O mundo começa agora
E nossa história, não estará
Pelo avesso assim
Sem final feliz
Teremos coisas bonitas pra contar
E até lá, vamos viver
Temos muito ainda por fazer
Não olhe pra trás, apenas começamos
O mundo começa agora, apenas começamos
(Legião Urbana)
Era um jardim tão lindo que dava vontade de colocar um balanço e ficar ali respirando seu ar puro. As borboletas azuis eram tantas que tudo ficava daquela cor. E o ar fresco passava pelo meu rosto com a leveza que deixava meus olhos se fecharem... pensar em você.
E então, eu percebi que não era mais criança e que meus sonhos já eram adultos. E a brisa passou a não ser mais a mesma...mas quando decidi colocar ali um pedacinho de felicidade porque aquele dia era único e aquela sensação me despertava para um sabor, um cheiro e uma vontade nova de enxergar o mundo outra vez, então percebi que apesar de você não estar mais aqui... a vida continuava e deveria ser tão bela porque você deixou sua marca no meu caminho que hoje deverá brilhar como nunca.
Em um instante senti que algo novo acontecia dentro de mim e abriu-se uma porta e não tive medo, nela entrei com a vontade de que do outro lado, algo acontecesse de tão fantástico como transformar-me em criança. E então, horas se passaram nessa caminhada pela passagem e eu nada via. Apenas fumaça e ondas e, de repente, tudo começou a rodar e eu também e cada vez mais rápido e...quando acordei eu tinha apenas um metro! Sim! Realizei o sonho de voltar no tempo e recuperar a pureza e inocência que nos leva a descobrir mundos e universos ilimitados!!! Que sensação deliciosa! Sinto como se estivesse lá agora, deitada ao chão e olhando para o céu, estatelada, prostrada ao chão com os olhos fixos no infinito que tudo pode e induz. E, de repente, tudo começou a rodar novamente e meus braços e pés estendidos ao máximo fixos no chão como se estivesse em um brinquedo daqueles que rodam tanto que o corpo fica grudado. Meu coração batia tanto e a emoção era a mais gostosa e eu ria muito, muito, até ouço a gargalhada infantil e solta de quase perder o fôlego e soluçar.
Tudo parou...e abri os olhos já embaixo de uma grande cachoeira. Chuaáaaaaaaaaaaaai que sono!!! Virei-me assustada com o barulho da água caindo e falando e apareceram olhos naquela água e uma boca que bocejava jogando água pra todo lado e sacudindo-se toda. Como a cachoeira acordara, a queda tornou-se mais forte, pois começou a espreguiçar-se e eu sentia o peso do seu despertar que massageava minha cabeça e costas.
Ah! Mas que surpresa que nesta minha solidão encontrei alguém pra conversar! Estou tão feliz agora! (eu disse). A cachoeira simplesmente não disse nada e me levantou naquele véu imenso e fiquei escorregando desde o seu cume até bater no lago formado lá embaixo. Acho que não precisava falar nada mesmo já que nosso contato foi essencial. A vida ali pulsava e toda a mata em volta era iluminada pelo sol e observado pela lua que ainda figurava errante e presente.
Atrás do véu, pude ver um vulto de uma pessoa que sentada me olhava e parecia querer me chamar. Mergulhei até chegar naquele ponto e vi que era você e não pude acreditar! Fiquei um pouco tonta e desmaiei no lago e fui afundando e tudo começou a rodar de novo e não vi mais nada...acordei adulta no jardim bonito com um passarinho me bicando como se quisesse me acordar. Abri os olhos e ele voou bem alto como se estivesse me convidando para um vôo livre e então sai correndo atrás dele em direção ao sol.
Noite de 20 de março de 2003 – fim do verão.