A história da Teresa Ok

A história da Teresa

Eram dez horas da manhã de uma segunda feira qualquer, dentre tantas do calendário de 2007. Num verão tedioso que produziu tufões, chuvas, muitas chuvas até de granizo na serra, mas, pouco calor e sol irradiando nas praias de mar em tonalidade marron-esverdeadas dos terríveis três meses de verão de Porto Alegre. Era fevereiro, um maldito e cansativo fevereiro para os não praieiros de plantão. Quando vi uma mulher morena, jovem com roupas simples, porém, delicadas e de boa qualidade, com mais ou menos quarenta anos, estava sentada nos muros de proteção de uma parada de ônibus do bairro Partenon. Possuía um olhar perdido, mirava intensamente o nada. Havia um poço de silêncios naquele olhar verde apreciando um horizonte que ninguém conseguia enxergar ou entender o que acontecia.

Eu fiquei fascinado com a imagem daquela mulher, pois ela não se ajustava a uma parada de ônibus, num bairro simples de classe média baixa. Ainda mais sentada nos muros, admirando os carros passarem sem se importar com olhares que suscitava em todos os passantes. Meu lado escritor se acendeu, fui me aproximando dela na tentativa de obter algumas informações ou quem sabe a história toda com alguma sorte. Ela me olhou indiferente, ensaiou um sorriso e seguiu com o ar perdido e meio abobalhado fixando um nada direcionado para a velocidade dos carros que passavam. Senti medo! Afinal, ela poderia se matar ali. Era ponto estratégico onde a mulher estava e não havia ninguém próximo a ela. Entretanto, não aconteceu nada. A bela mulher se levantou e atravessou a rua calmamente como uma criança que mede os passos para não errar.

Dormi naquela noite quente angustiado, esperando o dia clarear para ir à busca da morena. Caminhei pela Rua Bento Gonçalves durante uma semana e nada da dama atormentada. Minha cara metade estava irritadiça e cansada da minha mania obsessiva de procurar certa mulher da parada de ônibus. Até que tive a ideia de procurar um velho amigo que morava por aquelas bandas e descrever a tal morena de olhos verdes e assim obter algumas informações. Depois de muito conversa fiada e enrolação, pois o cara era um chato de galocha, consegui algumas informações. Ele me disse que a moça havia morado durante algum tempo naquele bairro, porém, após o casamento, fora embora. Mas, de vez em quando, a Teca esse era o seu apelido, retornava para assistir a Missa aos domingos na Igreja São Jorge.

Lá fui eu, naquele calor, às missas dominicais com todo o meu ateísmo. Foi muito difícil sentar e levantar durante duas horas ouvindo um discurso religioso cheio de metáforas incompreensíveis em que o único objetivo era fazer uma lavagem cerebral nas pessoas. Depois de três missas, estava saturado de tanta reza, pensando que nenhuma história merece tanto sacrifício, também havia minha mulher me atormentando, querendo atenção e berrando aos quatro ventos que eu tinha outra mulher. Distraidamente, saia da última missa desejando matar o padre e suas parábolas emproadas, quando a vi nos últimos bancos da igreja, ela. Vestia um vestido vermelho decotado, frente única, estava uma pele morena suavemente bronzeada e uns olhos tão verdes que acabavam com as certezas de qualquer um Até comecei a gostar das missas.

Teresa me olhou interrogativamente com um leve sinal de reconhecimento, fixei os olhos intensamente, pois era impossível não olhá-la, tanto pela beleza indecente como pela estranheza que a sua figura causava naquele ambiente sacro. Fui saindo da igreja lentamente para ver se ela fazia algum sinal pra eu me aproximar dela, mas, nada aconteceu. Dirigi-me ao carro que estava estacionado no pátio dos fundos da igreja. Quando ia saindo do estacionamento, Teca me fez um sinal pra eu parar. Estacionei o carro e esperei-a com o coração disparado, já tinha perdido o interesse pela história daquela morena. Ela não falou nada e beijou-me intensamente, as mãos deslizavam matreiras pelo meu corpo arrancado minhas roupas e me arranhando todo. Bem ao lado da igreja. Tinha um barulho infernal enquanto ela me beijava, parecia uma sirene, apito. Acorda Beto! Tu tá atrasado! Era minha mulher gritando pra eu acordar. Amanhã, eu volto a procurar a Teca.

Isa Piedras

18/03/2007