ERA UMA VEZ, NUM BOSQUE DISTANTE E MÁGICO, ONDE AS ÁRVORES DANÇAVAM AO SOM DO VENTO E OS ANIMAIS VIVIAM EM HARMONIA COM AS ESTAÇÕES DO ANO. ERA INÍCIO DO INVERNO, E A VENTANIA SOPRAVA FORTE PELAS MONTANHAS, COBRINDO TUDO COM UM MANTO BRANCO DE NEVE.

AS FOLHAS HAVIAM SE DESPEDIDO DOS GALHOS E, NO LUGAR DELAS, O CHÃO SE ENFEITAVA COM CRISTAIS GELADOS. A NEVE, FOFA COMO ALGODÃO DOCE, COBRIA TRILHAS, GALHOS E TRONCOS, ENVOLVENDO O BOSQUE NUM SILÊNCIO PROFUNDO E SERENO.

NESSE BOSQUE ENCANTADO VIVIA UMA PEQUENA E CURIOSA ABELHA CHAMADA BELINHA.

BELINHA NÃO ERA UMA ABELHA COMUM. ERA GULOSA, SONHADORA E UM POUCO DISTRAÍDA. ENQUANTO TODAS AS OUTRAS ABELHAS DA COLMEIA TRABALHAVAM ORGANIZADAMENTE PARA ESTOCAR MEL E SE PREPARAR PARA O INVERNO, BELINHA ESTAVA SEMPRE PENSANDO EM EXPERIMENTAR AS FLORES MAIS RARAS E OS NÉCTARES MAIS EXÓTICOS DA FLORESTA.

ELA DIZIA: — "EU SOU UMA EXPLORADORA DO SABOR! QUEM PRECISA DE ROTINA QUANDO HÁ TANTA DOÇURA NO MUNDO?"

O AVISO DO INVERNO

NA COLMEIA, A ABELHA RAINHA, DONA MELVINA, HAVIA DADO UM AVISO: — "MINHAS QUERIDAS OPERÁRIAS, O INVERNO CHEGOU. A NEVE ESTÁ A CAMINHO E, COM ELA, O FRIO CORTANTE. TODAS DEVEM REGRESSAR À COLMEIA ANTES DO PÔR DO SOL. QUEM FICAR PARA FORA, CORRE O RISCO DE CONGELAR!"

TODAS OBEDECERAM. TODAS, MENOS BELINHA.

NAQUELE DIA, A PEQUENA ABELHA HAVIA DESCOBERTO UM CAMPO ESCONDIDO DE FLORES SILVESTRES PERTO DA MARGEM DO RIO CONGELANTE. O AROMA ERA TÃO DOCE QUE ELA PERDEU A NOÇÃO DO TEMPO. PULAVA DE FLOR EM FLOR, LAMBENDO NÉCTARES E CANTANDO MÚSICAS INVENTADAS.

— "LÁ VEM BELINHA, COM A BARRIGA CHEINHA... QUE DELÍCIA É VOAR E COMER SEM PARAR!"

FOI QUANDO O CÉU FICOU CINZA E FLOCOS COMEÇARAM A CAIR. O VENTO SUSSURRAVA ENTRE OS GALHOS COMO SE O BOSQUE ESTIVESSE FALANDO: — "VOLTE PARA CASA, BELINHA. VOLTE ANTES QUE SEJA TARDE."

O RETORNO

A PEQUENA ABELHA, COM A BARRIGUINHA TÃO CHEIA QUE MAL CONSEGUIA VOAR, PERCEBEU TARDE DEMAIS QUE O SOL JÁ HAVIA COMEÇADO A SE ESCONDER ATRÁS DAS MONTANHAS. AS ASAS BATIAM COM ESFORÇO, E SEU VOO ERA PESADO E DESAJEITADO.

ELA CHEGOU À ENTRADA DA COLMEIA, OFEGANTE E TRÊMULA.

— "EU CONSEGUI... CHEGUEI!", DISSE, ALIVIADA.

MAS HAVIA UM PROBLEMA: ELA NÃO PASSAVA PELA PORTA.

— "AI, AI... AI MINHA BARRIGA!"

AS ABELHAS GUARDIÃS, BICUDA E ZUNZUN, TENTARAM PUXÁ-LA PELAS PATINHAS, EMPURRÁ-LA PELAS COSTAS, MAS NADA FUNCIONAVA.

DONA MELVINA APARECEU.

— "BELINHA! O QUE FEZ COM SEU CORPINHO? ESTÁ INCHADA DE TANTO COMER! NÃO HÁ COMO PASSAR, A PORTA É ESTREITA POR UMA RAZÃO: PARA PROTEGER A COLMEIA. SE A AUMENTARMOS, QUALQUER PREDADOR PODERÁ ENTRAR. VOCÊ TERÁ QUE ESPERAR DO LADO DE FORA."

— "DO LADO DE FORA?", REPETIU BELINHA, COM OS OLHINHOS ARREGALADOS.

— "SINTO MUITO, PEQUENA, MAS O INVERNO NÃO ESPERA NINGUÉM."

E ASSIM, COM O FOCINHO ENCOSTADO NA ENTRADA DA COLMEIA, BELINHA SE ENCOLHEU ENTRE AS RAÍZES COBERTAS DE NEVE, TREMENDO DE FRIO, IMAGINANDO O QUE FARIA.

UMA JORNADA INESPERADA

DURANTE A NOITE, A NEVE CAIU ESPESSA. BELINHA NÃO CONSEGUIA DORMIR. AS GOTAS CONGELADAS GRUDAVAM EM SUAS ANTENINHAS, E ELA TREMIA TANTO QUE ATÉ SEUS ZUMBIDOS ESTAVAM FRACOS.

FOI QUANDO ALGO CURIOSO ACONTECEU. UM PEQUENO RATO DO BOSQUE, CHAMADO TICO, APARECEU, PUXANDO UM MINITRENÓ FEITO DE CASCA DE NOZ.

— "EI, ABELHINHA! O QUE FAZ AQUI FORA? ESTÁ CONGELANDO!"

— "MINHA BARRIGA NÃO PASSOU PELA PORTA", MURMUROU BELINHA.

TICO COÇOU O QUEIXO.

— "VOCÊ PRECISA DE ABRIGO. E EU CONHEÇO UMA POUSADA QUENTE E ACOLHEDORA NA FLORESTA DAS PINHAS. FICA A TRÊS DIAS DE VIAGEM, MAS COM SORTE CHEGAMOS EM DOIS."

BELINHA HESITOU.

— "TRÊS DIAS? MAS ESTÁ NEVANDO!"

— "E CONGELANDO. MAS SE FICAR AQUI, VAI VIRAR PICOLÉ DE ABELHA."

NÃO TENDO ESCOLHA, BELINHA SUBIU NO TRENÓ E, JUNTO DE TICO, COMEÇOU UMA LONGA JORNADA ATRAVÉS DO BOSQUE BRANCO.

O PRIMEIRO DIA – A FLORESTA DA NÉVOA

O CAMINHO ERA DIFÍCIL. A NEVE COBRIA TRILHAS E ESCONDIA ARMADILHAS. A FLORESTA DA NÉVOA ERA FAMOSA POR CONFUNDIR VIAJANTES. ÁRVORES TORCIDAS PARECIAM MUDAR DE LUGAR, E SONS DISTANTES ECOAVAM ENTRE OS GALHOS.

BELINHA TREMIA E CHORAMINGAVA.

— "NÃO VOU AGUENTAR..."

TICO ERA PACIENTE.

— "VOCÊ CONSEGUE. TOME UM GOLE DESTE NÉCTAR QUENTE DE PINHA. VAI TE DAR FORÇA."

E DEU. A CADA GOLE, BELINHA SENTIA UMA CHAMA QUENTINHA NO CORAÇÃO. ELA CONTINUOU.

À NOITE, ENCONTRARAM ABRIGO EM UMA ÁRVORE OCA, AQUECIDA POR VAGALUMES. BELINHA, APESAR DO FRIO, COMEÇOU A RIR.

— "EU SEMPRE PENSEI QUE COMIDA ERA TUDO. MAS AGORA, UM ABRIGO QUENTE E AMIGOS VALEM MAIS QUE MIL FLORES."

TICO SORRIU.

— "VOCÊ ESTÁ APRENDENDO, PEQUENA."

O SEGUNDO DIA – A MONTANHA DOS VENTOS

NO DIA SEGUINTE, ENFRENTARAM A MONTANHA DOS VENTOS. A SUBIDA ERA ÍNGREME, E O VENTO PARECIA QUERER EMPURRÁ-LOS PARA TRÁS.

BELINHA USAVA SUAS ASAS COMO ESCUDOS E, COM ESFORÇO, AJUDAVA TICO A PUXAR O TRENÓ. JÁ NÃO ERA A MESMA ABELHINHA PREGUIÇOSA. ESTAVA MAIS FORTE.

— "ESTAMOS QUASE LÁ!", GRITAVA.

NO ALTO DA MONTANHA, ENCONTRARAM UM CORVO POETA CHAMADO BALTAZAR, QUE RECITOU UM POEMA PARA ANIMÁ-LOS:

"MESMO NA NEVE FRIA E ESPESSA,

BRILHA A CORAGEM DA NATUREZA.

ABELHINHA PEQUENA, CORAÇÃO GIGANTE,

CADA PASSO É UM SONHO VIBRANTE!"

BELINHA APLAUDIU COM SUAS PATINHAS.

— "ESSE CORVO É INCRÍVEL!"

BALTAZAR OS GUIOU POR UM ATALHO SEGURO, E, AO ENTARDECER, ENXERGARAM AO LONGE A CHAMINÉ DA POUSADA DA DONA MARMOTA.

O TERCEIRO DIA – O DESCANSO

A POUSADA ERA ACONCHEGANTE, FEITA DE PEDRAS E GALHOS ENTRELAÇADOS. CHEIRAVA A CHÁ DE FOLHAS SECAS E PÃO DE BOLOTA.

DONA MARMOTA, UMA SENHORA GORDINHA E SORRIDENTE, OS RECEBEU COM COBERTORES, SOPA QUENTE E UM BERÇO FEITO DE PÉTALAS.

— "VOCÊ É BELINHA? JÁ OUVI FALAR DE VOCÊ! A ABELHA QUE COMEU TANTO QUE NÃO CABIA EM CASA!"

TODOS RIRAM, E BELINHA TAMBÉM. JÁ NÃO SENTIA VERGONHA.

— "É... ESSA SOU EU. MAS TAMBÉM SOU A ABELHA QUE ATRAVESSOU O BOSQUE BRANCO!"

FICARAM ALI POR DIAS, ENQUANTO A NEVASCA PASSAVA. BELINHA AJUDAVA NA COZINHA, LIMPAVA A NEVE DA ENTRADA E, À NOITE, CONTAVA SUAS AVENTURAS PARA OUTROS VIAJANTES. NUNCA MAIS COMEU ATÉ ESTUFAR. SABOREAVA COM CALMA, APRECIANDO CADA SABOR COM GRATIDÃO.

A VOLTA PARA CASA

QUANDO O SOL VOLTOU A BRILHAR E A NEVE COMEÇOU A DERRETER, BELINHA E TICO SE DESPEDIRAM DA POUSADA E VOLTARAM À COLMEIA.

DESSA VEZ, BELINHA VOAVA LEVE COMO UMA PLUMA.

AS ABELHAS FICARAM SURPRESAS AO VÊ-LA.

— "É A BELINHA! ELA VOLTOU!"

DONA MELVINA DESCEU DE SEU TRONO DE CERA.

— "APRENDEU SUA LIÇÃO?"

BELINHA ASSENTIU.

— "APRENDI QUE GULA TEM SEU PREÇO..., MAS TAMBÉM DESCOBRI QUE CORAGEM, AMIZADE E EQUILÍBRIO VALEM MAIS DO QUE QUALQUER NÉCTAR RARO."

A COLMEIA COMEMOROU COM DANÇAS E HISTÓRIAS, E BELINHA FOI NOMEADA EXPLORADORA OFICIAL DE TEMPEROS E HISTÓRIAS DA COLMEIA. VISITAVA A POUSADA A CADA INVERNO, AJUDAVA VIAJANTES PERDIDOS, E SUA BARRIGA? SEMPRE CHEIA... MAS DE SABEDORIA.