O SEGREDO DO OLIVA NEGRA capítulo 3
Estrada para rio Delta, 15;32hs, dia seguinte.
Um jovem caminhava pelo acostamento enquanto alguns poucos carros e caminhões passavam ao seu lado deixando, vez por outra, um vento ameaçador que lhe causava um certo stress, no meio de uma intensa luta entre motores barulhentos e o silêncio dos campos de plantação de café do Sul de Minas. De olhos estranhamente verdes para sua pele amarronzada, fruto da mistura da descendência européia do pai com a côr negra da mâe, ele caminhava com as mãos no bolso como se não estivesse interessado em nada a sua volta. Até que parou em frente ao Oliva Negra.
O restaurante de beira de estrada estava fechado havia um mês. Na verdade, não se tratava mais de um restaurante e sim do que havia restado de um. O predio todo chamuscado pelo lado de fora, já dava idéia de desolação mesmo para quem não arriscasse a olhar pelo lado de dentro. Estranhamente as grandes letras pintadas na parede que já tinha sido branca onde se lia o nome do restaurante ainda eram visiveis, como num estranho aviso ao estilo de Dante se estivesse escrito ali algo sobre perder a esperança. Dionísio no entanto, não hesitou ao passar pela porta da frente e arriscar os primeiros passos pelo salão principal onde nada lembrava a última vez que estivera ali. Caminhou pelo carvão amassado que provavelmente tinha sido mesas e cadeiras um dia e observou o teto de telhas enegrecidas. Foi até a cozinha e mexeu na torneira da pia corroída pela ferrugem da chuva que passava pelas falhas do teto causadas pelo incêndio.
Tinha descoberto que o restaurante possuía aquele nome porque alguns anos antes, uma empresa de pesquisa agropecuária havia planejado cultivar oliveiras naquela região e produzir azeite, mas a idéia não deu certo. Os empresários, porem, foram para uma cidade vizinha onde lograram mais sucesso. Oliva era um nome mais curto que Oliveira, soava mais ágil. Mas porque Negra ao invés de Verde? seria talvez porcausa da mitologia Grega?! tinha lido algo sobre alguem que no fim da estória havia se transformado numa Oliveira Negra.
Dionísio abriu a torneira como se tivesse uma tola esperança de que dali jorrase agua. Voltou ao salão principal. Deu uma nova olhada em volta como se buscasse alguma coisa, uma prova, talvez algo que o livrasse da agonia das últimas semanas. Sua vida que sempre lhe parecera um tanto incerta, agora parecia um barco frágil em meio a uma tempestade. Na escola aprendera que uma enzima é capaz de acelerar de 100 milhões a 100 bilhões de vezes a velocidade de uma reação, e isso tornava nossa vida bem mais fácil, não precisaríamos esperar uma semana para que o almoço dissolvesse dentro do nosso corpo. Isso o levava a raciocinar: se aqui neste mundo, na nossa natureza, existia algo como as enzimas, em outros planetas, imaginado naturezas desconhecidas, e civilizações que estariam séculos talvez milenios a nossa frente o que não poderia de fato existir? isso explicaria muitas coisas, inclusive a catástrofe do Oliva Negra.
Mas nada ali parecia suavizar suas incertezas. Olhou pela janela e viu que alguem observava o Oliva pelo lado de fora. Era como um reflexo seu mas na verdade se tratava de seu irmão gêmeo Adolfo. Fazia semanas que não o via.
Com passos rápidos Adolfo passou pela porta e já no salão fez uma cara de desprezo. Mas foi Dionísio quem falou primeiro:
- Então você tambem veio! Há muita coisa aqui para ser desvendada, não?
- Em que buraco esteve metido?
- Não importa – respondeu Dionísio.
- Tambem não importa o fato de você ter nos abandonado?
- Acho que não temos mais muita coisa a ver um com o outro, alem disso, foi nosso pai que nos abandonou primeiro. Nunca se esqueça disso, Adolfo.
- Mas agora ele está do nosso lado.
Adolfo atirou um pedaço de madeira no vidro da janela da frente do Oliva, causando um estilhaçar que irritou Dionísio. - Não importa, eu não preciso de você Dionísio, não preciso de mais ninguem, eu agora sou capaz de fazer muitas coisas...
- Adolfo, você devia lembrar sobre o que Tio Jonas dizia sobre o bezerro de ouro...
- Tambem não preciso mais das estórias da Bíblia que o Tio Jonas contava. Ninguem mais pode me tocar!
Adolfo mostrou os olhos que do verde miscigenado havia passado a um tamanho desumanamente maior e agora eram vermelhos e florescentes.
- Deus do céu!você não andou mostrando isso por aí, não é?
Não se ouviu uma resposta para aquela pergunta. Dionísio foi tocado por um mal estar súbito. Começou sentindo tonturas e uma sensação de que o solo fugia do seus pés. Fechou os olhos e quando os abriu novamente, Adolfo já estava do lado de fora do Oliva. Ele ainda gritou que era apenas uma amostra do que podia fazer antes de sumir em direção a rodovia.
Dionísio conhecia aqueles truques. Já vira o próprio pai realiza-los. Surpreendia-se ao perceber que o irmão podia fazer aquilo com os olhos, mas o mal estar súbito lhe era familiar. Sabia que quem ou o que dera aqueles poderes aos dois iria cobrar algo em troca.E não seria algo barato. Pensou que talvez devesse fazer uma tentativa de reaproximação antes que Adolfo se afundasse naquele universo absurdo dos alienígenas.