Geb - Capítulo IX

O ELEMENTAL SUPREMO

A noite já cobria o céu com um manto negro sem igual. Não havia estrelas e após a chuva o vento frio arrepiava quem estivesse naquele ambiente.

- Onde estamos indo Kimari?

- Não sei Nira! Vamos segui-lo.

As irmãs Flidias seguiam o velho da caverna. Ele, com um cajado caminhava devagar, olhava o tempo e cantarolava uma canção estranha. Suas roupas sujas e rasgadas contrastavam com sua feição antiga. Barbas e cabelos longos e grisalhos balançavam com o vento e seu olhar azulado estava fixado ao chão.

- Estamos quase lá... – falou o velho.

Nira apertou a mão de Kimari demonstrando o medo que sentia desde que saíram de sua tenda. Na outra mão de Kimari, a maleta negra dançava no ar.

- Kimari... – sussurrou Nira.

- Não Nira! Sei bem que você vai falar para voltarmos mas não é hora de voltarmos ainda. Se chegamos até aqui, vamos até o fim! Temos que lutar minha irmã!!!

Nira abaixou a cabeça e apertou ainda mais a mão de sua irmã.

- Vamos meninas! Subam nessa pedra. – exclamou o senhor de barbas longas.

Kimari foi primeiro e deu a mão para a irmã como auxilio. Em seus pensamentos sabia que Nira estava tremendo de medo por toda aquela situação, mas tinha em si o desejo e a responsabilidade de proteger aquele lugar de toda a energia negativa que ali emanava.

- Venha Nira! – falou Kimari.

Nira permanecia de cabeça baixa e imóvel. Sua irmã sabia que ela estava sensível, mas estranhou o comportamento daquele instante.

- Nira! Olhe para mim... venha!

Não houve sequer um movimento.

Kimari então sentiu um gelo dentro de si como se toda sua força estivesse sendo arrancada num repente. Ficou pálida mas manteve a postura. Sussurrou.

- Nira...

Nira elevou os olhos para a irmã e os olhos estavam brancos como neve. Os lábios ressecados e a pele gélida encostou em Kimari ao tempo em que ela desmaiou.

- Nira!!! Oh....

- O que está acontecendo aqui? – perguntou o velho.

- Minha irmã! Nira... acorde!

Kimari sentia seu coração palpitando, ora devagar, ora rápido. Segurava sua irmã em seus braços e sabia que havia iniciado a batalha.

- Ei... ela já fez não é? – questionou o homem.

Kimari levantou os olhos e observando a face enrugada do velho falou com ar aterrorizado e forte. Impactante.

- Sim! Ela já fez...

Nira fez um movimento, mas não abriu os olhos. O velho a pegou no colo e então voltaram a caminhar.

- Vamos! Já que ela já fez temos que nos apressar! – Disse o senhor.

Eles subiram o rochedo e desceram uma ladeira com rapidez. Passaram algumas árvores tortas e sinistras e um arrepio corria o corpo de Kimari.

- Estamos perto! – o velho a olhou dizendo.

Chegaram a uma gruta e foram entrando sem nada dizer. Um água cristalina passava por ali e reluzia suas faces preocupadas. Uma sensação nova pode ser experimentada. Sensação de segurança.

- Yerush deve estar por aqui.

Kimari olhou o velho deixar o corpo pálido de sua irmã ao chão com cuidado e então correu para abraçá-la. O velho deu alguns passos e então viu-se uma luz intensa vindo do fundo da gruta.

- Iumbad, então você veio! – um corpo de luz se formara e caminhava devagar. A voz ecoava todos os cantos e este corpo se aproximava. Olhou para Nira caída ao chão nos braços da irmã e encostou suas mãos que brilhavam intensamente na testa da Flidia.

- O que você está fazendo? – perguntou Kimari.

- Dando-lhe coragem para enfrentar. É o que falta para esta Flidia. Por isso você resiste ainda ao feitiço já feio, mas Nira não. Você é muito corajosa. Com a coragem, Nira reagirá.

Num instante, Nira abriu os olhos que já estavam normais e aos poucos retomava a cor natural de sua pele.

- O que aconteceu? – Nira questionou.

- Você saberá minha irmã! Afinal, estamos entrando na luta!

Aquele espírito de luz caminhou ao encontro do velho.

- Iumbad, Iumbad! O que acontece em nosso reino?

- Yerush, estas Flidias me procuraram e mostraram algo que você deve ver.

- Humm... O que é?

Kimari esticou o braço e pegou a maleta, abriu-a à frente de Yerush abaixando a cabeça.

- Ah... então estamos com visitas! – sorriu Yerush. – Eu imaginei que isso aconteceria um dia, afinal... há espíritos que anseiam a imortalidade e por causa dela fazem qualquer coisa. Estamos apenas vivenciando isso.

Nira sentou-se e olhou para aquele espírito.

- Vi uma jovem nesse tempo em que fiquei desacordada. Pude vê-la em um lago. Senti a presença dela.

O espírito levantou a mão direita e aproximou de Nira. Fechou os olhos e recitou algumas palavras espiritualistas.

- Ah... então é isso! Sei por onde começar! Se preparem. Podem ficar aqui para um descanso, eu vou indo.

Ela caminhou levemente sobre as águas e desaparecendo elevou-as com leveza. Um ar fresco se fez no ambiente.

- Então seu nome é Iumbad? – perguntou Kimari.

- Sim Flidia! Meu nome é Iumbad, um guardião.

- Há outros guardiões? – questionou Nira.

- Acho que há... Mas onde eles estão somente Yerush sabe, nosso Elemental supremo que nos rege em Geb.

Kimari olhou para Nira e esta lhe devolveu o olhar. Iumbad andou um pouco e respirou o ar puro. Fez-se um silêncio no ambiente e a sensação de luta já estava presente.

Continua...