AMOR PUNGENTE

O campo no inverno ficava cinza com a desfolhagem provocada no outono, mas mesmo assim era aconchegante ficar observando o céu e toda aquela paisagem insólita. Entrava-se em um transe, diante de cada acontecimento inusitado naquela visão magnífica.

E observando tudo ao redor, víamos coisas muito interessantes acontecer. Uma delas foi uma bela história de amor e entrega.

Rosa nasceu bela e desde pequena recebera muito carinho de todos, crescendo cada vez mais linda. Tão logo cresceu para a vida, floresceu, sendo então desejada por muitos. A beleza de Rosa era motivo para desavenças entre amigos e até mesmo entre parentes.

Não havia um sequer, que não sonhava em ter Rosa a seu lado. Todos queriam sentir o perfume de sua candura, o toque macio de sua pele. Muitos eram os que desejavam Rosa, para que fossem invejados, só pelo fato de tê-la às mãos.

Mas dentre todos, existia somente um, que verdadeiramente amava Rosa e que tudo faria para conquistá-la. Se o vento ao soprar a incomodasse, ele se punha em frente ao caminho; se a chuva principiasse, ele fazia-lhe cobertura; no sol quente era-lhe a sombra e se Rosa tivesse sede, ele lhe dava, em um copo alvo, toda a água que guardara para si.

Lírio era um romântico incondicional e seu amor por Rosa estava a olhos vistos. Mas os sentimentos dela é que não pareciam tão puros, como os dele. Diversas vezes, diante das gentilezas e galanteios dele, ela o olhava imponente, de cima para baixo, como se fosse uma rainha e Lírio, tão somente um plebeu do campo. Só que, em todos os cantos do mundo, ninguém se vestia de forma mais majestosa quanto ele.

Quantas vezes ele, em sua simplicidade, se curvara ante a beleza dela. Assim era o amor que Lírio tinha por sua idolatrada Rosa. E por causa desse amor ele padeceu, recebendo dela constantes desprezos, misturados com as pungências e espinhadelas . As intempéries da vida fizeram com que Lírio se destruísse, em razão desse amor.

Chuva torrencial, um aguaceiro caindo e sem dúvida, seriam dias de tormentas e nada se salvaria sem eu houvesse alguém ao seu lado. Melhor serem dois, do que um.

O desespero de Rosa a fazia ir de um lado ao outro, Lírio tentava protegê-la e ela só lhe retribuía dando-lhe sopapos. Aos solavancos da atitude dela, o amor de Lírio aumentava e a cada espinho cravado em sua pele, por Rosa, ele se enamorava mais ainda.

A água da tormenta subia, já encobrindo os pés e uma ventania soprava cada vez mais forte. Lírio viu-se prestes a perder seu amor e já se inclinava à certeza da morte. E ali ele se entregou à totalidade de seus sentimentos. Delicadamente, pôs-se frente à Rosa e inclinou-se, como se dissesse:

“_ Salva-te Amor meu, que eu morrerei por ti, se assim for preciso. Peço-te apenas, que de mim tu te lembres, levando-me em teu coração pelo resto de tua vida!”

Aos poucos a água cobriu Lírio e Rosa escorou-se nele, salvando-se da tempestade diluvial.

Lírio deu seu último suspiro, sentindo o perfume de sua amada. Ela, apesar do sacrifício dela, em nada se comoveu. Afinal de contas, Rosa era “rainha”.

O tempo passou, Rosa envelheceu, sua beleza de desfez, nenhum galanteador e desejava mais e a seus pés, apenas um espaço vago, deixado em memória de um Lírio, que a amou até a morte.

Aos poucos o jardim pôde ser replantado com Crisântemos e Hortênsias, Cravos e Begônias, Gerânios e Margaridas. Novos amores aconteceram, outras história em outros tempos, mas nenhuma foi tão significativa quanto “ O Lírio e a Rosa”.