Izabelí & Maria ( parte 2 de 3 )
Agora voltemos ao casebre, onde da larga varanda, Dona Cota observava a menina. Recebeu-a com carinho e logo foi mostrando-lhe a casa. A sala, com seus sofás largos e uma cristaleira onde guardava um jogo de cristais e sua louça inglesa, presentes que receberá no acontecimento do próprio casamento. Na parede que dava para entrada, um quadro; o retrato do falecido, imponente e garboso diante da mesa, onde enquanto prefeito, cumpria expediente. Em seguida a sala de jantar, num canto um balcão, no centro a mesa longa, porém estreita e outra cristaleira com peças de uso rotineiro. À direita da cristaleira, a porta de onde se via a cozinha; ali não entraram. Em frente o corredor que dava para os quartos, eram cinco ao todo.
No primeiro, dormia Dona Cota. No segundo, guardavam-se as coisas do falecido, das quais a saudosa senhora não se desfazia. No terceiro, ficava Izabelí, os outros dois, sempre vagos atendiam lá vez em quando alguma visita ou seja, nunca. Lembrem-se, D. Cota não era de fazer amigos. Maria ficaria no terceiro, juntamente com Izabelí, a cama já estava posta e um outro armário, providenciado. Queria D. Cota, dar a sobrinha, companhia para suas noites de insonia. Izabelí ao ver Maria também achou estranha àquelas vestes e o corpo um tanto sarado, ela tinha seios fartos, porém, os de Maria quase não se via.
O quarto era amplo e arejado, havia nele também um banheiro. Ajeitaram-se ali as coisas de Maria, que eram poucas, diga-se a verdade; dois pares de botas, meia dúzia de calças, outra de camisas, quem diria...
Um vestido, embora nunca usado e peças intimas, novas ainda.
Já era tarde, D. Cota anunciava o jantar. Sem cerimônia todas deviam juntar-se na mesa. Fim da rotina, louça lavada e todas para a cama. Izabelí dormia cedo ou fingia dormir, mas naquela noite ficou a interrogar Maria por seus feitos na fazenda. E ela respondia tudo, era boa conversadeira, enriquecia as estórias com muitos detalhes. Assim passou a primeira noite.
Pela manha Izabelí foi à escola e Maria ficou à pajear a tia.
Outra noite comprida, nova estória. Izabelí era muito curiosa, perguntava sobre a casa, os bichos e principalmente sobre os moços. Maria falava, ria e imitava, era uma farra. Mas sobre os moços a curiosidade de Izabelí não acalentava e insistia ela com Maria. A mesma, fazia-se de boba, desviava o assunto e nova estória começava. Findou-se desta maneira uma semana.
No domingo, bem cedo se começou os preparos para ida a missa, Maria toda atrapalhada, agora incomodava-se com o vestido, D. Cota com uma mão aprumava o xale, com a outra certificava-se de não esquecer o terço; Izabelí como de costume se demorava mais, a embelezar-se diante do espelho, todas prontas; seguiram em marcha para igreja. A missa era boa, o velho padre tinha sempre o sermão na ponta da língua, enquanto o sacristão, aborrecia a todos ao balançar o incensário na fuça das ardorosas velhinhas.