O segredo do Oliva Negra - capítulo 1
Belo Horizonte, 18:00hrs.
Laura caminhava pela rua distraída olhando as vitrines como fazia de costume, enquanto esperava que a noite caísse logo de uma vêz e levasse embora os últimos rastros do que tinha sido um dia arrastado e opaco. Parou diante de uma loja. Ficou olhando para um vestido que lhe agradara bastante. O tecido liso que poderia sentir com a mente, como se estivesse usando as pontas dos dedos no azul marinho que lembrava um começo de festa. Houve um periodo em sua vida que em ocasiões como aquela entraria direto para comprar de uma maneira feroz, como uma ave predadora, mas esse tempo havia chegado ao fim deixando apenas um rastro de dívidas para pagar. Mas, no entanto, ela precisava estar ali, precisava intensamente de sentir o cheiro do tecido liso e se lembrar de como era antes: o tempo em que as coisas eram "normais" e que tudo se resumia em esperar pelas contas no fim do mês. Isso havia acabado com certeza, e não haveria mais volta.
Desde a entrada teve a imprenssão de que um homem a seguia. Ele era mulato, alto e vestia uma longa capa de plastico escura. Laura até então não havia se preocupado com o rapaz, mesmo porque suas divagações a deixavam num sentido tão abstrado que não conseguia absorver o que havia de comum a sua volta numa precisão imediata. Alem disso havia muitas pessoas ali, ele não teria coragem de ataca-la certamente. Talvez tudo não passasse de imaginação misturado com o cheiro de pizza que vinha da praça de alimentação. Observou o longo teto bege e um palhaço de roupas amarelas com bolinhas verdes que devia ter uns cinco metros de altura dependurado no meio do salão como se fosse cair sobre as pessoas. Era inflado com ar e preso por cordas de nailon, por isso flutuava balançando de um lado para o outro desengonçadamente, porem sem assustar um grupo de crianças barulhentas que brincavam embaixo dele.
Percebeu novamente o homem que a olhava fixamente de uma distância de uns dez metros. Aquele rosto era familiar.Ele era real e tinha algo haver com os estranhos acontecimentos do Oliva Negra, impossível ignora-lo agora. Não era imaginação da sua cabeça e isso tinha um lado bom por mais estranho que fosse. Pensou em caminhar até um dos seguranças e pedir ajuda; viu um deles parado perto de uma banca de revistas. Antes de aborda-lo olhou para trás e notou que o estranho da capa havia sumido. Naquele instante ficou com medo de ser tomada como uma louca. Ouviu um som de música alta e sentiu novamente o aroma sedutor de roupa nova de uma loja próxima. Laura fingiu interesse numa revista e deixou de lado o segurança. O palhaço de roupas amarelas parecia que desabaria a qualquer instante sobre as pessoas, tudo parecia que ía desabar.
Normalidade. Podia olhar em volta e perceber que nada mudava a rotina daquelas pessoas. A pizza, os jogos eletrônicos, as pessoas sorrindo... ninguem ali tinha cara de que ouviria a estória completa dos últimos tempos de Laura sem toma-la como uma louca, mas ainda assim as compreenderia.Tinha uma certa dose de raiva por não pertencer mais ao mundo delas, mas, não fazia sentido dizer que queria voltar a viver como antes, aquele mundo, com seus celulares e roupa da moda incandescendo a vista, não existia mais. Para ninguem. As pessoas só não sabiam disso, mas Laura sabia. Decidiu entrar no elevador. Houve um instante de alivio. Algumas pessoas entraram junto com ela, não prestava a atenção em seus rostos. Ouvia conversa delas, enquanto se apertava num espaço reduzido de grandes espelhos que a fez se sentir envelhecida ao observar seu reflexo. Mas talvez fosse só uma imprenssão. As pessoas lhe faziam recuar ficando no fundo do elevador sentindo um cheiro forte e adocicado do perfume de uma garota que estava a sua frente. No andar debaixo todo mundo desceu a excessão de um homem alto e de capa. Laura percebeu atônita que o seu perseguidor estava bem ali a sua frente e com o braço lhe fechava a passagem.
A porta do elevador fechou rapidamente. Não dava mais tempo de pedir ajuda. Laura se viu sozinha com o rapaz mas corajosamente o encarou, afinal ele não poderia lhe prender ali num lugar público por muito tempo . Ele não deixava transparecer a ideia de que lhe agrediria mas seu olhar era severo. O seu reflexo no espelho lhe deixava confusa e tensa. Claro, agora fazia sentido, tudo tinha haver com os acontecimentos do ano passado. Não podia ouvir vozes, nem barulho de música, apenas o barulho ruído suave e abafado do elevador e tudo foi acontecendo em poucos segundos.
Os olhos de seu perseguidor ja não eram mais os mesmos. O globos oculares estavam maiores e coloridos de um assombroso vermelho cristalino e reluzente. Houve uma espécie de transformação, não havia mais nada neles que lembrava os olhos de um ser humano. A pele em volta das sombrancelhas ficando enrrugada... Laura podia entender que uma largata podia se metamorfosear numa borboleta como se acostumara a ver nos campos do sul de Minas, a natureza tinha seus truques, mas aquilo durava muito tempo, dias... como explicar o que estava acontecendo com aquele rapaz.
- Você tem de vir, você tem de vir. Já estamos perto do dia em que tudo vai acontecer - disse o homem com voz bem humana - mas se não vier por vontade própria tera de vir a força.
Laura perdeu os sentidos. Quando acordou estava rodeada de pessoas que a olhavam curiosas. Entre elas o segurança que na qual pensou em pedir ajuda. Não havia nenhum sinal do homem da capa. Sua cabeça zunia como se tivesse esvaziado a garrafa de Whisky que Daniel guardava com todo cuidado na estante de sua casa. No entanto, foi se recuperando rapidamente e se sentindo envergonhada, conseguiu erguer a cabeça e perguntar:
- O que aconteceu?
- A senhora passou mal. - respondeu o segurança.