Luzes em São Paulo
Cinco anos após o impacto, a Terra estava coberta, basicamente, por concreto, vegetais, insetos e carcaças de animais maiores. Dentro das grandes cidades concentrava-se uma grande quantidade de destroços, mas a proliferação de fungos resultante da umidade causada pelos canos estourados e enchentes transformava tudo em um tapete quase homogêneo. Toda a modernidade atingida pelo homem estava, agora, escondida e desestruturada.
Mas eis que, por algum motivo, no meio da noite, a eletricidade voltou por alguns minutos em São Paulo. As lâmpadas que restaram ficaram iluminadas de um modo como nunca havia sido visto e, dentro das casas, todos os despertadores marcavam meia noite, todas as televisões sintonizavam a estática.
O tapete de fungos assumiu uma cor alegre, quase se assemelhando a um bosque repleto de flores entre os prédios que ainda resistiam. Os semáforos exibiam sinais controversos, mas não havia problema ou risco de acidente. Na Avenida Paulista, todos os telões exibiram a mesma coisa.
Se algum Adão ou Eva nascesse naquele instante, certamente iria se sentir no Éden, tamanha a beleza do espetáculo. Os vegetais, junto com todos os gases - letais para o ser humano - que perfumavam a atmosfera, assumiam uma cor azulada, assemelhando-se a um quadro surrealista maravilhoso.
Quando a energia se foi novamente, e tudo voltou a ser como era, o silêncio foi o mais intenso desde que o mundo é o mundo. Tão mudo que pulsava, era sentido até mesmo pelo concreto. E assim foi até sempre - ou até o dia em que a energia, por algum motivo divino, voltou.