A Magia da Vida - um conto de fadas para adultos VI
Freqüência
Quando o dia amanheceu, tudo voltou ao normal. Toda a rotina deveria ser cumprida.
Bia estava com Ana e o Beija-flor com Zoe. Uma distância enorme os separavam fisicamente, mas estavam mais ligados que nunca. O pensamento era constante e o tempo todo pensavam um no outro.
De novo Bia pode ir para junto de Zoe, mas de novo não encontrou seu Beija-flor, mas pode observar e sentir o tamanho do amor que ele sentia por ela. Era algo que nunca tinha observado em toda a sua existência. Valia a pena estar ali. Ter aquela sensação era sublime.
Enquanto ela estava ao lado de Zoe, seu Beija-flor estava ao lado de Ana. Sobrevoava sobre o seu ombro e deliciava-se como o néctar daquele amor. Tinha um doce extremo. Transmitia-lhe uma energia sem igual. O pólen coletado era o pólen da vida. Da vida eterna.
Perto de Ana podia sentir Bia. Perto de Zoe podia sentir o Beija-flor.
Cada vez que estavam escrevendo um para o outro eles podiam se sentir sempre com uma presença incrível. Essa presença alimentava aquele amor e ajudava a amenizar a dor da saudade.
Ana não conseguia acreditar, por diversas vezes que ia escrever um e-mail para Zoe também recebia um e muitas das vezes o teor da escrita era praticamente o mesmo.
Houve uma vez em que ele enviou uma mensagem intitulada “tudo crê” e ela enviou uma “tudo crê, tudo sofre, tudo suporta e jamais acaba”.
A ligação parecia ser tão forte que, quando um estava triste, o outro dizia que não estava muito bem. Parece que compartilhavam cada sentimento e cada reação numa mutualidade incrível.
Falavam sobre os mesmos sentimentos. Viviam cada um deles... riam de suas brincadeiras e piadas. Era divertido estar vivendo aquilo. Se parassem para fazer um balanço do que estavam vivendo, sabiam que qualquer resultado seria positivo, pois era melhor sentir a dor de uma saudade do que nunca ter vivido aquele sentimento.
Aquele homem, aquela mulher, pareciam seres perfeitos. Feitos em uma forma que fora dividida ao meio e posto uma em cada extremidade do país.
Se já nasceram um para o outro não saberemos nunca, mas acreditam que o tempo os tornou ideal um para o outro. Não adiantaria o encontro deles ainda na juventude, talvez não fossem essas pessoas que são hoje. O momento certo era e é o agora.
Ela e ele já haviam vivido o suficiente para reconhecer o que era bom e o que era o bem, e eles se qualificavam nos dois pontos, de bem e de bom.
Na manhã em que Zoe chegou ao seu destino, precisava dizer a Ana o quanto ela era importante, precisava deixar claro tudo o que sentia e o fez, então começou a escrever sua mensagem:
“Minha Ana, minha Fada, minha Menina.....a ordem dos fatores
não altera o resultado....Quero vocês todas!
Minha volta solitária, como eu previa, foi repleta de reflexões.
Durante anos fui "treinado" para camuflar a dor, o sono, as
dúvidas....e isso, muitas vezes é contraditório....como camuflar meus
sentimentos?
Fiz uma breve parada quando já estava a 200 Km de distância.
Longe dos seus olhos, chorei. Lágrimas estas que escorrem e marcam o
meu espírito......tenha certeza que nunca mais esquecerei da nossa
experiência.
As minhas sensações se alternam...muita alegria e satisfação...como
já te disse, há muito tempo não tinha um final de semana como este...
ora uma sensação de perda....deixei meu tesouro, deixei algo de
muito valioso para trás. Plágio! isso mesmo...plágio...não tenho
como falar do que sinto de forma diferente....
Também estou com dificuldade de escrever....me faltam
palavras....sinto sua falta....seu cheiro....
Cheguei às 21:00 HS. A estrada, ao chegar estava parada
por excesso de carros.....coisa de cidade louca. Tomei um banho....e
corri para o meu lap top....eu queria te mandar um e-mail......e que
delícia...tem mensagem da minha menina...(lembre-se, não sou
possessivo....sou egoísta rsrsrs)
EU DESEJAVA UMA MENSAGEM SUA! Não fui traído pelo meu feeling....não
fui traído por todas as minhas crenças....Eu me doei a você, me
despojei das minhas incertezas....dos meus medos....
Você é uma mulher encantadora.....seu jeito, seu olhar.....eu te
quero! eu te quero! eu não sei como vou fazer com o meu dia a
dia....não sei como posso voltar para o lugar que eu mesmo
cavei......
Estou a mais de 01 hora tentando escrevendo este e-mail.....penso
mais que escrevo.....queria te olhar nos olhos e deixar você ler por
si só......
Dizem que quando estamos envoltos em boas intenções, o mundo
conspira a nosso favor. Eu tinha certeza que o nosso final de semana
não poderia ser outro.....eu desejei cada minuto com você....eu
sabia que você é essa mulher maravilhosa.....eu tinha tanta certeza
meu Deus....percorri muitos quilômetros, sempre convicto que você
seria.... você!.
Não falo de sexo.....mesmo que relevante. Falo de você.....seus
anseios, suas emoções......
Sinto-me homem....não só pelo instinto fundamental.... Você resgatou
sensações que eu não tinha mais......
Eu preciso de você. Eu me dou a você....
Não importa onde eu esteja.....você estará comigo....guardadinha no
meu peito.....lacrada no meu coração.
Que seu dia seja maravilhoso...estarei torcendo sempre por você e
seus meninos. Estou aqui....ou em qualquer lugar, voando atrás da
minha história.....
Zilhões de beijos (quero sempre dever)....Lembre-se: Quem erra deve,
quem deve paga, quem paga.....paga na hora.
Zoe”
Ana recebeu a mensagem e chorou. Tentava conter as lágrimas, estava em seu ambiente de trabalho e não havia como esconder o que sentia, mas estava feliz. Já havia mandado uma mensagem no mesmo dia que chegou em casa, mas precisava mandar outra, sempre. Precisava mandar mais.
Logo pôs-se a escrever:
“Queria te desejar bom dia... queria acordar com você me olhando... queria sentir seu toque, como acontecia ao ver-me acordar... queria tudo de novo... queria, melhor dizendo, quero você em toda a extensão da palavra... possessiva e egoísta... e daí, é assim que eu quero, eu não vou esconder (só não vou colocar rsrsrs porque estou falando sério)!
Por que agora ficou mais difícil escrever? Parece que nada que eu vá escrever vai conseguir expressar o que está aqui no meu peito... uma sensação mista... realização e perda... felicidade e tristeza... não trocaria esta vivência que tivemos e o que estou sentindo por nada, nem por um reino... é uma onda magnífica, que me preenche e me dá norte para a vida... eu sei o que eu quero em todas as dimensões... Zoe, não podia ser diferente, eu quero você!
E agora, quem vai me contar piada... me encher de beijos... acariciar meu corpo todo... me falar sobre a cultura de outros lugares, curiosidades... me olhar como se eu fosse a única...(?)
Estou longe, mas tenho você dentro de mim e isso me faz sua... seja egoísta, eu permito e te imploro para que seja...
Você foi o meu último pensamento antes de dormir bem como o primeiro ao acordar... detalhe, acordei antes de o relógio despertar, às 4:50.
Sinto sua falta... eu preciso de você... não me deixe... se não podemos nos ter perto, então escreva-me todos os dias, se possível várias vezes ao dia!
Apaixonada, eu? Acho que não... o que estou sentindo já passou dos limites da paixão...
Sua em plenitude,
Ana”
E-mails como esses eram trocados diariamente, era isso que mantinha a chama da certeza do outro. O máximo que procuravam fazer era inovar o corpo do e-mail, que um dia ia como um texto romântico, outro como um noticiário, outros mas pareciam comédias, mas sempre com o mesmo teor, o amor.
Um dia, sem esperar, Ana chega em casa e não se sentia muito bem, deitou em sua cama e chegou a chorar. A saudade lhe doía, o restante de sua vida não estava acontecendo conforme planejava. Queria tê-lo perto e não podia. Tinha hora que sonhar apenas não bastava, precisava realizar.
Nesse dia teve uma surpresa. Sim, uma surpresa. Chegou uma carta e era do seu amor. Leu e releu, cada linha. Uma, duas, três, dez vezes e aproximou o papel do rosto para ver se captava o cheiro do seu amor naquele papel. Para ver se sentia o toque dele ao pegar a caneta e transpor para o papel o que sentia. Precisa encontrar naquela celulose um pouco mais do seu amor.
A carta tinha carinho, paixão, sonhos, risos. Aquela carta salvou a sua noite. Em seu caderno ela escreveu a resposta. Claro que não enviaria, não tinha como. Ele não tinha endereço, apenas um e-mail. Ele não tinha telefone.
Sua resposta teve um tom triste. Era como ela estava naquele dia, especialmente naquela noite. Leu mais uma vez a carta dele e dormiu.
Ao chegar no trabalho no dia seguinte havia uma carta, outra carta. Também de Zoe. Data de postagem: dia anterior. Conteúdo, as mesmas sensações que tinha sentido. Saudades, lamentos por não poder tê-la do lado para compartilhar o que sentia, nem os sonhos, nem as angústias, nem os anseios.
A força dele em superar tudo o que tinha de ruim era incrível. Reclamava em uma linha e logo brincava na linha seguinte. Não havia como não se apaixonar por ele, pensava Ana.
Ele era um encantador, como um encantador de abelhas, raro e simplesmente hipnotizador. Com ele, era assim que ela se sentia, uma abelha.
A troca de e-mail era diária, varias vezes. Sempre. Era o único elo que os unia. De vez em quando ele ousava um telefonema. Ouvir a voz era o máximo.
Quando se tem pouco, passa-se a valorizar cada momento, cada pedaço de pão, cada migalha que se consegue, por isso, às vezes é bom que as pessoas passem por uma carência para que possam valorizar a abundância. Seria melhor dizer que as pessoas sempre valorizam, mas essa não é a nossa realidade.
O que vários casais tinham diariamente e não davam valor, Ana e Zoe seguravam a cada ponta de corda para que pudessem ter notícias e manter contato um com o outro.
A freqüência dos dois era a mesma, sempre e se revelava através da escrita, das sensações, dos atos, dos pensamentos. Se revelava através do todo.