UMA MURALHA EM DALRAD
– Acredito, antes de tudo, que você gostará disso como pagamento– disse
Era um homem alto e corpulento, de cabelos e barba ruivos hirsutos– chegando até a altura da cintura-, seu semblante era rude e áspero, como o de todos os homens que viviam naquela fronteira do mundo, os olhos verdes escuros como os bosques das terras de Dalrad, onde vivia com sua tribo. Tirou o pagamento que oferecia do interior de sua manta grossa de pele de urso: uma estátua de ouro maciço representando um ser de cabeça de lobo e corpo de homem tensionando um arco, provavelmente a estátua de um deus dalradiano, medindo dois palmos e tão espessa quanto os ossos de um troll.
– Você sabe muito bem que me oferece um objeto sagrado, não é?– disse o outro– sabe que isso é uma estátua de Brak, deus da caça e dos bosques? Sabe que não me importo o mínimo que ela seja uma estátua de que deus seja de seu povo, não sabe?
O outro soltava essas frases para testar a determinação do desejo daquele que o contratava. Realmente não se importava que aquele homem oferece um ídolo sagrado de Brak, não se importava nem que fosse o próprio Brak que fosse o pagamento, desde que revestido de ouro ou de prata– mas seu olhar não mostrava isso; e nem qualquer outra coisa. Seus olhos eram cinzentos, tão cinzas quanto o ferro o quanto o aço, os cabelos eram cortados na altura dos ombros e eram brancos como a mais pura das pratas; seus lábios eram finos e quando se abriam mostravam um sorriso que poderia fazer os homens gelarem e as mulheres desfalecerem de desejos; era alto e forte e jovem, não forte a ponto de ser disforme, mas muito forte, com ´bíceps que contraídos pareciam esferas de aço enormes. Sua expressão era puramente racional, fria como a lâmina de uma espada, não denotava nada– fosse segurança ou insegurança, fosse medo ou coragem, fosse alegria ou melancolia– somente havia ali seriedade; e isso causava espanto aos homens que viam.
O bárbaro pensou, ficou refletindo por um tempo. Enquanto isso, um escravo trouxe um grande pedaço de pernil para cada um. O jovem ficou ali dando grandes dentadas no pedaço de carne e analisava o ambiente a sua volta. Um salão rústico de pedras mal encaixadas, com telhado de carvalho e sustentado por vigas de cedro que também suspendiam peles e tapeçarias puídas de reinos distantes, pelas paredes ficavam objetos de saques antigos e armas tão calejadas de batalha quanto o rei que as usava. Não havia muito no ambiente para ser visto.
– Já chegou a uma conclusão?
– A estátua vale muito bem o seu pagamento
– E o que você quer que eu faça?
– Bom, Gromm, como você veio das ilha de Hygzil, não deve saber dos problemas do norte do mundo. Bom, os maldito do reino élfico de Urael, eles fizeram já tem um certo tempo uma imensa muralha que avança sobre os territórios de Dalrad. Graças a ela, nossos pastores não podem levar as ovelhas e bois para os pastos do vale de olöen, que são melhores no inverno e no outono– meu povo passa fome e meus exércitos não podem ser maiores que já são. A muralha é forte e bem planejada demais para que eu possa assaltá-la. É por conta disso…– foi interrompido
– É por conta disso que você quer que eu entre sorrateiramente nas muralhas e abra os portões, para que você possa entrar com seus homens e conquistar o resto, estou errado?
– Nunca esteve mais certo, meu amigo. Eu preciso que você faça isso, pois sei muito bem da habilidade dos guerreiros da tribo de Crom na arte da guerrilha e do assassinato– disse mostrando uma feia cicatriz no pescoço. Conheço além disso, pelos mercadores distantes, sua fama e sei pelo que dizem, Gromm da tribo de Crom, que de todos os Crômnios é o maior dos guerreiros e sei que é filho de Kond, o leão caído de Dâr’lian, por conta disso quero que me faça esse serviço. Ao terminar quero que toque esta corneta– falou mostrando uma enorme peça de chifre de carneiro montês, com detalhes festivos de caça e de guerra e com lâminas de ouro e prata na boca maior.
– Saiba que antes da primeira lua cheia deste mês os portões de ferro élfico já estarão abertos já estarão abertos, antes da lua cheia poderá levar teus pastores ao vale e queimar as cidade élficas que desejar– disse, guardando a imagem numa bolsa de couro de rinoceronte dada de presente por uma princesa de um dos reinos negros do sul.
– Não se esqueça que sua promessa finda daqui a dois dias– disse o rei Radurt entre gargalhadas zombeteiras.
Uma grande muralha realemente, apesar da escuridão da noite, os olhos treinados de Gromm conseguiam perceber os detalhes da muralhas. Como todas as coisas dos reinos dos elfos, era um trabalho muito bem organizado, a muralha fora trabalhado com blocos de pedra razoavelmente pequenos, porém suficiente para que fosse bem encaixados entre as camadas retilíneas de argamassa. Era alta, devia medir cerca de dez homens ou mais, seu topo era decorado por altas amuradas, que se erguiam como os pequenos dentes de uma serra.; em espaços regulares se encontravam bastiões maciços, que Gromm sabia serem conectados com os vários quartéis de guarnição que a experiência bélica dos elfos há muito usava nas suas cidadelas e muralhas. Gromm já tinha noção do que o esperava, já trabalhara quando ainda tinha quinze primaveras num forte de fronteira em Qendryl, um mercenário como tantos outros dos reinos decadentes dos elfos, agora em sua maioria mestiços com o sangue dos Homens “bárbaros”, para os quais se fechavam no último século– fato que essa muralha mostrava bem.
Observava. A cada dez minutos um sentinela passava entre um bastião e outro, trajetória cadenciada que levava por volta de trinta minutos. Sendo assim, sempre havia seis sentinelas circulando entre um bastião e outro a intervalos regulares de tempo e de espaço, tornando assim que fosse impossível escalar as muralhas sem criar um grande alarde e sem despertar a guarnição de dois bastiões, o que dava aproximadamente uns quatrocentos homens vindo por ambos os lados somente para matá-lo. Era dar a cara à tapa invadir as muralhas por suas amuradas– tinha de haver uma maneira outra maneira
Não foi preciso andar muito, a pouco mais que um estádio de distância o mercenário se deparou com um pequeno curso de água, menos de meia braça de largura a mais de cada lado e alguns metros maior em profundidade. Pela sua direção, sabia que aquela era a corrente que passava por dentro de uma das guarnições e levava seus dejetos. Como sabia que todos os homens que estavam dentro do interior da guarnição estavam dormindo, descansando para o próximo horário de ronda, sentia segurança em usar aquela rota como entrada para as muralhas.
A água era fria, típica dos dias de outono daquela região boreal. A carne se contraía de toda dor que o frio provocara, todavia Gromm era já naqueles vinte anos de vida um homem de coração duro e que já conhecera todos os artifícios que Zonkar, deus da dor, usa para se divertir às custas dos vivos. Nadava com todo o peso das malhas de ferro, da recompensa, da sua espada, do seu punhal; embora isso pesasse muito dentro d’água, ele buscava concentrar seus esforços físicos em alcançar a grade por onde o córrego deveria passar pelo interior da guarnição. Levou cerca de quinze minuto usando seu inacreditável vigor físico que só poderia ser comparada a um leão das neves, porém lá estava a grade de ferro por onde passava o córrego.
Apoiando nas grades, conseguiu erguer os dois braços para sustentar-se no pequeno apoio que havia entre a parede e a grade. Usando a força dos braços como apoio, o guerreiro começou a balançar freneticamente para que pudesse usar de suas pernas musculosas como uma espécie de aríete contra aquele obstáculo de ferro. Aos poucos, a força de seus músculos foi entortando as barras, trabalho árduo devido a resistência do material e que levava, ainda por cima, muito tempo. Ao final de uma hora, com os dentes e o resto do corpo tremendo de frio, Gromm atravessou pela grade agora escancarada.
A canalização levava diretamente, como imaginava, para o dormitório da guarnição daquele bastião. Era uma enorme sala de pedra com apoios nas paredes para sustentar as armaduras dos vários homens que estavam ali deitados, que deitavam-se em superfícies duras de madeira. Tudo ali era silêncio, exceto por um homem que se encontrava perto da água a alguns metros e que não conseguia ver Gromm por conta do escuro dentro do ambiente– recíproca que não se fazia valer por conta dos olhos lupinos do Crômnio. Por baixo da água sombria, nadou sorrateiramente, porém sempre mantendo a vista sobre o soldado que urinava ali na água. Conseguindo manter seu fôlego por um longo tempo, ficou sob a mortalha escura que era a água esperando que o homem se virasse ou desse uma oportunidade ainda melhor, situação que veio rápido quando o homem se virou de costas para a água. Com a velocidade do bote de um crocodilo, Gromm, tapou a boca do homem surpreso e jogou-o na água numa velocidade surpreendente. Lá dentro não houve luta verdadeira, pois somente bastou que fosse usado o punhal contra o pescoço do infeliz soldado. Ao erguer a cabeça, notou que não houve quem suspeitasse do ocorrido. Todos ainda dormiam.
Saiu da água gélida. Seus pés eram macios como os de um lince, evitando todos os barulhos audíveis aos débeis sentidos humanos. Sorrateiramente, passava entre os soldados adormecidos, que eram abatidos quase que sem som pela lâmina da espada fria e afiada de Gromm. Era um homem mortos depois de outro, era uma garganta depois da outra; e Gromm era que fazia isso– era o anjo da morte. Era um trabalho frio e cruel, porém isso não importava nada, se eles pudessem fariam o mesmo com ele. Sabia que essa é a lei da vida, sabia que a lei da vida era a luta e traição. Indigno? Se era indigno e imoral por que sempre existia alguém, um rei ou um nobre, que sempre pagava bom preço pelos atos pérfidos? Ele conhecia o calor da batalha, conhecia a arte do assassinato e do roubo, sabia que os heroísmos dos cavaleiros nobres de Vaníria eram valiam tanto quanto a sordidez dos assassinos das seitas de Gmel– valiam o mesmo pois em Vaníria os cavaleiros eram os mais celebrados homens, tema de baladas e canções, e os ladrões os maiores párias junto com os assassinos e as prostitutas; na mesma medida, em Gmel os assasínio era uma arte milenar e a guerra aberta era uma estupidez sem tamanho. Nada no mundo, para Gromm , era universal e uno, excetuando o Caos.
Depois de terminar o festim de sangue, ficou na lateral da porta arqueada. As suas laterais, para dar mais resistência ao arco quanto ao peso geral do bastião, se projetavam em relação a parede, criando uma reentrância perfeita na escuridão, para se esconder
– MEU DEUS! O QUE HOUVE AQUI?– gritou Gromm, fingindo ser um guarda.
Quase que imediatamente começou a se escutar, oriundo dos níveis superiores daquela torre, o som estrepitoso das botas de cobre dos soldados. Ficou escondido no lugar esperando entocado, uma aranha que somente espera que as moscas caiam na sua teia, porém as aranhas tem vida mais fácil– suas moscas não estão armadas para lutarem caso tenham oportunidade. Estava já com a espada na mão, as presas da aranha já estavam prontas para destilar a morte.
Em alguns minutos um grupo de quatro homens se encontrava ali no dormitório, em uma mão usavam um gládio e na outra empunhavam uma tocha.
– Sangue de Maur! O que diabos houve aqui?– disse um soldado sentindo um rio de sangue que passava por baixo dos seus pés e olhando uma face paralisada de terror.
– Eu falei! Vocês deviam ter me deixado em paz quando fazia o sacrifício a Tarbat– disse um homem moreno que pelo deus que adorava devia ser laqeshiano. Por conta da sua blasfêmia o deus da morte nos castiga! Estamos condenados a ser devorados pelos vermes de Tumbur pelo resto da eternidade, esse é o preço dos que desonram o deus da morte e das sombras.
– Ora, cale tua boca, cão.– respondeu um outro– alguém entrou aqui, só não sei como…
– Talvez seja algo…– respondeu o quarto
– É…– não terminou a frase. Uma faca parecia saindo de sua boca encravada, aparecendo na luz das tochas como uma língua, provocando um efeito mórbido.
– É a punição! Estamos condenados! -disse o laqeshiano em desespero. Circulou em frenesi pela sala, seus desespero o tornava um navio sem leme. Dois homens foram lá acalmá-lo
– Não seja burro! É isso que ele quer que ocorra, idiota!
– Quem quer o que?
– Idiota, há um homem aqui com certeza, não sei daonde ele veio, porém ele quer nos apavorar para matar um a um silenciosamente…
– Entendi, mas por que Turanjo não está conosco?– disse o laqeshiano
– Verme maldito!– disse o homem que havia compreendido o esquema de Gromm, virou a tocha para o local de onde vieram. Uma visão de horror se fez desnuda ante seus olhos, lá estava o corpo de Turanjo, apoiado sobre os joelhos ainda desfalecendo, decapitado e ainda tremendo em agonia.
– Saia das trevas covarde, enfrente guerreiros à moda dos guerreiros!
– Claro!– respondeu uma voz a pouco mais de dois metros,.
Num átimo, o brilho frio da espada surgia, rápido como um raio. O homem que o desafiara caíra com uma forte estocada no peito.
–onde estão os guerreiros cheios de honra? Disse olhando para as caras apavoradas dos dois restantes. Aqueles homens olhavam uma criatura musculosa, dava para ver pelo destaque do peitoral na base da manta que usava e pelas vigas de aço que eram seus braços, olhavam um sorriso sardônico que somente causava mais medo, e cabelos tão loiros que eram prateados que moldavam a expressão indiferente daqueles olhos acinzentados. Em suas mentes, eles estavam olhando para algum demônio dos abismos da danação, um avatar do deus da morte, o próprio deus da morte! Mas não sabiam aqueles era simplesmente o mortal Gromm da tribo de Crom.
– Vamos, covardes, vou lhes dar a vantagem da iniciativa
Uma Lâmina veio horizontalmente na direção de seu pescoço pela direita. Uma estocada vinha na sua direção. Recuou para trás, para baixo e para a esquerda; movimento hábil e bem calculado. Agora a estocada não o alcança e ainda há tempo para que possa atacar o que lhe tentou golpear pela direita. Um soco rápido de seu punho maciço e calejado acerta direto as têmporas do infeliz laqeshiano, que caiu inconsciente. Um novo golpe vindo do outro homem, agora por cima e acompanhado por um berro; a espada fora aparada com um ressoar metálico, Gromm chuta o outro na barriga. O homem cai no chão. Gromm trava o braço do homem que empunha a espada.
– Onde está a alavanca que abre os portões? Perguntou aproximando o rosto a pouco mais que um centímetro do adversário. Sentia todo o cheiro de seu suor apavorado, todo o cheiro de seu sangue covarde.– responda agora, diabo?!
– Na guarnição diretamente atrás dos portões. Mas pode desistir, brutamontes, você não conseguirá. Nunca conseguirá! Ha-haha! Ninguém jamais conseguiu matar Ulur-Kay haha!
– Ulur-Kay? Gromm já havia conhecido aquele nome de algum lugar.– quem é esse maldito?
– É o maior Mercenário Troll de todos os que se conhece. Tem quatro metros de altura, usa uma espada enorme forjada nas caldeiras mais sombrias das cavernas dos trolls. Você deve conhecê-lo, ele comandou as tropas dos homens de Boranda no cerco de Danpária
Nesse momento, gromm tremeu com um calafrio que percorreu-lhe a espinha. Lembrou-se agora a origem da sua memória vaga quanto a Ulur-Kay. O cerco de Danpária era ainda lembrada como o maior ato de selvageria que qualquer dos reinos já foi capaz de promover. Boranda há muito que lutava contra cidade insurgente de Danpária, cidade situada sobre um planalto com uma única passagem possível senão aquela que dava para seu imenso porto cheia de cidadelas, era inexpugnável sem se realizar um assalto pois sempre teria provisões do exterior, por ser o único porto de Boranda não temia os cercos. Depois de Vinte anos de assaltos fracassados, o rei de Boranda contratou esse troll para empreender o assalto. Por estratégias que Gromm esquecera, Ulur-Kay guiou toda uma turba de mercenários por sobre as muralhas e portão da urbe rebelada. O resultado foi funesto para a cidade, quem era encontrado pelos mercenários era empalado sumariamente sobre as muralhas e pelas ruas, somente dez pessoas sobreviveram e sem nenhum pertence para dizer ser seu. A cidade tinha cem mil habitantes.
Depois disso, Gromm matou o homem.
No terraço da torre de defesa havia um arqueiro, rondava sempre olhando para as fronteiras além das terras bárbaras do norte. Fazia isso agora mecanicamente pois não havia bárbaro que fosse estúpido o suficiente para tentar assaltar as muralhas. Ele pensava nisso quando sentiu um poderoso estalo no pescoço. Depois disso não pensou ou sentiu mais nada.
Gromm pegou do arco. Seus olhos viam agora seis sentinelas circulando naquela seção da muralha. Mirou com toda a força para que atingisse o homem mais atrás de todos e assim sucessivamente, com uma saraivada estarrecedora. Em menos de um minuto todos estavam mortos.
Agora vinha o resto de seu plano. Usando de suas mãos habilidosas, foi descendo pelas paredes pétreas da muralha. No solo já, caminhava próximo as paredes ao modo de uma sombra. Seus pés macios evitavam que seus passos fossem ouvidos, apesar da velocidade com que corria. Corria pois tinha noção que já não faltavam muito para que descobrissem a sua presença, fazendo com que uma torrente de guardas estivesse circulando por ali. Recriminou-se por não ter pego o uniforme de um dos sentinelas, porém era tempo de pensar no fato presente e não no erro passado. Continuou correndo, somente pensando no como romper os portões guardados por Ulur-Kay
Já via ao aspecto maciço do portão, uma enorme estrutura, tão alta quanto uma torre, feita de pedras maiores e sustentada por inúmeros suportes de concreto. No topo, podia ver uma figura gigantesca que trazia nas mãos arma também enorme– Ulur-Kay, era lá que estava a alavanca!
No alto das muralhas os ecos apavorados dos sentinelas do reino de Urael circulavam e não faltaria muito para que passassem a circular por todos os lados procurando o diabo que fez aquilo. Passou a andar mais rápido. As paredes do portão já estavam próximas
Da mesma maneira que desceu os muros subiu pelas paredes da estrutura do portão. Suas mãos braços e pernas pulsavam como um coração devido a todo o sangue que corria por eles naquele momento, porém isso não importava, gostava de fazer as coisas bem feitas e gostava do prazer que o perigo proporcionava. Subia as paredes usando as mãos, os vãos ´pequenos entre a pedra e a argamassa já lhe valiam muita coisa, apesar da incrível dor na ponta dos dedos.
Seus pés e mãos tocaram suavemente o chão, era um fantasma de guerreiro que assombrava a noite do norte. A sua frente, um enorme vulto de costas para sua figura. Buscou se aproximar lentamente, usava o punhal, os passos eram sutis. Ia pular nas costas dele e cortar a garganta. Já estava quase lá. Quase, pois na última hora uma bofetada esmagadora o atingira
– Achou que eu não te veria, Gromm Erfellen? Disse uma voz, profunda como um mausoléu
Gromm caiu, a pouco centímetros de despencar todos aqueles metros abaixo, coisa que nenhum homem era apto a sobreviver. A força do golpe somente fez menos estragos em virtude de toda a sua musculatura rija que protegia os ossos.
Aquele troll era monumental. Os braços fortes e as mãos desproporcionais, apresentavam uma força além do normal para sua raça, sua pele era cinza e escamosa. As pernas eram grandes o suficiente para uma carreira poderosa. Sua face era horrível, as narinas eram diretamente ligadas aos ossos do faciais, os olhos enormes e saltados, a boca exibia presas disformes, seu corpo era protegido por uma espessa armadura de placas de aço. Aquele monstro não seria vencido só com astúcia.
– Realmente esperava menos de um troll.– disse com seu sorriso
– É muito insolente, verme,– disse erguendo uma espada ciclópica com milhares de serras na parte da frente– vou te ensinar a respeitar o general que derrotou Danpária
Foi rápido. Num segundo, já estava correndo furioso contra o guerreiro. Soltava um ululo abismal e grotesco, sua espada dançando no ar em movimento perigosos. No último instante, direcionou o golpe para as pernas de Gromm, que desviou com um pulo felino. Esquivou-se da lâmina, contudo não pode escapar da mão enorme Ulur-Kay
– Vou esmagar teus ossos, cão, darei tua carne aos corvos e comerei teu coração para ter mais força– disse o monstro, apertando cada vez mais Gromm. Este conseguiu mexer um pouco as mãos e lançar o punhal contra um dedo do pé do troll, que o lançou contra o chão urrando de dor.
– Vai ter de fazer melhor que isso, monstro– disse empunhando a espada. Saltou, a espada mirando com a ponta pra baixo– o dente metálico de uma boca invisível. O salto era enorme, guiado por instintos selvagens que venciam o cansaço, almejava a cabeça da aberração, que apesar do tamanho conseguiu se desviar com demasiada facilidade. Quando tocou a superfície de pedra a espada se quebrou
– Sua cova está sendo cavada, Gromm filho de Kond– gargalhando dizia o troll
Sua espada deveria cair no meio do guerreiro, todavia somente se Gromm não fosse tão ágil. Ele se esquivava, um obstáculo que estava entre o chão e a espada grotesca. O troll ignorava tudo no caminho, possuído pela fúria de sua raça. Não é possível dizer que gromm não sofreu arranhões da lâmina que lhe arrancou finos pedaços de pele, liberando uma dor insuportável
Num dado instante, gromm se aproximou de uns pequenos pedaços de brasa que ainda brilhavam com vigor. Foi no exato momento que se tocou que estava encurralado e a lâmina de Ulur-Kay estava se preparando para o golpe final. No desespero, pegou as brasas flamantes e atirou contra os olhos daquela coisa hedionda. O troll urrou em agonia entre gritos de “meus olhos! Meus olhos!”. Era essa a oportunidade que Gromm tanto esperava.
Pegou o punhal. Num átimo, saltou contra o pescoço exposto do troll em agonia e lá enterrou a lâmina. O sangue grosso da criatura escorreu pela lâmina com fartura, fruto do rompimento de uma veia. Não custou muito e aquele gigante estava tombado no chão dando seu último suspiro.
abriu o portão da muralha, estava exausto. Tocou a corneta, um eco poderoso como o grito de um deus se fez espalhar pelo espaço do manto da noite. Nada aconteceu. Ouviu os passos de soldados que vinham na sua direção, sentia que a morte estava por vir. Se fosse morrer, daria um presente aos soldados. usando a força que podia partiu a alavanca, aquela muralha estaria para sempre aberta. Deixou a cabeça do troll bem na entrada daquele nível, uma demonstração, não muito verdadeira no momento, do que era capaz de fazer. Ficou ali esperando. Os homens, subiam, subiam e subiam-demoraram uns cinco minutos pra subir. Quando olharam a cabeça de Ulur-Kay o topo da escada, recepção mórbida. Ficaram pensando se deveriam ou não atacar aquela figura mortal, de cabelos na verdade de platina e olhos cinza. Ficaram discutindo, mesmo vendo-se explícito cansaço. Quando decidiram o que fazer era tarde demais, os gritos dos homens da tribo de Dalrad já estavam muito próximos. Eles desceram pra defender o portão
Toda a energia que podia usar foram usadas somente com um pensamento– fugir. Cravou os dedos nos vãos entre as pedras do portão. Descia com os músculos falhando já. Quando chegou ao chão e começou a fugir, somente os sons da ópera da guerra vinham d’além das suas costas.