Cyber 450aDGN - Capítulo 1. Tábula rasa
Introdução
A tensão entre as maiores potências da Terra, em sua eterna guerra velada por supremacia e poder transformou-se em um confronto armado direto em uma manhã que jamais será esquecida, embora pertença a um passado já distante. Após milhares de anos de domínio sobre o planeta a raça humana quase encontrou a sua completa extinção.
Quem apertou o simples botão que iniciou tal catástrofe já não importa mais para os sobreviventes.
O holocausto nuclear tornou a superfície praticamente estéril, dividindo assim Uma única espécie em duas. Uma raça de humanóides mutantes, conhecidos apenas como Nômades das Sombras, que se originaram dos poucos humanos que se encontravam em abrigos próximos a superfície e milagrosamente sobreviveram, dividem os continentes ainda arrasados pelo hecatombe com a flora e fauna que resistiu, bizarra e mortal uma caricatura do que um dia foi, adaptando-se a chuva ácida, a escassez de recursos e a parca luz solar que ousa se infiltrar através das pesadas nuvens radioativas que mudaram a aparência do planeta Terra para sempre. A outra, descendente dos fugitivos que se abrigaram no subterrâneo, detém praticamente toda a tecnologia e conhecimento científico, ainda se auto-intitula de humanidade.
Na civilização remodelada que existe nos subterrâneos do hemisfério sul, principalmente, encontra-se a maior riqueza do planeta: Os aqüíferos subterrâneos, intocados pela contaminação da superfície.
Em um contraponto gritante as aglomerações errantes e miseráveis da superfície, as metrópoles altamente tecnológicas do subterrâneo dispõem de todo o luxo que se possa imaginar. Enquanto os Nômades das Sombras penam para sobreviver, a humanidade se encontra protegida no habitat que criou sob a abóbada rochosa que os isola da amarga realidade que muitos preferem ignorar.
Os habitantes da superfície são guerreiros Pouco instruídos e calejados pela batalha constante por apenas mais um dia de vida. Os do subterrâneo, descendentes em sua grande maioria de uma elite de cientistas que fora protegida por diversos governos, dominam a tecnologia de uma maneira que poucos poderiam imaginar. Nanotecnologia, cibernética, robótica, manipulação genética e tantas outras criações de séculos anteriores são matérias básicas das escolas primárias. Mas isso não significa que entre os Nômades das Sombras não existam alguns que dominem a tecnologia... Essa minoria recebeu a alcunha simples de “Sábios Hereges”, vivendo de modo sedentário em comunidades fechadas, altamente protegidas.
De modo geral, os habitantes da superfície e do subterrâneo raramente interagem. Principalmente por não confiarem uns nos outros e não se reconhecerem como ramos diversos de uma mesma espécie. Mas, como você pode imaginar, é isso mesmo que acontecerá. Conhecendo os jogadores e armadilhas de ambas espécies, de que lado você ficará?
Armas a postos, olhos e ouvidos alertas, confiança em seus instintos e boa sorte... Com certeza, esses são alguns dos muitos pré-requisitos essenciais para qualquer um dos ramos envolvidos sobreviverem.
Choques culturais. Intrigas governamentais. Batalhas de vida e morte. Tudo isso leva a um fato que sempre ditou a evolução da raça humana: A sobrevivência do mais apto.
De que lado você preferia estar? Não responda ainda. Acompanhe estas mal traçadas linhas antes de ser decidir.
Bem vindos a Cyber 450aDGN... E boa leitura.
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Capítulo I – Tábula rasa
Descendo as escadas bem iluminadas de uma estação de trem rapidamente, uma mulher jovem, de longos cabelos ruivos escuros, esbarrava nos passantes, sem pedir desculpas, mesmo quando a xingavam com termos pesados. Na realidade, ela nem ouvia o que lhe diziam, de tão perdida que estava em um atormentado monólogo interno. Seu rosto estava muito pálido e sua respiração, entrecortada. Quando chegou a plataforma de embarque, ela olhou a seu redor, nervosa, como se cada rosto desconhecido a sua frente fosse uma ameaça em potencial, antes de se esconder atrás de um pilar entalhado na rocha viva. Ofegante, olhou para o próprio dedo, onde estava um lindo solitário de ouro branco com um magnífico brilhante, e seus olhos se encheram de lágrimas. Respirando fundo, sentiu-se aliviada quando ouviu a voz monótona anunciando a chegada do próximo trem, sem se importar em saber para onde este iria. Tudo o que queria era sair dali... Desaparecer para sempre, para que nunca a encontrassem.
O suave ruído do deslizar do trem nos trilhos chegou a seus ouvidos quando com muito esforço conseguiu tirar o anel de seu dedo. Os olhos castanhos dourados estavam cheios de medo, mas se encheram de horror no momento em que ela percebeu que a pele de seu dedo anular sangrava:
- Oh, não... Tinha um localizador plantado no anel... – gemeu ela, antes de jogar o solitário na primeira tubulação de recolhimento de lixo que viu a sua frente e voltar a andar, rumo a outra plataforma – Eles já sabem que eu estou aqui... – os passos dela se tornaram mais rápidos enquanto procurava identificar qualquer movimentação suspeita com o olhar.
Trêmula, ela conseguiu chegar à outra plataforma e embarcou no primeiro trem que parou, procurando se sentar em um lugar discreto. Quando enfim o veículo começou a mover-se, a jovem sorriu e respirou, aliviada. Mas seu alívio durou apenas um breve instante, antes de uma voz fria chegar a seus ouvidos:
- Você chegou a pensar que escaparia de nós, criatura insignificante? – um homem todo vestido de negro a olhava, zombeteiro. A mulher levantou-se abruptamente e saiu correndo, mas ainda pode ouvi-lo dizer – Bem que os antigos diziam que a curiosidade pode ser um pecado mortal... – e, no instante seguinte, uma explosão ensurdecedora se fez ouvir. Em um único momento o mundo pareceu convulsionar em uma onda de calor, dor e gritos desesperados... Antes de uma misericordiosa escuridão roubar sua consciência.
Parado no meio das ferragens distorcidas pela explosão, um jovem paramédico procurava por sobreviventes com o auxílio de alguns robôs. Cansado e triste, ele se preparava para dar aquela missão por encerrada, pois em quase seis horas de buscas infrutíferas só haviam sido descobertos cadáveres mutilados, quando um dos robôs acusou um fraco indicio de vida num dos vagões destruídos. Cautelosamente, ele analisou as imagens fornecidas pelo robô que estava no interior do vagão, até ver uma massa sangrenta que lembrava um corpo humano.
- Comecem a desobstruir o local para que eu possa ter acesso a vítima. – ordenou o paramédico. Longos e angustiantes minutos se passaram até que os robôs conseguissem abrir caminho de modo seguro para sua passagem, mas ele não se importou com isso. Estava completamente concentrado na respiração cada vez mais fraca da pessoa que iria resgatar em breve.
Esgueirando-se pelo estreito acesso aberto pelos robôs, o paramédico foi em frente, desviando-se de cadáveres fumegantes e de partes de corpos, até que estivesse diante da única pessoa que sobrevivera àquele desastre. Ao perceber quão grave era o estado da vítima, ele assobiou e, quase que imediatamente, um pequeno robô que trazia consigo todo equipamento de emergência que ele necessitaria estava a seu lado. Avaliando rapidamente o estado da pessoa, só pode dizer que ela era do sexo feminino, tinha tido braços e pernas esmagados ou arrancados e o rosto inteiramente mutilado por queimaduras ou fragmentos do vagão. Rapidamente, ele a examinou da melhor maneira possível e a estabilizou como pode, ao mesmo tempo em que pedia para uma unidade de remoção viesse para levar a sobrevivente ao hospital mais próximo. Feito isso, ele respirou fundo, pois a pior parte do trabalho estava prestes a ser iniciada, para que fosse possível remove-la dali. Pegando uma pequena serra provida com cauterizador a laser, ele começou a separar os membros destruídos do tronco da mulher, após ter cauterizado os que haviam sido arrancados com a força da explosão. Ele não sabia como ela sobrevivera tanto tempo com tamanha hemorragia, mas nem tentava buscar uma explicação. Com um suspiro resignado, ele se preparava pra cortar a perna que estava sob toneladas de aço retorcido, tendo absoluta certeza de que a mulher não sentiria nada, pois devia estar em um coma profundo, quando ouviu um gemido. Surpreso, ele fitou o rosto desfigurado da jovem, deparando-se com dois olhos repletos de uma agonia desesperadora.
- Agüente firme, garota! – disse ele, parando o que fazia e pegando um analgésico na maleta, para aliviar as dores que sabia que a dominavam - Fica comigo! – ele notou que ela fechava os olhos, quase desfalecendo – Nem pensa em desistir! Não no meu turno! – ele aplicou o analgésico nela e seguiu falando - Você vai viver! Fica comigo! – mas quando, no instante seguinte, ela tentou levar a mão ao rosto e tudo que viu foi um toco sangrento, envolto em bandagens o gemido que escapava de sua tornou-se um grito desesperado, carregado da mais profunda agonia, diluindo-se no caos.
Setenta e duas horas depois, em uma sala asséptica de uma unidade de tratamento intensivo, uma enfermeira observava a paciente desconhecida, que se encontrava estabilizada, mas em coma profundo. Seu olhar estava cheio de pesar quando removeu as bandagens do rosto da mulher em coma e deparou-se com a ausência total de uma face reconhecível. Aquela criaturinha, reduzida a cabeça, tronco e cotos de braços e pernas, lutava para sobreviver. Mas, mais chocante que o fato da jovem ter perdido braços, pernas e fraturado a espinha em diversos lugares, era o estado de seu rosto, transformado em uma massa de carne disforme. Ela terminava de realizar seu serviço quando um homem de cerca de quarenta e cinco anos entrou no recinto e se aproximou do leito:
- E então, Sônia? – perguntou ele – Algum sinal de melhora de nossa Jane Doe?
- Ela está estabilizada, doutor Silvius, mas os sinais neurológicos são praticamente nulos. – ela suspirou – Não se pode dizer que ela sofreu morte cerebral, mas creio que o cérebro sofreu danos irreparáveis, como o senhor já havia me dito há doze horas atrás...
- Já esperava por isso – falou Silvius, antes de injetar um liquido ambarado no cateter de soro da paciente – Se esta solução nanocélulas tronco não reverter o quadro até amanhã, ela será submetida a uma cirurgia experimental, pois não encontraram nenhum registro de DNA ou íris scan. – a enfermeira arqueou uma sobrancelha e inquiriu:
- Nem um registro de arcada dentária, doutor?
- Nada. – afirmou Silvius, antes de verificar as pupilas da paciente com um oftalmoscópio, enquanto a enfermeira ponderava sobre as implicações disto:
- Mas a norma é esperar, no mínimo duas semanas, não é, doutor?
- Não mais. – ele desligou o oftalmoscópio e guardou-o – Segundo a nova política vigente, se o paciente não possuir nenhum dado de identificação, seja lá de que tipo for, não podemos declarar o paciente irrecuperável, mesmo sabendo que o quadro não irá melhorar, e usar os órgãos para transplantes... Mas podemos submete-la a cirurgias experimentais, para preservar sua vida... – a enfermeira fitou a jovem tristemente.
- Ou seja, vão transforma-la em um ciborgue. – Silvius suspirou, irritado.
- É melhor que ficar eternamente vegetando em um leito hospitalar – disse ele, seco – Ela poderá sai daqui andando, terá seu rosto reconstruído e, com sorte, conseguirá recuperar um pouco de sua vida... – ele balançou a cabeça e acrescentou, em tom desanimado – embora eu ache que, pelas áreas afetadas do cérebro que a tomografia acusou, nem com as nanocélulas tronco, que acabei de injetar, nossa Jane Doe vai conseguir lembrar de alguma coisa além de pequenos flashes de seu passado.
- Pobrezinha... – disse Sônia, tocada pelo futuro incerto da jovem – que tipo de vida será essa, doutor? Uma meia vida?
- Encare por este ângulo, Sônia... – falou Silvius, tranqüilo – Se tudo correr bem, a nossa Jane Doe vai nascer de novo... E terá toda uma nova vida pela frente. – sem aguardar uma resposta da enfermeira, Silvius deixou o recinto, em passos largos. Restava apenas a enfermeira zelar pelo bem estar de sua paciente, enquanto se perguntava quem aquela mulher poderia ter sido antes daquela tragédia.
Parado diante da tela de cristal líquido, um homem de cerca se sessenta anos observava a perfeita sincronia de mãos humanas e aparelhagem robótica que realizavam uma delicada cirurgia experimental em uma das muitas salas de operações daquele hospital. Seu nome era Theodoro Sampaio, e ele era um dos mais famosos cirurgiões plásticos do Território Brasilis, especialista em cirurgias reconstrutivas estéticas.
Com um demorado suspiro, ele analisou os dados que tinha sobre a paciente que estava em cirurgia. Tirando o fato de que seu sexo era feminino e ser do tipo sanguíneo “A” positivo, nada se sabia da jovem. Nada de digitais, registro de íris scan ou arcada dentária. Nenhum resquício do que um dia fora seu rosto. Era como se a mulher deitada sobre a mesa asséptica jamais tivesse existido um dia.
Ele estudava os dados obtidos através de tomografias, enquanto calculava a quantidade de tecido epitelial e cartilaginoso que teria que mandar o laboratório cultivar para conseguir fazer a cirurgia reconstrutiva a contento, quando alguém entrou na sala:
- Estudando o caso, Théo? – perguntou uma voz masculina.
- É... Estou sim, Silvius. – disse Theodoro, antes de massagear as têmporas – Se a moça sobreviver aos implantes cibernéticos vai precisar de um rosto... – ele suspirou novamente e baixou os dados sobre o estado dos nervos faciais, entre outros, para o terminal de computador que estava utilizando – Mas eu lhe digo... Já fiz milhares de cirurgias reconstrutivas, mas nenhuma dessa magnitude. – ele balançou a cabeça, desconsolado – E não ter idéia de como era o rosto dessa moça, antes do desastre, também não auxilia em nada o meu trabalho.
- Nesse caso, você irá partir do zero, então. – concluiu Silvius.
- Bem... – Theodoro digitou um password no teclado a sua frente e uma imagem em tridimensional surgiu no monitor – Tomando por base a estrutura óssea, estado dos nervos faciais e músculos, creio que isto é o melhor que poderei fazer por ela...
- Nossa... – Silvius sorriu ao ver o rosto tridimensional criado por Theodoro – Ouso dizer que o futuro rosto de nossa Jane Doe é muito bonito.
- Sim, será um belo rosto – falou Theodoro, cansado – mas acredito que a jovem iria preferir, se pudesse, o rosto que tinha antes...
- Duvido muito – afirmou Silvius – a grande maioria das mulheres que conheço enfiariam a cara num triturador de lixo para terem um rosto assim.
- Mas elas teriam a opção de fazerem uma intervenção dessa magnitude – disse Theodoro, frio – Já esta jovem, não tem escolha. – ele começou a dar os retoques finais naquele rosto virtual – Se a cirurgia não for realizada, ela não terá um rosto... Apenas uma massa disforme no lugar dele, despertando repulsa em qualquer lugar que vá.
- Deixe de ser dramático, Théo! – brincou Silvius – Encare esse procedimento como um desafio a suas habilidades... E como uma caridade a uma alma desafortunada.
- Como foi a cirurgia neurológica de hoje de manhã, Silvius? – perguntou Theodoro, tentando mudar de assunto. Silvius deu de ombros e respondeu, calmamente:
- Um sucesso... Removemos todos os tecidos que haviam sofrido necrose e implantamos uma nova leva de células tronco e nanoneurônios. – ele olhou, curioso, os ajustes que o colega fazia, antes de acrescentar – Por incrível que pareça, ela já saiu da cirurgia com atividade neurológica compatível com a de um paciente que está em coma induzido por medicamentos, embora... – ele deu de ombros – Por um instante a aparelhagem tenha tido um pico estranho. Eu podia jurar que vi um borrão cereja passando pelo monitor...
- Provavelmente, foi só cansaço – disse Theodoro, lacônico.
- Um cansaço que custou ao laboratório outro tubo de nanoneurônios... – ponderou Silvius, pensativo – Foi quase como se a aparelhagem ganhasse vida própria... – ele abandonou esses pensamentos e sorriu ao ver que Theodoro salvava seu projeto – Está pronto, Théo?
- Não... Embora pareça pronto, é apenas eu mero esboço. – Theodoro acionou um comando e o rosto virtual girou em seu próprio eixo, revelando por todos os ângulos possíveis a perfeição de seu trabalho – O que acha?
- Que mesmo que isto seja apenas um esboço, se você o usasse ela seria uma desmemoriada de parar o trânsito quando você acabasse seu trabalho. – falou Silvius, antes de dar uma palmadinha no ombro de Theodoro – Mas, sem querer parecer inconveniente, eu acho que o rosto dela lembrará muito o de sua falecida filha, meu amigo...
- Por certo ângulo, creio que sim... – disse Theodoro, com certa tristeza em sua voz – É por causa da estrutura óssea, creio eu... – ele suspirou e acrescentou – Bom, pelo menos, os olhos continuarão sendo os mesmo com os quais ela nasceu. – ele arqueou uma sobrancelha e olhou para o nome do arquivo – Silvius, você se importa se eu, provisoriamente, der um nome a essa paciente? Toda vez que eu leio “Jane Doe”, não sei se esse projeto é relativo a ela ou a outra garota que vai ser operada hoje a noite.
- Sem problema – falou Silvius, antes de acrescentar, rindo – ou você pode diferenciar as duas chamando-as de Jane Doe 1 e 2.
- Essas moças são seres humanos, Silvius! – revoltou-se Theodoro – Não faça da tragédia delas um motivo para piadas infames!
- Calma, Théo! Não seja tão sensível! – disse Silvius, irônico – Mas, se o conforta, escolha o nome que desejar para moça... Provavelmente é o que a acompanhará pro resto de sua vida, por isso capriche! – ele saiu da sala e Theodoro balançou a cabeça, tristemente, enquanto analisava o rosto virtual a sua frente com atenção.
- Um belo nome, para uma bela dama... – Theodoro fechou os olhos por um instante, antes de renomear o arquivo e sorrir – Bem-vinda ao mundo, Cecília Gail. Será um prazer trabalhar para que você nasça... – ele estava prestes a salvar o arquivo quando, subitamente, pensou ter visto um borrão cor de cereja atravessar a tela. – Mas o que é...? – ele não chegou a terminar a frase, pois notou, apavorado, o rosto virtual que criaram se desfazer – Não! Não pode ser! – ele começou a digitar rapidamente – Malditos hackers! – após acionar todos os anti-vírus e firewalls possíveis, Theodoro surpreendeu-se. Do nada, sem qualquer comando, novamente o rosto virtual se reconstruía, enquanto um borrão cor de cereja percorria a parte inferior da tela do monitor, lentamente, como que zombando dele – Mas que...? – e como surgira, o borrão cor de cereja se foi, deixando Theodoro Sampaio estupefato diante do monitor a olhar boquiaberto a face que girava lentamente, mostrando a ele todo o seu esplendor – Meu Deus... – murmurou Theodoro, encantado – É perfeito... – ele salvou o arquivo, sem conseguir se conter – Cada músculo, cada camada de pele... É quase uma pintura. – ele recostou-se na cadeira e, mais uma vez, ativou os antivírus, apenas para receber a notificação de que seu sistema estava limpo – Bom, pela primeira vez na vida, terei que admitir... Bendito hacker!