Futurama II

John veste o uniforme da companhia - calça térmica e camisa colante emborrachada. Está pronto para enfrentar sua jornada de dezoito horas diárias.

Ha dois anos que a cidade de nyk (antiga New York) foi comprada pela holding, Nippon-Russo-Chinesa-Indiana, a N.R.C. I.

Se John pudesse se expressar, mostraria sua insatisfação com as últimas medidas da empresa. Principalmente ele, que era de origem Anglo-Saxônica e sem nenhuma descendência oriental. Ainda por cima trabalhava numa das poucas empresas originalmente americanas ainda existentes. Ou seja, era o cocô do cavalo do bandido.

A última medida do setor de controle aéreo de trânsito, o deixou quase indignado. Os flycars estavam proibidos durante a semana útil - que era de segunda a sábado. Só poderiam trafegar no domingo. Restavam duas possibilidades: ir de Aerobuss; que leva o triplo do tempo, porque possui uma rota especial que passa pela periferia aérea da cidade, ou apelar para as Aeromotos. Pequenas e inseguras. As Aeromotos são projetadas para suportar até 42 kg. Com seus 48, John está fora do seguro. Mesmo assim, pra não correr o risco de perder o emprego, teve que comprar uma em trezentos e cinqüenta prestações.

Quando tinha dez anos, ele passou pelo teste de vocação. Os professores concluíram que John seria analista de outrora. Assim, trabalha desde os quatorze nesta companhia analisando os vídeo-livros e fazendo relatórios para o setor de desuso. O trabalho consiste basicamente em destruir tradições. Por exemplo: foi ele quem propôs que se acabassem com as cores vivas. Afinal, havíamos evoluído muito e não precisávamos mais da fugaz e eventual alegria para alimentar nossos espíritos. Pois a tristeza tinha sido finalmente banida. Evento que se tornou feriado internacional comemorado de dez em dez anos.

John tinha que se conter para não ultrapassar sua cota de orgulho (ou soberba, como estavam propondo substituir) quando olhava a nova pintura do seu setor: toda em gelo-ártico. Cor que ele recomendou.

Em seu relatório, defendia que a cor imprimia maior concentração para aquele tipo de trabalho, pois quase cegava. E como o serviço é muito automático - já que tudo é transmitido telepaticamente e os olhos tornaram-se praticamente desnecessários; só servindo para distrair a mente, concluiu que os biombos individuais em que trabalhavam deveriam ser totalmente em tom gelo-ártico. O departamento gostou tanto que, além das divisórias, tudo o mais ali passou a ter aquela cor: computadores, folhas vegetais, e todos os móveis sintéticos.

John chegou a receber uma menção de utilidade pública da própria N.R.C.I. quando a idéia foi estendida em forma de decreto-lei a todas as empresas da cidade. O único problema era mesmo a vista - cada vez se enxergava menos. Mas todos se acostumaram. Inclusive o departamento pessoal da empresa concluiu que os funcionários estavam se adaptando melhor a redução de três para duas horas de sono diárias. Pois de acordo com alguns depoimentos, depois de dezoito horas exposto àquela cor, o funcionário chegava a ficar até três dias sem conseguir fechar os olhos. O departamento não divulgou, mas corre a boca pequena que as horas-extras-voluntárias aumentaram substancialmente. Grande John.

John veste o uniforme da companhia - calça térmica e camisa colante emborrachada. Está pronto para enfrentar sua jornada de dezoito horas diárias.

Ha dois anos que a cidade de nyk (antiga New York) foi comprada pela holding, Nippon-Russo-Chinesa-Indiana, a N.R.C. I.

Se John pudesse se expressar, mostraria sua insatisfação com as últimas medidas da empresa. Principalmente ele, que era de origem Anglo-Saxônica e sem nenhuma descendência oriental. Ainda por cima trabalhava numa das poucas empresas originalmente americanas ainda existentes. Ou seja, era o cocô do cavalo do bandido.

A última medida do setor de controle aéreo de trânsito, o deixou quase indignado. Os flycars estavam proibidos durante a semana útil - que era de segunda a sábado. Só poderiam trafegar no domingo. Restavam duas possibilidades: ir de Aerobuss; que leva o triplo do tempo, porque possui uma rota especial que passa pela periferia aérea da cidade, ou apelar para as Aeromotos. Pequenas e inseguras. As Aeromotos são projetadas para suportar até 42 kg. Com seus 48, John está fora do seguro. Mesmo assim, pra não correr o risco de perder o emprego, teve que comprar uma em trezentos e cinqüenta prestações.

Quando tinha dez anos, ele passou pelo teste de vocação. Os professores concluíram que John seria analista de outrora. Assim, trabalha desde os quatorze nesta companhia analisando os vídeo-livros e fazendo relatórios para o setor de desuso. O trabalho consiste basicamente em destruir tradições. Por exemplo: foi ele quem propôs que se acabassem com as cores vivas. Afinal, havíamos evoluído muito e não precisávamos mais da fugaz e eventual alegria para alimentar nossos espíritos. Pois a tristeza tinha sido finalmente banida. Evento que se tornou feriado internacional comemorado de dez em dez anos.

John tinha que se conter para não ultrapassar sua cota de orgulho (ou soberba, como estavam propondo substituir) quando olhava a nova pintura do seu setor: toda em gelo-ártico. Cor que ele recomendou.

Em seu relatório, defendia que a cor imprimia maior concentração para aquele tipo de trabalho, pois quase cegava. E como o serviço é muito automático - já que tudo é transmitido telepaticamente e os olhos tornaram-se praticamente desnecessários; só servindo para distrair a mente, concluiu que os biombos individuais em que trabalhavam deveriam ser totalmente em tom gelo-ártico. O departamento gostou tanto que, além das divisórias, tudo o mais ali passou a ter aquela cor: computadores, folhas vegetais, e todos os móveis sintéticos.

John chegou a receber uma menção de utilidade pública da própria N.R.C.I. quando a idéia foi estendida em forma de decreto-lei a todas as empresas da cidade. O único problema era mesmo a vista - cada vez se enxergava menos. Mas todos se acostumaram. Inclusive o departamento pessoal da empresa concluiu que os funcionários estavam se adaptando melhor a redução de três para duas horas de sono diárias. Pois de acordo com alguns depoimentos, depois de dezoito horas exposto àquela cor, o funcionário chegava a ficar até três dias sem conseguir fechar os olhos. O departamento não divulgou, mas corre a boca pequena que as horas-extras-voluntárias aumentaram substancialmente. Grande John.

Fernando Tamietti
Enviado por Fernando Tamietti em 22/07/2008
Código do texto: T1092021
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