TECNOLOGIA
O relogiozinho do canto inferior direito da tela do monitor avisou que era hora de parar pelo menos naquele dia. Durante dez horas sem intervalo, mensagens foram postadas, lidas, respondidas, encaminhadas, arquivadas, deletadas. Incontáveis downloads foram executados numa ciranda sem fim de KB, MB, GB...
Uma das mensagens informava que a cada segundo dezessete emails entram no sistema net. O dia tem 60 x 60 x 24 segundos que multiplicados por 17 é igual a 35.251.200 emails por dia nos 365 dias do ano. É um volume incomensurável de pulsos de rádio frequência principalmente quando se consideram todos os telefones celulares, emissoras de rádio e de televisão e que os emails têm pelo menos quinhentos dígitos. Tudo isso se materializado provavelmente não sobraria espaço para mais nada.
O elevador chegou ao térreo. O saguão estava tomado por uma névoa densa que dificultava a locomoção. Não havia cheiro, apenas a sensação de preenchimento, a opressão de muitas atmosferas sobre nossas cabeças. Estávamos pressurizados. Havia névoa em todos os espaços, nas ruas, nas arvores, pontes, rios propagando um ruído constante como se milhões de insetos estivessem voando em nossa volta. Os veículos ao se movimentarem criavam ondas que ao se locomoverem nos faziam perder o equilíbrio, mas não caíamos. Estávamos presos numa gelatina diáfana cuja opacidade confundia formas e cores sob a luz difusa. Talvez uma partícula de rádio freqüência seja do tamanho de um yokitóbil.
Um yokitóbil é igual a 0,000.000.000.000.000.000.000.000.001g muito próximo da antimatéria pois não se pode determinar volume, nem carga elétrica nem localização no espaço, mas nesse dia eles se adensaram aprisionando-nos. Com muita dificuldade cheguei à minha casa. Desliguei a secretária eletrônica, tirei as baterias dos meus dois celulares, não liguei a televisão, nem o rádio, nem o computador. Acendi velas em vez das lâmpadas frias movidas por reatores. Meu apartamento fica no décimo sexto andar. Lá de cima deu bem para ver toda cidade tomada pela névoa.
Preciso de férias... preciso respirar ar em vez de névoa...