A Herança do Medo (Primeira Parte)
Prólogo
Esta é uma pequena crónica da maior viagem alguma vez feita pelo homem, uma aventura sem igual na história de todos os tempos e que me fez encontrar a mais cruel das realidades, testemunho que procura ser uma lição, um aviso a quem a ler ou ver (dado que este relato foi feito em registo escrito e de imagem) para que não se cometam os mesmos erros da minha espécie, nobre, muito nobre em quase tudo o que fez, mas também infinitamente cruel e capaz de se extinguir, sem a ajuda de nada nem de ninguém, bastando a si própria para se inumar.
Esta é a minha, a nossa pesada herança, esta é:
A HERANÇA DO MEDO
“Para que O Mal Floresça é apenas necessário que os Homens de Bem nada façam”
Edmund Burke
I
A Cidade Maior
Iniciemos o meu relato no local onde tudo começou, sendo que a sequência cronológica dos acontecimentos é feita para uma melhor percepção do que se seguiu.
Adorava a nossa cidade maior, talvez por lá ter nascido, ou talvez por ela merecer isso, francamente não sei, ainda hoje tenho dúvidas, mas apesar de todo esse quase-amor, por estranho que pareça, de Paris só gostava de meia dúzia de coisas. Meia dúzia, é como quem diz, de penas duas coisas.
A Torre Eiffel, claro está, e nem por acaso, estava no topo das preferências. Do seu cimo as luas gémeas Castore e Poluxe, desafiadoras, a quinhentos quilómetros de nós pareciam mais perto, mais tocáveis...Com os seus mais de quinhentos metros e sólida estrutura em alumínio e fibra de vidro, a Torre dominava o vale de cem quilómetros por onde se estendia a gloriosa cidade. Do seu cimo podia-se ver praticamente tudo, sempre na perspectiva sobranceira, que nos dava a nós, pequenos humanos de pouco mais de dois metros, a sensação de dominarmos a paisagem. A vida e o seu louco ritmo no interior da mega urbe, onde o trânsito caótico, apesar de controlado, e as vivências de uma cidade florescente de cinquenta milhões de almas, a profusão tecnológica, onde nada faltava, fazia-nos viver para nós próprios e a ignorar quase tudo o resto. Só mesmo os Pirinéus e os seus mais de vinte quilómetros de altura podiam torná-la pequena. De qualquer das formas, a proporção do abissólito colocavam-no numa outra escala, a escala natural, a escala planetária.
Mas quando estávamos no solo, e o sol projectava a gigantesca sombra para fora da cidade, só nós e as nossas realizações interessavam, devolvendo-nos a vertente civilizacional onde vivíamos há já tanto tempo. Calejados por uma pequena eternidade de socialização profunda, e já demasiados longe da natureza, habituámo-nos a ver neles o derradeiro resquício da fauna e flora que tão bem soubéramos quase extinguir. Num mundo onde banalizáramos as técnicas genéticas de reprodução bem para lá da memória, onde as espécies extintas se encontravam congeladas em provetas, à espera de qualquer oportuna utilização, os Pirinéus serviam-nos de aviso para o facto de ela lá estar, e ainda nos poder dominar. Embora controlássemos relativamente bem o fenómeno, uma vez por outra as avalanches de neve conseguiam passar as nossas defesas, onde as barreiras e lasers (destinados a derreter e a evaporar a torrente) se revelavam praticamente inúteis. Felizmente que o calamidade só afectava algumas centenas de habitações, mas tal era suficiente para nos lembrar da nossa vulnerabilidade.
Depois da Torre havia o incontornável Louvre, cujo 1,5km de comprimento parecia tornar insignificante todas as construções ao seu redor.
Construído e destinado a ser museu, estava cheio das últimas novidades dos nossos melhores criadores artísticos de todas as áreas vindas expressamente do seu local de origem, Barcelona. Embora os historiadores e arqueólogos especiais se afadigassem em inúmeras pesquisas, a arte antiga era praticamente inexistente. Numa sala mais central, e hiper-protegida, estava apenas uma velha deteriorada, e de origem desconhecida, serigrafia da célebre Mona Lisa, corroída pela quase eternidade e má imitação, como tudo que era antigo, ou que escapava ao nosso tempo.
O resto do museu era ocupado com exposições mais ou menos permanentes de cariz científico, destinadas, essencialmente a mostrar ao grande público as realizações da ciência actual. Inundado dia e noite por milhares de pessoas, aquele espaço correspondia pouco à imagem estática que se tem de um museu. No auge das nossas capacidades, tínhamos atingido um modelo de sociedade elevado. Os conflitos militares eram episódicos, havia um só governo mundial, onde a democracia convivia pacificamente com a economia, praticamente sem choques, e tendo como objectivo comum o bem-estar da humanidade.
Havia outras cidades, claro, se bem que mais pequenas, como por exemplo Nova York, famosa pelas suas enormes pontes mas também devido aos mais imponentes arranha-céus construídos pela “nova-humanidade”, como o meu povo gostava de se nomear. O que dizer então da Grande-Veneza, localidade eregida em terrenos conquistados ao mar, espécie de ilha maravilhosa eleita como centro religioso do planeta onde estavam instaladas representantes de todas as comunidades étnicas e religiosas aurorianas? Mas a cidade mais amada de todas continuava a ser Barcelona, a primeira de todas na qual ainda existiam uma quantidade apreciável dos primeiros edifícios; Barcelona reunia ainda um pouco das características que tornavam as suas irmãs estimadas, e ainda o carisma inicial dos primeiros tempos. Esta cidade era além do mais o centro das artes de Aurora, o local de sonho de todos os nossos homens e mulheres artífices do belo para viverem e para criarem. Lá havia uma atmosfera mágica, onde se misturavam todos os estilos dessa arte, e onde esta se bebia e reproduzia como em lado nenhum. Claro que não havia fisicamente espaço para toda a gente, pelo que o acesso era restrito aos melhores dos melhores, aos mais conceituados, aos alunos do quadro de honra das mais prestigiadas academias de belas artes, música ou letras, ou então a autodidactas que se provasse serem génios e merecedores da cidadania. Barcelona produzia, e Paris, na sua qualidade de Cidade Maior exibia. Para os maiores saudosistas da Terra Barcelona era também o maior elo que ainda tínhamos com o nosso local de origem pelas razões apontadas algumas linhas acima.
Mas voltando aos tempos modernos, à ciência: nunca como até ali essa ciência fora tão bem vista, e os cientistas tão venerados. A nossa maior pexa, o conhecimento da horigem comum, era preenchida pela busca dela, e pelo avanço tecnológico. Estranhamente a ética acompanhava sem grandes sobressaltos os assombrosos avanços, sendo que, a cada avanço, correspondia a legislação, praticamente respeitada por todos. Os erros do passado conhecido tinham sido bem apreendidos, sendo o temor pelos velhos erros suficiente para dissuadir qualquer consciência mais tortuosa. Assim, as consciências e sinergias concentravam-se, sem grandes distracções no permanente renovar da sociedade. E as realizações e a expectativa delas resultantes falavam por nós: Quando a ciência já se encontrava madura, começámos a nossa própria conquista espacial. Primeiro explorando e dando nome às duas luas gémeas, depois o cosmos com radiotelescópios nomeando todos os corpos celestes que víamos ou que adivinhávamos lá estar (a vista directa por vezes era impossível devido à presença de um sol mais brilhante que os ofuscava, pelo que tínhamos de recorrer a infra-vermelhos para ter uma imagem indirecta deles e assim adivinhar a sua composição, e por dedução lógica as respectivas dimensões). Nomeámos assim as constelações, as galáxias e tudo quando se visse. Depois das explorações com sondas normais do nosso sistema solar e outros, as missões tripuladas banalizaram-se, e a prospecção extra-terrestre fazia parte do quotidiano. Quando a população aumentou demasiado, construíram-se uma série de estações espaciais de grande porte onde, actualmente vivia uma parte significativa de nós. Para evitar rivalidades entre os do solo, fez-se a chamada “rotatividade geracional”, isto é, cada duas gerações deveriam viver ora no espaço, ora no planeta, constituindo tal, mais do que uma obrigação de habitar num determinado local, mais uma experiência de habituação, antes do grande salto, a exploração do espaço profundo.
De resto, vários planos tinham já sido feitos nesse sentido, embora as opiniões sobre a estratégia adequada a empreender ainda divergissem: havia aqueles que defendiam a construção de grandes “Arcas de Nóe”-Naves gigantescas, autêntica reprodução do ambiente natural, onde caberiam diversas espécies de animais e vegetais, destinadas a abastecer os tripulantes e as suas famílias. Em princípio a viagem duraria dezenas, ou algumas centenas de anos, pelo que, só a quinta geração chegaria ao objectivo determinado. Como vantagens tínhamos a auto-suficiência o sistema, entre outros, mas a desvantagem de uma possível geração desenraizada parecia ser o maior e mais difícil obstáculo. Ninguém saberia como reagiriam humanos nascidos e criados no espaço, a ter como referência inicial apenas os seus tetravós, no mínimo...Considerariam os antepassados como seres nobres, cuja empresa lhes facultou o conhecimento de todo um universo novo, ou como déspotas, capazes de manobrar e determinar o destino de futuras gerações, ignorando que estas podiam ter outras vontades e motivações que não a de forçados exploradores? E muitas outras questões seguindo esta lógica de pensamento se levantavam, ao ponto deste plano ser o mais polémico dos dois. Algum tempo depois de elaborado este plano, voltou-se a localizar o “buraco de verme” nas imediações do nosso sistema solar. Esse “buraco” não era mais do que “portas espaciais naturais, através das quais as grandes viagens espaciais seriam possíveis, espécie de atalhos entre as galáxias com os quais se poupavam viagens de centenas de anos devido às enormes distâncias do cosmos”, o que veio alterar e muito as nossas ideias, como de resto iremos ver mais à frente. Para chegarem a este planeta, os nossos antepassados tinham utilizado esse “buraco”, mas os acontecimentos que se seguiram fizeram com que perdêssemos a sua localização. O segundo, mais pacífico, estava porém longe de ser intocável: Baseara-se numa descoberta recente e notável, a avançada câmara hibernadora, fantástico mecanismo a possibilitar o sono criogénico e isento de efeitos secundários de qualquer ser humano. Com propulsão a possibilitar uma velocidade igual à velocidade da luz, os seus tripulantes seriam lançados no espaço profundo e acordariam mal o objectivo programado fosse atingido. Quase consensual, a desvantagem era nítida aos conhecedores: devido à velocidade da luz e aos seus efeitos, a viagem de ida e volta, embora durasse apenas alguns anos, faria os tripulantes, no regresso, encontrar um mundo alguns milhares de anos (no mínimo) mais velho. O que teria acontecido, como estaria a civilização de onde partiram? O facto dos mais directos interessados -os tripulantes – se puderem preocupar ou não com o assunto constituía praticamente o único obstáculo, dado o projecto até nem ser demasiado caro. Nesse sentido e, prevendo já a mais do que provável vitória desta ideia, uma apertada triagem estava a ser feita, e a escolha dos candidatos rigorosíssima. Chegou-se ao ponto de se induzir psicologicamente os voluntários (toda a exploração espacial era feita nesta base, para se ter os cosmonautas mais moralizados, conscientes, que fosse possível obter), fazendo-os cair num estado semi-hipnótico e levando-os a crer já terem voltado, criando-se várias simulações do mundo alterado e observando as suas reacções. Os cenários eram desde os mais optimistas -a ordem continuara intacta, mas muito mais avançada, sendo os regressados acolhidos como heróis – às pessimistas (a civilização regredira para estádios de evolução primitivos, não reconhecendo os tripulantes e julgando-os seres-extraterrestres, inimigos e, naturalmente alvos a abater, etc.... De qualquer das maneiras, nas diferentes simulações confrontavam-se os envolvidos com o dado que, porventura, os poderia desestabilizar mais: o factor de desenraizamento humano, a ausência de marcos de referência sociais, com a ausência de amigos e familiares ou de descendentes directos ou indirectos destes. Não se permitia a falha em nenhum dos itens a avaliar, sendo qualquer atitude incorrecta penalizada com a exclusão do programa. Com a possibilidade de passarmos através dos tais “buracos de verme” pouparíamos um tempo precioso, tanto para nós, como os que cá ficavam. A questão passou a ser pois a de qual o objectivo a alcançar, pergunta a que dentro em breve darei resposta.
Eu, como naturalmente uns milhares, candidatara-me e esperava a minha convocação, facto, que, aliado à minha especialidade, poderia ainda durar uma vida...Mas por motivos que viremos mais à frente, um golpe de asa do destino fez com que a minha presença nessa exploração, inicialmente dispensável, passou a ser da mais absoluta necessidade.
Para a partida rumo a esse espaço profundo, faltava no entanto ainda algo de essencial: um objectivo, o local para onde se enviariam os nossos representantes.
Todos tínhamos esse objectivo em mente, só podia ser ele, mas já há muito que o perdêramos dos nossos mapas. Não obstante os avanços conseguidos, sabíamos ainda muito pouco desse espaço profundo, apesar dos intensos esforços nesse sentido, com o instalar de radiotelescópios espaciais na órbita de outros planetas, onde a ausência de uma atmosfera e da tralha dos satélites, bem como a posição destes astros (a possibilitar uma melhor imagem do espaço exterior) teoricamente iria permitir a visualização de mundos hipoteticamente habitáveis, aqueles por nós procurados para mandar os cosmonautas. No entanto, e em último caso, este não constituía um problema significativo, já que, em último caso se decidira enviar as tripulações para qualquer lado onde se pensasse que houvesse, mesmo que remotamente qualquer coisa. Pode até parecer contraditório, mas não era: há medida que o tempo passava, urgia esta missão longínqua, por isso o princípio rígido do de ter que se encontrar qualquer coisa substancial deu lugar a outra abordagem mais “elástica”, pois a civilização tinha atingido um nível tão avançado que era o seu orgulho, a sua auto-estima a exigir o envio dos seus melhores filhos rumo ao mais longe que fosse possível.
Mas voltaremos a este assunto mais tarde, num momento mais oportuno, e regressando ao Louvre e, mais particularmente, à dependência de maior interesse daquele espaço: era conhecida como a Sala de Origem, onde estava um dos raros vestígios físicos (e não apenas uma mera imagem) plausíveis do nosso passado, onde, periodicamente me dirigia em peregrinação, tanto a nível pessoal como profissional.
II
A Sala de Origem
Era lá que residiam os restos mais veneráveis do nosso passado, os principais restos sobreviventes da tragédia perpetrada pelos ancestrais. Eram os únicos destroços sobreviventes duma das naves que nos trouxe até aqui.
O planeta onde nascemos recebeu o nome de Aurora antes dos nossos antepassados cá chegarem. A razão é desconhecida, mas eventualmente foi assim chamado em homenagem a quem o descobriu, à mulher deste, a mãe, sei lá, se os terrestres seguirem a nossa forma de atribuir o nome aos astros foi certamente uma das hipóteses acima apontadas. Por comparação tem aproximadamente as dimensões que numa escala o colocam entre a Terra e Marte, com a tal indispensável atmosfera respirável, e recursos naturais absolutamente pouco comuns: os seus mares dispõem duma fauna variada, sendo que a maior parte das espécies são comestíveis, os seus cinco continentes possuem tantas espécies animais, vegetais e de insectos que ainda hoje não estão contabilizadas na sua totalidade apesar de já termos extinto algumas; por fim os minérios – Aurora foi dotada deles, dos conhecidos e de material nunca visto que soubemos estudar e adaptar às nossas industrias extractivas. Toda esta numeração torna-se necessária para se entender como conseguimos subsistir.
Pelo que nos lembramos, na Terra procuravam-se lugares habitáveis no espaço para onde a humanidade se pudesse expandir. Embora a nossa memória escasseie, o que se passou a seguir justifica a linha de raciocínio -descobriu-se um desses mundos, enviaram-se para o “buraco de verme” algumas sondas, ou através de telescópios descobriu-se que estes tinham uma atmosfera compatível e por fim preparou-se a maior de todas as frotas que há memória para a colonização, com capacidade tecnológica suficiente para ser autónoma quando lá chegasse. A dimensão da frota (centenas de milhares de pessoas, algo sem paralelo na história) talvez indicasse que as condições de vida na Terra eram catastróficas, e por isso havia que mandar os seus representantes para estabelecer uma colónia que garantisse assim a continuação da espécie, não sei, não sabemos, o que é certo é que há muito, muito tempo, quando a enorme frota vinda da Terra chegou a este planeta, e, depois da aterragem inicial, conforme o planeado, dividiu-se em vários grupos estes estabeleceram-se em partes diferentes do planeta. Seguindo ordens escritas antes da viagem, algumas unidades partiram de novo com exemplares da fauna e flora, de regresso de maneira a confirmar a implantação da colónia, e a inaugurar as rotas espaciais entre os dois planetas. Contudo, desde esse momento que estávamos sós. Ninguém voltou, por razões que ainda desconhecemos. Na altura a tecnologia era relativamente avançada e, felizmente, dispúnhamos de recursos para sobrevivermos e até prosperarmos. A falta de combustível das naves impossibilitou um regresso, pelo que nos vimos obrigados a construir uma civilização do nada. Nada de novo, pois tal fora previsto. O objectivo era chegar, enviar alguém com as notícias (a distância tornava mais rápida o retorno de alguns de nós mais rápido do que uma comunicação com os meios tecnológicos de então) e estabelecer a tal colónia, ficando esta à espera dos compatriotas. Quer eles voltassem quer não, a colónia deveria ser estabelecida e seguir o rumo próprio.
No entanto, não obstante a apreciável qualidade de vida tida, e depois da construção das primeiras cidades, a ideia de retorno adquiria forma muito para além do razoável, transformando-se numa quase obsessão, com as explorações mineiras a fornecerem materiais para as indústrias extractivas, que as deveriam transformar em energia para as naves. Contudo, por razões que já se perderam, as diferentes cidades entraram em violento conflito com as armas supostamente usadas para auto-defesa, supostamente, pois todos se envolveram numa encarniçada guerra civil de consequências dramáticas -Destruídas as principais naves, indústrias, aeroportos, espaço portos, centros administrativos, habitacionais, a maior parte dos bancos de memórias, objectos trazidos da Terra etc...(curiosamente escaparam com danos menores os da história clássica, mas tudo quanto se situasse depois do século X para nós era algo de demasiado incompleto para constituir uma história enquanto ciência contínua). Perdemos as bases de suporte e da nossa “tentativa de civilização”, quase nada restou. No rescaldo dos combates constatou-se, para horror de todos, que se demoraria centenas de anos (ou mais!) a reconstruir tudo: o manancial de conhecimentos transportados nas naves ou se perdera ou ficara reduzido a muito pouco. Embora dispusessem ainda das suas próprias memórias, a tradição oral iria desvirtuar, mistifica-las, ao ponto de se tornarem praticamente irreconhecíveis para as gerações vindouras. Uma das provas disso estava na reprodução dos monumentos, onde as verdadeiras dimensões tinham sido ignoradas, construindo-se as cópias ou “a olho”, ou por mera perspectiva e cálculo depois da observação das poucas gravuras sobreviventes.
Mas a pior das consequências, além do regredir tecnológico, tinha sido a destruição dos instrumentos que tinham a localização do nosso local de origem, o planeta Terra e do sítio do “buraco”, deixando-nos assim sós, terrivelmente sós perante o imenso cosmos.
O facto de não dispormos de meios, nem de provavelmente voltarmos a ter, de voltarmos a descobrir a rota de regresso, fez com que tentássemos construir uma outra civilização, tentando, não recriar a Terra, mas de construirmos o nosso próprio mundo. Aqui e ali admitiam-se topónimos, monumentos ou pontuais reproduções de veneráveis construções terrestres, mas tal deveria constituir excepções à regra de constituirmos uma personalidade própria, pois estávamos, e eventualmente estaríamos para sempre, sós, sem elos comunicacionais com o planeta de origem.
Tínhamos subestimado os estragos feitos pelos combates, e afinal demorámos muito mais tempo do que o imaginado na reconstrução. Passaram cerca de 2 mil anos de assinalável prosperidade, até que, de facto voltamos a ter, aliás, ligeiramente superior o nível perdido na guerra.
Nunca nos esquecêramos da nossa proveniência, o casco corroído lá estava para nos recordar. Cultivávamos as réplicas e as recordações como clássicos, mas atingíramos já a maturidade suficiente para encararmos o futuro sem o regresso. O passar do tempo fizera certamente esquecer aos nossos irmão dos Sistema Solar Terrestre a nossa existência ou a não lhe dar a importância de mandar alguém até aqui, ou, e por isso a nossa exploração espacial estava direccionada para outros domínios, embora a vontade fosse de facto encontrar o caminho de regresso.
Só perante a impossibilidade de tal estabelecemos outros objectivos na exploração do cosmos. Tal como a intenção inicial dos Terrestres tentaríamos encontrar mundos habitados, ou transformar outros. Colonos, sedentarizaramo-nos, e agora estávamos no limiar do nosso próprio salto, mas o destino veio alterar tudo, quando recebemos a noticia da descoberta de uma sonda antiquíssima, anterior as nós próprios, mas vinda sem dúvida do planeta azul.
III
O mapa
Como Especialista no pouco que sabíamos da história e também como Arqueólogo espacial Terrestre, pouco ou nada sabia explicar do mapa enquanto isso, enquanto mapa; baseado naquilo que me explicaram alguns astrónomos, sei apenas que ele era de facto o caminho, o elo a faltar-nos para rumar-mos até ao Sistema Solar Terrestre, mais precisamente à Terra. E a razão de ter sido escolhido para essa nobre missão, segundo o que me explicaram foi devido ao facto de eu ser a maior autoridade Auroriana no que tocava à história do nosso planeta original. Para mim esse saber era normal, rotineiro, pois desde muito pequeno que frequentava os museus de Paris para ver vezes sem conta os restos do passado, que frequentava bibliotecas e devorava livros atrás de livros que tivessem em comum o planeta azul. Mais tarde escolhi o curso adequado a esse interesse e tirei o mestrado na mesma temática, escrevendo a partir de então obras que se tornaram referenciais por toda a Aurora. Estava em vias de tirar o Doutoramento quando começaram a seleccionar pessoas para a grande viagem. Esta tinha muito pouco a ver com a minha inclinação escolar, mas como possuía uma fé inabalável que bem no espaço profundo iríamos encontrar vestígios humanos, ofereci-me como voluntário, embora sem grande fé, pois existiam mil e uma pessoas mais qualificadas do que eu. De facto existiam, mas foi nessa altura que descobriram Voyager direccionando essa mesma viagem até à Terra. (o nome da sonda nada diz em nenhuma das nossas línguas, apesar de reconhecermos as letras, o nome é estranho, pelo que o transcrevo apenas como ele nos apareceu) Desconhecendo-se a reacção desta perante a chegada de estranhos como nós, decidiram escolher-me, pois seria de facto o melhor embaixador, espécie de ponte entre os dois mundos
Mas antes convém dizer como encontrámos a sonda e lá dentro o mapa:
Nas últimas décadas, o nosso planeta viveu assombrado pela catástrofe: Quando voltamos a ter a possibilidade de monitorizar o espaço, e tendo demasiado presente algumas crateras antiquíssimas ainda relativamente bem preservadas em Aurora, reservou-se uma parte significativa dos mais potentes radiotelescópios de forma detectar possíveis asteróides ou cometas, cuja rota os poderia levar a colidir connosco e de atempadamente os destruir ou desviar. Durante anos algumas centenas de corpos foram atentamente acompanhados, até se provar serem inofensivos. Tudo corria dentro de uma certa normalidade, este programa era apenas mais um entre diversas actividades cientificas, (as hipóteses deste tipo de calamidade se dar eram risíveis estatisticamente) e entrara de tal ordem na rotina, que diversas obras escritas ou cinematográficas sobre a morte do planeta e de nós devido a um corpo celeste, eram olhadas por toda a humanidade como mero gozo e não como antecipação de uma possível realidade.
Até ao dia em que as probabilidades se voltaram contra nós.
Vindo do fundo do espaço, de uma região ainda a ser explorada pelos nossos radiotelescópios, cedo se tornou evidente o fim do seu trajecto: Aurora. Com cerca de 1km de diâmetro, apesar de pequeno, os efeitos do impacto seriam suficientes para fazer desaparecer a civilização humana ou até mesmo toda a vida do planeta. Apesar de dispormos de cerca de oitenta anos até ao impacto, o espectro do desastre passou a dominar-nos. Os modelos e as hipóteses do costume voltaram a encher as mesas técnicas, discutindo-se toda e qualquer solução ao pormenor de forma a debelar a terrível ameaça. A mais lógica e praticável em breve reuniu a unanimidade de todos: “bastaria mandar uma expedição ao asteróide, perfurá-lo e enchê-lo de explosivos”, fazendo com que este ou se desintegrasse ou mudasse de rumo. Mas, apesar do avanço científico neste derradeiro século ser assombroso, a capacidade técnica estava longe de garantir o sucesso pretendido. Algumas indústrias de raiz tiveram de ser ou criadas ou desenvolvidas: desde novas brocas que conseguiriam furar toda e qualquer superfície em poucos minutos, a fatos especiais com propulsores, destinados a conferir a maior autonomia possível aos astronautas num ambiente que se pensava de máxima hostilidade, e até a naves especializadas e altamente manobráveis, cuja função seria, depois de saírem de uma nave maior, nave mãe, a disporem a inusitada “equipa de comandos espaciais”, no rochedo. Explosivos de grande poder, mas altamente compactos, foram também encomendados às indústrias da especialidade.
Há três anos, quando faltavam sete para o impacto, todo o material estava pronto, bem como as equipas humanas que deveriam levar a cabo a missão.
Mas antes, era necessário estudar a fundo a ameaça, para que o plano corresse na perfeição quando fosse executado, dada a nossa margem de manobra ser demasiado curta para que pudéssemos correr qualquer tipo de riscos. Enviaram-se pois sondas, destinadas a fotografar o corpo de forma a decidir onde as naves aterrariam, e a melhor zona de perfuração. Para espanto geral de todos, no seu interior descobriu-se aquilo que parecia ser uma espécie de pequena nave primitiva. Por qualquer e enigmático motivo esta aterrara e “apanhara boleia” no meteoro.
Múltiplas hipóteses se levantaram então, desde esta ser obra de uma qualquer inteligência desconhecida até...De imediato se procedeu à remoção do veículo, e ao seu transporte até ao laboratório mais próximo. Entretanto, e isso era o mais importante, o plano de desintegração do monstro rochoso prosseguiu notavelmente com a desintegração da ameaça, voltando assim a vida em Aurora ao seu normal.
Abafada pelo sucesso e júbilos que se seguiram à explosão do colosso, percebeu-se que a novidade era no entanto demasiado sensível para ser tornada pública, pelo menos de imediato. Só aqueles a puderem esclarecer o mistério seriam chamados, de forma discreta, tentando-se, a todo o custo que nada transpirasse para o exterior.
Quando a nossa ciência amadureceu, e pôde criar diferentes especialidades, criou-se discretamente um departamento cuja finalidade era a busca de pistas que nos voltassem a dar a rota, ou indícios para o nosso planeta natal. Numa primeira fase os seus membros eram uma espécie de arqueólogos especializados, que nas ruínas das primeiras cidades, e antigos campos de batalha deveriam tentar achar qualquer coisa. As buscas prolongaram-se instrutivamente, e o projecto era considerado mais uma extravagância de meia dúzia de cientistas “que-não-tinham-mais-nada-do-que-fazer”, do que um projecto cientifico etéreo. Devido ao relativo baixo custo da operação, esta foi sendo mantida discretamente sem grandes sobressaltos orçamentais. Quando porém readquirimos a capacidade de chegar às estrelas, alguém se lembrou de procurar as pistas no espaço conhecido. A ideia que dava fundamento ao novo “campo de acção” tinha uma certa lógica: os nossos antepassados recentes poderiam ter deixado algum veículo ou sonda transviada ou inutilizado no caminho celeste até Aurora. Com um bocado de sorte, esse material considerado inútil na época, poderia ter qualquer tipo de registos que, agora se revelaria vital. O entusiasmo foi suficiente para nos dotar de meios, e para financiar a formação de alguns técnicos especializados.
Na minha qualidade de máximo especialista nestes vestígios, cabia a mim investigar qualquer pista, mesmo que mínima.
Mas na manhã em que fui chamado em segredo absoluto para a curta viagem até ao outro lado de Aurora, esperava-me muito mais do que uma simples pista.
Quando os primeiros Astronautas e técnicos examinaram o veículo, múltiplas hipóteses se levantaram então, desde esta ser obra de uma qualquer inteligência desconhecida até...De imediato se procedeu à sua remoção e transporte até ao laboratório mais bem apetrechado que possuíssemos.
Restava pois a nave e o seu segredo, o maior segredo da história humana auroriana.
Para sorte de toda a gente, uma das primeiras pessoas com alguma influência que examinou o achado e, apesar dos seus parcos conhecimentos, pressentiu a sua origem e dai até me mandarem chamar decorreram apenas algumas horas.
Pela primeira vez desde há muito dispúnhamos de notícias dos nossos. Inicialmente pensou-se que esta era a resposta à muito aguardada, mas, logo depois da abertura e exploração do interior, verificamos que a história vinha ao nosso encontro: Na terceira década de exploração espacial, na altura em que os cientistas da Terra se limitavam a enviar sondas e pequenas naves não-tripuladas pelo espaço, antes de terem a tecnologia para lá enfiarem homens, alguém se lembrou de, no interior de uma delas se enfiar (entre outras coisas) algo que nos apresentasse a possíveis consciências extra-terrestres, uma maneira simples e inteligível de fazer essa apresentação, e de dizer onde morávamos. Esta nave em particular (inicialmente feita para explorar o Cosmos), depois de esgotar a sua energia, transformar-se-ia numa espécie de “mensagem numa garrafa”, a vaguear eternamente pelo espaço, num errar aleatório que a levaria muito para além da imensidão conhecida pelo homem. O seu nome era Voyager I, o legado humano para outras raças, ou o seu cartão de visita, consoante a perspectiva que quisessem dar à coisa.
Esta parte da história ainda conhecíamos, fazia tão parte de nós como as origens da nossa espécie, marco demasiado importante que, felizmente se conservara nos poucos documentos ainda possuídos por nós de outros tempos.
Na qualidade de maior autoridade em assuntos terrestres, foi-me dada pelo governo mundial de Aurora total e exclusivo acesso ao achado. Só depois de terminar é que outros poderiam observar a sonda, dependendo tal apenas de mim. Se achasse os dados demasiado sensíveis, a sonda seria considerada Top Secret e a sua divulgação proibida, senão, o segredo seria revelado à população de Aurora.
. O que posso eu dizer então quando os meus olhos avistaram pela primeira aquilo que de imediato identifiquei como uma sonda antiga Terrestre? Fiquei abismado, estupefacto, sem palavras…Os objectos mais antigos que dispúnhamos da Terra eram cópias dos originais, cópias mais ou menos perfeitas que tratávamos como relíquias pois eram o único elo para com a restante humanidade. Apesar do curso por mim tirado ter como objectivo máximo achar algo proveniente do planeta azul, era quase um objectivo utópico devido à dificuldade de concretização; era como que uma meta impossível a fazer-nos sonhar…Ao olhar para a Voyager senti que o Momento da minha vida tinha por fim chegado.
Melhor mesmo só visitar a Terra, mas isso era uma outra história…
Para a análise dispunha de todo o tempo do mundo, mas igualmente dos olhos dos nossos governantes, e dos seus prazos ansiosos a exigir respostas.
Durante os primeiros instantes, quando me encontrei a sós com o passado no enorme hangar para onde tinha sido levado o achado, e mal acreditando na minha sorte, coloquei a hipótese de ser uma sonda nossa, uma das primeiras que tínhamos lançado para o espaço profundo, algo a cair por terra quando a olhei com mais atenção:
A descrição da sonda pecará por imprecisa, dado eu não ser um técnico nestes assuntos, mas faço tal, arriscando algumas imprecisões de maneira a tornar mais rica a narrativa -Nitidamente danificada pelo tempo passado no espaço e pela aterragem no asteróide, dispunha ainda duma espécie dum prato uma vez e meia do tamanho dum homem auroriano onde estavam os dizeres “Voyager”, sendo que por detrás dele, a base era um decágono, local onde encontrei um disco e uma placa rectangular onde estavam desenhadas as imagens de um homem e uma mulher e duma espécie de mapa. De imediato pedi a remoção tanto do disco como da placa para um laboratório próprio onde continuei a minha análise profunda.
Apesar de fascinante, deixei a análise da imagem para os meus colegas astrónomos e concentrei-me no disco, que constatei ser de leitura pois trazia acoplado o seu leitor, a permitir ver as imagens e sons que este tinha.
E lá dentro…Existia literalmente um mundo a explorar, “um velho mundo”, como me lembro de o ter chamado mentalmente, há medida que as imagens e sons desfilavam perante os meus aturdidos sentidos.
Para começar havia algo que eu identifiquei como saudações em cerca de 55 línguas. Obviamente que a nossa socialização de dois mil anos fez com que a língua por nós falada adquirisse outros contornos, evoluísse sozinha, pelo que só possui semelhanças muito vagas com aquelas que deixámos para trás, tornando por isso impossível a percepção dessas saudações, que as considero como tal, pois há sempre algo em comum nos dialectos de todos os povos, há um elemento humano perceptível pelo sentido. Assim um “hello” e um “olá” ou uma forma mais complexa de saudação soa como isso, dai o meu raciocínio dos sons serem saudações e não outra coisa qualquer; e qualquer das formas deixei a análise mais aprofundada para os nossos linguistas que certamente chegaram a conclusões mais objectivas, mas isso foi depois da minha própria partida em direcção à Terra, e dai a minha impossibilidade em vos comunicar o resultado dessas pesquisas avançadas.
Depois bem, depois descobri uma série de cerca de 116 primitivas fotografias electrónicas (certamente dos primórdios desta tecnologia), de um interesse avassalador para todos os povos de Aurora. Eram fotografias do nosso passado comum perdido. Para não me tornar maçudo, refiro apenas aquelas que mais me impressionaram, deixando as restantes para os arquivos históricos mundiais de Aurora.
Havia por exemplo um mapa de localização solar (que seria muito útil para estabelecer uma rota), definições matemáticas e físicas, fotos de ADN, uma série sobre anatomia humana extraídas de um livro, diagramas de fetos, fotos de um pai e mãe de diferentes raças, fotos de crianças, de dunas de areia de antigos desertos, de florestas com cogumelos, de insectos com flores (e que maravilhoso foi ver tal, pois isso devolvia-nos a flora perdida da Terra!), fotos de animais indígenas do planeta azul, de velhos de diferentes raças, de primitivos ginastas, de corredores dos imortais Jogos Olímpicos, de lojas, uma foto subaquática de um pescador e peixes (sensação sem igual a visão do oceano na altura antes deste estar quase irremediavelmente poluído), de barcos de pesca, de primitivas casas quer em construção, quer já construídas (o curioso aqui era aferir das semelhanças com as nossas e assim estabelecer laços entre a evolução da humanidade em Aurora), fotos, várias de diferentes cidades, de antigas auto-estradas, uma duma antiquíssima ponte, algumas de radiotelescópios, uma de um astronauta no espaço, e sobretudo aquela que mais me impressionou: a de crianças em volta de um globo terrestre. Descrever o que senti é…impossível…pois é impossível exprimir o exultar duma alma, um arrepio sem igual! Os nossos pequenos antepassados em volta do planeta mais desejado de todos, a materialização da concretização dum sonho!
Mas a surpresa da descoberta não ficava por aqui, pois logo descobri sons musicais, de antigas orquestras ou de culturas indígenas, cuja origem não posso precisar, pois como já foi dito, quase todos os nossos registos que poderiam permitir interpretar esses sons se perderam na guerra.
Demorei alguns dias a analisar o conteúdo da sonda, sendo que no final e depois de ter feito um relatório pormenorizado o entreguei às autoridades e permiti que outros técnicos menos especializados do que eu tivessem acesso ao enorme tesouro que eu começara a deslindar
Ao mesmo tempo que os cientistas de Aurora começaram a traçar a rota para a Terra graças aos dados da Voyager, foi preparada cuidadosamente a revelação desta à população, tendo eu aqui um papel vital, pois seria a minha humilde pessoa em emissão directa de televisão a traduzir os dados.
Essa emissão foi um sucesso de audiências sem igual, à qual se seguiriam dias de festa inimaginável, ainda mais empolada quando se comunicou estar a ser preparada uma missão espacial até à Terra.
Em paralelo lançaram-se várias mensagens usando a luz como veiculo para esse ponto do espaço onde sabíamos estar a Terra. Nelas anunciámos a prosperidade de Aurora, o sucesso da colonização e o envio, logo que nos fosse possível, duma missão diplomática até lá.
Como essa missão estava de facto em preparação, a mensagem anunciava-nos e, se me permitem a expressão, preparava o terreno para a nossa chegada, prevenindo-os assim e dando-lhes o tempo mais do que suficiente para a recepção.
Descrever o local exacto no imenso Universo onde se situava a Terra, transcende os meus conhecimentos, pois isso era tarefa para os nossos astrónomos, direi apenas e para localizar o receptor desta mensagem, que o nosso destino ficava na muito distante galáxia Via láctea, mais precisamente no Sistema Solar, onde pontificava um sol de dimensões médias no qual orbitavam 9 planetas, sendo o nosso destino o terceiro mais próximo dele.
(Continua)
Próximo capítulo - Terra