente são contratadas como mercenárias, também partem em missões para defender os interesses de sua raça, e algumas vezes, defendem interesses da federação espacial, da qual a raça não é membro oficial. São tão poderosas, que a federação as deixa agir livres, até porque, podem contar com elas para alguma missão importante. E Alma finalmente teria a oportunidade de viver tudo isso, pela primeira vez.
Alma colocou seu melhor uniforme: um vestido branco, que terminava numa saia dividida em um "V" invertido. O vestido tinha vários apetrechos: bolsos extras, botões, e vários velcros, com os quais ela podia separar partes do vestido, que se transformava num ágil e sensual traje de combate. Colocou também duas enormes pulseiras, uma em cada braço, essas piscaram, e simultaneamente, davam a impressão de "derreter", e ocupar os antebraços da moça. Haviam vários botões, e sulcos nos braceletes. Eram algumas das mais avançadas armas do universo, levaram mil anos sendo aperfeiçoadas, até chegarem aquele ponto. Eram leves e letais, perfeitas para o gracioso e feminino corpo das caçadoras.
Calmamente, ela se dirigiu para a sala de reuniões, uma grande sala circular, cheia de telas de plasma e de computadores, uma sala provavelmente, do tamanho de um salão de festas. Não poderia ser chamada simplesmente de sala de reuniões, pois servia mais para coordenar estrategicamente as tropas e grupos, que partiam nas perigosas missões pelo espaço. Alma olhava ao redor e via pequenas mesas, ao redor de umas, algumas mulheres sentadas, em outras mulheres em pé ao redor das mesas. Hologramas brilhavam com simulações e mapas, havia realmente muito movimento lá.
- Alma! Aqui. - chamava a mulher que a pouco estava em seu quarto – Fiorenze, Elanis venham aqui também.
Alma olhou para trás e viu duas caçadoras, uma mestiça e uma pura que entravam na sala atrás dela.
Um fato muito interessante nas caçadoras, é que elas podem ter filhos com praticamente qualquer outra raça alienígena, sendo humanóides, ou bestiais , ( alienígenas com formas animalescas como aranhas, escorpiões etc.) e as diferenças nesses cruzamentos são mínimas. Assumindo um estranho e curioso padrão, gerando duas raças diferentes de mestiços. Um com físico exatamente igual ao de um caçador puro, com diferenças apenas nos olhos (a mulher que estava no quarto com Alma), e outro, com essas mesmas características, com o diferencial de ter uma estranha cauda, coberta de pêlos, geralmente marrons, e um nariz excessivamente achatado. Alma é uma caçadora pura.
As três se aproximaram da mulher e acenaram com a cabeça. Alma olhou ao redor e viu que fora ela, somente três pessoas eram puras como ela, duas jovens que ela deduziu serem suas parceiras na missão, e um homem que estava diante delas. Alma ficou meio sem jeito quando seus olhos se encontraram com os do homem, pois desde que havia saído de casa, ela não via outro caçador puro, como o pai dela, por qual ela tinha muito respeito e admiração, o que era algo bem raro.
A mulher começou a falar:
- Muito bem meninas, hoje vocês vão enfrentar uma missão de verdade, o Bob aqui vai lhes passar as ordens de nosso cliente.
A mulher se afastou e deixou as garotas sozinhas com o homem. Este olhou para elas e percebeu, que fora Alma, e uma mestiça que estava ao seu lado, as outras lhe lançavam um olhar de desprezo. Ele limpou a garganta e começou a falar:
- Bem-vindas a vida real, minhas bad-girls, - disse isso somente para Alma e a mestiça que estava ao seu lado, e a uma pura que estava bocejando de tédio – hoje vocês vão enfrentar sua primeira missão de verdade! - apontou para uma garota pura, e outra mestiça (na qual Alma notou uma cauda sacudindo no ar) – Elanis e Xeen vão conduzir vocês nessa missão, para garantir que não se machuquem, muito.
Alma notou que a garota ao seu lado tremeu um pouco.
- Nosso cliente, é uma organização pacifista – Xeen soltou um espirro que soou como “mentira” - que atua num sistema solar aqui próximo. Eles são híbridos de uma raça réptil, desenvolvidos pelos grays – Xeen disse cochichando para Elanis “Yekes” - mas recém revoltados contra seus, hum, criadores.
Alma arregalou os olhos, sempre tinha ouvido falar nos terríveis grays, “será que na minha primeira missão eu vou enfrentar um híbrido? Demais!” pensava a garota.
- Nosso cliente – continuou Bob – nos oferece uma quantia considerável de minério de Alastanium (metal 100 vezes mais resistente que o aço, e mais caro também), a qual vamos deixar vocês dividirem entre si após a missão estar concluída! - a mestiça que estava ao lado de Alma disse em vós alta “Beleza!”
O Alastanium, é um metal raro naquela galáxia, Alma imaginou, que sempre ganhava de sua mãe dinheiro suficiente para comprar um pedaço de Alastanium todo o mês, era realmente bastante dinheiro que eles estavam oferecendo.
- Nosso cliente, tem suspeitas, sobre uma tentativa de rebelião de um grupo de rebeldes que – tocou com a mão enrugada no console da mesa e surgiu um holograma mostrando um planeta com sua lua – estariam com uma base situada na lua de seu planeta natal, - tocou com a mão na lua holográfica, e esta cresceu até ocupar lugar de destaque na imagem – bem aqui. – tocou numa parte da lua, e a parte se ampliou até revelar uma construção tridimensional riquíssima em detalhes – Ainda de acordo com o nosso cliente, estes rebeldes conhecidos como “os dragões do inferno”, estariam pesquisando um tipo de arma desintegradora de matéria.
- Uma arma anti- matéria? - questionou a menina pura que até agora tinha ficado calada.
- Sim, Raycha, por favor não me interrompa novamente.
- Sim senhor – respondeu a menina.
- A missão de vocês é simplesmente destruírem os planos dessa arma se os encontrarem, caso não encontrem os tais planos, destruam todo o lugar. E se encontrarem façam isso também, vai tirar o stress de vocês! - as garotas ignoraram a piada - O lugar é bem protegido, - ele tocou no holograma e o pátio da base apareceu em destaque – o pátio dessa base é protegido por violências, - a menina que estava ao redor de Alma colocou a mão na boca – não se preocupem, não é um ninho, nosso cliente acredita que estejam controlando os animais por meio desta antena aqui – ele tocou na imagem de uma antena e esta ficou em destaque na imagem com textos ao redor mostrando os seus dados – como os textos da imagem explicam, esta antena é protegida por um forte escudo de plasma, provavelmente devem haver baterias por lá para recarregar os escudos, por isso não tentem atacar a antena, é perda de tempo. Detonem as violências!
Xeen deu as costas e disse tranqüilamente enquanto sacudia a sua cauda:
- Moleza! Pode dispensar as Bad Girls aqui! Eu e a Elanis cuidamos de tudo sozinhas.
Uma mulher adulta de aproximadamente 40 anos que passava próximo ao grupo cochichou sem ser ouvida:
- Filha de uma piranha!
- Vencido este primeiro obstáculo – continuou Bob – adentrem no edifício, acredito que vocês enfrentem certa resistência dos rebeldes. - Bob tocou no console e surgiu a imagem de um humanóide musculoso, com pele de réptil e uma cauda – Matem-nos, peguem os planos e caiam fora.
- Pegar os planos? - estranhou Alma.
- Claro gatinha, - ironizou Xeen – isso pode ser muito útil, podemos vender no mercado negro e...
- Isso não é da sua conta Xeen, - disse Bob, agüentando os olhares desafiadores das cinco garotas – Dêem cobertura para Elanis e ela pegará os planos. O que serão feito deles, é decisão do conselho da nave. Agora debandar! Vão para o angar, vocês partem em 22 minutos.
***
Alma estranhou esta sua primeira reunião, ela achou a missão até certo ponto simples, e por um pequeno momento, passou pela sua cabeça que a experiência que à tanto aguardava poderia ser tediosa. Mas ela não queria pensar nisso, nem de longe queria que fosse algo tedioso, ela não queria acreditar que pudesse ser tedioso. Logo ela descobriria, que a missão seria até agitada demais.
As meninas seguiram para o angar, Alma parou antes em sua cabine, para remover as peças desnecessárias de seu vestido, que virou um uniforme bem flexível, e visivelmente calculado para mostrar toda a beleza do corpo da moça.
Logo Alma estava junto com elas no angar, quando todas já estavam reunidas Xeen se adiantou e disse:
- MUITO BEM, Bad Girl's, ta na hora de esquecerem tudo o que aprenderam na academia e acordar para a vida real: em primeiro lugar, sobrevivência é tudo! Portanto esqueçam esta história que ensinaram à vocês de piedade e as vantagens de se fazer reféns porque...
Elanis colocou a mão na boca de Xeen e começou a falar:
- Desculpem a Xeen, ela têm um "pequeno" problema comportamental, - Xeen quis protestar mas Elanis agarrou com mais força a boca da garota – sei que vocês não gostaram da idéia de um Homem dar as instruções, mas é a função dele e cada um – Alma fechou os olhos e rezou para que ela não começasse com um discurso sobre violências, abelhas e colméias – tem uma função que deve cumprir, mas eu não vou ficar aqui falando feito uma tonta, - Raycha deu em suspiro – vamos lá chutar alguns traseiros!
Alma logo teve a impressão que poderia confiar em Elanis, ela não queria admitir, mas estava realmente muito assustada, e não sentia vergonha disso, ela lembrava das palavras de seu pai: "Toda a pessoa que diz que não sente medo de nada pode ser duas coisas: ou é um Supremo, ou é um tolo. E como não somos Supremos, mas sim seres mortais com um tempo pré- determinado de existência, temos medo, e não há do que se envergonhar disso, pois é algo natural. O medo é bom porque nos impulsiona para frente, porque queremos superá-los! E é essa a verdadeira coragem: 'Admitir que temos medo, e procurar supera- lo'. Porque a vontade de superar nossos medos, é o que nos impulsiona para o infinito".
Alma se orgulhava muito de seu pai, por que ele era um homem sábio, era um caçador puro, não era um guerreiro, não um guerreiro convencional, daqueles que impunham uma arma e saem por ai matando todo mundo: ele era um diplomata. Um homem que precisava lutar com as palavras, contra as questões, as quais as armas não funcionavam. "Como pode um homem ser tão sábio, sem sequer ter dado um único tiro em sua vida? " Era isso que mais a impressionava em seu pai.
Logo um transporte pousou perto das garotas no angar. Era uma estranha nave em formato de bote, e de cor vermelha com listras azuis. De dentro da nave saiu uma caçadora pura vestida em trajes negros, ela se colocou adiante das garotas e disse:
- Olá, meu nome é Kefka, e eu vou levar vocês até o objetivo. Como de praxe, dentro do transporte, existe uma mesa holográfica, onde vocês poderão estudar um pouco mais o campo de batalha. Como a missão, surgiu muito em cima da hora, não pudemos preparar um "passeio virtual" para vocês. Porém esta missão é considerada bem fácil. Vocês não terão dificuldades. Todas a bordo.
As guerreiras entraram na nave apressadas, 8 minutos mais tarde estavam partindo.
***
O transporte iria demorar pelo menos mais 15 minutos para chegar até o ponto de pouso. As garotas iriam saltar em algum ponto à 1,5 km de distância do alvo principal. Dentro do transporte as garotas olhavam com detalhes as estruturas do prédio, pensando em uma estratégia de invasão eficaz. Fizeram vários desenhos com rotas e planos, rapidamente diferentes um do outro. Logo chegaram a um plano de invasão que consideraram ser o mais seguro. Elanis, escoltada por Xeen ficariam na retaguarda, Alma e a menina mestiça que se chamava Iris iriam atacar os flancos, e Raycha iria atacar pelo meio, abrindo caminho para que Elanis e Xeen pudessem entrar sem nenhum problema.
Depois de terminarem de desenvolver o plano de ataque, elas ainda tinham mais 5 minutos até o ponto de pouso, foi o que Kefka avisou à elas. Neste tempo que tinham antes de descer na lua, ficaram extremamente caladas, havia oxigênio naquele curioso satélite e elas poderiam pousar sem o auxílio de nenhum equipamento especial. Iris que estava visivelmente amedrontada – e isso preocupava Elanis – foi a primeira a falar:
- Como será que vamos nos sair?
- Não sei, - respondeu Raycha com cara de poucos amigos – bem, eu espero.
Alma concordou com a cabeça, mais algo a incomodava, ela pressentia que alguma coisa poderia dar errado, mas preferiu ficar quieta.
Logo elas desceram na lua do planeta dos lagartos, e começaram a fazer uma caminhada silenciosa reconhecendo o caminho a sua volta. O terreno não era muito íngreme, mas era bastante acidentado, o que produzia várias decidas e elevações seguidas. Logo no meio do caminho, elas enfrentaram a primeira dificuldade que foi um oceano de areia movediça, elas iriam perder alguns minutos fazendo curvas, isto definitivamente não estava no roteiro. Elas precisavam ser cautelosas. As violências podiam sentir os inimigos se aproximando, então elas teriam que ser quietas e silenciosas o suficiente para não chamarem sua atenção. Normalmente, para uma missão como essa, elas usariam pulseiras de invisibilidade, juntamente com os tradicionais escudos de plasma. Porém, como tanto as violências, quanto os homems-lagartos podiam ver vultos e espectros invisíveis, não adiantaria de nada e só seria peso extra para as garotas.
***
Mesmo com os atrasos, chegaram ao alvo uma hora depois de terem descido no planeta. Parecia que iria dar tudo certo. Cada uma tomou sua posição inicial e se prepararam para o ataque. Raycha que iria "tocar" a invasão dentro da base tomou sua posição e deu o sinal.
Simultaneamente, Raycha, Alma e Iris adentraram no pátio da base descarregando as suas armas lazer, pegando como esperado, todos na base de surpresa.
As violências corriam de um lado para outro da base tentando acertar as três garotas enquanto Xeen e Elanis se posicionavam. As violências tem o tamanho de um cachorro, dentes pontiagudos e quatro patas que terminam em unhas pontiagudas e mortais. São insetos, insetos muito rápidos e fortes, porém frágeis. O maior ponto fraco das violências, é uma fina "cintura" que separa seu abdome do resto do corpo. Um simples tiro de lazer os mata se acertar ali, pois o mais curioso nas violências, é que seu coração fica no abdome, e com ele separado do corpo, nada se pode fazer.
Alma se sentia em casa, se sentia feliz, era o que ela realmente gostava de fazer. Alma parecia uma bailarina, atirando para todos os lados. Os tiros de Alma eram perfeitos, acertavam exatamente na cintura dos animais, as vezes, acertando mais de um. Alma descarregava avidamente a sua arma lazer, sempre tomando cuidado para não gastar energia demais, e sempre com tiros extremamente precisos. Alma realmente tinha treinado muito para participar de combates como esse.
Igualmente a ela, Raycha e Iris atiravam para todos os lados, tentando acertar exatamente no ponto mortal dos animais. Porém, as violências são animais extremamente velozes e furiosos, elas atacam sem pensar, muitas vezes acertando em cheio e matando os seus alvos. Mas para o azar delas, elas estavam enfrentando as caçadoras, que eram muito rápidas, inteligentes e calculistas. Todas as três garotas faziam movimentos acrobáticos no ar, mostrando sempre graça e beleza. Alma subiu em um dos muros, atirando nas violências que tentavam alcança-la, logo, ela deu um salto, e caiu atrás dos animais que estavam tentando pegá-la no muro, e com apenas um comando mental, sua arma se modificou, surgindo um estranho e grosso cano prateado em seu antebraço, alma apontou a arma para as violências e fulminou-as com um tiro do canhão de plasma.
Raycha corria pelo centro auxiliando as duas garotas, ela corria com os braços abertos, acertando os animais que surgiam dos dois lados dela. Percebendo esta manobra da caçadora, a pessoa que estava na base, operando o controle mental das violências, fez com que elas começassem a cercar Raycha por todos os lados. Na verdade, era exatamente o que a garota queria. Ao perceber que estava cercada Raycha se encolheu no chão e disse em voz alta para que as violências pudessem ouvir:
- O que estão esperando? Venham me pegar!
Todos os animais correram para atacá- la, quando então, Raycha fez algo impressionante: usando toda a sua força, deu um enorme pulo, fazendo com que as violências atacassem umas as outras ao invés dela, então, assim como Alma, Raycha usou o seu canhão de plasma para fulminar os animais.
Mas Iris não estava tendo sorte, ela parecia estar assustada demais para lutar, era realmente muito nova, mais isso não deveria ser problema. Mesmo assim Iris esta muito nervosa, não conseguia acertar os seus tiros, percebendo a fraqueza da garota, o operador das violências, ordenou para os animais concentrarem seu ataque nas duas principais, Alma e Raycha, e deixar Iris em segundo lugar. Porém, sem menos ele esperar, Elanis e Xeen entraram em cena, tentando adentrar no prédio. Mas as garotas não sabiam o que as aguardava.
Quando ambas estavam perto do portão de entrada do complexo, vários homens- lagartos armados com canhões de prótons saíram atirando, ambas tiveram que fazer grosseiras manobras evasivas, para não serem acertadas pelas mortais rajadas explosivas. Para revidar ambas modificaram suas armas para snipers e atiraram contra os monstros, visando as suas cabeças e obtendo sucesso. Mais soldados iam chegando, em contrapartida com as violências que estavam caindo como os insetos que eram. Raycha chegou para cobrir a retaguarda das garotas, enquanto Alma correu para dar suporte a Iris que estava cheia de arranhões e encurralada num dos muros. Parecia que a vitória já estava garantida, Elanis saltou por cima dos corpos de alguns dos homens– lagartos e adentrou na fortaleza, sendo seguida por Xeen e Raycha. Mas o pior estava por acontecer.
Alma sentiu uma dor inusitada, na verdade, não era exatamente uma dor, era uma sensação. Alma sentiu como se alguém tivesse enterrado uma faca em suas costas. Alma se assustou e procurou ver de onde veio o golpe, mas não havia mais ninguém lá, na verdade, não havia sequer machucado algum em suas costas, mas o que poderia ter causado aquilo? "O que foi isso?" - ela pensou, estaria ficando louca? Foi então que ouviu a voz de Iris gritar:
- Cuidado! Na sua direita!
Alma mal teve tempo de se virar, aquela sensação a havia afetado de tal forma, que ela esqueceu completamente onde ela estava. Quando ela percebeu, uma das violências cravou fundo uma das garras na sua perna direita, trespassando- a totalmente. Alma foi caindo no chão, e antes que Iris pudesse matar a violência com sua arma sniper, ela ainda conseguir cravar a outra garra na cintura de Alma, porém a garra não enterrou fundo. Alma caiu com uma dor horrível. Desesperadamente ela tentou arrancar as garras da violência de seu corpo, enquanto Iris se superava para defendê-la. Parecia finalmente que Iris tinha se encontrado e perdido o seu medo.
Mas, repentinamente, todas as violências recuaram e abandonaram o pátio, quase em uníssono com os corpos de Elanis, Xeen e Raycha sendo arremessados contra um dos muros.
Alma sentiu um aperto no peito, e a sensação de facada nas costas voltou com mais intensidade do que antes, juntamente com uma sensação de pânico e impotência.
Alma sentiu então, todo os seu corpo se contorcer, e enrijecer, era como se ele não respondesse mais aos seus comandos. Ela observou que o mesmo acontecia com Iris, então as duas foram erguidas no ar e jogadas contra o muro que estava atrás delas. Alma sentiu como se todas as costelas de seu corpo se partissem, e uma enorme golfada de sangue saiu pela sua boca, aquele gosto só não fora tão desagradável porque ela foi novamente erguida no ar e jogada contra um muro. Ela se sentia péssima, não sabia o que estava acontecendo, sentia que iria morrer, não passaria daquele dia, tinha chegado ao fim, ela iria morrer. Logo os seus olhos começaram a se fechar e tudo foi ficando muito escuro, ela sentia a vida deixando o seu corpo, quando então um pensamento totalmente fora do normal veio a sua cabeça: "Não morra ainda sua vadia"
***
Automaticamente, Alma se colocou de pé. Mas ela não tinha a mínima idéia de como ela estava fazendo aquilo, ela estava ali de pé, se mexendo, se movendo, porém totalmente passiva, como se não pudesse controlar o seu corpo. Ela então se viu, levantando a própria arma e atirando na cabeça de seu pai, e em seguida fazendo o mesmo com a sua mãe e com todas as matriarcas que estavam na estranha sala redonda e com paredes pintadas de azul- metálico onde ela estava, então passivamente, ela mudou a sua arma para um canhão de plasma e atirou contra o seu próprio peito, sendo consumida totalmente pelas chamas, sentindo cada milímetro de sua pele derreter com o calor do fogo, então com um estralo de dor ela voltou a realidade e se viu flutuando no ar entre Elanis e Xeen. Ainda olhando para baixo, viu os corpos inconscientes de Raycha e Iris.
Naquele momento então, Alma se arrependeu de ter pensado na possibilidade de encontrar com um híbrido em sua missão, ela se lembrava claramente de como horas atrás, ela ficou entusiasmada com a possibilidade de enfrentar uma daquelas criaturas, cheias de artimanhas e poderes psíquicos. Ele estava ali, atras dela, tinha aproximadamente 1,80 de altura e tinha uma fisionomia muito semelhante a fisionomia de um caçador adulto, tirando é claro um rosto de traços totalmente exagerados e disformes. A frente de Alma, esta a coisa mais horrível que ela já havia visto: um gray.
Ele tinha aproximadamente 1,50 de altura, tinha uma cabeça enorme que contrastava com o pequeno corpo, tinha boca e narizes aparentes apenas como pequenos riscos no crânio, contrastando ainda com os enormes olhos negros e sádicos. Aquele maléfico ser tinha ainda uma pele totalmente cinza, motivo por qual eram conhecidos por grays, e estava totalmente nu, ao contrário do híbrido que estava vestindo um sobretudo branco sobre algum tipo de roupa que ela não conseguia identificar.
"O que vão fazer com a gente?" - foi o pensamento que veio a cabeça de Alma, mas, aquele pensamento não era de Alma, era da Xeen, ela podia ouvir os pensamentos de Xeen em sua cabeça, juntamente com os de Elanis, e elas também podiam ouvir os seus, iriam descobrir que ela estava com medo, iriam zombar da cara dela. Alma então percebeu que seus pensamentos voavam, sua mente viajava mostrando os momentos mais cruéis e vergonhosos de sua vida, a primeira menstruação, uma surra violenta dada pela sua mãe, as broncas que ela levava das instrutoras na academia, o híbrido..."Sim! É ele. Ele está controlando os seus pensamentos, lendo suas mentes, seus passados, e usando isso para ataca- las." Não, não era nenhuma das meninas, nem o híbrido que falavam daquela maneira dentro das suas mentes, mais sim o pequeno gray que estava a sua frente, mas havia algo diferente nos pensamentos dele, eram matemáticos demais, precisos demais, compassados demais, sem ... o mínimo sentimento.
O gray estava falando dentro das cabeças delas, era telepatia talvez, pois Alma sempre ouviu boatos que diziam que os grays se comunicavam por telepatia, os boatos na opinião dela estavam agora justificados e comprovados, mas isso não importava a ela. Foi então, que ela percebeu, que mais quatro grays chegavam, e juntamente com eles, o transporte de Kefka.
"Sai dai Kefka, você não pode fazer nada pela gente, vai embora!" era o único pensamento que vinha a mente de Elanis, porém, o transporte parou imediatamente próximo a eles, e Kefka saiu do transporte armada e trazendo um computador de pulso. As garotas sentiram que podiam falar e disseram em uníssono:
- Kefka! Vai embora!
Mas Kefka começou a gargalhar e disse num tom irônico:
- Tolinhas!
As garotas não estavam mais entendendo nada, como é que Kefka podia estar falando aquilo? Por que ela não saia correndo dali atirando e não chamava reforços? Porém Kefka se aproximou a um dos grays e disse:
- Aqui está senhor Damned, neste computador de pulso, estão vários dados da fortaleza principal das caçadoras, junto com vários esquemas, e plantas de crusadores e naves- mães. Nosso acordo ainda está de pé?
Então em resposta a indagação, a voz sem vida de Damned ecoou pela mente dos presentes:
"Sim, serás clonada como uma híbrida, e tua mente passará a teu novo corpo como estava no contrato. Serás uma rainha entre as raças imperfeitas. E não haverá quem te possa dominar."
O sangue subiu a cabeça de Elanis que começou a berrar:
- NÃO! MALDITA! VOCÊ, COMO PODE ESTAR NOS TRAINDO? E A MISSÃO? QUE DIABO DE MISSÃO É ESSA?
Kefka gargalhou e respondeu:
- Missão? Que missão? Isso aqui? Isso aqui tudo foi uma grande encenação para que eu pudesse trazer em segurança estes dados que roubei para os grays. Você acha mesmo, que os homens – lagartos, iriam abandonar seus criadores? Como vocês são ingênuas, quando elas descobrirem o que aconteceu, eu já serei uma rainha, não... eu... SEREI UMA DEUSA!
Kefka gargalhava tão alto, que podia ser escutada a quilômetros de distância. Elanis, descontrolada berrou:
- COMO PODE? COMO PODE? COMO VOCÊ PODE NOS VENDER PARA ESTES MALDITOS? COMO? COMO?
- Vocês são fracas e patéticas! Acreditam em tudo que ouvem por ai, olha só que ridículo! Acreditam, que existe magia no universo, apesar de já terem tentado usá-la milhões de vezes sem o mínimo resultado aparente! E por isso, criam armas, para imita- las! Para imitar algo que não existe, para seguir uma maldita crença que está cada vez mais morta! - respondeu Kefka.
"Não existem entidades superiores. Não existe lógica e coerência na existência de entidades oniscientes e onipresentes, que numa vâa filosofia teriam criado o universo. Tudo que há, é o que a tecnologia pode criar, e a ciência pode explicar" – foi o pensamento de Damned que ecoou pelas mentes dos presentes.
- CALABOCA SEU DESGRAÇADO! - o movimento que Elanis fez ao gritar foi tão grande, que deixou um belo pentagrama grudado a uma corrente à vista em seu peito – KEFKA! SUA VADIA, VOCÊ VENDEU A SUA ALMA AO...
Elanis não teve a chance de terminar a sua frase, pois Kefka irritada, apontou a sua arma convertida em um sniper e disse:
- Morra sua vaca!
A luz vermelha da mira a lazer da arma de Kefka marcou o peito de Elanis, e do cano da arma, saiu um pequeno raio azul, que acertou o peito de Elanis abrindo um rombo do tamanho de uma bola de tennis. Juntamente com o impacto do tiro, o híbrido parou de suspender Elanis no ar ela foi arremessada contra as paredes da instalação que agora estavam atrás das garotas, quando Elanis bateu no muro, ele simplesmente desmoronou por cima dela.
Alma não entendia como Kefka podia ter acertado Elanis daquela maneira. Será que ela estava sem seus escudos de plasma? Mas Elanis estava lá jogada embaixo de uma parede. Kefka continuava gargalhando, e aquilo estava deixando-as apavoradas. Subtamente Kefka ajustou a sua arma para um lazer normal e disse:
- Muito bem, quem vai ser a próxima?
Porém antes que ela pudesse apontar a sua arma para as garotas, várias rajadas de plasma voaram em sua direção, rompendo os seus escudos, e exterminando-a por completo. Em seguida, várias caçadoras desativaram suas pulseiras de invisibilidade e apareceram atirando nos grays. Aproveitando um descuido do híbrido que segurava as meninas, Alma, num esforço quase impossível, virou-se e apontou as duas armas para o pescoço do híbrido:
- MORRE!
Com um disparo certeiro, a cabeça do híbrido foi separada de seu corpo. Alma e Xeen caíram no chão, e Alma com muito sofrimento, se levantou e foi até o local onde Elanis estava. Os grays aumentaram o poder de seus escudos de plasma para resistir aos tiros, enquanto a mente de Damned pedia para que sua nave os transporta- se para longe daquele lugar. Porém, vindos do espaço, surgiram três naves de combate, que estavam prontas para fazer a interceptação da nave gray.
Para tentar encobrir os grays em sua fuga, o operador das violências, comandou todas para cima das soldados caçadoras. Elas logo tiveram que distrair a sua atenção dos grays para se defenderem das violências. Mas elas eram milhares, estava sendo difícil demais de defender delas, e as meninas que tinham descarregado energia demais com seus canhões de plasma começaram a se desesperar, Damned que apenas aguardava a chegada da nave soltou um pensamento na mente de seus companheiros:
"Sentimentos, reações químicas do cérebro que atrapalham a coordenação motora, medo, desespero, amor. De fato, foi deveras lógico removermos isto de nossas cabeças. Não nos interferem mais."
Os outros simplesmente ecoaram um "Afirmativo comandante" na cabeça de Damned. Logo, um feixe de luz roxa os cercou, e foram levados a bordo de sua nave, para fugirem. Não tinham conseguido o que queriam, pois Kefka ainda estava com o computador de pulso quando foi incinerada, e ainda tinham perdido um híbrido.
As violências continuavam chegando muito perto, elas precisavam de ajuda, uma das mulheres olhou para traz e viu Alma segurando e sacudindo o corpo de Elanis – "Agüente firme, já vamos te tirar daqui, eu prometo!" - e disse:
- Deixa ela aí Alma, venha nos ajudar, ela não tem salvação!
- Não! Ela ainda está respirando, ela pode ser salva! - respondeu Alma.
Porém o que se viu a seguir, foi algo totalmente cruel e macabro. Xeen se virou com sua arma lazer acionada, e acertou dois tiros na cabeça de Elanis. Alma impressionada com o que aconteceu, soltou um grito, e se afastou do corpo sem vida de Elanis com as mãos sujas de sangue. Seu terror se transformou em raiva, e sua raiva em agonia, já não sentia mais nenhuma dor, então, como se estivesse novamente sendo controlada, se levantou e apontou a sua arma – que se convertia em um canhão de plasma – para Xeen gritando:
- DESGRAÇADA! VOCÊ A MATOU!
Todas as caçadoras apontaram se súbito suas armas para Alma, e Xeen gritou com raiva:
- ELA ESTAVA ACABADA! ERA UMA FRACA, NÃO TOLERAMOS FRACAS, AGORA LARGUE DE SER CRIANÇA E NOS AJUDE A ELIMINAR ESTAS COISAS, SENÃO VOCÊ VAI PRO INFERNO ANTES DELAS!
Alma nunca se sentiu tão impotente em sua vida, Elanis estava morta, fora morta por uma de sua própria raça, e agora ela estava também sobre essa ameaça. Alma olhou, e viu que as violências se aproximavam cada vez mais, porém, todas as outras mulheres apontavam suas armas para ela. "Será que é mais importante me matar, do que se salvarem?" Mas, algo chamou a atenção de Alma repentinamente: O transporte de Kefka! Alma se lembrava que aquelas naves tinham um sistema de camuflagem espacial, usando espelhos para refletir o universo ao seu redor. Um plano começou a se formar na cabeça da garota, e ela gritou apontando para a nave:
- MINHA ARMA ESTÁ COM CARGA MÁXIMA! ALGUÉM ATIVE A CAMUFLAGEM ESPACIAL DO TRANSPORTE, VAI DAR CERTO, EU SEI QUE VAI.
Elas não entenderem o que Alma queria fazer, porém uma delas, que já estava com as armas totalmente descarregadas, saiu correndo a toda a velocidade e se jogou dentro da cabine do transporte que estava aberta, acertando com sua mão, precisamente em cima do botão que ativa a camuflagem. Ela tinha visto ainda de relance as violências perigosamente perto demais delas, qualquer coisa que Alma fizesse e que pudesse ajudar era bem vinda.
- ABAIXADAS – Alma gritou, em seguida, ela carregou toda a energia de suas armas para um único tiro, então ela mirou na nave, procurando fazer um ângulo de reflexão aberto com a sua arma. Ela fechou os olhos e pediu:
- Por favor, funcione.
Duas enormes bolas de plasma flamejante saíram de suas armas. Quando as duas se chocaram com a nave, esta explodiu, dando apenas tempo para a mulher que havia saltado dentro dela, pular fora. Porém, como se por mágica, dezenas de milhares de pequenas bolas de plasma refletiram contra as violências, causando milhares de pequenas explosões, e levando várias violências de cada vez devido a sua grande pressão. Algumas atravessavam seis ou sete animais antes de explodir, outras explodiam no ar queimando o que estava embaixo. Quando os fogos sumiram, restavam apenas algumas dezenas de animais, que foram facilmente mortos pelas caçadoras.
Alma então, deixou suas armas se recolherem para a forma de bracelete e então, simplesmente deixou-as cair no chão, e dirigiu-se para o corpo de Elanis, enquanto isso os transportes chegavam para resgatá-las. As garotas estavam comemorando bastante, mas Alma não queria nem saber de comemorações, ela se ajoelhou diante do corpo da colega, e ignorando seus próprios ferimentos ergueu-a no colo, ela então observou um pentagrama totalmente ensangüentado caído no chão. Alma se abaixou com muito esforço, pegou-o e colocou-o no bolso.
***
A viagem de volta para a base foi muito incômoda, sua perna doía demais, juntamente com a sua cintura, um scanner espectral mostrou que ela não tinha nenhum osso quebrado apesar de tudo. Porém a sua raiva era toda para Xeen, naquele momento, ela prometeu que ia se vingar de Xeen. Vagarosamente, ela adormeceu.
***
Dois dias mais tarde, ela se encontrava devolva na sua cabine, ainda muito magoada e machucada, sua perna e sua cintura tinham sido totalmente regeneradas, mas ela ainda podia sentir um formigamento forte por todo o seu corpo. Alma estava vestida com uma camisola dourada e estava jogada na cama, imóvel, sem o mínimo movimento. Sua raiva não lhe permitia comer nem beber nada.
Já, quando elas retornaram a base, Alma ficou sabendo, que enquanto elas estavam a caminho do objetivo da missão, o pessoal na base descobriu os verdadeiros planos de Kefka, e mandou uma força tarefa para auxiliar o grupo. "Infelizmente os grays fugiram, mas não levaram os dados que Kefka havia roubado." Foi apenas isso que as supervisoras disseram, para elas era a única coisa que importava, enquanto a Elanis, o relatório da missão disse que ela havia sido morta por um dos homens- lagartos. Elas jamais iriam admitir o que realmente tinha acontecido naquele local.
A mãe de Alma, estava tentando falar com ela via voice-mail e holograma desde que a garota havia chegado da missão, ela queria dar os parabéns a filha pela fantástica manobra que ela tinha realizado. Mas sua mãe era a última pessoa que Alma queria ver ou ouvir. Ela estava extremamente arrasada. Lutar era tudo que ela queria. Mas não daquele jeito. Ela não se sentia bem com o que tinha acontecido.
Ela estava a mais de 18 horas ali, parada, naquela condição, não queria saber de ninguém. A única coisa que ela fazia era ignorar o computador quando ele acusava o recebimento de alguma mensagem ou holograma. Alma estava ali, deitada, toda despenteada, com os olhos fixos na parede, quando o computador acusou:
- Conversa por holograma detectada, aceitar?
"Deve ser a minha mãe de novo" – pensou – Ignore!
Alguns segundos se passaram e o computador novamente acusou que alguém queria conversar com ela. Ela pediu para o computador ignorar. O mesmo se repetiu por mais quatro vezes, e Alma sempre ignorava, então quando aconteceu pela sétima vez ela simplesmente não respondeu nada:
- Conversa por holograma detectada, aceitar?
- Conversa por holograma detectada, aceitar?
- Conversa por holograma detectada, aceitar?
- Repetindo: Conversa por holograma detectada, aceitar?
Alma finalmente se aborreceu e disse:
- Quem quer falar comigo?
O computador processou o comando de voz e automaticamente respondeu:
- Seu progenitor solicita uma conversa por holograma, aceitar?
- ACEITAR! - berrou Alma.
A figura do pai de Alma surgiu no meio da cabine, e Alma se esquecendo por alguns instantes que aquilo era um holograma correu para abraça-lo, e passou direto por ele:
- Papai! Foi a Xeen, ela matou a Elanis.
O pai de Alma, descruzou os braços e disse calmamente para a garota:
- Sim, querida, eu sei, foi lamentável. Você está se sentindo bem?
- Não! Estou péssima. Eu não sabia que era desse jeito.
- Lamento que não foi o que você esperava, você têm treinado a vida toda para este grande momento, e ele foi um total desastre. Agora me entende por que eu nunca quis ser um soldado?
- Quando eu perguntava, por que o senhor não queria ser um soldado, o senhor sempre me respondia: "Um dia você vai saber." Não imaginei que fosse assim.
- Nem sempre foi assim, nos tempos em que Nightmare, ainda estava conosco, as coisas eram muito diferentes, as matriarcas se preocupavam muito com a segurança das soldados. Sempre pesquisavam tudo antes de mandarem alguém para qualquer lugar. Hoje, não sei o porquê, as matriarcas só pensam no que as soldados podem trazer de tesouros para elas. Foi-se o tempo, em que fazíamos grandes expedições de pesquisa pelo cosmo. Nós tínhamos exploradoras, eram tempos memoráveis, mas hoje, as matriarcas, e principalmente (me desculpe dizer) a sua mãe, são um bando de sádicas.
- Por que? Por que elas fazem isso?
- Porque elas não se importam com ninguém, a não ser com elas mesmas!
- Malditos grays e malditos híbridos, eu juro que vou exterminar todos que eu encontrar pelo meu caminho.
- Não seja tola, pensar desta maneira não vai remediar as coisas. E além do mais, não se zangue com os híbridos, eles são seres normais, dotados de emoções como nós, a única coisa que ocorre, é que aqueles malditos grays fazem lavagem cerebral com eles, e fazem com que eles acreditem, que o que eles fazem é certo.
- É mentira! Você não estava lá! Você não viu do que aquelas coisas são capazes! Eles manipularam a minha mente, me fizeram acreditar que eu estava estourando os SEUS miolos.
- QUANDO VOCÊ ESTAVA LÁ SENTIU COMO SE ALGUÉM TE APUNHALA-SE PELAS COSTAS?
A pergunta pegou Alma de surpresa, esta pensou um pouco e disse espantada:
- Sim, mas o que isso têm a ver?
- Tudo! Isso que você sentiu, foram as ondas cerebrais dos grays, é a maneira de sentir a sua presença, e eles usam aquelas ondas cerebrais para dar comandos diretos para o centro nervoso dos híbridos, e eles agem, como se o comando dado, fosse prioridade, fosse vital para eles, como se fosse por exemplo, respirar.
- Impossível – sussurrou Alma.
- Pois pode acreditar, se você sentiu, aquilo quando os grays ficaram perto de você, imagine o que os pobres híbridos não sentem.
- Mas eu já ouvi falar que os híbridos agem por conta própria!
- Sim, eu sei, são poucos, mas existem os que não podem ser controlados desta forma, estes são mandados em missões simples, por serem instáveis demais. O melhor, é que os que podem ser controlados, muitas vezes de uma hora para outra, ganham resistência contra este tipo de controle. E os grays não podem fazer nada, a não ser confiar neles! Mas mesmo assim, alguns estão tão cegos, que não conseguem enxergar a verdade na frente de seus olhos!
- Mas a Xeen, como ela pôde...
- Deixe aquela menina pra lá! Você é muito superior a ela. Eu não queria te dar este conselho, mas, treine então e se vingue dela mais tarde. A vingança não é algo bom, mas eu sei que para você, é mais do que uma questão de honra, é uma questão de justiça.
- Ela estava viva pai, estava respirando.
- E as medicas que escanearam o corpo dela, disseram que ela certamente iria sobreviver, pois o tiro tinha pegado entre os pulmões e o coração dela. Eu sou um diplomata, eu tenho acesso a estes documentos.
- Ela não teve chances...
- Sim, eu sei.
- E agora pai? O que é que eu vou fazer? Eu estou, eu estou, – começou a chorar – droga! Estou me comportando como uma humana vadia!
- Não fale assim das humanas! -Falou com uma voz seriamente irritada – Não despreze alguém por deixar os seus sentimentos florirem a pele. Não fique nervosa por deixar os seus sentimentos tomarem conta de você, as vezes! Pois isso, é a maior diferença entre VOCÊ, e AQUELAS COISAS!
- Eu sempre fui treinada, para esse dia e agora...
O holograma que representava o pai de Alma se ajoelhou diante da garota e disse:
- Minha filha, me perdoe, mas... é tudo culpa minha!
- Como?
- Você bem sabe, eu sou um diplomata. Olhe, eu sei que essas coisas acontecem o tempo todo! Sabe, - ele parecia não saber o que dizer – a absoluta maioria das soldados que morrem nessas missões, elas morrem do jeito que a Elanis morreu!
- Mas...
- Sim, eu sei! Mas você viu o que colocaram no relatório oficial da sua missão! Você vai ver! Logo logo Dayana vai entrar na sua cabine e fazer você jurar, jurar que não vai contar nada do que aconteceu de verdade lá fora!
- E se eu não jurar? - ela falou num tom desafiador.
- ALMA – o pai dela levantou a voz – como seu pai, eu lhe peço que JURE! Senão, você pode sofrer um acidente em sua próxima missão. E nem eu vou ficar sabendo realmente o que aconteceu!
- Sim, eu – Alma deixou as lagrimas rolarem a vontade – vou jurar. Mas, por que disse que era tudo sua culpa?
O pai de Alma hesitou um pouco e disse:
- Eu, não queria que você passasse por algo assim logo na sua primeira missão! Então, fiquei mexendo os meus pauzinhos por ai. Você teve que esperar dois meses, para que surgisse uma missão que eu julgava ser totalmente simples e segura! Eu não me importaria se você fosse a única sobrevivente em sua segunda missão por exemplo, mas, eu queria que a sua primeira missão, fosse, - Alma aumentou seu choro e ele suspirou – tranqüila. tranqüila, para que você não tivesse que passar por uma situação dessas! Sua mãe, ela nunca quis realmente cuidar de você. Sabe, foi um sacrifício convencer ela a não te abortar! – Alma, chocada levou as mãos a boca – Você era um peso para ela! Era apenas um atraso na grande carreira de guerreira dela. Mas por favor, nunca diga isso a ninguém. Esse é o nosso maior segredo. - o pai de Alma começou a chorar também. - E ela seguramente não se importa com o que aconteceu lá. Só quer te dar os parabéns!
- Como? Como? Como ela pode? Eu não acredito! É mentira! - choramingou Alma.
- Você nunca se perguntou, porque o seu pai sempre te criou? Uma vez, que é tradição em nossa espécie que a mãe, ou as irmãs cuidem da educação das garotas?
Alma ficou perplexa, tudo fazia sentido.
- Ela, - continuou o pai de Alma – só se interessou por você, depois que viu que você progredia rápido na academia!
Alma, então se lembrou que até os 9 anos de idade, tinha tido um contato pouco constante com a sua mãe.
- Continua. - disse ela tentando se acalmar
- Eu sempre cuidei de você, desde pequena. E eu sei que você não é como aquelas mulheres! Eu... desde pequena, você sempre foi uma menina delicada, e não precisa se envergonhar disso. E eu sabia que você iria ficar neste estado se acontecesse o que aconteceu. Você sempre foi criada no meio de humanos. Eu queria isso, porque eu também fui criado desta maneira, abandonado entre humanos. Mas eu queria que com você fosse diferente. Fiz você estudar com alguns professores humanos na academia militar, para que você, aprendesse a fazer aquele tipo de coisa que você fez lá e ...
- CALA A BOCA E PARA DE ENROLAR! EU JÁ ENTENDÍ – berrou uma Alma furiosa. - Eu não me importo... COM NADA DISSO! Eu não quero saber se você só queria o melhor para mim. Isso não me importa! A única coisa que eu quero saber, é como eu mudo esta situação? Não há honra em atirar numa pessoa indefesa! Numa situação de batalha, tudo bem. Mas ela era uma de nós! E eu não quero mas ver isso acontecer!
- Eu tenho uma proposta a lhe fazer então! - disse o pai de Alma – estão precisando de uma caçadora, para missões especiais num complexo militar no planeta Gaya 4. Eu já estive lá, e eles não toleram aquele tipo de prática, a menos que ponha a missão em risco. Você lutará ao lado de todo o tipo de gente. Que usam os mais variáveis tipos de técnicas. Desde lutas marciais, até magia. Posso te mandar para lá, mas têm uma condição.
Alma pensou um pouco e perguntou:
- Se eu aceitasse a sua proposta, qual seria essa sua condição?
- Alma, você têm que me prometer, que: vai superar esta situação, e vai manter absoluto sigilo sobre tudo que se passar naquela base.
Alma pensou um pouco, ainda estava muito chocada com tudo que estava acontecendo. Olhou para o holograma de seu pai, olhou em seguida para a porta, e por fim pousou seus olhos no colar que pertencia a Elanis, que estava jogado sobre sua cama. Ficou algum tempo em silêncio, e por fim perguntou:
- O lugar lá é mesmo bacana?
- Bem, - começou o pai de Alma envergonhado – o tipo de missões que são executadas por aquelas pessoas, os lugares que elas visitam, o tipo de inimigos que elas enfrentam. Só vendo para crer. Se você perguntar por aí pela tal base, vai descobrir que todos acham que o pessoal de lá é um bando de perdedores. Mas, se eles soubessem a verdade. Há sim, este era o real motivo de nossa conversa!
- Hã? - tentou acreditar Alma.
- Eles souberam de sua missão Alma, souberam da sua reação. Acham que você tem capacidade! Me pediram para te fazer esta oferta!
Alma não acreditava, seu pai tinha feito toda aquela ladainha emocional, apenas para ajudá-la a descarregar a tensão, e chamar sua atenção a outros assuntos vitais. Para que pudesse analisar melhor a proposta.
- Se eu aceitasse, em quanto tempo eu estaria lá?
- Toda a documentação já esta pronta a algum tempo Alma. Eu tinha esperanças que você fosse para lá um dia. Basta pedir, esta nave vai passar pelo sistema Gaya em 2 meses, se pedir agora, vai ter mais ou menos um mês e meio para restaurar o seu psicológico, você vai precisar estar 200% - um pequeno sorriso se formou em Alma, que havia interpretado como uma piada – então?
- Assina logo estes papéis, e eu prometo ficar de bico calado!
Os olhos do pai de Alma pareciam brilhar, qualquer um que olhasse naqueles olhos negros naquela hora poderia dizer que ficaram tão cintilantes quanto o universo estrelado. Ele lançou um último olhar para a sua filha e disse antes de interromper a transmissão:
- Eu te amo gatinha!
A muito tempo ela não ouvia seu pai chamá-la assim. Quando ela era pequena, ainda com sete, oito anos de idade, era assim que ele a chamava. Ela olhou o holograma se dissipar e disse num sibilar:
- Também te amo paizinho!
Mas o computar lhe pregou uma peça:
- Conversa por holograma detectada! Aceitar?
- Meu pai de novo? - ela perguntou.
- Negativo, Deseja saber a identidade do contactante?
- Execute!
- A contactante é a matriarca Nova. Aceitar?
Era a mãe de Alma. Toda a felicidade que ela havia sentido tinha se esvaído. Se sentia novamente como uma coitada, uma fraca, uma perdedora que estava indo para um lugar de perdedores. Mas seu pai havia dito que ela iria para um lugar fascinante, ela pode concluir isso pela piada. "Puxa, eu sempre fui tão arrogante com meu pai, e ele sempre me guiou. Agora eu entendo o porquê daquele treinamento especial com professores humanos!" O computador então, repetiu a última pergunta:
- Repetindo: A contactante é a matriarca Nova. Aceitar?
"Não mesmo! Não quero papo com aquela achona!" - pensou Alma, em seguida ela disse:
- Sabe computador, eu fiquei dois meses sem nada para fazer e baixando joguinhos e outras porcarias dos bancos de dados próximos. E já que eu vou embora, preciso limpar você! - um sorriso surgiu em seus lábios e seus olhos se encheram de um negro sufocante – FORMATAR TUDO! DELETAR TODOS OS MEUS ARQUIVOS PESSOAIS, INCLUSIVE AS PERMISSÕES DE HOLOGRAMAS E VOICE MAIL!
- Esse comando requer senha de confirmação!
- Usuária: Alma, Senha: Tango, Bravo, Sigma, Beta, XWYZ987. Parâmetros: Senha encriptada no estilo 7W. Chave de encriptação: Bravo.
O computador processou o comando e disse:
- Entendido, Formatando... Fica pronto em T – 7 segundos serão apagados 7 GB de arquivos pessoais. Prosseguir?
- Sim.
O computador começou a trabalhar, e logo ficou pronto. Alma se deitou na cama apertando o colar de Elanis contra o peito e pensou: "Eu sou mesmo uma estúpida! Uma chorona, e agora eu vou para sei lá onde... eu estou perdida!"
Alma não imaginava, mas no futuro, quando as garotas fossem a academia, iriam ler sobre esta história, a forma como realmente tudo havia acontecido, e sua corajosa decisão. Sim, dentro de um futuro próximo, elas estariam estudando, estudando sobre ela, que iria ser uma das maiores (senão a maior depois de Nightmare) caçadoras que já se viu no universo.
Edmar Souza.