Geb - Capítulo XI

O CONTATO

Abriu os olhos. O teto, enfim um teto. Reluzia a cor amarelo-ouro e era iluminado pela luz solar que adentrava pela janela aberta, juntamente com uma brisa fresca que balançava as cortinas. Levantou o corpo com dificuldade e sentiu a cabeça pesar. Olhou o cômodo e percebeu-se só naquele instante.

Colocando uma perna para fora da cama, se arrastou pelo colchão e descobriu o corpo.

- Mas... onde estou? – questionava-se em tom baixo.

O lugar era amplo e aconchegante e ele sentia uma paz que há muito tempo não provava, desde que deixara Dara naquele riacho.

Passo a passo, lento e cambaleante caminhou pelo quarto perfumado e arejado. A porta era larga e era apenas uma abertura, não havia impedimento de nenhuma forma, a não ser uma cortina presa aos lados que balançava levemente com o vento.

- Oh, você acordou? Como se sente?

O rapaz arregalou os olhos e sem entender nada observou o corpo feminino que parara a sua frente. Pele branca, cabelos esvoaçantes e um vestido longo que acompanhava o compasso da cortina.

- Venha, vou levá-lo para a área, vamos comer algo.

Levando-o pela mão, a jovem caminhava com harmonia pela residência e sorria com naturalidade.

- Vejam só, o meninão acordou.

Havia algumas “pessoas” reunidas na área alimentando-se e o rapaz observou uma jovem idêntica a que lhe levara até ali.

- Quem são vocês? – questionou finalmente.

Todos se olharam e sorrindo pediram para que ele sentasse.

- Olha meu jovem, meu nome é Iumbad. Essas duas meninas aqui são as cruzes que eu carrego: Kimari e Nira.

Nira olhou Iumbad e sorriu e automaticamente olhou Kimari tendo a plena certeza que a irmã iria zangar-se, porém surpreendeu-se com o sorriso espontâneo da jovem, que ainda mantinha o olhar diferente.

O jovem sentou-se e olhou uma mulher que estava pintando um quadro logo à frente. Apresentava uma aparência madura e tinha um ar materno, carinhoso e belo.

Iumbad olhou na direção que o jovem tanto observava e abaixou a cabeça.

- Yerush, não seja má educada. Temos visita.

A mulher parou a pintura e olhou para trás e no mesmo instante o jovem sorriu. A segurança que o olhar daquele ser lhe trouxe era sem igual.

- Oh, me desculpe. Quando começo a pintar me desligo completamente de tudo e de todos.

Levantou-se limpando a mão no avental e caminhou compassadamente até o rapaz sentado e estendeu a mão para ele.

- Prazer, sou Yerush.

Ele sorriu ainda observando os olhos maternos daquela mulher e estendeu a mão devolvendo o gesto.

O tempo se prolongava e todos se alimentavam. O jovem estava confuso, mas tinha tanta paz misturada ao seu cansaço que perguntar sobre tudo e todos foi uma questão adiada.

Kimari sentada à sua frente estava completamente diferente e observava a intensidade da luz do dia que invadia o ambiente naquela manhã.

- Irmã, podemos conversar? – disse Nira.

- Claro!

Levantou-se limpando a boca e caminharam até o jardim à frente da área, indo por um lado mais reservado. Nira estava pensativa e Kimari sorridente.

- Eu já percebi tudo, mas você sabe que não pode...

- Isso é o que dizem para nós, mas não sei de nenhuma história até hoje que me prove ser verdade.

Nira abaixou a cabeça e sentiu estar num caso mais sério.

- Minha irmã, fico contente por você estar tão mudada, mas temo pela sua sanidade, pela sua felicidade.

- Aquieta-te minha querida! – disse Kimari dando um beijo na testa da irmã. Gesto que há muitos anos fora abandonado por esta.

Voltaram uma a uma para a área e sentaram-se. No mesmo momento Iumbad é chamado por Yerush.

- Vocês não vão deixar aquela senhora só. Busque-a.

Todos olharam intrigados para Yerush estranhando sua atitude. Iumbad se virou para Yerush e franzindo a testa mostrou a surpresa com aquelas palavras.

- Yerush? O que...

- Busque-a. – disse a Elemental supremo sorrindo levemente.

Iumbad levantou-se e foi à busca da senhora “aprisionada”. O silêncio se fez presente e todos continuavam a refeição pensativos, principalmente o jovem que nada entendia sobre aquilo.

- Estamos aqui. – disse Iumbad.

O jovem elevou os olhos e mostrou surpresa. O olhar ficou fixo e a boca semi aberta, mãos paradas no ar com a comida que levaria à boca e sentiu pulsar mais forte seu coração.

- Você?

- VOCÊ? – Gritou a velha. –

Todos olharam para o jovem. Todos olharam para a senhora.

Yerush continuou comendo, sorrindo graciosamente, sabendo que tudo estava apenas sendo cumprido conforme o destino e os destinos estavam se entrelaçando. O contato: sendo feito.

Kimari observou o jovem e no mesmo momento um medo lhe correu o corpo e a mente.

O rapaz levantou-se e a velha ainda lhe olhava, olhares fixos e os dois falaram simultaneamente.

- O que você está fazendo aqui?

Continua ...