O INICIO DO FIM - PARTE III

- Então, quem são vocês? – A voz que saia da mascara parecia de uma mulher. Ana e Eduardo, mesmo sem terem muita certeza disseram como se chamavam e que estavam perdidos.

- Estão mentindo, podem ser espiões vindos do norte. – Disse outra pessoa.

- Não, não estão mentindo, vi quando saíram do prédio – Disse a mulher – Vamos levá-los para o chefe.

Ana e Eduardo acharam melhor não resistir, já que estavam em desvantagem. Os dois foram levados pelo grupo, até uma casa, que parecia resistir em meio à destruição. No interior da casa não havia nada, apenas uma porta no chão que dava acesso a uma escada que seguia para o subsolo.

Os dois desceram, não era uma escada muito grande, por isso logo chegaram ao que parecia ser um largo túnel de concreto, onde havia varias pessoa que não usavam mascaras.

O grupo assim que chegou também tirou as mascaras e pediu que os dois também tirassem as suas. E sob os olhares curiosos de todos, os dois foram levados a uma sala no fim do túnel, que era a sala do chefe.

A mulher que os levara bateu na porta e entrou, ficou algum tempo e depois voltou, e mandou que os dois entrassem.

Ana e Eduardo que não viam escolha, entraram. Era uma pequena sala iluminada, não havia muitos moveis, o básico era uma mesa e duas cadeiras.

- Isso é realmente inesperado, eu achava que nunca mais veria os dois. – Disse o homem sentado atrás de uma mesa.

- Quem é você? – perguntou Eduardo. – E de onde nos conhece?

- Então não se lembram mesmo? Bem eu imaginava isso, mas não se preocupem é passageiro faz parte do efeito colateral, só não garanto quando a memória de vocês voltara.

- Efeito do que? Será que o senhor pode nos explicar o que esta acontecendo? – Disse Ana se aproximando da mesa.

- Posso contar o que sei a respeito dos dois, inclusive pode até ajudar no processo de recuperação, quanto mais informação melhor, mas antes quero saber como saíram de lá e o que aconteceu exatamente.

Ana e Eduardo contaram tudo, desde a hora em que acordaram até o momento em que chegaram ali.

- Bem para começar acho, que quem os trancou foram vocês mesmo antes de perderem a memória, tenho quase certeza de que

vocês dois sabiam que iam sair, por isso tomaram a vacina, que alias é a responsável por perderem a memória temporariamente, os porquês de tudo isso só vamos descobrir quando vocês se lembrarem, por enquanto acho melhor sentarem-se, pois o que vou contar é uma longa historia – Depois que os dois se sentaram marcos começou a falar. – Meu nome é Marcos, eu era medico de uma equipe que você Ana, liderava, seu nome realmente é Dra. Ana Silveira de Castro, era a uma jovem cientista considerada quase um gênio na época. Isso foi há anos, quando esta cidade ainda era uma cidade, naquela época tentávamos ajudar ou pensávamos estar ajudando. Eu fazia dupla com você – Marcos apontou para Eduardo – O famoso Dr. Eduardo Gouveia, era uma época difícil, mas não tanto como agora.

- Mas o que nós fazíamos exatamente? – Perguntou Eduardo.

- Basicamente tentávamos salvar o mundo, o que viram lá fora um dia já foi uma cidade chamada São Paulo. Hoje não passa de entulho. Esse mundo já foi chamado de planeta terra, hoje nem tem mais nome. Nós tentávamos evitar o hoje, quando se instalou estado de emergência no mundo por falta de água potável, foi um caos total, com os maiores cientistas reunidos só faltava achar a solução, mas a poluição no ar, e principalmente o buraco na camada de ozônio haviam crescido de maneira tão assustadora por causa da falta de chuvas e umidade, que em muitos lugares já não era possível respirar nem sequer sair de casa, pois o calor era intenso e o ar irrespirável, pessoas morriam aos milhares. Mas o Brasil ainda tinha água, tinha as sobras da Amazônia e ainda se podia respirar, então o mundo fugiu para cá. Foi pior ainda, não podíamos abrigar todos. Então veio a guerra entre as potencias do mundo, queriam levar o que podiam para seus paises ou o que tinha sobrado deles, principalmente a água, mas nós resistimos, foi ai que nasceu a Guerra da Água. O que na verdade foi a causadora do fim do mundo, foi depois da guerra que a vida lá em cima morreu, a superfície terrestre é quase inabitável, como vocês puderam ver com os próprios olhos.

- Por isso vivem em baixo da terra? – perguntou Ana, que durante a narrativa tinha pequenos flashes, mas ainda não conseguia distinguir nada.

- Exatamente, essa parte da historia vocês dois desconhecem, pois se não estou enganado é primeira vez que saem do centro. Pois desde que acabou a guerra e o mundo junto, todas as equipes viveram permanentemente no subsolo do prédio da C.P.G. Fui o ultimo a ir embora, eu achava que era mais útil aqui fora ajudando o que restou da humanidade. Lembro-me que quando abandonei tudo, estávamos declarados em extinção. E isso é só uma parte da historia, que acredito vão lembrar aos poucos, nunca experimentei essa droga em humanos antes. Por isso não tenho certeza de quando.

- Você criou essa tal vacina? – perguntou Eduardo.

- Ajudei, ela foi desenvolvida para ajudar a aumentar as defesas do corpo, para que uma exposição ao clima lá em cima sem proteção não mate. Mas essa vacina tinha um efeito colateral perda de memória temporária, nunca consegui reverter isso, não deu tempo infelizmente.

- Como sobrevivem aqui em baixo? – Perguntou Ana.

- Não é fácil, temos uma pequena mina, sua água nada mais é do que um fio e tem um gosto horrível, mas é melhor que nada. A comida é mais difícil, conseguimos algumas plantas que são bem resistentes, fiz uma espécie de estufa com o tinha, e graças à luz solar, energia é que não falta, a gente se vira como pode. Mas mesmo assim morrem muitos e nascem poucos, se tudo continuar assim daqui a uns trinta anos estaremos extintos.

- E um túnel de metro não é? – Eduardo estava começando a se lembrar de coisas do seu passado. Mas ainda não se lembrava dos fatos recentes. – Acho que me lembro da cidade.

- Bem sua memória esta voltando mais rápido do que eu pensava. É, isso um dia foi um túnel de metro, agora é um sólido refugio. E vocês devem estar cansados, acho que melhor descansar um pouco para ajudar a memória voltar.

Ana e Jorge foram levados para um vagão de um antigo metro, transformado em dormitório graças a restos de colchões e tecidos encontrados no meio do entulho.

Aos poucos a memória dos dois começou a voltar, após dormirem horas já conseguiam se lembrar quem eram e muitos fatos recentes, porem faltava se lembrarem o que aconteceu para estarem naquele quarto.

Eles se lembraram da guerra, da destruição por causa da água, e do dia em que foram destinados a desaparecerem da face da terra. Mas nunca tinham saído do centro depois de tudo, e agora viam suas perguntas respondidas ao verem como as pessoas sobreviviam.

Mas a guerra não acabara, outras comunidades queriam invadir aquele território por causa da pequena mina que era defendida com unhas e dentes. Pois outra igual só existia no sul. Eduardo se lembrava que no centro só comia comida sintética, ali mal tinham o que comer. Realmente era uma raça em extinção.

Os dois decidiram ficar ali, já faziam parte da comunidade, e não tinham interesse em voltar para o centro.

Alguns dias depois quando Ana conversava com uma das duas crianças que existia no lugar, ouviu o menino dizer que seu sonho era um dia encontrar uma cachoeira de água, quem nem a sua mãe dizia ter existido. Isso fez com que uma luz se acendesse na mente de Ana, fazendo com que se lembrasse o motivo porque estava ali. Sem perda de tempo, Ana reuniu Eduardo que ainda não havia se lembrado dos fatos recentes e Marcos.

- Tenho uma coisa muito importante para dizer, foi por isso que vim até aqui, me lembrei de tudo.