QUANTOS MUNDOS HÁ ENTRE NÓS?
No início dos tempos civilizados, quando os idosos eram respeitados e tidos como sábios, vivia um menino muito malvado.
Habitava uma pequenina casa no meio de um campo muito grande.
O jovem não conseguia ver e nem perceber as coisas lindas que a natureza lhe mostrava diariamente.
As flores, com seus perfumes extraordinários, eram pisoteadas e machucadas pelo passar de suas correrias atrás de belos pássaros cantadores os quais serviam de alvo para suas pedradas maldosas e exterminadoras.
Os animais silvestres, lebres, tatus e capivaras eram caçados impiedosamente.
O menino divertia-se com a maldade que praticava.
Tudo perfeita ignorância!
Certo dia, belo e ensolarado, caminhando pelo campo, encontrou um velho de longas barbas brancas que, dirigindo a palavra perguntou-Ihe:
- “ Tu és aquele menino que costuma matar os pássaros com tua certeira pontaria? Aquele que prende os animais em armadilhas para tirar-Ihes a vida? O mesmo que destrói as flores e plantas por onde passa? “
- Sim, sou eu mesmo. Por quê?
Com toda a sua sabedoria o velho senhor lhe disse:
- “Menino! Não percebemos, muitas vezes, quantos mundos existem ao nosso redor. Existe, por exemplo, o mundo do silêncio onde vivem os surdos.
Existe; também, o mundo da escuridão onde habitam os cegos.
Existe o mundo das fantasias onde estão os excepcionais.
Dentre todos estes, existe o nosso mundo, que congrega as pessoas fisicamente perfeitas, porém, nem sempre nossa sensibilidade nos deixa perceber as belezas da vida.
Não conseguimos ver a bondade, o amor e o carinho tanto quanto os cegos que vêem através de seus corações.
Não conseguimos ouvir a voz da solidariedade tanto quanto os surdos quando recebem auxílio para aprender a se comunicar.
Não podemos flutuar no mundo das fantasias tanto quanto o fazem os excepcionais, de forma tão singela e singular.
Em outros mundos, as virtudes dos homens são percebidas com maior facilidade,
pois dentro deles vivem pessoas sem vícios e sem maldade; Seres humanos com deficiências físicas, mas, em sua maioria com extrema pureza.
Pobre de nós! Somos tão belos e perfeitos de aparência e não conseguimos, muitas vezes, cultivar as grandes virtudes por não vê-Ias, por não senti-Ias ou por não percebê-Ias. Pior, ainda, são aqueles que embora vejam o que lhes rodeia, não enxergam a beleza da natureza e procuram destruí-Ia por sua ignorância e falta de sensibilidade.
A cada um de nós cabe a livre escolha de gestos e atitudes, por isso, busca dentro de ti o mais belo dos mundos cujo Grande Mestre é a tua consciência.
Deus está por ela representado a todo o momento e certamente estará através dela
analisando teus atos.
Procure a cultivar tuas virtudes e despojar-te de teus vícios, pois desta forma estarás aprimorando tua sensibilidade, tantas vezes deixada de lado nos momentos mais precisos. Desbasta as asperezas que existe no teu interior. Faze tudo com amor e carinho.
Quando alcançares a pureza de teu ser, com certeza, perceberás e darás valor aos tantos mundos que existem entre nós.
Com estas palavras sábias o velho senhor afastou-se daquele menino que deste momento em diante, recebeu a iluminação Divina em seu coração e transformou-se, como num passe de mágica, no mais zeloso por tudo que o rodeava.
Passou a amar as flores, as plantas, os animais e todas as coisas da natureza. Melhor, ainda, percebeu o quão belo é viver em paz com o mundo e com sua consciência.
Do livro Crônicas, Contos e Poesias" editado pela Editora e Gráfica Universitária da UFPel em 2007, lançado na 35ª Feira do Livro de Pelotas/Rs