Morrendo pelo ciúme
Ele era ciumento demais.
Sua esposa era totalmente dedicada, amorosa, fiel. Seu único defeito era ser linda.
Uma morena de corpo escultural, olhos verdes, pele clara e macia como um pêssego.
Vaidosa como toda mulher, mas cada vez que José Roberto brigava com ela para ser arrumar melhor, o que no dicionário dele era se arrumar pouco, sem maquiagem, sem decote algum, enfim, com um uniforme de esposa recatada, a pobre Alice dava um jeito de agradar o esposo sem com isto desagradar a si mesma.
Aliás, ela sabia ser elegante. Uma elegância sóbria, única digna deste título, que não é vulgar, mas que também não tira o toque delicado que difere as vestes femininas das masculinas.
Sempre com um belo sorriso, fosse para quem fosse. Ela sabia tirar de letra qualquer atrevimento. Sabia se respeitar sem criar atritos, era desnecessário pensava ela.
No trabalho era muito assediada, pelos companheiros, pelo chefe. Ah, principalmente pelo presidente da empresa. Ela se esquivava.
Senhor Rodolfo estava se aposentando, não da arte de seduzir. Era sem dúvida um sedutor, mas que nada tinha conseguido com Alice.
E isto lhe causava apenas mais vontade de seduzir. Era o tesouro que não podia ter. O troféu que lhe faltava.
No seu último dia de trabalho, depois de quatro anos de tentativas frustradas de conquistar a secretária charmosa e eficaz, deu o braço a torcer, foi cumprimentá-la.
- Parabéns, Dona Alice. A senhora realmente é uma mulher de valor.
Alice sabia que não era pela sua eficácia profissional este elogio, mas por ter suportado aquele homem que julgava tudo poder seduzir ou comprar.
Apenas seu marido, José Roberto, não conseguia enxergar isto. Não conseguia perceber a mulher de valor que tinha ao seu lado.
Com seu ciúme doentio, muitas vezes causou constrangimento a sua dedicada esposa, saindo no meio de festas, brigando com quem olhasse para Alice.
Ela, no entanto, o amava muito. E por esta razão tentava mostrar a ele que não tinha razão para esta desconfiança.
Até mesmo com colegas de trabalho de Alice, em festas da empresa que ela trabalhava ele arrumou confusão.
Na verdade ele não conseguia imaginar outra pessoa que não fosse ele tocando a sua esposa. Só de pensar nisto passava mal, ficava nervoso como se estivesse vivendo aquilo. Brigava com Alice quando ficava assim, pedindo para ela mudar de roupa, ser menos sorridente. Ele via maldade em tudo.
Morria de ciúme, como se diz vulgarmente.
Certa vez foram à praia. Alice estava com sua canga, ele sempre perto, vigiando para que ninguém olhasse. Até que ele foi comprar uma água de coco, ela resolveu entrar na água.
O mar estava agitado, poucas pessoas nadando. Mas Alice amava o mar. Não iria perder a chance, Roberto estava longe. Depois se ele ficasse bravo, ela diria que não imaginou que ele não gostaria que ela entrasse na água.
Não, ela não perderia esta chance que almejou por tanto tempo. Ia banhar-se naquele mar imenso, maravilhoso. Ele sim a seduzia, a enfeitiçava.
De olhos fixos na sua beleza correu para ele, deixando sua canga para trás. Entrou até os seios, pescoço. Divertia-se, sentia-se maravilhada.
Mas de repente começou a afogar-se. Água cobrindo todo o corpo, água pra cima da cabeça, água entrando pela boca, água que ela não conseguia controlar.
Depois de um bom tempo alguém a viu de longe. Um surfista, que foi ao encontro a Alice, tirou a Bela adormecida do mar, colocou-a na areia, começou a fazer respiração boca a boca, quando José Roberto viu a cena de longe, ficou possesso e partiu para cima do rapaz.
Não tinha mais ninguém por perto, o rapaz não conseguia ao menos explicar-se. O esposo ciumento batia-lhe demais, estava enlouquecido.
O surfista desesperado, não pela dor que não conseguia sentir, mas gravidade da situação.
A Bela na areia agora eternamente adormecida. A bela que pelo ciúme da Fera agora morreria.