Geb - Capítulo X

CONEXÕES

O caminho era longo e ele andava devagar sem destino. O corpo estava cada vez mais fraco, olhos fundos e pele pálida. O cansaço o consumia minuto a minuto.

- Tenho que pensar... – resmungava em tom baixo a si mesmo. - Tenho que arrumar um jeito de pegar a maleta de novo.

Passos frágeis, o jovem ia escorregando pela terra sob o sol já intenso. Caia de vez em vez e levantava-se com dificuldade olhando o horizonte trêmulo, formando miragens na mente confusa do pobre rapaz.

Um vento fresco se fazia presente e balançava os fios do cabelo embaraçado do jovem e ele transpirava de uma forma inigualável.

O sol lhe queimava a pele, já não tão protegida por suas roupas maltrapilhas. Ele já não mais podia resistir, a fome lhe perturbava há tempos e a fraqueza já lhe tomara por completo. Parou no meio do caminho colocando as mãos sobre os joelhos e olhou o caminho à sua frente. Perguntou-se no mesmo instante aonde iria e abaixou a cabeça tentando buscar inspiração para continuar.

- Minha Dara... – balbuciou ofegante.

Levantou-se devagar e continuou a caminhada sem rumo. Passo a passo ainda se arrastava pela estrada de terra.

***

As irmãs Flidias andavam apressadas. Nira resmungava para Kimari algumas coisas e Iumbad ia à frente com seu cajado na mão. Kimari segurava a pasta negra.

- Vamos meninas, apressem-se. Não temos a vida toda!

Kimari estava estranha naquele momento, o olhar perdido não dava atenção aos resmungos de Nira nem as observações de Iumbad.

- Que foi minha irmã?

- Nada Nira!!! – disse em tom intenso.

Iumbad parou no mesmo instante, olhou para trás e deu alguns passos até Kimari.

- Então você está ai não é? O que você está querendo senhora Doralice, esse seu nome?

Nira voltou alguns passos e se assustando deixou sua face mostrar o desespero.

Kimari com um ar zombador abaixou a cabeça e soltou um sorriso insinuante

- Estou apenas observando o movimento Iumbad. E vejo que já sabe meu nome...

No mesmo momento Iumbad abre seu cajado e retira um pedra jogando com toda força sobre Kimari, que caí sobre o chão de terra vermelha.

- Kimari... – grita Nira indo ao seu encontro. – O que você fez seu velho mald...

- Você não ouse dizer palavras vãs Flidia. Você sabe muito bem que não era Kimari aqui. Você ouviu muito bem... Então cale-se e espere sua irmã voltar. Logo teremos que ir. Yerush já deve estar a caminho, temos que chegar pelo outro lado e cercar a velha.

Nira deixou algumas lágrimas caírem e olhando para Iumbad perguntou mais calma.

- O que você jogou nela, na Kimari?

- Uma pedra com feitiços. Ela desliga o corpo da alma assim como faz a alma voltar ao corpo. Na verdade não era para ter jogado, eu deveria apenas encostar no centro espiritual de Kimari, que fica entre seus olhos, mas eu precisava agir rápido. Por sorte consegui.

Nira segurava a irmã nos braços e ali ela permanecia.

***

O jovem permanecia cansado e caminhava vagarosamente. Olhou o céu com angustia. A fome já o consumira por completo e ele não tinha mais forças para sequer dar um passo. Caiu sobre o chão deixando um suspiro levantar mais um pouco de poeira. Levantou os olhos para a sua frente e não agüentou. O desmaio foi inevitável.

***

- Ela acordou! – entusiasmou-se Nira.

- Então vamos continuar nossa caminhada. – Disse Iumbad levantando-se.

Kimari abriu os olhos com leveza e apoiando no chão levantou o corpo permanecendo sentada.

- O que houve? – perguntou Kimari.

Nira olhou para o velho e abaixou a cabeça.

- Doralice entrou em seu corpo Flidia... – disse o velho.

- Doralice? Quem é Doralice? – perguntou Kimari

O velho sorriu e virou-se para as irmãs.

- Vocês querem lutar e nem sabem o nome de sua inimiga.

Kimari levantou no mesmo momento sentindo o ar de sarcasmo de Iumbad.

- E como você sabe?

Ele apenas virou-se dando alguns passo pelo caminho à frente.

- Vocês têm os seus poderes... e eu tenho os meus.

Voltaram a caminhar e agora Nira levava a pasta em seus braços sentindo assim mais proteção para aquele objeto.

Andaram por um bom tempo sentindo ora a brisa em suas faces, ora o sol queimando a pele.

- O que é aquilo? – apontou Nira à frente de seu caminho.

Iumbad nada disse, apenas continuou a caminhar na mesma direção do que chamara a atenção de Nira.

Kimari franzia a testa com curiosidade e ao se aproximar olhou com atenção para a face do jovem. Sentiu em si o coração pulsar e perguntava-se quem seria.

- Ei... jovem. Acorde. – Iumbad dizia mexendo nos ombros do garoto.

Vamos Flidias, ele não vai acordar tão cedo.

Kimari abaixou e passou as mãos sob a face do jovem. Sua feição tornou-se leve naquele instante e reluzia algo jamais visto naqueles olhos. Nira olhou-a e estranhou a reação da irmã.

- Vamos Kimari.

- Não posso deixá-lo aqui.

Ela então levantou-se e olhou a mata que estava ao seu lado.

- Órnio. Venha meu fiel companheiro.

Surge da mata o unicórnio de Kimari, que a acompanhava onde quer que ela fosse.

- Nira, me ajude a colocá-lo no Órnio.

Colocando o jovem no lombo do Unicórnio Kimari deu as instruções ao animal.

- Leve-o para um lugar seguro. De preferência para o vale.

Eis que sai o Unicórnio a galopar mata a dentro.

Eis que saem as Flidias e Iumbad continuando a caminhada já iniciada.

***

Lá estava frente ao riacho Dara olhando os pés debaixo da água com olhar pensativo.

- Ei... psiu. Menina Dara! ...

Dara olhou para o canto e viu uma intensa luz. Deixou os olhos semi abertos e sentiu o coração disparar.

- Quem está ai?

Apenas um sorriso soou no ambiente naquele momento.

Continua...