A primeira viagem (Piloto)

A primeira vez do jovem Erik na terra dos elfos foi aos seis anos de idade, quando viajara com seu pai para visitar o mais famoso ferreiro do reino dos elfos verdes, Elborn. Estava muito entusiasmado com a viagem, pois falara dela até dormindo. Já havia se aventurado pela sua terra, enfrentado animais selvagens, sobrevivendo ao frio e até mesmo visitara os elfos-da-neve, sendo trazido por um dos soldados do rei pelo colarinho da sua camisa. Havia estado na caverna da verdade e lutado contra sua versão mais sombria, pois a caverna tem o poder de levar alguém a lutar contra ele mesmo.

Mas era a primeira vez que viajaria mais longe do que seus pés já alcançaram. Visitaria as terras élficas. Sua mãe havia lhe feito uma capa especial, com as bordas prateadas e um botão em formato de cabeça-de-lobo que prendia em volta do seu pescoço. A cor do tecido era branca como a neve. Era bem grande para uma criança de seis anos, pois o próprio dono era de estatura maior que uma criança da mesma idade e tinha muito mais força e preparo físico.

Ele e seu pai, Thorvald, foram com mais seis homens corajosos trilhando pelos caminhos das Terras Ocidentais por vários dias. Durante a viagem o menino se lembra dos beijos e abraços apertados de sua mãe, que mesmo chorando a partida do filho, sabia que todo o Krieger deve começar na mais tenra idade a se comportar como um guerreiro. Ele lembra que olhou nos olhos de sua mãe e acariciou o seu rosto, expressando uma inicial saudade, mas ciente de que deveria ir como um homem e guerreiro, ainda bem jovem.

Chegaram aos portos do Reino de Fischer. Seu pai pagara ao capitão do navio uma expressiva quantia em dinheiro para levá-los até o continente élfico. Atracariam diretamento no porto do Reino dos Elfos-Verdes e não na cidade dos homens ao norte. A viagem durou dois meses, e ele estava extasiado e encantado com a viagem pelo mar. Quase não dormia direito, pois não queria perder de vista nenhum detalhe da viagem. Mas era submisso ao seu pai e ia deitar quando este lhe ordenara.

Ficava sonhando acordado e imaginando o que poderia acontecer. Tinha essa característica, de sonhador, tão grande quanto a sua coragem e nobreza de espírito.

- Erik.

- Sim meu pai.

- Durma. Mesmo que tenhas capacidade por ser um Krieger de permaneceres por vários e vários dias sem dormir, aproveite para descansares seu corpo.

- Não consigo parar de pensar meu pai sobre as coisas que verei nessa minha primeira viagem para as Terras Élficas.

- Compreendo tua ansiedade por aventuras, mas precisas aquietar-te, pois muitas coisas que imaginas não acontecerão e as que realmente acontecerão, tua ainda não sabes como as experimentará. Sei que tua inquietude não é de medo ou preocupação, de tuas pulsões, que revelam o teu desejo por aventuras. Agora durma, e acumules energia para quando chegarmos lá.

O menino ouvira a seu pai atentamente e se lembrara do poema que um dia lera dos livros de sua casa:

Inquietamos com o que imaginos ser o amanhã,

Porém o amanhã que virá a ser,

Traz surpresas em seus próprios cuidados

Mais do que possamos imaginar e experimentar.i

Finalmente chegaram ao destino, os portos do reino dos elfos-verdes. Um dos servos do rei esperava a chegada de Thorvald e seus companheiros. Os saudou e os levou diretamente ao salão de banquete do reino onde o casal real élfico e Elborn estava com suas famílias. A beleza do lugar era de encher os olhos. As águas que banhavam o reino se misturavam, o verde da água doce com o azul da água salgada. As belas árvores de todos os tipos e tamanhos desde as pequeninas e frutíferas às gigantescas, onde ficavam as habitações dos elfos.

Também vira as duas árvores que deram a vida a tudo o que é verde em Welt sob o poder da música orquestrada pelo Rei de Tudo. A própria beleza dos elfos que eram a expressão mais próxima da beleza e resplendor divino. Erik olhava aquílo impressionado com a beleza dos elfos e do lugar, o mesmo encanto que tivera pelos elfos-de-gelo quando entrou clandestinamente em seu reino em uma das três grandes montanhas brancas, ao norte das Terras Ocidentais. Para o menino, aquele lugar parecia o hall de entrada para a Cidade Celestial, da qual lhe falara o mago cinzento durante as festas na sua cidade natal.

Subiram um grande lance de escadas por uma imensa árvore onde está o salão dos elfos-verdes. Ele reparou que as árvores são interligadas por pontes feitas de madeira e cristal e pelos fortes galhos de árvores de um lugar para o outro. Também notou que ele, seu pai e demais companheiros eram alvos dos olhares dos elfos que mesmo tendo constante contato com os humanos, os observavam com curiosidade.

Finalmente chegaram ao salão. As portas estavam abertas. O servo os anunciou ao rei que estava na cabeceira de uma grande mesa toda feita de cristal, prata e madeira. Ao seu lado direito, estava Elborn, ferreiro e ministro do rei. À sua esquerda, o lado do coração, segurava-lhe a mão sua esposa, uma das elfos mais bonitas de Welt, cujo brilho era de uma santa enviada pelos Divinos como presente para os olhos dos homens, irradiado de seus cabelos dourados, pele e vestiduras brancas, como a neve. O menino vira semelhante esplendor na rainha-elfo-de-gelo, mas, agora tal maravilha era maior.

Thorvald se ajoelha perante o rei com os seus companheiros. Erik os imita, demonstrando boas maneiras. O rei os saúda primeiro:

- Sejas bem-vindo, ó grande Thorvald, o grande Krieger, amigo e companheiro de guerra. É uma grande alegria ter-te e seus companheiros em nosso meio. Estamos aquí para recebê-los com um maravilhoso banquete que ordenei ser preparado de acordo com o teu gosto e de teus companheiros. Vejo que trouxeste seu filho. Lembro-me dele ainda no colo de sua mãe.

A rainha se aproxima. O brilho que emite a segue em direção ao guerreiro e ao menino.

- Thorvald é o nosso amigo, meu amado rei. Aquele que esteve sempre ao lado dos elfos, nobre e corajoso, arriscando sua vida por aqueles que precisam de sua imensa valentia e força. Hoje, após alguns anos ele traz o seu rebento, um belo menino de cabelos ruivos e olhos-de-prata, que vejo em seu olhar prateado as fortes chamas de um espírito sincero, ingênuo, sonhador e valente. - a rainha segura o rosto do menino com as suas mãos.

- A senhora é uma santa minha rainha! És a representação do divino em nosso mundo! Se quiseres, morrerei pela senhora e por seu rei não somente pela amizade para com o meu pai, mas pelo que meus sentidos conseguem contemplar, enchendo minha mente e meu coração com bons pensamentos e sensações.

A rainha sorriu e, puxando o rosto do menino e o beijou na testa. Volta para o lado do seu marido. Erik está encantado pela beleza e esplendor da rainha Hucisiel. Os homens sentam-se à mesa. Erik acaba tomando assento ao lado da rainha. Antes de sentar, lhe é apresentado Elborn, sua esposa Dilya e suas filhas Irediana e Shael. Elborn faz uma reverência a Thorvald que juntamente com os seus companheiros responde.

Erik ainda estava tão perplexo com a beleza da rainha, que ainda não notara que seu assento estava de frente com o assento de Shael do outro lado da mesa. Então, após olhar novamente para a rainha, o menino guerreiro vira-se e fita seu olhar para a família de Elborn, em especial para Shael. Quando a olha, fita-a em especial seus belos olhos esverdeados e nota que mesmo a rainha com todo o seu brilho, a elfo de cabelos ruivos e olhos verdes que está a sua frente é muitíssimo mais bonita, a mais bela e formosa do seu tempo. Todos se assentam mas o menino fica como se estivesse paralizado por algum tipo de encantamento mágico. Se o encantamento pela beleza e brilho da rainha havia sido grande, por Shael agora era dez vezes maior.

- Erik, sente-se! - chamou Thorvald.

Mas o menino parecia hipnotizado, o que chamou a atenção de todos.

- Então este é o seu filho Senhor Thorvald? É muito bonito. Vejo que não para em fitar-me. - Disse Shael com um sorriso. - Olá Erik, filho de Thorvald? Estás bem?

- Ele está encantado com a sua imensa beleza, senhorita Shael, filha de Elborn, o grande ferreiro entre os elfos. Vamos Erik, acorda! E responda-lhe. - Disse Thorvald, batendo nas costas do menino.

- Não sei como estou. Não como me sinto. Na verdade, não consigo é expressar com palavras o que estou sentindo. Primeiro, vi a mais santa entre todas as mulheres de Welt com suas vestes brancas, cabelos louros e seu brilho divino cujo olhar leva aos pecadores ao arrependimento. Agora vejo a mais bela entre todas mulheres deste mundo, que me paralisou, e cuja a perfeição divinamente trabalhada não me canso de olhar. Oxalá eu pudesse viver para sempre e assim contemplar a sua beleza. Mas, com a pouca vida que eu tenho e enquanto ainda tenho tempo, e não farei somente isso! Mas direi o que em meu interior, cujas minhas pulsões, explodindo como um vulcão, me impelem a dizer! E é isto (em voz alta): ÉS A MAIS BELA DENTRE TODAS AS MULHERES DE WELT. SUA BELEZA DEMONSTRA A EXISTÊNCIA E GRANDEZA DOS DIVINOS E EM NOME DELES JURO DIANTE DE TODOS, PEDINDO A SEU PAI QUE ME CONCEDA A BÊNÇÃO EM UM DIA TOMÁ-LA COMO MINHA AMADA ESPOSA!

Todos os que estavam à mesa ficaram perplexos. Um grande silêncio se fez. Mas quem estava mais surpresa era Shael que viu o intenso brilho dos olhos prateados do menino, como fortes chamas acesas. Seu coração bateu mais depressa e suspirou fundo. Estava impressionada com aquele menino que, em tenra idade, era sisudo em palavras e atitudes. Até mesmo seu pai ficara surpreso com a sua atitude, pois os Krieger não são muito bons em demonstrar o que sentem.

Uma risada quebra o silêncio. Era Wulfgar, amigo de Thorvald.

- hahahaha! É por isso que eu gosto desse moleque! Tem muita coragem!

- Estou falando sério! - retruca Erik.

- Mas eu sou muito mais velha que você. Isso não lhe incomoda?

- O que me incomoda é apenas contemplar-te e não fazer nada! Sei que sou ainda um menino, mas quando eu atingir a idade adulta, voltarei e, caso não estiveres comprometida, pedirei a sua mão ao seu pai. E juro que te amarei e te protegerei com a minha vida. Virei sempre aquí de tempos em tempos para visitar-te e conversar contigo até que chegue o momento em que te pedirei em casamento ao seu pai. - replica olhando para o Elborn.

- Isso dependerá dela jovem Erik, filho de Thorvald! - responde o elfo.

Thorvald apenas olha para o filho sem dizer uma palavra.

- O seu filho é um garoto de gênio forte Thorvald. Disse Elborn.

A rainha Hucisiel sorri, olha para Shael e para Erik.

- O que for para acontecer entre Shael e tu ó pequeno guerreiro, acontecerá no momento oportuno. - disse Hucisiel.

- Que assim seja! Agora comamos! Disse o rei.

Todos começaram a comer. Conversaram durante as refeições, mas não acerca do que havia acontecido. Outros assuntos. Para alguns que estavam presentes ali, nada passou de palavras de um menino encantado com a extrema beleza da mais bela entre todas as elfos. Mas para Thorvald e seus companheiros, bem como para aqueles que conheciam os Krieger, sabiam que o menino estava falando sério, pois esta é a criação daquela grandiosa linhagem de guerreiros, que quando eles fazem um juramento, não o fazem de modo vazio, mas buscam cumprí-lo cabalmente.

De fato, quem ficou mais impressionada foi Shael, que estava diante do menino e viu com mais nitidez o forte brilho dos seus olhos prateados. De fato aquela postura firme e suas palavras sisudas geraram um forte impacto nela. Passou a partir daquele dia a nutrir uma afeição por ele, não como uma futura pretendida, mas como uma amiga. E depois da refeição, ela o convidou para passear com ela pelo jardim.

- Você me surpreendeu hoje. Mesmo sendo considerada a mais bela entre todas as elfos, fui pedida em casamento assim e ainda mais por alguém tão jovem? Não se importa que eu seja muito mais velha que você?

- Não se importa que alguém muito mais jovem que você um dia queira ser seu esposo?

- Eu perguntei primeiro.

- Minha resposta está implícita na pregunta. Não! Eu não me importo! Sei que o máximo de vida que nós homens temos (e na minha linhagem estamos acima da média humana) é um sopro para vocês, elfos. Mas eu juro em nome do Grande Rei que irei sempre te amar, ser fiel e te proteger com a minha vida. É um voto sagrado que faço e o cumprirei.

- Eu já tive muitos pretendentes e os rejeitei, mas e seu eu conhecer outra pessoa antes de você tornar-se adulto, ou deixar claro que tenho a ti apenas como um querido amigo?

- Qual seja tua escolha, a respeitarei e levarei o que tenho por você comigo, desejando sempre o seu bem.

- Mesmo ainda tão jovem és bom com as palavras e muito sincero. - Elogiou Shael.

- Eu…

- Jovem Erik! Seu pai o chama e também solicitou a presença da senhorita Shael. - disse o servo elfo.

Foram aonde Thorvaldson estava. Era no solo, bem aos pés da árvore onde os soldados elfos acostumavam treinar suas habilidades de combate. Não estava somente o grande guerreiro Krieger de 2,40m, mas todos os que estavam à mesa, inclusive o príncipe Thamior, filho do rei Thohand e noivo de Irediana, e todos os elfos sobre as suas árvores e ao chão ali esperando, quando eles finalmente chegaram. Erik estava com sua espada nas costas embainhada, uma espada curta.

- Estou aquí meu pai, o que devo…

- Desembainhe sua espada.

- Mas o que? Porque ele deve desembainhar sua espada? - Indagou Shael.

- Ele um juramento em nome dos divinos de que protegeria a sua pretendida com a própria vida. O ensinei que cada voto que um Krieger fizer deverá ser testado! Agora é a hora! Prepare-se Erik!

- Mas isso é loucura! Papai, Majestade! Não posso acreditar que permitam isso! Por favor Senhor Thorvald, isso não é necessário! É apenas uma criança! Seu filho!

- Sim é meu filho, mas é também um homem. E como tal, fez um juramento que deve ser cumprido! Lutar até à morte para proteger a mulher que ama.

- Shael, filha, afaste-se! Este é o costume deles. Não há nada que possamos fazer. Vossa majestade também autorizou.

- Sim senhorita Shael. - disse Erik – é minha responsabilidade. É a prova de que falei sério mesmo com pouca idade.

- Mas os anos passam e logo você me esquecerá.

- Isso não é uma realidade aos Krieger. Sempre buscamos lembrar de nossas promessas, ainda mais desta. E como poderia eu esquecer daquela que considero o meu primeiro amor?

Shael se afasta ainda mais surpresa com a fala e postura do pequeno guerreiro. E ao mesmo tempo apreensiva, começou a pedir que nada de mal acontecesse a ele. Sua mãe, irmã e Hucisiel aproximam-se dela e a amparam.

- Não te preocupes Shael! - disse a rainha. - Ele tem um espírito forte. Viu isso em seus olhos.

Erik posiciona diante de seu pai com a espada desembainhada em guarda com as duas mãos na empunhadeira. Ele tinha a altura acima da média de uma criança da sua idade, 1,50m. O seu pai, por sua vez, tem 2,40m e diante dele, empunhava o seu poderoso machado de duas mãos, que pesava aproximadamente uns 250 kilos. Silêncio e apreensão por parte dos que estavam ali. Os dois se encaravam, demonstrando não haver por parte de ambos qualquer hesitação.

- Seu olhar não há hesitação e muito menos medo. Mas brilham como as fortes chamas, demonstrando que não voltará atrás, mas pronto para enfrentar. O seu corpo está firme e demonstra em sua respiração medo ou ansiedade, mas tranquilidade. Estás tornando-te um homem formidável! Estou orgulhoso filho! - Arrazoou Thorvald consigo e esboçou um disfarçado sorriso.

- Meu pai está me testando! Quer saber aquí se de fato sou digno de que ele me ensinou de carregar o sangue dos Krieger em minhas veias. Estou pronto meu pai! Venha! - Arrazoou Erik consigo.

A luta começa. Ambos avançam em direção ao outro, mas devido à diferença de tamanho, Thorvald é quem arremete primeiro com o seu machado. Um golpe rápido e violento do qual Erik consegue desviar para o lado, a poucos centímetros do golpe. O machado atinge o solo, cravando nele devido à força do movimento somado ao seu grande peso. Ele aproveita e, ataca Thorvald subindo pelo cabo do machado e desferindo um golpe para cortar-lhe o pescoço.

Porém erra, pois para o espanto de todos, Thorvald não se esquiva, afastando o seu corpo ou inclinando a cabeça para trás, mas segura a espada do seu filho com os dentes. Ele tenta puxar a espada, mas seu pai inclina o corpo para trás, e como uma catapulta, projeta o seu corpo para a frente, soltando a espada dentre seus dentes e assim jogando o menino para longe, que rola por alguns metros ao atingir o chão, ficando de bruços no solo. De fato, o maio desafio da vida de Erik era ter o seu pai como adversário.

Shael preocupada, tenta impedir que prossiga, mas Hucisiel segura o seu braço e, aproximando-se, diz em voz baixa:

- Acalme-se! Pois tudo o que vês agora tem um propósito.

O que cabe a criatura mais bela de toda a Welt - cuja beleza dela supera a de elfos e das mulheres – é aguardar o desfecho desse combate. Mas em seu coração, ela pede que o Rei de todo o Universo proteja aquele menino nobre e corajoso a quem ela passa a ter profunda admiração. A mãe e irmã de Shael aproximam-se dela. Esta segura em seu braço enquanto a mãe por alguns instantes olha atentamente para o rosto apreensivo da filha.

- Shael querida! Porventura, as declarações firmes e atos de coragem desse menino em lutar por você, tocaram o seu coração? Estarás disposta a esperar a possibilidade de quando este se tornar adulto, te peças ao sagrado matrimônio? - Arrazoou Dilya.

Assim como Shael, sua mãe e muitos dos elfos que presenciaram a situação estava assustados. Pois jamais tinham ideia dessa parte da cultura dos Krieger. Sabiam de sua coragem, mas não de que ella era testada também referente ao casamento. Os que sabiam eram apenas aqueles que tinham uma convivência maior com essa raça de homens, a saber, o rei Kiirion, Hucisiel, Elbonr e Tamior, o príncipe dos elfos cinzentos.

Os olhos de todos olham Thorvald em pé e Erik caído ao chão.

- Levante-se, pois isto que aconteceu contigo nem sequer é um ataque! - disse Thorvald.

O menino não se mexia.

Thorvald segurou com força o machado e correndo em direção ao menino, desfere mais um golpe poderoso. A poucos centímetros de atingí-lo em cheio, Erik rapidamente gira para o lado e contra-ataca seu pai usando as duas mãos no punho da espada, tentado golpear a parte posterior de sua perna esquerda, para atingir os nervos e diminuir sua mobilidade. Porém ele defende com o forte cabo do imenso machado.

- Boa tentativa! Agora é minha vez! - disse Thorvald.

Em uma velocidade assustadora para sua grande estatura bem como para o tamanho e peso do imenso machado, ele empurra o garoto para trás com o cabo do machado e desfere um golpe de baixo para cima, na diagonal. Para evitar o efeito do golpe, Erik pula para trás e usa a espada para defender o ataque. Faíscas de fogo são vistas do atrito do machado com a espada, em que esta acabou sendo avariada e o menino é mais uma vez jogado para trás, mas não cai ao chão.

Se levanta rapidamente. E mesmo com a espada avariada e antes que seu pai atacasse novamente, ele rapidamente ataca ao seu pai dando um imenso salto e, por meio de uma remetida com a espada, atingir a sua cintura. Porém, Thorvald calcula exatamente o tempo do ataque e, afrouxando as maos, deixa que a lâmina do machado desça com o seu próprio peso, ficando entre sua cintura e a ponta da lâmina da espada de Erik.

A espada do jovem guerreiro atinge a lâmina do machado e se desfaz em pedaços. Parece ser o final da luta. Ergue os olhos e vê os olhos de seu pai. Um tempo curtíssimo entre o ataque mal sucedido e o possível contra-ataque de seu pai. Não há medo nos olhos do menino, não há hesitação nos olhos do grande guerreiro que desce seu braço esquerdo com o punho do machado em direção ao rosto do filho que tem apenas tempo para usar os seus braços como escudo e sente a força do impacto, lançado ao chão bate suas costas e nuca com força. Uma escuridão e depois vê novamente o rosto do seu pai. Levanta o braço que empunha a espada quebrada. Tudo se escurece de vez. Desmaia.

Silêncio e Shael corre para ver o pequeno guerreiro tombado ao solo.

- Erik!

Ela grita, lançando-se ao solo e tomando o garoto desmaiado em seus braços.

- Oh meu senhor! Já não teves o suficiente? - diz a elfo.

- Ele está vivo senhorita Shael. Eu contive minha força. O que aconteceu aquí e um aprendizado para ele. Eu jamais mataria o meu filho, pois ele é o fruto do amor que tenho para com a minha esposa, o melhor de mim. E eu o crio para que seja forte, um homem de verdade que seja maior que eu quando eu deixar este mundo. E ele me mostrou que estou no caminho certo, como meu pai esteve e meu avô até o primeiro de nossa linhagem, o grande Eero. Agora, se me permite, levarei o meu filho para que descanse e, se não for pedir muito, cuides dele para mim.

Após dizer isso, Thorvald pega o seu filho pelos braços e o leva para a casa de Elborn onde o menino é assistido pelas servas do elfo sob o comando de Shael que ficou ao lado dele o tempo inteiro, recusando jantar para que ele não ficasse sozinho. Foi colocado na cama forrada com os mais finos lençóis e colocado nele uma túnica branca, mais alva que a neve. Ele dormiu profundamente o restante do dia vindo a acordar na manhã seguinte.

A luta com o seu pai foi assunto à noite toda por todos os elfos no reino. O príncipe Tamior olhou impressionado a coragem daquele jovem guerreiro, e, esperava que ele acordasse para conversar com ele. Thorvald estava orgulhoso, pois era notório o enorme sorriso em seu rosto. Espera que seu filho acordasse para que pudesse falar com ele sobre a luta e como ele assimilou essa experiência.

O dia nasceu e Erik acordou. Olhou com a vista um pouco embaçada ao redor com sua cabeça sobre o travesseiro.

- Onde estou?

- Na casa de Elborn, o nobre elfo e maior dos ferreiros elfos de toda a Welt. Se quer saber, agora são as 10 horas da manhã do trigésimo primeiro dia do décimo mês. - respondeu uma voz conhecida.

- Essa voz é… Graunmannf?

- Sim, estou aqui.

- Viste a minha luta com o meu pai?

- Na verdade não. Cheguei antes do alvorecer do dia aqui, mas fiquei sabendo do acontecimento.

- Sim, eu perdi a luta. - disse Erik, assentando-se na cama e cabisbaixo.

- Mas lutou bravamente. Ainda és mui jovem meu querido amigo e teu é guerreiro desde a mocidade dele. Vi seu pai derrotar inimigos muito maiores do que ele, inclusive dois grandes dragões.

Shael entra no quarto.

- Está acordado! Obrigado sábio cinzento por quedar com ele aqui.

- Não há de que.

- Você está bem Erik?

- Sim, estou sim.

- Podes ficar deitado mais um pouco. É melhor que descanses bem. Sua luta tem sido assunto por todos desde agora. Tem várias pessoas que querem falar com você. Você virou uma celebridade.

O menino ficou em silêncio.

- Onde está o meu pai?

- Estou aqui filho. Como se sente? - pergunta Thorvald que entra e com ele, Kiirion, Hucisiel, Elborn, Tamior, Dilya, Irediana e Wulfgar.

- Estou bem, mas perdi a luta. - respondeu o menino cabisbaixo.

- É como disse o mago. Tu não vencerias. Ainda és muito jovem. Mas crescerás e se tornarás maior do que eu já fui. Hoje provaste que estás no caminho certo. Mesmo com a incerteza da vitória, honrou o seu juramento, lutou bravamente com toda a força que tinha, não hesitou, mostrastes a maneira como tua mãe e eu temos te criado. O que aconteceu foi um rito de passagem. Não és mais uma criança comum. És um pequeño guerreiro. Tenho muito orgulho de você filho e certamente sua mãe ficará orgulhosa.

Após ouvir as palavras de seu pai, o menino curvou a sua cabeça esboçou um discreto sorriso notado por todos. Conversou com os demais que estavam ali e ganhou presentes. De Kiirion ganhou uma capa élfica. De Elborn, uma nova espada forjada para ele. De Hucisiel, uma corda élfica. De Dilya uma bolsa de água élfica. De Irediana, botas novas. De Tamior, uma faca élfica. De Wulfgar uma nova malha de combate. Thorvald olhou para ele e, estendendo sua mão, afanou a cabeça do menino e disse:

- Nos vemos mais tarde filho.

Todos sairam ficando apenas Erik e Shael. Se fitaram por algum tempo.

- Estou impressionada com o que fizeste. Já tive alguns pretendentes, mas nenhum deles chegou ao máximo como tu, de arriscares sua vida por mim. Confesso que despertaste em mim um grande afeto por ti, mas não sei se algo para um compromisso no momento. És muito jovem e tenho que ter segurança de que teu coração continuará inclinado por mim com o passar dos anos.

- É como eu disse. Não te pedirei em matrimônio hoje, mas quando for adulto, virei aqui para isso, se até lá não tiveres aceitado o cortejo de algum pretendente. Independente de estares comigo ou não, eu sempre te amarei.

As palavras de jovem guerreiro impressionaram ainda mais a elfo. Na verdade ela estava encantada por ele e uma grande afetividade por ele nascia. Seus olhos verdes brilharam e, tirando de seu pescoço seu pingente élfico, uma folha verde com suas bordas avermelhadas, presa a uma corrente da mais pura prata, que lhe fora dado por seus pais quando criança, coloca no pescoço de Erik. O pingente brilhava.

- Porque me deste isso?

- Este é o presente que recebi de meus pais. Que simboliza a minha existência como fruto do amor deles. Ao dar-te, demonstro minha afeição por ti e para que não te esqueças de mim. - disse Shael segurando a mão direita de Erik.

- Jamais me esquecerei de ti. Recuso em meu coração, mesmo que não me aceites.

Shael sorriu.

- Trarei uma refeição para que recobres sua força. Não se levante.

Ele comeu e recobrou as forças. Logo estava de pé. Ele e seu pai quedaram-se por mais alguns dias antes de seguirem viagem. A notícia de sua façanha se espalhou para os demais reinos élficos que fez os demais reis irem visitá-lo e conhecer o jovem filho de Thorvald pessoalmente. Todos os elfos olhavam para ele e sorriam, desde a família de Shael, a rainha Hucisiel e todos com quem falava diziam:

- É um belo presente que recebeste.

- A sua luta lhe proporcionará um grande futuro. - Disse Hucisiel que tinha o dom de enxergar o futuro. Semelhante coisa disse Elbalarond ao encontrar com Thorvald e Erik.

Ele ficou sem entender, pois acreditava ser um presente como todos os demais que recebera. Na verdade, mesmo se empenhado por ela, pensava que Shael o estimava como amigo. Mas não era. Simbolizava que a mais bela das elfos já havia feito sua escolha, aguardar quando o jovem guerreiro, ao tornar-se adulto, regressaria para tomar a sua mão como esposa. E com ele estava ao lado, conversando todos os dias até o momento da partida.

No porto, eles se despediram. Se olharam por alguns instantes e Shael o abraçou com toda a força e, acariciando o seu rosto disse:

- Já estou com saudades de ti. Rezarei para que eu volte a vê-lo.

O pequeno guerreiro sorriu e fitou os seus olhos prateados. Eles estavam brilhando com força e ternura. Shael respondeu com o brilho de seus olhos verdes. Entra no navio onde o seu pai lhe espera e este zarpa. Ele e a mais bela elfo continuam a se olhar até que um desaparece da vista do outro. Seu pai coloca a mão sobre o seu ombro e diz:

- Sabes o qual o significado do pingente que recebeste dela não sabe?

- Não exatamente.

- Há um velho ditado que diz: “Deves assumir a eterna responsabilidade por quem cativas”.ii Um dia terás que voltar e cumprir teu juramento para com ela.

Erik, em silêncio, segura o pingente e olha de novo para as terras élficas, enquanto sente a brisa do mar em seus cabelos e em seus pensamentos vê o rosto da mais bela das elfos, Shael, por quem arriscara sua vida.

Notas:

i. Evangelho segundo São Mateus 6,24-35.

ii. Inspirado no trecho do Pequeno Príncipe de Antoine de Saint-Exupéri: “Tu és eternamente responsável pelo que cativas”, fala da raposa ao pequeño príncipe.

Dasein eewans
Enviado por Dasein eewans em 16/04/2025
Reeditado em 16/04/2025
Código do texto: T8310506
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