Geb - Capítulo VIII

O TEMPO E OS DESTINOS

As pedras escorregavam a cada passo seu. Seu olhar estava voltado para os próprios pés e algumas lágrimas rolavam dos olhos. O pensamento voava e suas mãos estavam enfiadas nos bolsos da calça molhada até os joelhos.

Parava de vez em quando e olhava para trás como que tentasse convencer-se de que estava fazendo a escolha certa. O dilema se repetia e então via-se um ciclo.

- Não posso... – balbuciava em tom baixo.

A noite se aproximava e um vento balançava seus cabelos. O tempo anunciava chuva. Os pássaros faziam o caminho de volta para os seus ninhos e o canto destes o chamou a atenção.

- Como são livres... Fazem o que querem e o que acham certo fazer... – afirmou, novamente em tom baixo.

Continuou a caminhar lentamente, sentindo em si uma dor quase insuportável, tanto pela vontade de voltar e tomar em seus braços aquela que despertara em seu coração a magia do “amor”, como pelo medo de ter feito a escolha errada e por ter aceitado entrar em uma história tão sinistra como a que estava vivendo.

Passo a passo ele descia uma leve ladeira. Aos lados alguns arbustos balançavam com o vento, e segundo a segundo o céu se escurecia.

- Onde irei me esconder? – indagava a si mesmo enquanto parou olhando toda a região. Não havia nada nem ninguém que pudesse ajudá-lo.

Continuou a caminhar e sentindo-se a cada instante mais perdido seguiu em linha reta. Ao longe avistou alguns rochedos que formavam um esconderijo natural.

- Graças... é ali que vou passar a noite.

Chegou o mais rápido que pode, sentou-se e encolheu-se. O frio já havia se instalado no ambiente e ele ainda se perguntava qual o próximo passo para tentar sair de toda aquela loucura.

- Telônios não vai me perdoar nunca se eu voltar sem a pasta. Não posso voltar!

A fome o corroia devagar e a fraqueza já estava presente. Logo, adormeceu com seus pensamentos, encolhido tentando uma forma de proteger-se do frio e da chuva que se aproximava.

***

Dara abria a porta da cozinha devagar e chamava por Doralice. Olhou atentamente os quatro cantos do lugar e sentiu um calafrio. Um arrepio lhe correu e ela deu mais um passo.

- Vovó...

Nada se ouvia.

Mais alguns passos e passou do cômodo chegando até a sala. Observou o vazio, continuou a sentir aquela sensação de inquietude e foi andando para o corredor dos quartos.

- Vovó, cadê a senhora?

Passou pela porta principal e aquele calafrio novamente correu-lhe o corpo.

- Minha nossa! Mas o que é isso que estou sentindo?

Deu mais alguns passos e parou. Olhou para cada canto do corredor como se procurasse algo amenizando aquela sensação ruim que lhe seguia desde que adentrara a casa.

- Vovó?

Reiniciou a procura pela avó já sentindo uma imensa preocupação. A face já estava carregada tanto pelo medo de acontecer algo com sua avó quanto pelo fato de ter aquela energia intensa impregnada no ambiente, fazendo com que ela a sentisse em todos os cantos da casa.

- Sim? Oh, minha querida! Já estava preocupada com você!

Doralice surge de seu quarto fechando a porta com leveza.

-Que feição cansada minha querida! Tome um banho, coma algo e descanse!

No momento Dara observava atentamente as mãos de Doralice que fechavam a porta e questionava-se o motivo de estar sentindo aquela sensação horrível, mas logo despertou daqueles pensamentos e respondeu para a avó.

- É vovó... vou mesmo fazer isso.

Caminhou pelo corredor rumo ao seu quarto e ainda pensava naquela situação estranha que lhe ocorrera a pouco.

Ainda no corredor, o olhar de Doralice estava voltado para Dara que entrava no quarto. Em sua mente havia um plano e seu olhar faiscava um mistério.

- Humm... – sussurrou Doralice caminhando pelo corredor, indo na direção contraria à de Dara.

- Logo, logo... resolveremos nossos problemas! Agora, tudo é uma questão de tempo! – Algumas palavras saíram dos seus lábios envelhecidos.

Continua...