cópias mortíferas
CÓPIAS MORTÍFERAS
Esta é uma história inacreditável. Em meus vinte e três anos de idade nunca ouvi falar de nada que sequer chegasse perto do acontecido há sete anos atrás na fazendinha onde minha família vivia no sul de Minas. Preferi guardar silêncio sobre aquilo tudo a ser tomado como um louco e ir parar no hospício.
Lembro-me da primeira noite quando tudo começou. Já havíamos jantado e meu pai sentado num canto da mesa contava algum fato acontecido no tempo em que trabalhava no garimpo quando jovem. O Lauro, de olhos atentos, bebia cada detalhe como era típico dele. Tinha só catorze anos, mas parecia mais amadurecido que eu nos meus dezesseis, e é estranho falar nisso agora. A Deise preferia brincar de fazer barquinho com as páginas de uma revista velha sem se importar com a bronca que poderia receber de minha mãe. Era uma garota comum de dez anos embora fosse muito mimada por todos menos por minha mãe. Esta estava na cozinha lavando a louça. Aos trinta e seis anos conservava ainda um pouco da sua beleza que tinha quando largara a faculdade de direito para se casar com meu pai contra a vontade de meus avôs maternos.
Eu me limitava a fingir que estava ouvindo meu pai enquanto o sono já me dominava por completo. Na escuridão lá de fora só se ouvia sapos e grilos. Mas aí veio aquela luz alaranjada que penetrou pela janela.
- Olha! – gritei.
Meu pai interrompeu a história e já foi procurar pela espingarda. Deise abriu a porta. Lauro a puxou para trás.
- Cuidado menina.
Ele era sempre mais polido que eu. Mas a luz foi se afastando e ficando alta. Quando chegamos à varanda ela parecia estar a uns quarenta metros de altura e depois desapareceu por completo. Não ficou nenhum rastro.
Ficaríamos uma boa parte daquela noite conversando sobre aquele fenônemo. Seria um OVNI? Um helicóptero? Poderia tudo ter terminado naquele debate caloroso, mas tinha o outro dia.
Lembro-me de ter acordado cedo para ir a escola. E meu pai ainda não tinha ido para a roça. Era tempo de colher café. Homem de costumes severos embora bondoso e cavalheiro – afinal conquistara a minha mãe quando jovem – não era de se esperar que estivesse ali parado frente ao paiol olhando em volta como se fosse um estranho, quando devia estar já começando o trabalho.
- Bom dia, Eduardo!
Ele nunca me chamara de Eduardo e sim de Edu. Achei tão estranho que mal respondi a saudação. Não sei o porquê mas ele começou a caminhar em minha direção.
- Bom Dia, Eduardo!
Ele repetia aquilo de uma maneira automática, como se tivesse virado um andróide. Ele vinha em passos largos e duros como um soldado marchando. Uma coisa era certa: ele não estava no seu normal.
- Bom dia, Eduardo!
Ele continuou caminhando em minha direção. Enquanto eu entrava correndo para dentro de casa. Minha mãe olhou assustada. O Lauro estava guardando os cadernos dele para também ir a escola. Já entrei gritando:
- O papai está esquisito.
Tranquei a porta e joguei minha mochila no chão.
- Bom dia família.
Ele gritou lá de fora.
- O que está acontecendo?
Antes que alguém respondesse aquela pergunta da minha mãe a Deise desceu correndo do quarto dela:
- Mamãe, tem uma coisa lá no quarto.
Deixamos a Deise na sala e fomos até o quarto dela. Mais tarde saberíamos que isso foi um erro. Lá dentro não parecia haver nada de anormal. No entanto Lauro descobriu um pó estranho e brilhante que se movia do pé da cama até a janela, e não parecia haver uma corrente de ar que justificasse aquele movimento.
- O que é isso? - ele perguntou.
- Não se parece com nada que ela costuma brincar - falou minha mãe.
De repente ouvimos um grito da Deise. Corremos para a sala e não vimos ninguém. No entanto do quintal vinha um som de coisas sendo quebradas, era meu pai que manobrava a caminhonete como se nunca tivesse feito aquilo antes e ia passando com ela sobre caixotes de madeira usados para guardar verduras. Assistimos a cena da varanda completamente atordoados. Lauro se voltou para trás e viu a Deise que estava parada e serena no meio da sala:
- O que aconteceu? Porque você gritou?
Ela não respondeu.