A Magia da Vida - um conto de fadas para adultos II
O mundo Encantado
Existe um lugar, bem distante de tudo que conhecemos, onde a fantasia e os sonhos reinam. É uma terra encantada, cujo bem maior é a Magia.
Neste reino encontramos seres mágicos, que se nutrem dos pensamentos mais doces dos seres humanos. Mas existe um fato muito importante, existem diversos reinos encantados que são alimentados pela crença das crianças. Este não! Ele é bem diferente. A sua alimentação e existência dá-se pela crença dos adultos.
Não precisamos falar muitos sobre isso. Nós adultos e humanos sabemos o quanto é difícil sonharmos e desejarmos.
Sonhamos e desejamos muitas vezes, porém sonhamos com o ter e com a conquista do que não nos pertence, mas nunca sonhamos com a magia. Na verdade, nem acreditamos nela.
Dentre os seres mágicos que vivem nesse mundo, que não são tantos, há uma fada muito especial. _O que a torna especial? Fácil, é a sua crença no ser humano.
Todos, apesar de seres mágicos, já se encontram fracos para continuar lutando por suas vidas, mas ela não. Ela continua forte e firme com os seus propósitos e tem a ciência de que, se não fizer nada, todos e tudo no seu mundo irão ruir.
Cada vez que um ser humano perde as esperanças e deixa de perceber a magia da vida, uma parte do seu mundo encantado some ou um ser mágico desaparece.
O nome da fada, que é tão pequenina, mas portadora de uma força dantesca é Bia. Ela é mais ou menos do tamanho da palma da mão, suas asas cintilantes e azuis, seus cabelos sempre meio revoltos, presos de forma displicente, com mechas caídas sobre o rosto e a nuca.
É muita arisca e às vezes arredia, mas sua crença e esperança são inabaláveis
Sua composição física é bem interessante. Podemos até dizer que é uma fada com bastante estilo, pois acompanhado de seu vestido verde, próprio de uma fada, ela usa tênis e nunca de cor neutra, dizendo que ele é a sua marca registrada.
Bia é uma linda fada, consegue encerrar em si um misto de mulher e de menina sapeca com toda dignidade de um ser mágico, encantado.
Ela é a fada que mais se preocupa com a situação do seu mundo e por isso não aceita o fim com passividade. Dentro de si, ela sabe que tem que fazer alguma coisa para salvar aquele mundo, que era seu patrimônio, mas também o patrimônio de toda a humanidade, embora a maioria não soubesse de sua existência.
– Mas tudo bem, o mundo humano é assim, as grandes obras e os grandes fatos são reconhecidos por poucos homens. _Era assim que ela pensava e por isso lutava com todas as suas mágicas (magia no lugar de garra) para conseguir recuperar o que acreditava.
Bia estava em seu mundo encantado, quando viu algo estranho acontecer. Era diferente de tudo que já havia visto. Uma ausência de luz forte passou por ela e contornou a metade do seu mundo em poucos segundos e de repente pairou sobre um vale, era o vale dos cavalos alados e num piscar de olhos o vale e os cavalos alados que ali viviam desapareceram... pareciam fumaça no ar.
Não ficou um só vestígio do que um dia existiu e o local por eles ocupado simplesmente desapareceu. Não houve vazio, foi como se o seu mundo encolhesse um pouco e lá se foi uma das espécies dos seres encantados.
Além deste desaparecimento, houve também um outro fato muito curioso e não menos grave que o primeiro. Todos os seres revestidos do dom de voar não sabiam mais como fazê-lo e muitos sequer lembravam-se que um dia voaram.
As asas de Bia perderam seu brilho e não cintilavam mais aos raios de sol, ficaram opacas e sem vida; as vassouras encantadas das bruxinhas desapareceram e elas não podiam mais voar durante a noite, o que tanto gostavam de fazer para enfeitar o céu. Quando passeavam em noite de lua cheia era um espetáculo, cada uma com sua vassoura encantada, voando em bandos, exibindo suas performances aéreas.
Muitos dos seres mágicos não perceberam o que aconteceu, mas Bia preocupou-se e queria encontrar respostas.
Marcou uma audiência junto à Magia, fonte da vida plena.
– Magia, o que está acontecendo? Eu vi um pedaço de nosso mundo desaparecer sob uma ausência de luz forte, que levou consigo todos os seres alados desprovidos de característica pensantes, mas que eram fundamentais nas fantasias dos seres humanos. Qual deles nunca sonhou em montar um cavalo alado? Qual deles...
Nesse momento Magia a interrompeu. – Calma, uma coisa de cada vez. O que queres minha menina?
– Que ausência de luz era aquela? – perguntou Bia ansiosa por continuar suas perguntas.
– Aquela era a expressão maior sobre a falta de fé dos seres humanos.
– Como assim, falta de fé? O que isso tem haver com o desaparecimento dos nossos queridos?
– Bia, como os seres humanos precisam de água e alimento para sobreviver, nós precisamos da crença deles. É isso que nos mantêm vivos. Eles estão deixando de acreditar nos sonhos e na magia da vida para preocuparem-se apenas com o ter.
– Mas o que mais eles podem querer? O que é mais valioso que sonhar e viver a magia da vida? Não consigo entender.
–Você tem toda razão, não há bem maior que esse, mas eles não nos enxergam mais. – Magia deu uma pausa, respirou fundo e continuou: –Toda vez que um ser humano nasce, nasce consigo uma porção de magia. Essa porção ele leva pelo resto da vida, só que ele não sabe disso. Cada vez que vai perdendo um pouco de sua fé no mundo encantado e na magia, cada vez que vai deixando de sonhar, o guardião ou guardiã de sua porção utiliza um pouco para tentar restabelecer a magia perdida.
– O que acontece quando porção mágica acaba?
– A mesma porção que sustenta a magia dele também sustenta a vida de seu guardião, bem como uma parte do nosso mundo.
– Isso quer dizer que se a porção acabar, um guardião ou guardiã deixa de existir?
– Exatamente isso.
– E o que pode ser feito para mudar essa história?
– É um tanto complicado, pois o guardião não consegue saber quem é que ele está protegendo, na verdade, a porção vai diminuindo gradativamente. Ele sabe o momento de usar, mas não enxerga em quem.
– E o que pode ser feito para revertermos esse quadro?
– Reza a lenda que um dia nosso mundo chegará próximo do fim, mas haverá um ser encantado que será a esperança do nosso mundo e quando houver o princípio do fim, este ser encantado nos trará a esperança de recomeçarmos.
– Mas como isso irá acontecer?
– Haverá um dia que um dos nossos dons irá sumir e será preciso unir o dom do mundo encantado como o labor do mundo real. Estes, serão semelhantes e deverão fundir-se em uma só crença, em uma só vida e não haverá como distinguir onde começa o real e termina a fantasia e vice-versa.
– Mas quem é esse ser encantado?
– A lenda não cita nomes, ela passou ao longo dos anos, de seres encantados para seres encantados e muitos dados se perderam no caminho.
– Então, quer me dizer que só há uma chance de salvarmos o nosso mundo e que não sabemos onde encontraremos o nosso ser encantado. E o ser humano, sabemos quem é e ele sabe a sua missão?
– Só há mais um detalhe da história que ninguém sabe onde se encaixa.
– O que é? Diz logo.
– Olhe aquela pintura na parede.
– Sim, é um beija-flor e uma fada guardiã.
– A história se perdeu, mas dizem que neste desenho encontraremos a solução dos nossos problemas.
– Numa fada e um beija-flor?
– Gostaria muito de responder, mas não possuo essas informações. A única coisa que sei é que o labor dele completa a ausência do dom desaparecido.
– Mas isso é muito pouco...
– Eu sei, mas é tudo que posso dizer. – dizendo isso a Magia desapareceu e deixou Bia desapontada.
Ela sentia que tinha que fazer algo, mas não sabia como começar e nem por onde. Ela sabia que tinha que procurar o tal ser encantado e o tal ser humano que possuíssem o labor e dom igual.
Começou por observar os dons que haviam desaparecidos e não precisou procurar muito, pois logo percebeu que ninguém mais voava. Desde o momento que os cavalos alados sumiram, não houve um ser que voasse em seu mundo, inclusive ela mesma.
Pronto, já sabia qual era o dom, mas faltava descobrir quem era o ser encantado e o ser humano.
Ele tinha que ser alguém que acreditasse em magia, ou pelo menos em um pouco dela, mas se é um ser humano, onde encaixar o beija-flor na história?
A pequena fada ficou pensando por diversos momentos e não conseguia chegar a um veredicto. Por mais que pensasse, não chegava a lugar nenhum.
Resolveu olhar um pouco o mundo dos humanos.