FRANCISCA KEILA ADORAVA DIAS DE CHUVA. ENQUANTO MUITAS CRIANÇAS RECLAMAVAM DO CÉU CINZA E DAS POÇAS D’ÁGUA, ELA VIA NESSES DIAS UMA OPORTUNIDADE DE EXPLORAR. AOS ONZE ANOS, COM A IMAGINAÇÃO FERVILHANDO, QUALQUER CANTO DA CIDADEZINHA ONDE MORAVA PODIA ESCONDER UM GRANDE MISTÉRIO.

NAQUELA TARDE, GOTAS GROSSAS TAMBORILAVAM NO TELHADO DA CASA. FRANCISCA KEILA, ENCOSTADA NA JANELA, OBSERVAVA AS RUAS MOLHADAS. SEUS OLHOS BRILHARAM AO VER SUAS BOTAS DE CHUVA AMARELAS AO LADO DA PORTA. ELA PUXOU A CAPA AZUL, CALÇOU AS BOTAS E GRITOU PARA DENTRO DE CASA:

— PAPAI, VOU DAR UMA VOLTA!

— LEVE O GUARDA-CHUVA! — ELE RESPONDEU DA COZINHA, OCUPADO PREPARANDO UM BOLO DE CHOCOLATE.

MAS FRANCISCA KEILA NÃO QUERIA GUARDA-CHUVA. PREFERIA SENTIR AS GOTAS ESCORRENDO PELO ROSTO E O SOM DOS PINGOS NO CAPUZ DE SUA CAPA.

ANDANDO SEM PRESSA, ELA PISAVA NAS POÇAS COM GOSTO, ESPALHANDO ÁGUA PARA TODOS OS LADOS. FOI ENTÃO QUE ALGO CURIOSO CHAMOU SUA ATENÇÃO. NO BECO AO LADO DA LOJA DE DOCES DA DONA ELVIRA, UM BRILHO ESTRANHO PISCOU SOB A CHUVA. FRANCISCA KEILA SE APROXIMOU, AFASTOU ALGUMAS CAIXAS VELHAS E DESCOBRIU UMA PORTA METÁLICA ENFERRUJADA COM NÚMEROS GRAVADOS NO CENTRO: “3500”.

— QUE ESTRANHO… NUNCA VI ESSA PORTA AQUI ANTES! — MURMUROU.

CURIOSA, TENTOU GIRAR A MAÇANETA, MAS ESTAVA TRANCADA. BATEU COM OS NÓS DOS DEDOS, ESPERANDO ALGUMA RESPOSTA, MAS APENAS O BARULHO DA CHUVA ECOOU. DECIDIU VOLTAR NO DIA SEGUINTE PARA INVESTIGAR MELHOR.

NAQUELA NOITE, MAL CONSEGUIU DORMIR. SERÁ QUE ERA UMA PASSAGEM PARA OUTRO LUGAR? UM ESCONDERIJO SECRETO? UM PORTAL MÁGICO? SUA MENTE CRIAVA INFINITAS POSSIBILIDADES.

NA MANHÃ SEGUINTE, DEPOIS DA ESCOLA, FRANCISCA KEILA VOLTOU AO BECO. DESSA VEZ, LEVOU UM GRAMPO QUE PEGARA DA PENTEADEIRA DA MÃE. ENFIOU-O NA FECHADURA E GIROU COM CUIDADO. COM UM CLIQUE SUAVE, A PORTA SE ABRIU. SEU CORAÇÃO DISPAROU.

DO OUTRO LADO, HAVIA UM TÚNEL DE PEDRA ILUMINADO POR LÂMPADAS FRACAS PRESAS ÀS PAREDES. O AR TINHA CHEIRO DE TERRA MOLHADA E MISTÉRIO. FRANCISCA KEILA RESPIROU FUNDO E ENTROU.

O TÚNEL SE ESTENDIA ATÉ UM GRANDE SALÃO SUBTERRÂNEO. NO CENTRO, UMA MESA DE MADEIRA ESTAVA COBERTA DE PAPÉIS E MAPAS ANTIGOS. EM UMA DAS PAREDES, QUADROS MOSTRAVAM RETRATOS DE PESSOAS VESTINDO ROUPAS DE OUTRAS ÉPOCAS.

— QUEM SÃO VOCÊS? — FRANCISCA KEILA SUSSURROU, PASSANDO OS DEDOS SOBRE AS MOLDURAS EMPOEIRADAS.

DE REPENTE, UM BARULHO ECOOU PELO TÚNEL. PASSOS. ALGUÉM SE APROXIMAVA.

FRANCISCA KEILA SE ESCONDEU ATRÁS DE UM BAÚ. UMA VOZ GRAVE SOOU:

— QUEM ESTÁ AÍ?

ELA PRENDEU A RESPIRAÇÃO. UM HOMEM ALTO, DE BARBA GRISALHA E UM SOBRETUDO ESCURO, PAROU NO MEIO DO SALÃO. ELE SEGURAVA UMA LANTERNA E PARECIA PROCURAR ALGO.

— EU SEI QUE TEM ALGUÉM AQUI…

FRANCISCA KEILA SABIA QUE PRECISAVA AGIR RÁPIDO. ESPIOU AO REDOR E VIU UMA PEQUENA PORTA NO FUNDO DA SALA. SILENCIOSAMENTE, RASTEJOU ATÉ ELA E A ABRIU. LÁ DENTRO, HAVIA UMA ESCADA EM ESPIRAL. SEM PENSAR, COMEÇOU A SUBIR.

O TOPO DA ESCADA LEVAVA A UM ALÇAPÃO QUE DAVA PARA UM CÔMODO CHEIO DE LIVROS E MAIS MAPAS. NO MEIO DA SALA, UMA MENINA DE CABELOS CACHEADOS LIA UM DOS PERGAMINHOS.

— QUEM É VOCÊ? — PERGUNTOU A MENINA, ASSUSTADA.

— FRANCISCA KEILA… E VOCÊ?

— MEU NOME É CLARA. O QUE FAZ AQUI?

— EU… ENCONTREI A PORTA NO BECO. E VOCÊ?

— MINHA FAMÍLIA GUARDA ESSE LUGAR HÁ GERAÇÕES. PROTEGEMOS SEGREDOS ANTIGOS.

— SEGREDOS? QUE TIPO DE SEGREDOS?

CLARA HESITOU. DEPOIS APONTOU PARA UM DOS MAPAS SOBRE A MESA.

— VEJA, ESSE MAPA MOSTRA A CIDADE, MAS COM TÚNEIS SUBTERRÂNEOS QUE NINGUÉM CONHECE. ALGUNS LEVAM A TESOUROS ESCONDIDOS, OUTROS… A ARMADILHAS.

FRANCISCA KEILA SENTIU UM ARREPIO DE EXCITAÇÃO.

— VAMOS EXPLORAR UM DELES?

CLARA SORRIU.

— VOCÊ TEM ESPÍRITO AVENTUREIRO. ACHO QUE PODEMOS TENTAR!

JUNTAS, ESCOLHERAM UM DOS TÚNEIS DO MAPA E PARTIRAM, MAL SABENDO QUE AQUELA SERIA A MAIOR AVENTURA DE SUAS VIDAS…

O TÚNEL DOS SEGREDOS

SEGUINDO O MAPA, AS DUAS ENTRARAM EM UM TÚNEL ESTREITO E ÚMIDO. FRANCISCA KEILA SENTIA O CORAÇÃO BATER ACELERADO, ENQUANTO CLARA GUIAVA COM UMA PEQUENA LANTERNA A ÓLEO.

— SEGUNDO O MAPA, ESTE TÚNEL LEVA ATÉ UMA CÂMARA SECRETA. LÁ DEVE HAVER ALGO IMPORTANTE — DISSE CLARA.

OS PASSOS ECOAVAM PELO CORREDOR. DE REPENTE, UM VENTO FRIO SOPROU, APAGANDO A CHAMA DA LANTERNA.

— O QUE FOI ISSO? — FRANCISCA KEILA PERGUNTOU, SENTINDO UM ARREPIO.

— ACHO QUE NÃO ESTAMOS SOZINHAS… — SUSSURROU CLARA.

UM SOM DE ARRANHÕES VINHA DAS PAREDES. AS MENINAS SEGURARAM AS MÃOS UMA DA OUTRA E CONTINUARAM ANDANDO, MESMO COM O MEDO CRESCENDO DENTRO DELAS.

LOGO, ENCONTRARAM UMA PORTA DE MADEIRA ANTIGA. CLARA TENTOU GIRAR A MAÇANETA, MAS NÃO SE MEXIA.

— ESTÁ TRANCADA! — DISSE CLARA.

FRANCISCA KEILA OLHOU AO REDOR E VIU UMA INSCRIÇÃO NA PAREDE: “A CHAVE ESTÁ ONDE O TEMPO PARA”.

— O QUE ISSO QUER DIZER? — PERGUNTOU CLARA.

FRANCISCA KEILA PENSOU POR UM MOMENTO E ENTÃO OLHOU PARA CIMA. HAVIA UM VELHO RELÓGIO DE PÊNDULO PARADO NO CANTO DO TÚNEL.

— O TEMPO PARA… NO RELÓGIO! — DISSE ELA, CORRENDO ATÉ O OBJETO.

ELA ABRIU A PORTINHA DO RELÓGIO E, LÁ DENTRO, ENCONTROU UMA CHAVE DOURADA.

— CONSEGUI!

CLARA PEGOU A CHAVE E RAPIDAMENTE DESTRANCOU A PORTA. QUANDO A ABRIRAM, FICARAM BOQUIABERTAS. DIANTE DELAS HAVIA UM SALÃO CHEIO DE BAÚS ANTIGOS, PRATELEIRAS COM LIVROS EMPOEIRADOS E ESTRANHOS ARTEFATOS BRILHANDO SOB A LUZ FRACA DO TETO.

— UAU… O QUE SERÁ TUDO ISSO? — FRANCISCA KEILA PERGUNTOU, MARAVILHADA.

ANTES QUE PUDESSEM EXPLORAR MAIS, UM SOM DE PASSOS PESADOS VEIO PELO TÚNEL. O HOMEM DO SOBRETUDO ESTAVA VOLTANDO!

— RÁPIDO, TEMOS QUE NOS ESCONDER! — CLARA SUSSURROU.

AS DUAS CORRERAM PARA TRÁS DE UMA GRANDE ESTANTE DE LIVROS E OBSERVARAM PELA FRESTA. O HOMEM ENTROU NA SALA, SEUS OLHOS ANALISANDO O LOCAL.

— EU SEI QUE ALGUÉM ESTEVE AQUI… — ELE MURMUROU.

FRANCISCA KEILA OLHOU PARA CLARA, QUE SEGURAVA UM MEDALHÃO DOURADO NAS MÃOS. AQUILO PARECIA SER A PEÇA MAIS IMPORTANTE DA SALA.

— PRECISAMOS SAIR DAQUI COM ISSO — CLARA COCHICHOU.

FRANCISCA KEILA APONTOU PARA UMA PASSAGEM ESTREITA NO CANTO DA SALA. ELAS SE ESGUEIRARAM PARA DENTRO, SEGURANDO A RESPIRAÇÃO. O TÚNEL ERA ESCURO E APERTADO, MAS AO FUNDO VIRAM UMA ESCADA.

SUBIRAM RAPIDAMENTE E ENCONTRARAM OUTRA PORTA, QUE DAVA PARA UM JARDIM ABANDONADO NOS FUNDOS DA LOJA DE DOCES.

— CONSEGUIMOS! — FRANCISCA KEILA SUSSURROU.

ELAS CORRERAM PELA CHUVA, O MEDALHÃO SEGURO NAS MÃOS DE CLARA. SABIAM QUE AQUILO ERA APENAS O COMEÇO DE UM MISTÉRIO AINDA MAIOR… E ASSIM, COM OS CORAÇÕES ACELERADOS E A PROMESSA DE NOVAS DESCOBERTAS, AS DUAS MENINAS SELARAM UMA AMIZADE QUE MUDARIA SUAS VIDAS PARA SEMPRE.