Tempo de guerra
Tempo de guerra
(Fernando)
Adeus amigo Lucas, mas lembra do que você me prometeu.
Que seguiria o caminho de Deus.
Pois a felicidade do diabo é nunca
Respira o ar de novo, o ar dos vivos!
Água de fonte cede, pra secar.
(Lucas)
Só sinto o gosto de sangue
Do golpe que lhe atrevessei os pulmões
E azedou sua língua,
Por isso não consigo me perdoar.
Razão que me fez pensar em matar.
(Fernando)
Chora e deixe as lagrima caírem no chão,
Que meus ombros estão fracos.
Lamente apenas se não caminhar
E sair desse piso fino da culpa.
Tenho que ir, e você fica para se perdoar.
(Lucas)
É loucura a me enganar,
É morte a me julgar,
É flor sem sol para o dia raiar.
(Coro)
Nesse tempo de guerra guerrear,
Matar! Matar! Matar!
Homens das nações.
Sangrar! Sangrar! Sangrar!
Mulheres de corações.
(Lucas)
E essa dor que ainda me faz amar.
A bandeira nacional em punho mastro
As espadas faiscantes da soberania
Na motivação de um dia eterno,
Subi até pico de um monte
Pra vê o mundo rastejante.
Os terceiros caíram no juízo, e morreram.
Deixei-me vacilar nos trilhos da estrada ao longe
Sofri as quatro estações, e andei pelos cantos.
Sofri os delírios do deserto,
O reflexo das águas,
E a imaginação dos sonhos.
Sangrando a carne, sangue!
Noites condensadas de véu sereno
Vento que sopra do norte.
(Coro)
Morrera pelo amor da donzela.
Se a traição da sorte
Convencer-te a vencer
Os passos que lhe tiram do chão.
Sabes quem é ela?
Morrerás por ela?
Pátria ou o amor dela?
II
Sentou-se numa pedra fria,
Que parecia ser apenas pedra
Levantou e pegou na mão
Sem que a reação,
Fosse o medo da irá
Sentiu que seu mundo estava ali.
(Lucas)
Terra prometida de minha mãe
Minha esposa, minha amada.
A abadia levou a espada.
Não poderei mais te proteger
Do começo da eternidade num acaso das nuvens
Entre castelos e tempestades,
Dos ventos que derrubam moinhos
Que trituram o único grão
De trigo que semeia a terra
Nesse campo vasto de solidão.
Minha amada, minha esposa.
Sentirás dor na imagem da abadia
A repentina destruição em massa.
Galhos podres derrubam frutos
A serpente estar no galho solto em alto mar,
Águas invadiram lares límpidos
Pra corromper mulheres a ganância,
Crianças a suprema vida real
E homens ao suicídio moral.
III
Subiu novamente o mesmo monte
Foi quando conheceu num grito
Estridente ao ouvido dos porcos.
A vitória satisfeita dos homens,
As tropas dos cães invadiram o vilarejo,
Com ódio dos dragões de fogo
Destruindo as matas,
Desfazendo as estradas do amor.
As corujas cobriram os olhos
Os espíritos vagavam
As cartas eram tristes,
Nas paginas do destino.
O mistério do motivo
Que só os documentos provam.
(Gabriela)
Se as lagrimas não caem
Foi o destino das águas
Por hora, saudade, da alma.
Os olhos inebriados vêem, sabem!
As palavras saem...
O mundo é inteiro lá fora,
O meu desejo te chora
Quando você partiu.
Com um intenso labor
O monte é alto, e todos estão por ti.
Venha ver o povo te aclamando.
(Lucas)
Eu já tinha subido essa montanha
E no topo onde estou,
É apenas essa pequena pedra solta.
E que meu arrependimento caiba nela
O resto da montanha seja, meus pecados
Dos arrependimentos febris.
Sei que os homens me julgaram
Pelo um único ato, que convém a esperança.
Não lembrarão mais dos campos
Que devastei, do trigo que lhe tirei.
Pois eles vivem de esperança
Só me prometa uma vez,
Contará tudo a eles
Por tudo que agente já passou.
IV
Antes que a Gabriela possa responder
Foi criando espaço, entre as pedras,
E relaxando entre os rebuliços
Do vilarejo que lhe avivava,
Com as rezas para o santo local
E os olhos se fecharam tristes
E seu sangue feneceu por toda a montanha.
(Coro)
Eu te avisei que o arrependimento
Iria chegar como chega para todos nós.
Quando o inverno passar e o sol aquecerem a nevoa,
Quando o dragão se esconder,
Desse sentimento que te dói.
E as pedras são intensamente vivas
De sangue e de homens como você.
Saiba que esse sentimento inútil, sempre vem,
No leito de morte, mas vem...
V
Três pássaros encantados cantaram melodias.
Próximos ao corpo de Lucas,
E os seus pulmões encheram-se de ar,
Suas veias de sangue, e seus olhos de vida.
Num susto frenético da volta.
O pássaro de cor vermelha
Beliscou seus lábios tirando um pedaço
O pássaro de cor branca
Aspirou um pouco de ar de seus pulmões
O pássaro de cor azul claro
Sugou sua língua bebendo sua saliva
Assim Lucas inebriado se levantou
E feneceu logo depois
A dor era insuportável, o peso era incalculável!
Enquanto os pássaros
Voavam espalhando sua matéria
Para o povo mundano
Para que servisse como arrependimento
Dos homens que tem culpa.
(Coro)
O peso da culpa ainda te sufoca
O perdão não veio tragédia de culpa.
É sofreguidão do imperdoável
Que culpa é essas que tem?
Amigo da pátria amada?
Amada que deixou na solidão?
Ou amigo que deixou no chão?
VI
Uma rosa branca nasceu entre as pedras
Adubado pelo seu corpo e sangue fedido
Foi assim que novamente abriu os olhos
Para o mundo num sol imenso forte alto.
(Lucas)
O clarão que era tão forte
Logo se apagou em trevas
A humanidade vestiu as roupas
Militares onde as marcas
Ainda lembraram da situação.
E um coturno esmagou-me
E quando o mundo girou,
O solo afundou,
No ar espalhou-se em fumaça
Morte das crianças em massa
Foi quando a primavera acabou.