COMPULSÃO
Trazia numa sacola histórias de todos os olhares da minha vida, mas em alguns momentos simplesmente coloquei suas alças penduradas num desses negócios que se coloca coisas e que me foge o nome agora. Seria mancebo?
Uma coisa que me atingia de quando em vez e assim permanecia quase fora de mim; pois que era uma mulher que ao pertencer tanto às palavras, delas queria se desvencilhar; tudo por não saber onde colocar a liberdade de pensamentos que delas emanavam.
Assim, durante anos, a sacola de letras ficou a espera dessa pessoa que não brotava mais de dentro de mim...e nessa demora, ali no hall de entrada da minha paciência, fui bordando outras histórias de silêncio, de mudez, de profunda timidez, diante da descida imensa e sem freios que a saudade das palavras me causavam.
Mas naquela noite, não tanto pelos papéis...mais pela história muito triste que se desenhava embaixo dos meus cabelos; direto corri para a sacola pendurada. Como uma ânsia que pede pressa...nem um segundo a mais. Puxei, ofegante.
- Por favor, preciso das palavras que estão aí dentro de você!
- Todas que estão aqui são suas. Você as criou e as esqueceu.
- Tive medo do que seriam enquanto as juntava.
- Medo da grandeza e da emoção das histórias?
- Não. Medo de não viver sem elas. De ser submissa. Mulher que
nunca fui na vida.
Assim, sem terminar o diálogo, abaixei-me rapidamente sobre o tapete e virei a sacola em cima de todos os móveis, de todas as cores e da falta de tons dos descascados buracos na parede...virei as palavras guardadas por tanto tempo, em cima de tudo que me rodeava, até mergulhar por todas elas, nadar sobre elas...sem uma raia, sem um percurso, um prêmio.
Apenas e tão somente, já não sabia o sabor da simbiose...
se era eu, histórias sem fim....
ou se eram as histórias, um eu em mim.