cópias mortíferas parte dois
...continuação:
Pensei em ligar para a polícia, o pai estava destruindo tudo lá fora mas para a minha surpresa o telefone havia sido cortado pelo fio. De repente ouvimos um estouro. O papai havia atravessado a pesada porta de madeira que havíamos trancado de novo com um sôco, deixando um pequeno rombo perto da fechadura. E ficamos totalmente chocados ao perceber que ele agora tinha uma força totalmente acima do normal.
O Lauro pegou a espingarda e apontou, mas não teve coragem de atirar. Mais alguns sôcos e a porta estaria abaixo, antes que isso acontecesse a mãe disse:
- Vamos para o paiol.
Saímos pela porta dos fundos com Lauro levando a espingarda. Quando estávamos a poucos metros do paiol a Deise ficou parada, sem dar um passo a frente e com um ar de indiferença.
- Vamos, Deise! – a mãe voltou para apanhá-la.
O pai surgiu do nada como um foguete vindo de dentro da casa e agarrou a mãe com os dois braços e a atirou em cima de uns vasos de barros feitos artesanalmente. Ela voou como um boneco e desmaiou ao espatifar aqueles objetos.
O Lauro atirou no pai que caiu de costas. Ele tinha uma boa mira. Ficamos alguns segundos sem saber o que fazer e depois fomos acudir a mãe. Quando conseguimos acordá-la vimos que o pai havia sumido. E a Deise também.
- Vamos levar a mamãe para o paiol - sugeri.
Ajudamos a mãe a caminhar até lá – ela havia quebrado alguns ossos sem dúvida. No paiol tinha diversos instrumentos agrícolas guardados e um tambor cheio de gasolina. Havia uma outra porta nos fundos que estava trancada há vários anos e a chave havia sumido.
Quando entramos, fechei o portão principal. Havia uma parte onde alguns animais da fazenda como um boi e duas mulas costumavam dormir durante a noite, mas nenhum deles estava ali naquele momento. Era justamente naquele canto do paiol que viríamos a cena mais impressionante daquele dia horrível. O canto escuro estava cheio de pó brilhante, aquele mesmo pó que apareceu no quarto da Deise, percebemos que havia no chão completamente cobertos pelo pó a silhueta do que pareciam ser três pessoas deitadas.
Ficamos chocados ao perceber que aquele pó se movimentava sem que houvesse corrente de ar e pouco a pouco ele ia montando aqueles corpos numa sinistra construção. Era como um Gênesis macabro. Fiquei mais chocado ainda ao perceber que um daqueles corpos aos poucos ia tomando a minha feição. Um outro estava cada vez mais parecido com o Lauro e o terceiro, de contornos femininos, estava aos poucos se assemelhando com a mãe.
- Esta coisa está criando cópias de nós – berrei.
Mas Lauro já estava em outro tópico:
- Se há cópias de nós três aqui, mas não há do papai e nem da Deise, então aquela coisa lá fora não é o papai.
- Então a Deise...
- Por isso ela nos atrasou.
- Então foi ela quem cortou o telefone.
Ouvi um barulho. Corri e olhei por uma greta.
- O papai está vindo e a Deise está com ele – falei.
- Eles ou as cópias?
- As cópias – falei decepcionado e com medo.
O Lauro olhou para o tambor de gasolina:
- Posso fazer isso explodir usando a espingarda.
- Vai matar a todos nós – alertei.
A cópia do papai começou a estraçalhar o portão principal com muitos murros, era impressionante a força que aquela coisa tinha. A cópia da Deise também ajudava naquela destruição.
O Lauro pegou a espingarda e atirou na fechadura da portinha dos fundos.
- Pega a mãe e foge daqui. Eu vou explodir isso – disse.
- Vai ter que atirar daqui de dentro.
- Vou atirar de perto da portinha, vai dar pra escapar.
- Não vai não. Eu sou mais velho que você, me deixa fazer isso.
- Você é ruim no tiro.Sempre foi.
De repente a cópia do Lauro se levantou e rapidamente agarrou meu irmão pelo pescoço. Estava nu e coberto de pó como os outros dois que começavam a se levantar também. As cópias do papai e da Deise haviam invadido de vez o paiol. Peguei um pedaço de madeira e bati com força na cópia do Lauro, serviu para atordoá-lo por alguns instantes.
- Sai daqui – Lauro me falou ao recuperar a espingarda que havia deixado cair.
Não dava para pensar muito. Agarrei minha mãe sob os protestos dela e a arrastei para fora.
Em seguida ouvimos uma explosão que nos fez cair sobre a relva. Em poucos minutos um incêndio destruiu o paiol por completo. Dava para ouvir os guinchos daquelas criaturas sendo exterminadas pelo fogo. A mãe começou a chorar, afinal o verdadeiro Lauro estava lá dentro.
Os anos se passaram. Com o tempo eu e a mãe aprendemos a conviver com os fatos. Sempre nos lembramos do Lauro, como uma espécie de herói que nos ajuda a seguir em frente. Mas não foi fácil. Tivemos muitas vezes de nos calar ou modificar a verdade para não sermos tomados como loucos. Hoje a finalidade de nossas vidas é uma só: encontrar alguma pista do pai e da Deise. Assim estamos sempre em busca de alguma estória sobre objetos brilhantes no céu e estamos sempre nos preparando para que dá próxima vez aquele pó misterioso não leve embora aqueles que gostamos.