ELA E O CAMPO
Ela corria livre pelos campos, parecia voar como uma ave campineira, demonstrava tanta alegria e como criança ia buscar seus sonhos em seu caminho.
Como podia ser tão feliz, no pouco tempo em que passeava por aquele local?
Talvez soubesse a importância de cada minuto vivido em plenitude em sua vida.
E nessa plenitude, ela conseguia ser tão bela, tão feliz, que transmitia a verdadeira paz aos que a observavam por alguns longos instantes.
O campo e Ela se completavam, eram uma única realidade, um único ser, completo por todos os seus instintos. O mundo era Ela, Ela era o mundo.
Por tantas vezes contemplei aquela figura angelical, que me sentia como parte daquela paisagem. E como espectador inerte aos fatos, a vi amadurecer.
Cresceu, viveu, virou mulher e mesmo assim, nunca deixou a infância de lado, indo correr pelas planícies, como sempre fazia quando criança.
E vendo isto, ao longe, percebi que aquela mulher havia ganho o mundo quando menina e que já tinha passado pela vida e por tudo que nos é oferecido em nosso destino.
Amava ficar ali observando, por longas tardes, a criatura que alegrava a todos que viam passear, pular e brincar com a natureza. Queria tanto ter em meu viver, metade daquela alegria, que ela sentia.
Ela foi, em todo o tempo, o grande amor de tantos que viram seu jeito alegre de viver.
Um dia, como muitos outros, sentei ali nos prados e como as pessoas, fiquei a esperá-la para furtivamente participar da sua felicidade.
Mas... algo estava estranho, faltava um brilho no ar.
De repente as aves se aninharam, o vento parou, o dia que era de sol, nublou. As gotas da chuva começaram a cair, como se o mundo chorasse naquele instante. E todos que viram a menina crescer, com imensa dor saíram, também compartilhando do pranto que se iniciou naquele campo.
Fiquei ali, sozinho, sem entender donde vinha tamanha tristeza, sem saber o porquê do choro que surgia em minh’alma. Permaneci durante horas de cabeça baixa, contido num pranto sem razão.
Sentia a chuva e quando ergui o rosto, vi aquela mulher tornar-se criança e em meio ao temporal desaparecer ante meus olhos. Soube o que acontecera naquele segundo, entendi então a razão da natureza chorar, do mundo prantear tão dolorosamente naquele dia.
Ela morreu!
A menina-mulher partiu. Já tinha vivido a sua vida e trouxe a muitos uma felicidade, que nenhum dos que a viram sentira por outros motivos.
Ela morreu, mas ensinou a todos que a vida é a felicidade do hoje e que amanhã é outro dia a ser vivido.
Voltei àquele campo noutras vezes e vi aquele quadro, sem a menina e senti novamente a alegria que ela tinha no rosto espalhada pelas flores, cantada pelas aves e brilhando no sol. Percebi então que a menina nunca saíra dali. Ela sempre foi parte daquele lugar.
Pude então ser feliz, de novo!