A Magia da Vida - um conto de fadas para adultos V
Mais uma vez
Em uma manhã, Ana ficou mais feliz que o comum. Em sua caixa de e-mail estava uma resposta ao seu e-mail intitulado “letras garrafais!”. O e-mail que havia enviado dizia em sua integra o seguinte:
“Zoe,
Só para dizer que estou com saudades... paradoxo da vida, ter saudades de alguém que nunca tive perto... mas ainda assim com SAUDADES.
Sim, SAUDADES com letras garrafais e em negrito, pois tem que lhe transmitir a intensidade do que sinto...
Com SAUDADES,
Ana”
A resposta que teve não faz muito sentido colocá-la toda aqui, mas muito vale este pequeno trecho:
SAUDADE a mim é a igualdade,
você me tem a sensação,
quero te ver...quero te ter,
não se esqueça...és minha tentação!...”
– Ele sente a mesma saudade que eu sinto... como isso me deixa feliz.
Ela não entendia como ou porque, mas não conseguia tirá-lo da cabeça. E o mais engraçado é que quando pensava nele, não remetia seus pensamentos à sua imagem, mas a toda a essência de sua alma. O que a encantava não era apenas uma aparência, mas uma pessoa em sua plenitude.
Ela precisava saber de onde vinha toda aquela força que alimentava sua vontade de querê-lo e de esperá-lo.
Poucos dias depois de seu e-mail “letras garrafais”, ela decidiu passear no parque. Lá se foi ela e Bia, essa sempre sentada em seu ombro, pois não tinha mais o controle sobre as suas asas.
Bia ficava feliz em ir ao parque. Lá ela conseguia ver o seu amado beija-flor, na verdade não o seu, mas vários e reais, mas a presença deles a faziam remeter sua lembrança ao beija-flor que ela queria e que nunca mais havia visto, mas apenas sentido nos momentos em que estava junto com Zoe, uma vez que percebia que sua presença estava nele como a de Ana estava nela.
A brisa no parque estava gostosa, bem fresca e com uma leve corrente de vento, que fazia Ana ter vontade de levantar-se e abrir seus braços voando de encontro à liberdade.
Dessa vez ela somou a tudo o que sentia o vôo mágico do beija-flor. Por um momento pensou que estava voando. A sensação foi mágica. Sentiu-se uma fada levada pelas asas de um beija-flor. Ela sorria e seu sorriso era todo especial. Parecia criança.
Com os braços abertos e embalada em suas fantasias uma mão uniu-se a sua. Seu coração disparou. Não teve coragem de abrir os olhos, mas sabia exatamente quem era. Na verdade ela não quis abrir os olhos, medo que a resposta fosse diferente da sensação que sentia, mas não era.
Zoe segurava-lhe a mão como se voasse junto com ela, desbravando cada pedaço do céu, cada instante de liberdade e de sonho. O vôo era mais mágico do que qualquer outro que havia realizado em sua vida. Era cheio de magia e fascínio.
Ficou ali, com sua mão unida a dela, sentindo cada perfeição daqueles segundos que eram tão mágicos que nem sequer ousava abrir os olhos ou a pronunciar qualquer que fosse a palavra, pois nenhuma teria capacidade de traduzir aquele momento tal qual ele era.
A fada Bia sentiu-se bem aventurada. No momento em que a mão de Zoe se encontrou com a de Ana, ela pode sentir o beija-flor e mais que isso, pode tocá-lo e voar com ele. Sim, Bia estava voando. Não com seus próprios poderes, mas nas asas do beija-flor.
Por um instante suas asas voltaram a cintilar e ela pode saborear o que mais gostava em sua vida encantada, o vôo.
Os quatro estavam extasiados com o momento daquele encontro. Naquele momento parece que a Terra respirou mais aliviada, que o néctar das flores ficaram mais doces, que os bebês que nasceram sorriam mais, que os pássaros cantaram mais afinados e puderam alçar vôos mais altos.
Todo universo parecia ter se rendido ao encanto daquele momento enquanto os quatro não percebiam a presença de nada a sua volta, mas apenas de uma força gigantesca que os fazia sentir vivos e felizes.
Por um momento sentiram que seus cavalos da felicidade estavam passando e agarraram-se a eles com toda a força que podiam e no contato os cavalos galoparam em tal velocidade que seus pés não tocavam mais o chão.
Uma adrenalina corria em seus corpos e não sabiam onde iam parar, mas eles também não queriam parar. Seguir em frente, este era o lema daquele dia. Seguir em frente.
De volta à realidade, os dois deixaram-se envolver num diálogo:
– Zoe, é você mesmo?
– Estou diferente? – Indagou ele sorrindo.
– É claro que não, mas ontem você estava tão distante e hoje aqui tão próximo. Tem certeza que não estou sonhando?
Ele a tomou em seus braços e não pode resistir ao beijo. Eles se uniram pela primeira vez e neste momento, Bia e o Beija-flor voltaram para juntos deles, puxados por uma força muito maior.
Ela não sabia descrever o que estava sentindo ao ser beijada por ele, mas sabia ser uma sensação muito boa, um misto de leveza, de prazer, de fantasia, mas ao mesmo tempo completamente real.
Aquele não parecia ser só um beijo, mas a fusão de duas almas.
Eles já não sabiam se queriam se tocar mais ou conversar mais e entremeavam nos dois pólos, o do toque e o da fala. Ambos os levavam a descobertas fascinantes, a sensações por eles nunca sentidas.
Ana queria saber como ele estava ali, porém não queria perder tempo com perguntas quando a resposta que realmente importava era a presença dele naquele momento em sua vida, que vinha se transformando rapidamente.
– Eu precisava vê-la. Já não conseguia imaginar que tão longe estava o meu sonho depositado. Eu precisava resgatá-lo.
– Eu não sei o que está acontecendo e acho que não quero respostas, embora viva me perguntando. Quero apenas coragem para me permitir viver tudo o que estou sentindo.
Eles ficaram no parque ainda por um tempo, desejavam que aquele momento se eternizasse e que nenhum minuto fosse modificado. Toda aquela explosão de sentimentos não podia passar.
Não foi preciso muitas palavras. O tempo que Zoe ficou na cidade Ana ficou com ele em tempo integral. Não houve medo, não houve decepção, apenas entrega isenta de qualquer cobrança.
Ele dizia que a maior conquista é a doação, então se doava para ela e se embriagava em cada milésimo de segundo que passava ao lado dela. Ela sempre defendeu a soma do 1(vida dela)+1(vida dele)=3(vida dos dois), mas naquele momento tudo o que queria era ser um, de tal forma que a fusão entre os dois fosse tão grande que mal pudessem distinguir onde terminava um e começava o outro.
O mundo era deles e ninguém podia provar o contrário. Todas as forças estavam imbuídas num único objetivo, o de fazer aquele amor acontecer.
Era um homem e uma mulher, feitos de carne, ossos e sonhos, como a maioria dos mortais existentes na face da Terra. A única diferença entre eles e os outros mortais era a entrega e a permissão que se davam para sonhar e acreditar na magia da vida.
Para ele seu nome significava “vida” e por isso precisava viver, para ela seu nome significava “cheia de graça” e por isso precisava viver com toda a graça que a vida lhe oferecia. Toda vida é cheia de graça, cabe a nós mortais percebermos isso para vivermos em plenitude a graça que nos foi concedida, pois vida é graça.
Diante da graça da vida, dos prazeres e dos amores, estava Ana e Zoe, se entregando àquele momento de mágica e de realidade. A alma já estava unida e para os corpos se unirem faltava muito pouco. Já não era uma questão de tempo, mas de necessidade e de naturalidade.
Os corpos se tocavam com se pudessem eternizar cada sensação. Não havia pressa. Era uma necessidade não de se satisfazer, mas de sentir o outro. Cada poro, cada fio de cabelo precisava ser tocado e sentido.
O pulsar dos corações se descompassavam no mesmo ritmo, pois este era um só para os dois. O calor emanava da pele e aquecia o ambiente. Os beijos variavam de ternos a ardentes e novamente a ternos sem que houvesse pedidos ou combinações.
Aquele momento se fez necessário mais para provar que ambos eram reais do que para satisfazer um desejo meramente sexual, embora esse existisse e fosse grande.
As bocas selaram com um beijo, os corpos pactuaram banhados em suor, o espirito com paz e a alma com satisfação plena.
O antes, o durante e o depois não pode ser distinguido. Passado, presente e futuro não importava, apenas aquele momento.
Ela aninhou-se em seus braços e adormeceu. Melhor dizendo, ela apagou como uma doce criança depois de um dia de peraltices.
Ele por algum tempo pode olhar para ela, nua, deitada em seu peito como uma menina indefesa e ao mesmo tempo como uma mulher excepcional e pensou consigo mesmo: – Eu sou um homem de sorte.
No instante seguinte era ele quem dormia e ficou para Bia e o Beija-flor velar a noite dos dois.
Eles não entendiam bem o que havia acontecido, mas sentiam seus ânimos revigorados, como se a crença daquele casal pudesse ser a solução para o problema de todos eles.
Bia ficou olhando-os adormecidos e ficou se perguntando se a magia não era a vida dos humanos em vez da vida que sempre viveu? Ela sabia que aquele encontro tinha mais porção de magia do que qualquer um pudesse entender ou imaginar.
Nunca ninguém entenderia aquele sentimento que se esbarrou no meio do nada e que cresceu com imensa força. Talvez tivesse a mesma expressão de ver uma flor brotar no deserto, não porque aquelas terras fossem secas, mas pela forma como tudo aconteceu.
Primeiro se apaixonaram pela essência um do outro, o físico foi apenas um complemento.
Quando Ana acordou, ele já estava de pé, banho tomado e barba feita. Olhava para ela como que para confirmar a existência dela.
– Ela está aqui, deitada ao meu alcance. Ela existe. – pensava ele ao olhar para ela.
– Bom dia. – disse ela num sorriso meio displicente de quem acabara de acordar.
– Bom dia. Estava olhando você dormir. Nem acredito que isso é real.
Eles se abraçaram e ficaram trocando carícias por um longo tempo. Entre uma carícia e outra conversavam sobre a vida e riam um do outro. Estavam vivendo da forma mais pura que podia existir entre um homem e uma mulher.
O dia estava lindo e o sol raiava com todo o seu esplendor no imenso céu azul.
Decidiram dar uma volta, não sabiam onde iriam, mas qualquer lugar que chegassem estava bom. Era o que menos importava. A companhia um do outro era o suficiente para fazer daqueles dois seres felizes.
O simples flagrante da existência era motivo para deixá-los feliz.
Já na rua e ainda sem rumo decidiram ir a uma ilha. Era uma ilha pequena que nem carros transitavam por ela. O meio de transporte local era charrete, como nas décadas passadas.
Era uma ilha pitoresca e muito aconchegante. Poucos moradores e alguns visitantes. O sol já estava quente quando chegaram. Logo na saída do cais um homem os abordou gentilmente oferecendo-lhes o passeio de charrete pela ilha e deu-lhes um cartão que continha os horários das barcas para o retorno à cidade.
Eram 11:30 e, de acordo com o papel, decidiram que retornariam para pegar a barca de 17:30.
Ficaram passeando pela ilha. Encantados com o lugar e ficaram imaginando como seria um fim de semana inteiro ali, isolados do mundo moderno. Sabiam que seria maravilhoso, mas dessa vez não era possível.
Entre caminhadas e paradas à beira da praia para uma conversa e uma cerveja as horas foram passando.
Almoçaram e decidiram caminhar para o outro lado da ilha, quando de repente foram assaltados por um homem. Digo assaltados no sentido de abordados. Era um homem pequeno e franzino, de idade já avançada e aparência um tanto curiosa.
Faltavam-lhe alguns dentes, mas sua roupa estava em bom estado de conservação e limpas, seus cabelos um pouco compridos e quase todos brancos.
– Posso falar com o casal. – foi a sua primeira frase. O casal não teve como manter o movimento tamanha era a proximidade do homem e o ouviram.
Não entendiam por que, mas não sentiam medo do ocorrido.
– Vocês formam um casal lindo. – disse o homem. – Não tive como resistir, eu precisava falar com vocês. A paz que transmitem é imensa. O que sentem é notório para qualquer um. Nunca esqueçam esse momento. Olhem para a água, guardem essa imagem, ela é inesquecível.
Nesse momento uma brisa tocou-lhes o rosto e o senhor fechou os olhos e continuou com a voz embargada e os olhos embaçados pelas lágrimas que surgiam: – Não há coisa melhor do que sentir esse vento, essa sensação de liberdade. Homem chora, homem chora sim! Estão tentando tirar de mim a única coisa que eu melhor sei fazer na vida e isso me dói. Eu tenho paixão pelo que faço. Voar é tudo para mim...
Bia e o Beija-flor estavam tão envolvidos em si que mal puderam perceber a proximidade de um ser maior. Ela sabia que ele era encantando, mas não recordava-se de tê-lo visto em algum lugar ou algo parecido.
Parecia ser antigo entre os seres encantados, parecia ter uma sabedoria que ultrapassava as fronteiras do tempo, da magia e da realidade.
Dizia ele: – Seres encantados, quão belo são vocês... desprovidos das amarras terrestres e alimentados por sonhos, crenças e magias.
O casal encantado ficou olhando aquele acontecimento, mesmo sendo eles magia, não entendiam a magia e a realidade daquele momento, mas continuaram a ouvir.
– Sabem o que é o dom, sabem o que é voar e a necessidade do acreditar. Não importa o quanto duvidem ou não entendam a missão de vocês. Vocês estão no caminho certo. Continue nele e não deixe de acreditar. Da mesma forma que dependemos dos seres humanos para sobrevivermos, eles também dependem da gente, pois só são completos quando estão sonhando e amando. Humano que não sonha não vive. O sonho lhes alimenta, não o corpo, mas a alma.
Eles estavam ouvindo cada palavra dita e se embriagavam naqueles pensamentos, e aquele ser, sem forma definida continuava.
– Não se importem apenas com vocês, às vezes vale a pena abrir mão de um minuto da nossa existência para perpetuarmos uma outra vida e criarmos uma nova história, ou, pelo menos, modificarmos a velha com a qual não estamos satisfeitos. Dou um palpite. Um novo ser vai surgir, enquanto outros desapareceram e quando pensarem no fim, será apenas o início.
Bia não conteve-se e teve que perguntar: _Sobre o que está falando? Para que tantos enigmas? Não pode ser mais claro no que fala?
– Minha menina, minha doce e corajosa menina, não se afobe, a vida tem o seu tempo certo para tudo, inclusive para respostas.
– Concordo com o Senhor, mas se eu ficar de braços cruzados esperando tudo vir a mim, perderei muita coisa.
– Neste momento é preciso usar a sabedoria, saber qual o momento que devemos esperar e saber qual o momento que devemos lutar. Uma luta para ser bem sucedida precisa de estratégia e planejamento e diante desse momento escolhe-se o melhor momento para avançar e surpreender o inimigo, mas para chegar a esse melhor momento é preciso saber esperar, ou então se coloca em risco a vida de todos os combatentes. Assim é a nossa vida e a de qualquer um que possua o sopro de vida.
– Então me fale mais sobre a nossa missão.
– Vocês estão no caminho certo. Não há muito o que falar. Quando vocês não conseguirem mais se perceber, a missão de vocês estará cumprida.
Falando isso ele sumiu da mesma forma que apareceu.
Era tudo muito estranho e muito novo. O que antes era apenas um desespero de salvar seu mundo transforma-se numa missão que envolve duas pessoas, mais um ser encantado, que antes era só um beija-flor.
Um turbilhão sacudia os pensamentos daquela pequena fada, mas sua resistência aumentava a cada instante. Ela precisava saber onde ia parar aquilo tudo e qual o desfecho daquela história.
Engraçado como tudo acontecia. Além de tudo havia aquele beija-flor que a fazia voar e se sentir viva como nunca ousou antes. Toda a sua vidinha de fada estava de cabeça para baixo. Não conseguia ficar um minuto sequer sem pensar naquele ser, que deveria ser simplesmente uma ave.
A sua lição estava sendo grande, não importa o tamanho, não importa o peso, não importa a aparência, todos têm a sua importância para a vida e são dignos de respeito. Mas ela sabia que não era respeito apenas o que sentia por ele, mas era uma necessidade, um desejo de estar próximo, de unir-se a ele como quem quisesse se fundir. Amar.
... Voar é tudo para mim.
No momento em que essa frase foi dita uma sensação estranha percorreu os dois ouvintes. O homem estranho que estava diante deles era piloto, assim como Zoe e citava frases semelhantes a que ele, por muitas vezes, citava para Ana.
Então, lá estava um encontro que entraria para a história, Ana e Zoe, dois seres reais; Bia e o Beija-flor; dois seres encantados e aquele homem, que ninguém sabia defini-lo. Se real ou encantado, talvez essa resposta nunca tenhamos.
Ele ficou ali muito tempo falando sobre sonhos, paixões e no meio de tantas palavras disse aos dois que não importava o tempo, esse nada significava diante do amor, que não importava o nome, mas importava o sentimento, as sensações.
Tudo que aquele homem falava tinha uma verdade maior do que se apresentava para qualquer um que ouvisse, e por isso tocava profundamente, principalmente a Zoe, que compartilhava da mesma paixão.
Ana conteve-se em ouvir aquele homem e ficou fascinada com cada palavra daquele diálogo travado entre aqueles dois seres místicos que estavam a sua frente. Até que uma imagem, uma pequenina imagem lhe chamou a atenção.
Era um beija-flor bordado na blusa daquele desconhecido. Um pequenino beija-flor.
– Zoe, olhe para o bordado na blusa dele. – Ana chamou a atenção de Zoe para o fato.
O próprio homem olhou e surpreendeu-se. Disse ter ganhado a blusa de presente da sua neta e que nunca havia prestado atenção naquela pequena figura. E logo percebeu o significado.
_Beija-flor, você é o beija-flor. O helicóptero voa como um, na verdade, foi daí que surgiu a idéia de helicóptero.
Ele tinha razão e a partir daquela descoberta só se referiu a Zoe como beija-flor em todo o resto de tempo em que houve contato entre eles.
Aquele encontro inesperado havia deixado algo de mágico no ar. Os dois não souberam responder o que houve. Podemos até dizer que os dois não sabiam responder muitas coisas que estavam acontecendo com eles nos últimos dias.
Decidiram estender a estadia ali na ilha e somente pegaram a barca das 19:30, pois precisavam conhecer o outro lado da ilha e chegar até o mirante tão recomendado por Jorge, Jorge Rosa, o nome do Senhor que os prendera em uma conversa de, aproximadamente, 1:30 h.
O caminho para o mirante não era tão fácil, complicado foi achá-lo, não subi-lo. Mas ambos achavam que valia a pena subir e assim o fizeram.
A visão era fantástica. O sol já começava a se por e estava magnífico. O rastro que deixava na água era extremamente lindo. Podia-se perder horas ali.
Tudo que é bom tem um fim e chegou o momento de partirem. Aquele dia com certeza jamais seria esquecido.
A ilha, o homem que conseguiu perceber o que eles viviam, a paisagem, o mar, o sol, os minutos, as horas, o amor. Tudo era inesquecível.
Na manhã seguinte os dois se arrumavam. Estava chegando o momento da despedida. Esse era inevitável. Em pouco tempo 4.000 Km voltaria a separá-los.
Ao colocar a mão no bolso, Zoe retira um papel e fica olhando por alguns segundos meio absorto.
Logo em seguida diz: _Quer mais uma coincidência?
– Mais uma? O que é dessa vez?
– Lembra do homem da charrete que nos abordou ao chegarmos na ilha?
– Lembro, foi o mesmo que nos deu o papel com o horário das barcas.
– Pois é, adivinha qual o nome dele?
– Não me vai dizer que é Rosa?
– Jorge Rosas. Jorge Rosas! – exclamou ele com ar de quem não sabia o que pensar.
Rosa não era um nome comum, Jorge era mais ou menos, mas daí encontrar no mesmo lugar dois homens com o mesmo nome e o mesmo sobrenome, diferenciado apenas por um s, isso era de mais. Muita coincidência para ser coincidência.
Depois de arrumados ele sentou-se na cama e a puxou para os seus braços. Foi um abraço que mas parecia um pai segurando um filho. Ele a acalentava em seus braços como se quisesse protegê-la de tudo, inclusive daquela partida.
Os olhos dela já estavam rasos d’água e ela não conseguiu conter o choro. Não houve uma única palavra durante um longo tempo. O mesmo abraço que era o de despedida eternizava aquele momento.
Eles podiam sentir o coração um do outro, ouvir o grito que o silêncio calava, mas que pedia e implorava por aquele amor. Por que tudo tinha que ser assim? Depois de tanto tempo esperando para viver ter que deixar o amor partir.
Ela sabia, ele sabia que não era uma despedida, mas um novo recomeço. Cada momento que eles viviam juntos era mais uma ou algumas linhas escritas em seus livros da vida. Sabiam que não era o final. Pois se ainda não está bom é porque ainda não chegou ao final. – dizia ele em algumas ocasiões.
Bia não entendia porque, sendo o seu beija-flor um ser encantado, precisava partir. Não tinha aquelas coisas dos afazeres da vida humana. Ele podia ficar. Mas ela não entendia que ele precisava partir. Ele precisava acompanhar Zoe da mesma forma que ela precisava estar com Ana.